INTRODUÇÃO
A expansão da pele é um processo fisiológico definido como a capacidade da pele
humana de aumentar sua área superficial em resposta à tensão ou a uma dada
deformação. Os expansores de pele são próteses de silicone de diferentes formas e
tamanhos que são implantados sob a pele. Como a pele é capaz de fluência ou
relaxação , a tensão resultante diminui após um período de tempo específico em
função de uma deformação imposta. A fisiologia da expansão da pele não consiste
somente do alongamento da pele, mas também inclui o processo de relaxamento
envolvido para obter um retalho extra de pele com características específicas.
Desde o estudo realizado por Austad & Rose1, vários autores como Schmidt et al.2
tentaram melhorar o processo de expansão utilizando expansões auto-infláveis ou
contínuas e controladas, conforme o estudo de Duffy & Shuter3. Vários autores também examinaram conceitos e
complicações envolvidas no processo cirúrgico, e numerosos estudos descrevendo
resultados associados à expansão da pele de uma perspectiva médica têm sido
publicados. No entanto, poucos estudos investigaram o processo de bioengenharia.
Uma pergunta que surge durante a expansão da pele tem relação com a pressão dentro
do
expansor, que é importante para determinar se a infiltração deve prosseguir.
Atualmente, o médico faz isto de forma intuitiva.
Quando Pamplona & Mota4 monitoraram a
pressão interna e o volume injetado durante várias expansões de pele, perceberam
discrepâncias na expansão nas situações em que a prótese é localizada sobre tecidos
gordurosos. Para monitorar a expansão da pele e verificar e identificar o
comportamento da pele resultante de expansões cutâneas sucessivas, foi necessário
medir a pressão dentro do expansor de pele antes, durante e após da injeção da
solução salina para cada expansão5-7.
OBJETIVO
Para estudar o processo de expansão da pele, um dispositivo portátil de infiltração
de líquido foi desenvolvido, permitindo registrar a relação entre a pressão interna
e o volume do líquido infiltrados durante a expansão da pele, bem como o
monitoramento da pressão interna ao longo do tempo. Este sistema semiautomático tem
como objetivo ajudar o cirurgião no procedimento de expansão da pele, assim como
permitir que o processo seja realizado pelo paciente, seguindo as diretrizes do
médico.
Assim, um paciente em locais remotos e com acesso limitado à eletricidade pode
realizar o procedimento de forma semiautônoma, eliminando a necessidade de
atendimento ambulatorial periódico. A aquisição dos dados da expansão possibilitará
vários estudos subsequentes: o exame da diminuição da pressão de infusões em
implantes subcutâneos ao longo do tempo, a geração de dados para identificar os
parâmetros viscoelásticos da pele, a determinação dos limites de infiltração, a
otimização de expansores e implantes e muito mais.
MÉTODOS
O dispositivo tem um design de fácil transporte e limpo, sendo protegido por uma
maleta de transporte, que contém todos os acessórios necessários para o uso,
conforme indicado na Figura 1. Sua operação
apresenta uma interface fácil de usar e sensível ao toque para uso do paciente e do
médico. Além disso, ao longo do processo de infiltração, o usuário pode controlar
a
pressão, o fluxo máximo e o volume, e pode interromper o procedimento a qualquer
momento.
Figura 1 - Infusor autônomo: tela (a), bomba (b), solução salina (c) e cabo de
eletricidade (d).
Figura 1 - Infusor autônomo: tela (a), bomba (b), solução salina (c) e cabo de
eletricidade (d).
Apenas o médico pode ajustar as configurações e alterar a data e hora; estas são
protegidas por senha. O médico insere configurações para cada expansor, em um máximo
de 5, para o volume máximo e pressão de cada expansão da pele, assim como o volume
total máximo a ser infiltrado. O processo para automaticamente quando a pressão
atinge um valor crítico ou quando o volume total de líquido se infiltrando. A bomba
peristáltica pode infiltrar e retirar líquido do expansor.
O paciente usa a tela exibida na Figura 2 para
iniciar cada infusão, selecionando o expansor de pele a ser infiltrado, uma vez que
esta operação pode ser realizada usando vários expansores. A tela mostra a pressão
real dentro do expansor, e o paciente pode controlar o fluxo da infiltração, podendo
interromper o processo a qualquer momento.
Figura 2 - Telas do paciente em que a infusão começa.
Figura 2 - Telas do paciente em que a infusão começa.
Os dados para cada expansão são registrados separadamente em arquivos “.csv” para
relacionar a pressão e o volume com a data e a hora. A bomba é facilmente
esterilizada através de uma cabeça de bomba resistente a autoclave, e a bomba
peristáltica não entra em contato com o líquido.
RESULTADOS
Para simular o processo de expansão da pele, uma membrana elástica foi utilizada para
fazer simulação na pele em um expansor de pele redondo de 200 ml, conforme indicado
na Figura 3, que, por sua vez, é acoplado à
plataforma em acrílico. Usando o dispositivo com quatro infiltrações contendo
volumes de aproximadamente 50 ml em quatro dias consecutivos, a pressão interna vs.
o volume interno no expansor de pele para cada expansão, conforme indicado na Figura 4.
Figura 3 - Banco de testes.
Figura 3 - Banco de testes.
Figura 4 - Volume interno vs. pressão interna sobre cada
expansão.
Figura 4 - Volume interno vs. pressão interna sobre cada
expansão.
A partir desta figura, observa-se na transição ao longo dos dias que a pressão
interna no expansor diminui; acredita-se que isso ocorre devido às propriedades
viscoelásticas da membrana, que se relaxa ao longo do tempo e é muito inferior
àquela da pele. Observa-se também um comportamento diferente na segunda expansão,
em
que ocorre uma queda na pressão, seguida de uma curva que não segue a tendência
anterior. Isto pode ser devido ao ajuste do expansor de pele sobre a base de
acrílico.
DISCUSSÃO
Um design proprietário foi desenvolvido em um caso à prova de água para
portabilidade, segurança e facilidade de manuseamento com a capacidade de determinar
a pressão e o volume, exibindo-os na interface de tela de toque, e salvando-os em
um
cartão MicroSD removível, registrando a data e a hora para o até cinco expansores.
Além disso, o dispositivo é alimentado por uma bateria de íons de lítio recarregável
e usa um microcontrolador programável.
CONCLUSÕES
Para melhorar o processo de expansão da pele, um dispositivo portátil de infiltração
de líquido foi desenvolvido, permitindo registrar a relação entre a pressão interna
e o volume do líquido infiltrado durante a expansão da pele, assim como o
monitoramento da pressão interna ao longo do tempo. Este sistema semiautomático pode
auxiliar o cirurgião no procedimento de expansão da pele, permitindo que o processo
seja realizado pelo paciente. Dessa forma, um paciente em um local remoto e com
pouco acesso à eletricidade pode realizar o procedimento.
O dispositivo automatiza e otimiza a expansão, uma vez que o médico pode prescrever
um limite para cada expansão tanto para a pressão máxima quanto o volume
infiltrados. Todos os dados são registrados, o que fornece uma base de dados
importante e precisa sobre o comportamento de pele para estudos de bioengenharia
médica relacionados a gênero, raça, idade e local de expansão. O dispositivo permite
uma nova forma de realizar a expansão da pele devido à sua portabilidade e ampla
capacidade de armazenamento.
Agradecimentos
Agradecemos ao professor Ivo Pitanguy e a sua equipe pelo apoio dado aos nossos
projetos ao longo dos anos.
COLABORAÇÕES
DCP
|
Análise e/ou interpretação dos dados; aquisição de financiamento;
conceitualização; concepção e desenho do estudo; gerenciamento de
recursos; gerenciamento do projeto; investigação; metodologia;
realização das operações e/ou experimentos; redação - preparação do
original; redação - revisão e edição; supervisão; validação.
|
RCP
|
Coleta de dados; conceitualização; concepção e desenho do estudo;
investigação; realização das operações e/ou experimentos.
|
HIW
|
Análise e/ou interpretação dos dados; investigação.
|
GRS
|
Metodologia; realização das operações e/ou experimentos.
|
HNR
|
Aprovação final do manuscrito; conceitualização.
|
REFERÊNCIAS
1. Austad ED, Rose GL. A self-inflating tissue expander. Plast Reconstr
Surg. 1982;70(5):588-94.
2. Schmidt SC, Logan SE, Hayden JM, Ahn ST, Mustoe TA. Continuous
versus conventional tissue expansion: experimental verification of a new
technique. Plast Reconstr Surg. 1991;87(1):10-5.
3. Duffy JS, Shuter M. Evaluation of soft-tissue properties under
controlled expansion for reconstructive surgical use. Med Eng Phys.
1994;16(4):304-9.
4. Pamplona DC, Motta DEJS. Numerical and experimental analysis of
inflating a circular hyperelastic membrane over a rigid and elastic foundation.
Int J Mech Sci. 2012;65(1):18-23.
5. Pamplona DC, Carvalho CR. Characterization of human skin through
skin expansion. J Mech Mater Struct. 2012;7(7):641-55.
6. Pamplona DC, Velloso RQ, Radwanski HN. On skin expansion. J Mech
Behav Biomed Mater. 2014;29:655-62.
7. Pamplona DC, Weber HI, Leta FR. Optimization of the use of skin
expanders. Skin Res Technol. 2014;20(4):463-72.
1. Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2. Instituto Ivo Pitanguy, Rio de Janeiro, RJ,
Brasil.
Autor correspondente: Djenane Cordeiro Pamplona, Departamento de
Engenharia Mecânica da PUC-Rio, Rua Marquês de São Vicente nº 225 - Gávea - Rio
de Janeiro, RJ, Brasil, CEP 22451-900. E-mail:
djenane@puc-rio.br
Artigo submetido: 17/5/2018.
Artigo aceito: 4/10/2018.
Conflitos de interesse: não há.