INTRODUÇÃO
O lóbulo da orelha é considerado um importante atributo de beleza em muitas sociedades
ocidentais. O seu aspecto lateral é detalhe chave na apreciação estética facial. Hoje,
não só as mulheres, mas também os homens são adeptos do uso de brincos em suas orelhas.
Lóbulos normais de boa forma e aparência têm um papel sociocultural decorativo por
joias pingentes e uma função erógena na região facial.
A proposição de técnicas corretivas do lóbulo atesta a importância psicossocial deste
segmento, normalmente pequeno e vistoso. Para muitos autores, o defeito básico está
na hipertrofia lobular significando aumento longitudinal. O estudo vê sua patologia
básica numa atrofia fisiológica que gera alongamento e enrugamento. Há mulheres jovens
com lóbulos alongados por uso de pesados brincos da moda.
Este trabalho apresenta uma técnica simples que conjuga a ideal incisão periférica
da borda livre ao princípio básico reconstrutivo do pedículo vascular ao reaproveitar
o tecido excedente. Opta-se pela ressecção na margem livre, posto que conjugue uma
cicatriz oculta à agradável e capciosa inserção facial do lóbulo livre (pediculado)
da preferência cosmética feminina universal. Aqui se trata de reduzir o comprimento
por um retalho elevador que incrementa a espessura lobular simultaneamente.
Sua realização pelo método marginal de Tipton modificado visa ocultar a cicatriz (Figuras 1A to 1B). Dada nossa pequena casuística atual de 1 caso (Figuras 2A-D), solicitamos a parceria para comprovação técnica em 2019. Relata o colega um seguro
processo corretivo no rejuvenescimento facial concomitante (Figuras 3A to 3B e 4A e 4B). A cirurgia de correção estética do lóbulo implica na obtenção de:
Figura 1 - A. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica; B. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica.
Figura 1 - A. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica; B. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica.
Figura 2 - A. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica; B. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica; C. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica; D. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica.
Figura 2 - A. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica; B. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica; C. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica; D. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica.
Figura 3 - A. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica; B. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica.
Figura 3 - A. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica; B. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica.
Figura 4 - A. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação; B. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica.
Figura 4 - A. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação; B. Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica.
Tamanho e forma lobular correta para a orelha e face.
Uma cicatriz resultante inconspícua.
Uma revitalização volumétrica.
MÉTODOS
Nossa experiência de correção lobular concomitante à cirurgia facial é de 6 casos
por técnica tipo Guerrero-Santos (pec-man). Nos últimos 12 anos, opta-se pela técnica da borda livre de ressecção graduada
ao modo Tipton, com 1 caso. No aperfeiçoamento técnico atual foram 3 casos, sendo
dois gentilmente cedidos pelo destacado cirurgião paulistano Dr. A Bersou.
Foram operados 4 casos, dois na Interclínicas-Interplástica de Campo Grande e outros
dois em São Paulo, total de 4 mulheres brancas de 58 a 74 anos, três brasileiras e
uma palestina, no período de 2007 a 2019, com seguimento de 1 mês a 12 anos. A técnica
realiza um levantamento encurtando e espessando o lóbulo a um só tempo numa ressecção
cutânea retrolobular. Preserva a gordura subcutânea para reintroduzi-la ao corpo lobular
medialmente.
Anatomia
Quanto à morfologia lobular, pode-se dizer com absoluta convicção que sua posição
esteticamente correta depende do esqueleto cartilaginoso da orelha externa normal.
O estudo da anatomia auricular está bem descrito na literatura1, atestando a notável suplência vascular do segmento. Como o pavilhão da orelha tem
quase toda a pele lateral intrinsicamente presa ao pericôndrio, torna-se visível sua
anatomia esquelética normal ou não, a exceção do baixo antítrago no domínio do lóbulo.
Essa é, portanto, a única parte da orelha a sofrer do envelhecimento cutâneo facial
precoce. Uma vez que neste ponto não exista maior aderência esquelética, fica o lóbulo
à mercê de sua timoneira cauda da hélice2. Importante faceta é a de lóbulo preso (séssil) ou solto (pediculado), este último
da preferência estética feminina universal. São reparos anatômicos3 de apreciação estética na redução lobular: otobasion inferius (oi) ao subaurale (sa)
e otobasion superius (os) ao superaurale (spa) que devem obedecer certa reciprocidade
(Figura 2A).
Esquematização Técnica (Figura 5)
Figura 5 - Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica.
Figura 5 - Rejuvenescimento Cirúrgico do Lóbulo Senil - Uma Inovação Técnica.
Figura 6 - Reparos Anatômicos.
Figura 6 - Reparos Anatômicos.
Vista de frente pré-operatória do lóbulo original e a demarcação na sua frente do
tamanho ideal em verde e em vermelho o traçado de acesso ao retalho lobular com tesoura
pela borda livre. Pós-infiltração anestésica e manejo firme faz um pequeno pique a
bisturi para introdução de tesoura de Stevens de ponta curva fina. É a incisão marginal
somente na pele.
Vista de frente pós-operatória final do lóbulo curto e encorpado graças à reintrodução
adiposa ao lóbulo reavivando o continente através do aumento de conteúdo.
Vista detrás do transoperatório com as demarcações: o desenho do tamanho ideal traçado
em verde por transferência com agulhas de insulina para o retrolóbulo e em vermelho
marginal após o corte a tesoura.
Vista detrás transoperatória com a linha já incisada no tamanho da redução lobular.
Inicia-se a ressecção cutânea de pele magra decorticada pela borda da incisão superior
com pinça e bisturi. Preserva-se o tecido adiposo.
Vista detrás transoperatória da área decorticada em amarelo e o fino descolamento
a pinça mosquito e gancho a fim de criar espaço para a gordura do retalho elevador.
Vista detrás transoperatória e aplicação dos pontos de sutura na elevação do rebordo
lobular feito com suturas de seda ou Nylon 6-0.
Vista detrás pós-operatória do lóbulo curto e gordo, e cicatriz oculta nos pontos
simples na parte interna retro lobular. Poupado o óstio anterior, deve ser recanalizado
no retalho retrolobular.
DISCUSSÃO
As deformidades lobulares do envelhecimento são: alongamento, enrugamento e adelgaçamento.
A literatura pertinente é rica de técnicas redutoras do lóbulo da orelha desde um
passado longínquo aos dias atuais4-10. A preferência é pela cirurgia no contorno livre, que diminui a um só tempo comprimento
e largura, deixando para futuros lipoenxertos o ganho em espessura numa cicatriz inconspícua5,7. As rugas que marcam sua superfície são devido à atrofia senil no tecido conjuntivo-adiposo.
Sua aparência social é fator decisivo no rejuvenescimento facial conjunto, especialmente
nas mulheres.
As cirurgias modernas para o lóbulo senil têm início no Brasil, com Loeb e Pitanguy,
e no México, com Guerrero-Santos4-6. As técnicas que tratam o lóbulo pela implantação facial têm o inconveniente de adulterar
sua expressão e inserção natural, muitas vezes de difícil regularização e cicatriz
à vista4,8,10. Muitos autores propuseram técnicas redutoras do continente e conteúdo a um só tempo,
em prejuízo da espessura de importância vital para o sexo feminino8,10. Muitos reduzem a extensão lobular em sentido global, deixando-o menor, mais fino
e com cicatriz aparente. Hoje, as técnicas bem sucedidas de rejuvenescimento lobular
por tecido gorduroso são uma realidade3.
Nossa modificação do Tipton7 representa uma evolução no rejuvenescimento facial como um todo: lóbulo menor, revitalizado
e natural. A presente técnica visa reduzir comprimento e largura, ao mesmo tempo em
que aumenta a espessura lobular. A cicatriz oculta atrás do lóbulo tem agradável linha
de contorno e inserção na face de forma natural.
É uma técnica antienvelhecimento lobular, pois reduz o continente cutâneo flácido
e envelhecido, preservando o conteúdo graxo para encorpá-lo. A técnica cirúrgica estética
do lóbulo auricular tem sido sempre relegada a um plano secundário deformante, como
se o objetivo cosmético contraindicasse princípios reconstrutivos estéticos. É uma
cirurgia feita ao arrepio da lei do mais forte, famoso e experiente cirurgião, em
detrimento do mais fraco e pequenino lóbulo dessa periférica orelha.
CONCLUSÃO
A técnica realiza um encurtamento e espessando o lóbulo a um só tempo numa ressecção
cutânea retrolobular e cicatriz inconspícua. Preserva a gordura subcutânea para reintroduzi-la
ao corpo lobular medialmente.
Agradecimentos
Os autores agradecem o Prof. J M Psillakis (In memoriam) e a Sra. Eliana da GrafiQx
por inestimável assistência. E ao Dr. A. Bersou, brilhante cirurgião da capital paulista,
por sua prestimosa colaboração em dois casos.
REFERÊNCIAS
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Clin Plast Surg. 2002;29(2):155-74.
2. Oliveira MM, Oliveira DS, Oliveira GS. The Existence of a Natural Plica at the Anatomical
Base of the Antihelix and its Surgical Importance to Address Protruding Ears: An Anatomicosurgical
Study. Aesthetic Plast Surg. 2017;41(2):321-6.
3. Pi H, Kurlander DE, Guyuron B. Earlobe Rejuvenation: A Fat Grafting Technique. Aesthet
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4. Loeb R. Earlobe tailoring during facial rhytidoplasties. Plast Reconstr Surg. 1972;49(5):485-9.
5. Pitanguy I, Müller P, Kauk LK, Freitas LFP. Incisões remodelantes no lóbulo da orelha.
Rev Bras Cir. 1988;78(2):155-62.
6. Guerrero-Santos J. Correction of hypertrophied earlobes in leprosy. Plast Reconstr
Surg. 1970;46(4):381-3.
7. Tipton JB. A simple technique for reduction of the earlobe. Plast Reconstr Surg. 1980;66(4):630-2.
8. Constant E. Reduction of the hypertrophic earlobe. Plast Reconstr Surg. 1979;64(2):264-7.
9. Connell BF. Correcting deformities of the aged earlobe. Aesthet Surg J. 2005;25(2):194-6.
10. Van Putte L, Colpaert SD. Earlobe Reduction with Minimally Visible Scars: The Sub-Antitragal
Groove Technique. Aesthetic Plast Surg. 2017;41(2):335-8.
1. Hospital Geral da Santa Casa de Campo Grande, Divisão de Cirurgia Plástica, Campo
Grande, MS, Brasil.
Autor correspondente: Miguel Marques Oliveira, Av. Afonso Pena, 3504, Conjunto 126, Campo Grande, MS, Brasil. CEP 79002-075, E-mail:
miguelmar@hotmail.com.br
Artigo submetido: 04/10/2021.
Artigo aceito: 13/12/2021.
Conflitos de interesse: não há.