INTRODUÇÃO
Lesões de membros inferiores com perdas de substâncias, geralmente vem acompanhadas
de fraturas e exposições ósseas. Estes tipos de leões são muito comuns nos serviços
de emergência. As lesões que apresentam somente perda de substância, em até 80%, são
resolvidas com enxertia de pele, mas quando há exposição óssea os casos se tornam
mais complicados, sendo necessários procedimentos mais complexos.
Alguns fatores devem ser considerados antes de realizar estes procedimentos, como
a
vascularização local, as boas condições da área receptora, a presença ou não de
tecidos desvitalizados e se há infecção local.
O retalho do músculo sóleo é o mais utilizado na reconstrução das lesões do 1/3 médio
dos membros inferiores.
O músculo sóleo é um músculo que se origina na parte superior da fíbula, septo
intermuscular e na linha do músculo sóleo da tíbia. Sua extensão é variável. É
recoberto pelo músculo gastrocnêmio e seu tendão se funde com as lâminas tendinosas
do músculo gastrocnêmio para formar o tendão do calcanhar, também chamado de tríceps
sural.
A sua circulação é do tipo II, na classificação de Mathes e Nahai, onde os pedículos
dominantes são ramos musculares da artéria poplítea, da tibial posterior e da
artéria fibular; e ramos menores da artéria tibial posterior na sua região mais
distal. Possui um bom arco de rotação e cobre grandes exposições ósseas do terço
médio até pequenas áreas expostas na região distal da perna. Sua dissecção é um
tanto trabalhosa, porém, quando se inicia a certa distância da lesão, em tecido
anatomicamente normal, esta é facilitada. A drenagem da área doadora é importante
para evitar hematomas e cicatrização em equino.
O músculo sóleo pode ser utilizado parcial ou total, assim como com pedículo proximal
ou distal, quando baseado em dois ou três dos ramos menores direitos da artéria
tibial posterior, para a cobertura de pequenas áreas do terço distal da tíbia.
Quando distal, seu arco de rotação é bastante limitado.
OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo mostrar que o retalho solear é uma excelente opção
na
cobertura de lesões em 1/3 médio da perna. Seu sucesso depende de vários fatores que
não podem ser negligenciados. Neste caso, vemos que seguindo todas as etapas com
paciência e utilizando a técnica cirúrgica correta, as chances de sucesso são
enormes.
RELATO DE CASO
Paciente L.M.S., do sexo masculino, 25 anos, sofreu acidente de moto evoluindo com
fratura de fíbula e tíbia esquerdas, sendo esta última exposta. Foi operado pelo
serviço de ortopedia do nosso hospital sendo deixado um fixador externo. Porém houve
perda de substância de região tibial anterior, ao nível do terço médio (Figura 1).
Figura 1 - Lesão inicial - fratura exposta de tíbia com perda de
substância.
Figura 1 - Lesão inicial - fratura exposta de tíbia com perda de
substância.
MÉTODO
Realizamos a incisão em face medial da perna e diérese por planos até o plano
muscular. Foi confeccionado um retalho parcial do músculo sóleo em direção crânio
caudal, mantendo seu pedículo distal (inferior). O retalho foi rodado para cobrir
a
área cruenta e suturado com fio do tipo nylon 4-0. Foi deixado um dreno de penrose
nº 4, retirado posteriormente (Figura 2).
Figura 2 - Retalho do músculo sóleo - dissecção do músculo sóleo e rotação
lateral para cobertura da exposição da tíbia.
Figura 2 - Retalho do músculo sóleo - dissecção do músculo sóleo e rotação
lateral para cobertura da exposição da tíbia.
Após realização de curativos diários e confirmados a perfeita integração do retalho
a
área receptora, foi realizada a cobertura muscular com um enxerto de pele parcial,
retirada da região hipogástrica (Figuras 3 e
4).
Figura 3 - Granulação da lesão - crescimento de tecido de granulação na área de
rotação do retalho muscular, estando apta para enxertia.
Figura 3 - Granulação da lesão - crescimento de tecido de granulação na área de
rotação do retalho muscular, estando apta para enxertia.
Figura 4 - Enxertia - realizada enxertia cutânea da lesão tendo como área
doadora a região hipogástrica.
Figura 4 - Enxertia - realizada enxertia cutânea da lesão tendo como área
doadora a região hipogástrica.
RESULTADOS
Houve integração de aproximadamente 90% do enxerto, sendo que as áreas desvitalizadas
foram retiradas e deixadas para cicatrização por 2ª intenção (Figura 5). O resultado final foi satisfatório e o paciente
encontra-se hoje em fase de reabilitação motora.
Figura 5 - Resultado final - a foto da esquerda mostra o momento da retirada do
curativo de Brown; na da direita temos o resultado após pouco mais de 30
dias de evolução.
Figura 5 - Resultado final - a foto da esquerda mostra o momento da retirada do
curativo de Brown; na da direita temos o resultado após pouco mais de 30
dias de evolução.
DISCUSSÃO
É importante lembrar que existe o momento oportuno para realizar o procedimento, para
que não seja comprometido o resultado final. Tecidos desvitalizados devem ser
retirados, infecções combatidas e o paciente deve apresentar condições clínicas para
ser submetido ao procedimento.
CONCLUSÃO
O retalho parcial do músculo sóleo é seguro, com boa vascularização e de fácil
realização, é uma boa opção nos casos de pequenos defeitos do terço distal da perna
que necessita de boa cobertura. O caso apresentado demonstra excelente
resolubilidade, com boa evolução e com mínima sequela da área doadora.
Particularmente, considero uma boa opção nos casos de lesões do 1/3 médio da
perna.
REFERÊNCIAS
1. Cardoso M. Aplicação clínica dos retalhos musculares e
músculo-cutâneos nas reparações da perna e pé. Rev Bras Centro Estudos Dr.
Wladimir do Amaral Bol. 1982;(1):21-8.
2. Hochberg J, Bozola AR, Ramos JEA, Oliveira MC, Miura O, Vieira RC.
Manual de retalhos miocutâneos. Porto Alegre: AMRIGS; 1984.
3. Chapman MW. Fraturas expostas. In: Rockwood Junior CA, Green DP,
Bucholz RW, editores. Fraturas em adultos. v.1. São Paulo: Manole; 1993.
p.221-62.
4. Mélega JM. Cirurgia Plástica - Fundamentos e Arte. Rio de Janeiro:
Medsi; 2004.
5. Neligan PC. Cirurgia Plástica. Rio de Janeiro: Elsevier;
2015.
1. Hospital Militar de Área de Manaus,
Exército Brasileiro, Manaus, AM, Brasil.
Endereço Autor: Cláudio De Paula Matos, Avenida
Jornalista Umberto Calderaro Filho, nº 455, Edificio Crystal Tower, Sala 1109,
Adrianópolis, Manaus AM, Brasil. CEP 69057-712. E-mail:
claudioesilvania@hotmail.com