INTRODUÇÃO
Preenchimento facial com elementos injetáveis tem se popularizado como alternativa
às
cirurgias estéticas faciais. Os preenchedores utilizados podem ser classificados
como temporários, como ácido hialurônico, ou permanentes, como polimetilmetacrilato
(PMMA)1,2.
O PMMA, também conhecido como bioplastia, é um composto de microesferas de 30 a 50
micrômetros suspensas em um composto de colágeno bovino. Seu mecanismo de ação se
baseia na dissipação do colágeno bovino após 4 a 12 semanas da aplicação e um
estímulo inflamatório local pelas microesferas de PMMA que induzem a produção e
maturação de colágeno, produzindo volume e forma no local aplicado1.
Os primeiros relatos de uso do PMMA são de 1940, quando começou sendo utilizado como
cimento ósseo em cirurgias ortopédicas, ondontológicas e craniofacial. Com relação
ao seu uso em tecidos moles, as primeiras experiências datam da década de 1980, na
Alemanha. Atualmente, o PMMA é o único preenchedor permanente aprovado pela Food and
Drug Administration dos EUA (FDA), e esta aprovação está limitada ao seu uso para
dobras nasolabiais3.
No Brasil, uma indicação do PMMA como preenchedor, prevista pela Anvisa em uma
portaria de 2009, é o seu uso em preenchimento facial em pacientes portadores de
HIV/Aids, para corrigir a lipodistrofia causada pelo uso de antirretrovirais. Seu
manejo deve respeitar princípios de aplicação que definem a implantação do produto
na derme reticular profunda, e a aplicação de muito volume deve ser evitada, pois
uma série de injeções conservadoras apresentam melhores resultados4.
As potenciais complicações do PMMA incluem nódulos devido à colocação superficial,
vermelhidão persistente ou telangiectasias, cicatrização hipertrófica, aparecimento
de granulomas, inflamação, edema e mudanças de cor; porém, a literatura é escassa
sobre as complicações e seu tratamento1,5.
O presente estudo traz o relato de cinco casos de complicações tardias ao PMMA, que
variaram de 5 a 16 anos após aplicação do mesmo, tiveram resposta insatisfatória à
instilação de corticoide local e necessitaram abordagem cirúrgica. As abordagens
variaram desde a simples retirada do material, com fechamento simples, até a
necessidade de demais procedimentos cirúrgicos para correção de deformidade da
face.
RELATOS DE CASOS
Foram selecionados cinco pacientes para o presente estudo: um do sexo masculino e
quatro do sexo feminino. O tempo entre a aplicação do PMMA e a apresentação de
queixa variou de 5 a 16 anos. As regiões de aplicação que apresentaram complicações
foram: sulco nasogeniano, arco zigomático, pálpebra inferior, região glabelar e
malar. A apresentação clínica das lesões foram nodulações, rigidez local, edema com
ou sem eritema, e descoloração amarela xantomatosa da pele. Para a abordagem
cirúrgica da paciente com PMMA na região glabelar, foi necessária a remoção do
produto do tecido subcutâneo com fechamento primário. No paciente com aplicação em
pálpebra inferior, além da remoção do material, foi necessária blefaroplastia
inferior. Nos casos em que houve aplicação em sulco nasogeniano ou região malar foi
procedida exérese e confecção de ritidoplastia para correção das deformidades na
face. Em todos os casos foi observada boa evolução pós-operatória, regressão total
do volume indesejado antes ocupado pelo preenchedor, melhora do aspecto da pele sem
edema ou eritema, e resultados estéticos satisfatórios (Figura 1).
Figura 1 - A e B: Edema, eritema e nodulação em região
de sulco nasogeniano e palpebral inferior, respectivamente;
C e D: Identificação intraoperatória de
material endurecido, fibrótico e infiltrado, decorrente da aplicação de
PMMA.
Figura 1 - A e B: Edema, eritema e nodulação em região
de sulco nasogeniano e palpebral inferior, respectivamente;
C e D: Identificação intraoperatória de
material endurecido, fibrótico e infiltrado, decorrente da aplicação de
PMMA.
DISCUSSÃO
Preenchedores dérmicos são cada vez mais populares e muitos polímeros sintéticos
surgiram nos últimos anos. O uso indiscriminado do PMMA tem crescido devido ao seu
baixo custo e fácil acesso, inclusive para profissionais não médicos. Na revisão
bibliográfica sobre o assunto é possível observar muitas complicações advindas do
seu uso, além de pouca previsibilidade no resultado final1,5,6. Esta série de
casos demonstra cinco pacientes que necessitaram de abordagem cirúrgica para exérese
do produto, e cirurgias plásticas para correção de deformidades da face.
No Brasil, este preenchedor foi muito utilizado na última década; entretanto, devido
às inúmeras complicações apresentadas, em 2007, a Anvisa proibiu seu uso para fins
estéticos, exceto para casos selecionados como pacientes em uso de antirretrovirais.
No censo de 2017 da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), a entidade
incluiu, pela primeira vez, dados sobre as sequelas dos implantes com PMMA, e o
relato é de que, em 2016, foram feitas 4.432 cirurgias plásticas para corrigir
defeitos decorrentes da aplicação da substância. O total de complicações, porém, é
bem maior, segundo pesquisa realizada pela SBCP-SP, pois no mesmo ano houveram mais
de 17 mil registros de complicações em todo o país4. Apesar desses números e da regulamentação da Anvisa, no cenário atual
é possível observar o uso deste preenchedor para fins estéticos de forma
indiscriminada, inclusive por profissionais não médicos.
Na literatura está descrita uma série de efeitos colaterais, principalmente uma
reação granulomatosa inflamatória com predomínio de células gigantes, fagocitando
partículas de PMMA. A apresentação clínica pode ser desde uma rigidez dos tecidos
locais variando até edema, eritema e formação de nódulos. Há casos descritos de
descoloração amarela xantomatosa da pele como um efeito colateral adicional a
injeção de PMMA3.
As áreas mais acometidas pelas complicações foram os lábios, seguidos por sulco
periocular, sulco nasolabial, testa e bochechas. Observa-se uma maior incidência
dessas complicações em regiões com derme mais delgada e que o implante se posiciona
mais superficialmente. A incidência dessas complicações é incerta5,6.
No trabalho de Limongi, publicado em 2015, foi observada que a histopatologia das
lesões demonstrou um padrão inflamatório predominando células gigantes. Ele cita,
ainda, a injeção intralesional de corticosteroides como possibilidade de tratamento
dos casos, mas foi associada a uma melhora clínica pouco representativa. A excisão
cirúrgica do implante apresentou os melhores resultados e mostrou-se eficaz na
melhoria do edema, eritema e nodularidade5.
Este trabalho relata tratamento das complicações do uso do PMMA na face, mas há
relatos do seu uso em outras regiões do corpo, como glúteos. Sua aplicação em
grandes volumes apresenta alto índice de complicações e resultados imprevisíveis,
além do mais, não há estudos em longo prazo sobre este produto no corpo.
REFERÊNCIAS
1. Vargas AF, Amorim NG, Pitanguy I. Complicações tardias dos
preenchimentos permanentes. Rev Bras Cir Plást. 2009;
24(1):71-81.
2. Christensen L, Breiting V, Janssen M, Vuust J, Hogdall R. Adverse
reactions to injectable soft tissue permanent fillers. Aesth Plast Surg. 2005;
34-48.
3. Neligan PC, Rodriguez, ED. Cirurgia plástica: cirurgia
craniomaxilofacial e cirurgia de cabeça e pescoço. 3 ed. Rio de Janeiro:
Elsevier; 2015.
4. Site da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Disponível em:
http://www2.cirurgiaplastica.org.br/.
5. Goldman A, Wollina U. Polymethylmethacrylate induced nodules of the
lips: clinical presentation and management by intralesional neodymium:YAG laser
therapy. Dermatolc Ther. 2019; 32:e12755. doi:
10.1111/dth.12755.
6. Limongi RM, Tao J, Borba A, Pereira F, Pimentel AR, Akaishi P, Cruz
AAV. Complications and management of polymethylmethacrylate (PMMA) injections to
the midface. Aesthc Surg J. 2016; 36(2):132-5. doi:
10.1093/asj/sjv195.
1. Hospital da Baleia, Belo Horizonte, MG,
Brasil.
2. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica,
Minas Gerais, MG, Brasil.
Endereço Autor: Chrystian Júnio
Rodrigues Eli Seabra Filho, 100, 1402/1, Buritis, Belo Horizonte, MG,
Brasil CEP 30575740 E-mail:
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