INTRODUÇÃO
O avanço das técnicas na abdominoplastia permitiu melhorar a silhueta e definição
do
abdome. No entanto, o resultado da cicatriz umbilical ainda é uma preocupação
frequente, por ser a cicatriz mais exposta e que pode evidenciar que foi feito um
procedimento.
Anatomicamente o umbigo apresenta forma arredondada ou discretamente alongado no
sentido vertical, com diâmetro médio de 1 a 1,5cm, e profundidade variável
dependendo da espessura do panículo adiposo do abdome. Ele é mais profundo na parte
superior, possuindo um rodete cutâneo nesta borda, um mamilo ou mamelão central que
é circundado por uma depressão, identificada como sulco umbilical. Está posicionado
na linha média, numa altura que varia de 4cm acima a 2cm abaixo da linha horizontal
que passa pelas espinhas ilíacas ântero-superiores1,2.
Diversas técnicas foram criadas e basicamente variam quanto ao formato do coto
umbilical remanescente, como: oval3,
circular4, triangular3,5, fuso
vertical6 ou em Y7, acrescentando-se alguns detalhes de fixação do pedículo à
aponeurose do músculo reto abdominal; e do tipo de incisão na pele do retalho
abdominal para exteriorizar o umbigo, como: horizontal,8,9 em U,3 estrelada ou Y3,7,10,11, linear vertical6, em
losango11, em triângulo5, em escudo12, retangular4, em elipse
vertical3 ou com o formato do símbolo do
infinito13. Outros autores, como Cló14 e Nogueira15, preferem descartar a cicatriz umbilical e fazer uma nova com
pequenos retalhos triangulares, ou como Ng2,
Amud16 e Schoeller17 que evitam inclusive qualquer cicatriz no retalho abdominal,
fazendo apenas uma depressão na pele com formato de umbigo.
Atualmente as pacientes estão mais exigentes com o resultado e pedem cintura fina,
realce dos sulcos naturais e cicatriz umbilical “natural”. Por isto a importância
de
sempre aprimorar as técnicas de umbilicoplastia.
OBJETIVO
Avaliar os resultados obtidos com a técnica de umbilicoplastia utilizada pelo
autor.
MÉTODO
Estudo prospectivo dos pacientes submetidos a abdominoplastias no período de junho
de
2018 a janeiro de 2019, avaliando o resultado do umbigo, complicações, cicatriz
visível na união da pele do abdome com o coto umbilical e satisfação geral do
paciente, utilizando-se a escala de Likert de 5 pontos (1 = ruim, 2 = razoável, 3
=
bom, 4 = muito bom e 5 = excelente).
As cirurgias foram realizadas no Hospital Amazônia em pacientes particulares do
primeiro autor. Foram seguidos os princípios de Helsinque na pesquisa e todas as
pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Descrição da técnica
Incisão e descolamento do retalho abdominal até o umbigo. Incisão do coto
umbilical em formato de “pipa” com 1,0cm de comprimento e 0,75cm de largura
(Figura 1). Descolamento do retalho
abdominal até o apêndice xifoide. Plicatura da aponeurose anterior dos retos
abdominais com pontos em “X” invertidos com fio de polipropileno número 0. Neste
momento, ao passar pelo umbigo, fixa-o às 6h e 12h, para evitar protrusões. O
local de fixação é o mesmo de sua implantação natural. Pode subir ou descer um
pouco, se necessário, de acordo com o caso. A altura de fixação do coto
umbilical, que determinará a quantidade de pedículo do umbigo acima da
aponeurose, será maior quando o retalho abdominal for mais espesso, deixando um
comprimento próximo a 1cm quando a espessura do retalho abdominal for mais
grossa, ou fixando bem rente a aponeurose, quando a espessura do retalho for
fina.
Figura 1 - Incisão do umbigo no formato de “pipa”. Comprimento de 1,0cm e
largura de 0,75cm.
Figura 1 - Incisão do umbigo no formato de “pipa”. Comprimento de 1,0cm e
largura de 0,75cm.
Após finalizar a plicatura infra umbilical, complementa-se a fixação do umbigo na
aponeurose do reto abdominal com 4 pontos, um em cada ângulo da ilha de pele em
formato de “pipa”, verificando sua posição correta na linha media vertical do
abdome. Realizam-se pontos de adesão do retalho a aponeurose com vycril 2.0 na
linha média supra umbilical, tracionando-se progressivamente o retalho em
direção ao umbigo. Retira-se o excedente do retalho abdominal e se fixa o ponto
central do retalho no púbis para marcar a posição do umbigo com a pinça
específica para isto. Incisão da pele do retalho abdominal em Y, com 0,75cm em
cada ramo e angulações aproximadas de 90º na parte superior e 135º nas laterais,
formando 3 pequenos retalhos triangulares, um superior mais estreito e dois
laterais mais largos (Figura 2). Procede-se
nesta abertura a ressecção cônica do tecido adiposo, em toda espessura do
retalho abdominal. Solta-se o ponto de fixação do retalho abdominal ao púbis e
everte-se o mesmo para a sutura dos retalhos triangulares, feitos para o umbigo
ao coto umbilical fixado à aponeurose, com 6 pontos subdérmicos invertidos com
fio de poliglactina 4.0: ângulo superior do coto umbilical à extremidade do
retalho triangular superior; ângulos laterais do coto umbilical aos vértices de
transição, entre o retalho superior e os laterais na pele abdominal; partes
laterais direita e esquerda do coto umbilical às respectivas extremidades dos
retalhos triangulares laterais; ângulo inferior do coto umbilical ao vértice
entre os dois retalhos laterais, inferiormente (Figura 3).
Figura 2 - Incisão em “Y” no retalho abdominal para exteriorização do
umbigo. Comprimento segmento do “Y” mede 0,75cm e o ângulo superior
é de 90 graus.
Figura 2 - Incisão em “Y” no retalho abdominal para exteriorização do
umbigo. Comprimento segmento do “Y” mede 0,75cm e o ângulo superior
é de 90 graus.
Figura 3 - Fixação do umbigo ao retalho abdominal. O esquema de cores
orienta os pontos de sutura entre os retalhos para o umbigo na pele
do abdome; e o coto umbilical fixado à aponeurose dos músculos retos
abdominais.
Figura 3 - Fixação do umbigo ao retalho abdominal. O esquema de cores
orienta os pontos de sutura entre os retalhos para o umbigo na pele
do abdome; e o coto umbilical fixado à aponeurose dos músculos retos
abdominais.
Completa-se os pontos de adesão na parte infra umbilical. Coloca-se o dreno à
vácuo e procede-se a sutura por planos do retalho abdominal. Curativo com gaze
seca no umbigo, trocados diariamente. Após 3 semanas, colocou-se a órtese de
umbigo e prescreveu-se massagem com creme com fluocinolona a 0,05%, por um
mês.
RESULTADOS
Foram avaliadas 31 pacientes, todas do sexo feminino, com idade entre 28 e 57 anos
(média = 39,2 anos). A complicação mais frequente foi a epidermólise do coto
umbilical (Tabela 1). Dois casos evoluíram
com resultados desfavoráveis, um com estenose e outro com cicatriz visível, que foi
o mesmo que apresentou necrose do retalho triangular superior. A satisfação dos
pacientes pode ser vista na Tabela 1.
Tabela 1 - Resultados
Fatores avaliados |
Quantidade |
percentual |
Complicaes |
|
|
Complicaes Precoces Infeco |
0 |
0 |
Epidermlise do coto umbilical |
5 |
16,10% |
Necrose do coto umbilical |
0 |
0 |
Necrose do retalho de pele do neoumbigo |
1 |
3,20% |
Epidermlise de vincos formado na pele do abdome |
3 |
9,70% |
Estigmas |
|
|
Estigmas Estenose de umbigo |
1 |
3,20% |
cicatriz visvel |
1 |
3,20% |
Avaliao do resultado do umbigo |
|
|
Avaliao do resultado do umbigo Ruim |
0 |
0 |
Razovel |
1 |
3,20% |
Bom |
2 |
6,50% |
Muito bom |
4 |
12,90% |
Excelente |
24 |
77,40% |
DISCUSSÃO
Devido à importância do umbigo na beleza e forma do abdome, muitas vezes o resultado
da abdominoplastia é julgado pela qualidade da cicatriz umbilical. Existem diversas
técnicas para refazer o umbigo após a abdominoplastia, com a preocupação cada vez
maior em deixar o umbigo natural, sem cicatrizes visíveis, com tamanho e
profundidade adequados, além de bem posicionado. Muitas destas técnicas seguem os
mesmos princípios, fixando o coto umbilical e fazendo com que a pele do abdome desça
até o coto fixado à aponeurose e assim conseguindo esconder a cicatriz e dar
profundidade ao umbigo.
Há uma grande variação combinando o formato e dimensões da ilha de pele deixada no
coto umbilical e do tipo de incisão realizada no retalho abdominal para a cicatriz
umbilical3-7,11-13. Variações estas
justificáveis pelo senso estético e opinião pessoal de cada autor quanto ao formato
mais agradável para o umbigo. Nós gostamos de umbigos mais verticalizados, com a
parte superior ligeiramente maior que a inferior, semelhante ao formato que Craig
refere no seu estudo com sendo em “T” e que foi o mais prevalente em sua pesquisa,
assim como o que mostrou maior aceitação18.
Mulheres jovens e magras tendem a ter umbigos pequenos e orientados
verticalmente19. A técnica utilizada
neste trabalho procura obter este tipo de umbigo (Figuras 4 a 6). A plicatura
abrangendo o pedículo umbilical, embora tecnicamente diferente da descrita nos
trabalhos de Pedroso6 e Chia19, tem o mesmo objetivo de evitar herniações
ou abaulamentos através da base do pedículo umbilical.
Figura 4 - Caso 1. A: Pré-operatório; B: Pós-operatório.
Figura 4 - Caso 1. A: Pré-operatório; B: Pós-operatório.
Figura 5 - Caso 2. A: Pré-operatório; B: Pós-operatório.
Figura 5 - Caso 2. A: Pré-operatório; B: Pós-operatório.
Figura 6 - Caso 3. A: Pré-operatório; B: Pós-operatório.
Figura 6 - Caso 3. A: Pré-operatório; B: Pós-operatório.
Algumas questões são bem estabelecidas, como evitar cicatriz circular para não
ocorrer estenose, fixar a pele na aponeurose para esconder a cicatriz e dar mais
profundidade ao umbigo, preservar gordura periumbilical11,19.
Procuramos seguir todas elas na técnica descrita. Os maiores estigmas a serem
evitados são: cicatrizes alargadas ou estenosadas, desvios da linha média, muito
altos ou muito baixos, falta de profundidade, hipercromia e cicatrizes visíveis.
A complicação mais frequente foi a epidermólise do coto umbilical (16,1%), porém a
reepitelização no fundo do umbigo não promoveu distorções ou apagamento do mesmo,
mantendo um bom resultado. Entretanto, a necrose da pele do retalho abdominal na
área do umbigo pode levar a distorções ou apagamentos, como ocorrido em um caso
(3,2%). A segunda complicação mais frequente (9,7%) foi epidermólise no fundo de
vincos formados lateral e superiormente ao umbigo. Esta complicação é uma
desvantagem desta técnica, pois não encontramos relatos parecidos em outras
técnicas. Para minimizar este efeito, deve-se deixar o pedículo umbilical mais
comprido nos abdomes com retalho abdominal espesso. Ao verificar a formação dos
vincos, tracionar a pele com fita microporada para suavizá-los e orienta-se a
paciente massagear o local com creme hidratante, com o objetivo de desfazer o vinco.
Eles costumam sumir à medida que o abdome vai desinchando, ao longo do primeiro
mês.
Na avaliação dos pacientes, 90,3% acharam que o umbigo ficou muito bom ou excelente.
Este resultado é semelhante ao que Dias Filho3
encontrou com a técnica em “Y”, D’Assumpção12
na técnica em escudo e Campos5 com os
triângulos isósceles. Cló14 utilizou um
método de avaliação semelhante ao nosso (escala de Likert de 5 pontos), que
encontrou 90,6% de resultados muito bons ou excelentes, na avaliação dos
pacientes.
CONCLUSÃO
A técnica apresentada mostra-se uma boa opção dentre as existentes para obter umbigos
com tendência a um formato triangular, porém mais verticalizado, sem marcas de
sutura aparentes, mantendo boa profundidade, atingindo ótimo índice de
satisfação.
REFERÊNCIAS
1. Jaimovich CA, Mazzarone F, Parra JFN, Pitanguy I. Semiologia da
parede abdominal: seu valor no planejamento das abdominoplastias. Rev Soc Bras
Cir Plást. 1999;14(3):21-50.
2. Ng JAA. Abdominoplastia: neo-onfaloplastia sem cicatriz e sem
excisão de gordura. Rev Bras Cir Plást. 2010;25(3):499-503. DOI:
https://doi.org/10.1590/S1983-51752010000300017
3. Dias Filho AV, Valadão MGC, Guerra Filho TC, Moura RMG.
Onfaloplastia: estudo comparativo de técnicas. Rev Bras Cir Plást.
2014;29(2):253-8.
4. López-Tallaj L, Gervais J. Restauração umbilical na abdominoplastia:
uma simples técnica retangular. Rev Bras Cir Plást.
2001;16(3):39-46.
5. Campos R, Campos BVBL. Onfaloplastia em triângulo isósceles e com
dupla fixação na abdominoplastia. Rev Bras Cir Plást.
2019;34(1):38-44.
6. Pedroso DB, Soares DAS, Cammarota MC, Daher LMC, Galdino MCA, Santos
GC, et al. Umbilicoplastia por incisão vertical: descrição da técnica e
avaliação da satisfação. Rev Bras Cir Plást. 2017;32(4):534-40.
7. Guimarães VHM, Guimarães VA, Gonçalves FA, Carvalho Júnior PCC.
Onfaloplastia: técnica Y/V. Rev Bras Cir Plást.
2018;33(3):355-63.
8. Regnault P. The history of abdominal dermolipectomy. Aesthetic Plast
Surg. 1978;2(1):113-23. DOI: https://doi.org/10.1007/BF01577945
9. Baroudi R. Umbilicoplasty. Clin Plast Surg.
1975;2(3):431-48.
10. Avelar J. Abdominoplasty-Systematization of a technique without
external umbilical scar. Aesthetic Plast Surg. 1978 Dec;2(1):141-51. DOI:
https://doi.org/10.1007/BF01577947
11. Castro DPR, Saldanha OR, Pinto EBS, Albuquerque FM, Moia SMS.
Avaliação estética da cicatriz umbilical em duas técnicas de onfaloplastia. Rev
Bras Cir Plást. 2014;29(2):248-52.
12. D’Assumpção EAD. Técnica para umbilicoplastia, evitando-se um dos
principais estigmas das abdominoplastias. Rev Bras Cir Plást.
2005;20(3):160-6.
13. Furtado IR. Onfaloplastia: técnica “infinito”. Rev Bras Cir Plást.
2011;26(2):298-301.
14. Cló TCT. Neo-onfaloplastia com incisão em X em 401 abdominoplastias
consecutivas. Rev Bras Cir Plást. 2013;28(3):375-80.
15. Nogueira DSC. Neo-onfaloplastia de rotina em abdominoplastias. Rev
Bras Cir Plást. 2008;23(3):207-13.
16. Amud RJM. Neo-onfaloplastia sem cicatriz. Rev Bras Cir Plást.
2008;23(1):37-40.
17. Schoeller T, Wechselberger G, Otto A, Rainer C, Schwabegger A, Lille
S, Ninkovic M. New thecnique for scarless umbilicul reinsertion in
abdominoplasty procedures. Plast Reconstr Surg. 1998 Oct;102(5):1720-3. DOI:
https://doi.org/10.1097/00006534-199810000-00064
18. Craig SB, Faller MS, Puckett CL. In search of the ideal female
umbilicus. Plast Reconstr Surg. 2000 Jan;105(1):389-92. PMID: 10627008 DOI:
https://doi.org/10.1097/00006534-200001000-00064
19. Chia CY, Roxo ACW, Labanca L, Ritter PD. Cirurgia estética e
funcional do umbigo: técnica de plicatura transumbilical. Rev Bras Cir Plást.
2011 Jun;26(2):293-7. DOI:
https://doi.org/10.1590/S1983-51752011000200017
1. Universidade Federal do Pará, Guamá, Belém, PA,
Brasil.
2. Clínica Spani Vendramin, Umarizal, Belém, PA,
Brasil.
Endereço Autor: Fabiel Spani Vendramin, Rua
Municipalidade, 985, Umarizal, Belém, PA, Brasil. CEP 66050-350. E-mail:
drfabiel@gmail.com