INTRODUÇÃO
O pioderma gangrenoso (PG) é em uma dermatose neutrofílica rara, crônica e
recorrente. Está associada a doenças inflamatórias intestinais, neoplasias malignas,
doenças reumatologias ou hematológicas. É mais frequente no adulto jovem, entre
25-54 anos, com predomínio nas mulheres1-3.
O primeiro relato encontrado sobre a doença, foi descrito por Brocq há cerca de 100
anos, em 1916, e depois descrito por Brunsting, em 1930. Podem se localizar apenas
na derme, mas em geral atingem o panículo adiposo e a fáscia subjacente dos membros
inferiores, nádegas, abdome e tronco1.
O início se dá com o aparecimento de uma pústula que, ao se romper, forma uma úlcera
necrótica com bordos irregulares, chegando a gerar lesão de grandes dimensões2.
O diagnóstico e o tratamento continuam sendo um desafio para o cirurgião plástico,
com resultados, por vezes, insatisfatórios, mesmo quando realizados por cirurgiões
plásticos experientes.
Em paralelo, até então não relacionado ao tratamento do PG, em 2012, foi descrita
a
aplicação da sutura elástica como alternativa para fechamento de feridas amplas,
evitando fechamentos sob tensão ou necessidade de enxertos cutâneos para cobertura
de ferimentos deixados abertos4.
O objetivo deste artigo é relatar o uso da sutura elástica como um tratamento
coadjuvante das feridas nos casos de pioderma gangrenoso. antecipando a cura e
reduzindo as sequelas.
RELATO DO CASO
Trata-se de paciente do sexo feminino, 37 anos de idade, caucasiana, submetida à
cirurgia de mamoplastia redutora no final de maio de 2016. Sem história de
comorbidades, alergias ou uso de medicamentos. Submetida a cesariana há 11 anos com
historia de infecção local e TVP após cirurgia de fratura de fíbula.
Cerca de cinco dias após a cirurgia, 01/06/2016, apresentou área eritematosa na mama
com descolamento de pele em cicatriz cirúrgica associada a febre, sugerindo um
processo infeccioso. Inicialmente, foi instituída antibioticoterapia e curativos.
Contudo, não houve melhora do quadro e, cerca de três dias após apresentou piora das
feridas com pústulas, adquirindo caráter necrótico com aumento da extensão da lesão,
e foi indicada a internação da paciente (Figura 1).
Figura 1 - Primeira semana de pós operatório: Lesões necróticas
bolhosas.
Figura 1 - Primeira semana de pós operatório: Lesões necróticas
bolhosas.
Os resultados do exame de admissão hospitalar, em 04/06/2016, apresentaram
leucocitose: global de leucócitos 19.580 com 587 bastões e anemia com hemoglobina
10.3. Solicitada hemocultura que apresentou-se negativa. Foi conduzida para
avaliação da equipe da clínica médica que ampliou espectro dos antibióticos.
Após dois dias apresentou melhora com diminuição da leucocitose (13.580) e queda da
hemoglobina (8.8) e PCR (272); no dia seguinte foram coletadas novas culturas, ambas
negativas. Todavia houve evolução da necrose com bordos irregulares (Figura 2).
Figura 2 - Segunda semana de pós operatório: Lesões sem melhora com uso de
antibiótico.
Figura 2 - Segunda semana de pós operatório: Lesões sem melhora com uso de
antibiótico.
O aparecimento clínico súbito das lesões e sua evolução necrótica e os exames
laboratoriais levaram ao diagnóstico presuntivo de pioderma gangrenoso cerca de uma
semana após sua internação, descartando-se outras patologias. A partir desse
momento, foi iniciada corticoterapia oral: prednisona (80 mg/dia).
Após instituição da terapia, houve tendência a normalização dos exames – hemoglobina
9,6, leucócitos globais: 11.300, PCR: 52, e as feridas delimitaram a extensão da
necrose com tecido de granulação se formando em seis dias (Figura 3).
Figura 3 - Cerca de 1 semana após início de terapia específica para pioderma:
Marco da remissão da atividade da doença.
Figura 3 - Cerca de 1 semana após início de terapia específica para pioderma:
Marco da remissão da atividade da doença.
Tendo em vista a grande dimensão das feridas e resultado estético comprometedor,
iniciou-se a sutura elástica no dia 18/07/2016, com redução das mesmas, tendo alta
hospitalar e seguimento ambulatorial (Figura 4).
Figura 4 - Primeira etapa da sutura elástica.
Figura 4 - Primeira etapa da sutura elástica.
A paciente retornou ao ambulatório em 23/07/2016 já com diminuição parcial das
lesões, sendo realizado controle com curativos e ajuste das suturas (Figura 5).
Figura 5 - Evidente diminuição da área cruenta com a sutura elástica.
Figura 5 - Evidente diminuição da área cruenta com a sutura elástica.
Após cerca de dez dias realizou-se o fechamento com resultado satisfatório (Figuras 6 e 7).
Figura 6 - Imagem após cerca de 1 ano do tratamento.
Figura 6 - Imagem após cerca de 1 ano do tratamento.
Figura 7 - Imagem em perfil após cerca de 1 ano de tratamento.
Figura 7 - Imagem em perfil após cerca de 1 ano de tratamento.
DISCUSSÃO
O pioderma gangrenoso (PG) consiste em uma dermatose inflamatória, neutrofílica, não
infecciosa, de ocorrência rara. Caracteriza-se por úlceras de pele, crônicas,
recorrente e pode se destrutivo. A recorrência pode estar relacionada com processos
traumáticos (fenômeno da patergia)1,3.
Para o tratamento do pioderma gangrenoso ainda não há protocolos estabelecidos e
adotados. As opções são diferentes esquemas de antibióticos de amplo espectro,
corticosteroides, imunossupressores e imunomoduladores1, e com resultados variados2.
Diante das extensas feridas, considerou-se a possibilidade de uso da sutura elástica,
já que é definida por apresentar resultado estético superior e de melhor qualidade
quando comparado à enxertia de pele ou cicatriz de segunda intenção empregada em
feridas de tamanho semelhante4.
Levando-se em consideração que o fenômeno da patergia ocorre em apenas 20% dos casos,
optou-se pelo uso da sutura elástica com resultado satisfatório, apresentando
cicatrização total das lesões em tempo bem menor e melhora do estado geral da
paciente.
CONCLUSÃO
A sutura elástica demonstrou ser uma técnica que reduziu o tempo de tratamento, bem
como a obtenção de cicatrizes de melhor qualidade estética no caso de pioderma
gangrenoso.
REFERÊNCIAS
1. Bhat RM. Pyoderma gangrenosum: an update. Indian Derm Online J.
2012; 3(1):7-13. doi:10.4103/2229-5178.93482.
2. Soares JM, Rinaldi AE, Taffo E, Alves DG, Cutait RCC, Estrada EOD.
Pioderma gangrenoso pós-mamoplastia redutora: relato de caso e discussão. Rev
Bras Cir Plást. 2013; 28(3):511-4.
3. Dornelas MT, Guerra MCS, Maués GL, Luiz JOMP, Arruda FR, Côrrea MPD.
Pioderma gangrenoso: relato de caso. Juiz de Fora: HU Revista. 2008 jul./set.;
34(3):213-6.
4. Santos ELN, Oliveira RA. Sutura elástica para tratamento de grandes
feridas. Rev Bras Cir Plást. 2012; 27(3):475-7.
1. Fundação Hospitalar, Estado de Minas Gerais,
Belo Horizonte, MG, Brasil.
Endereço Autor: Eduardo Luiz Nigri dos
Santos Av. Pasteur, 89, conj. 805, Bairro Santa Efigênia, Belo
Horizonte, MG, Brasil CEP 30150-290 E-mail:
eduardonigri@terra.com.br