INTRODUÇÃO
A mastopexia com prótese continua sendo um desafio para todos os cirurgiões plásticos,
desde sua primeira descrição1,2. Resultados consistentes a longo prazo ainda são difíceis de serem obtidos por muitas
razões e alguns autores defendem a cautela devido às complicações3,4.
Uma das razões mais comuns para a revisão cirúrgica é a recidiva da ptose, que pode
ter muitos fatores implícitos, mas a falta de suporte confiável a longo prazo é a
principal causa5. O músculo peitoral maior tem sido estudado e utilizado em muitas técnicas com diferentes
resultados6-15, embora dual-plane puro ainda seja preferido na maioria dos estudos16-21. Daniel desenvolveu uma técnica em 2005 que denominou de “duplo espaço”, na qual
ele divide o músculo peitoral maior inferolateramente para criar uma loja onde o implante
será colocado8.
O autor principal deste estudo vem utilizando essa técnica desde 2012 e descreve sua
experiência em 92 casos consecutivos (184 seios) com duas modificações para melhor
estabilidade da loja e consistência dos resultados15,19,22,23.
OBJETIVOS
Este estudo tem como objetivo descrever a experiência de um único cirurgião em uma
abordagem modificada de mastopexia de aumento.
MÉTODOS
Este estudo foi conduzido de acordo com as diretrizes da Declaração de Helsinque de
1964 e suas alterações posteriores ou padrões éticos comparáveis. As pacientes foram
provenientes da clínica particular do cirurgião autor do estudo.
Trata-se de um estudo retrospectivo que incluiu 92 casos consecutivos (184 mamas)
de mastopexia de aumento em único tempo feitas no Hospital Pietá, em Curitiba, PR,
pelo mesmo cirurgião utilizando técnica de duplo espaço modificado, entre março de
2012 e outubro de 2019.
O peso e o índice de massa corporal (IMC) foram verificados antes da cirurgia; fumantes
foram encorajadas a parar 30 dias antes. Aquelas que não cumpriram a solicitação tiveram
a cirurgia negada. Foram tiradas fotografias pré-operatórias e pós-operatórias.
Todas as pacientes receberam antibióticos perioperatórios e aplicação de dispositivos
de compressão intermitente de membros inferiores. Anestesia peridural associada à
sedação foi utilizada. Não foi colocado dreno em nenhum caso. Cada paciente recebeu
alta no dia da cirurgia (exceto quando as cirurgias associadas foram feitas) e incentivadas
a deambular logo após a sedação passar. Analgésicos e anti-inflamatórios foram mantidos
por uma semana em média. O sutiã cirúrgico foi indicado por 2 meses.
As pacientes fizeram acompanhamento em 1 dia, 1-2 semanas, 1-2-3-6 meses e depois
anualmente.
As complicações foram definidas como “relacionadas ao tecido” e “relacionadas ao implante”.
As revisões foram definidas como menores (realizadas sob anestesia local ou local/sedação
durante menos de 30 minutos) e maiores (com duração superior a 30 minutos sob peridural/sedação).
Nenhuma avaliação de satisfação do paciente foi feita.
A análise estatística dos dados foi realizada por meio da análise do Qui- quadrado
(χ2) e do teste de correlação de Spearman. O teste de correlação de Spearman foi utilizado
para comparar as taxas de revisão e os possíveis fatores de risco (tabagismo, IMC,
cirurgia mamária prévia, cirurgia bariátrica e amamentação). A significância estatística
foi definida como p< ,05.
Critérios de inclusão
Pseudoptose, ptose mamária grau I ou superior (classificação de Regnault) e hipoplasia.
Critérios de exclusão
Assimetria significativa precisando de aumento apenas em um lado e mastopexia no outro.
Fumantes ativos.
Descrição cirúrgica da técnica de duplo espaço
Os pacientes foram submetidos a mastopexia com cicatriz em T invertido ou vertical.
O acesso para o implante foi feito através da incisão vertical até que a fáscia do
peitoral maior fosse encontrada, então, uma loja subfascial foi criada no polo superior
e medial de acordo com o tamanho do implante, e a redução do tecido mamário era feita
quando necessário.
A técnica de duplo espaço foi a mesma dos casos descritos por Daniel em 2005. O músculo
peitoral maior foi dividido no mesmo eixo de suas fibras 3 cm acima de sua borda inferior
(em média) até as fibras axilares e conectado ao tecido mamário adjacente. As inserções
do esterno foram seccionadas para permitir a criação de uma loja submuscular inferolateral
onde o implante seria inserido. O tamanho da loja variou de acordo com o tamanho do
implante, com objetivo de cobertura de pelo menos 30-40% do implante, o que também
facilitava a fixação do retalho muscular no pilar medial da mama (Figura 1).
Figura 1 - Representação gráfica da técnica de duplo espaço modificada.
Figura 1 - Representação gráfica da técnica de duplo espaço modificada.
Uma das modificações feitas pelo autor foi o uso de plano subfascial no polo superomedial,
enquanto Daniel utilizou abordagem subglandular23.
Fixação de retalho muscular
A outra modificação foi a fixação do retalho muscular ao pilar medial do tecido mamário
para estabilização da loja usando nylon 2.0 em suturas separadas em “U” (pelo menos
4). No último ano, foi realizada uma sutura de bloqueio extra para reforçar a linha
de sutura e evitar o rompimento muscular.
Mastopexia
O plano do implante era subfascial no polo superomedial e submuscular no polo inferolateral.
Em seguida, aproximação dos pilares mamários usando nylon 2.0 para que o implante
ficasse coberto por duas camadas: retalho muscular e parênquima mamário de mastopexia.
Tecido celular subcutâneo e pele foram fechados em camadas com monocryl 3.0 e 4.0,
cola cirúrgica (Dermabond®) foi utilizada. O mamilo foi exposto com a técnica aberta. Não foi utilizado dreno
em nenhum caso.
Casos secundários
Em pacientes com cirurgia prévia de aumento da mama, o retalho muscular tinha que
ser confeccionado de forma diferente. Se o plano anterior era subglandular ou subfascial,
o retalho muscular era criado e deixado separado do tecido glandular. Se o plano anterior
era submuscular, a maioria das pacientes apresentava uma retração significativa do
músculo peitoral maior, por isso, o retalho era criado também com uma porção de cápsula
inferolateral (Figura 2).
Figura 2 - Casos secundários. Retalho misto de músculo e cápsula. Retalho misto em casos secundários.
A: Mostrando implante na posição submuscular e a abertura a ser feita na linha azul
para ter um retalho misto: músculo peitoral maior (seta azul) e cápsula de implante
(seta amarela). B: Técnica de duplo espaço com fixação de retalho misto já realizada e implante seguro
e estabilizado (linha de sutura na lateral da linha verde).
Figura 2 - Casos secundários. Retalho misto de músculo e cápsula. Retalho misto em casos secundários.
A: Mostrando implante na posição submuscular e a abertura a ser feita na linha azul
para ter um retalho misto: músculo peitoral maior (seta azul) e cápsula de implante
(seta amarela). B: Técnica de duplo espaço com fixação de retalho misto já realizada e implante seguro
e estabilizado (linha de sutura na lateral da linha verde).
RESULTADOS
A idade das pacientes variou de 17 a 54 anos, com a média de 41,67 anos. O IMC médio
foi de 24,2. O tamanho do implante variou entre 150 ml e 450 ml (média de 281 ml),
todos redondos texturizados de perfil alto ou ultra-alto. O seguimento médio foi de
14 meses (Tabela 1).
Tabela 1 - Dados demográficos das pacientes.
|
Mastopexia de aumento (92 pacientes) |
Idade (anos) |
17-54 (41,61) |
Seguimento (meses) |
6-72 (14) |
IMC |
24,22 (média) |
Fumantes |
6 (6,52%) |
Cirurgia prévia de Mama |
39 (42,39%) |
Pós-bariátrica |
5 (5,44%) |
Amamentação |
49 (53,26%) |
Tabela 1 - Dados demográficos das pacientes.
Cinco pacientes (5,4%) eram pós-bariátricas e 49 pacientes (53,3%) tinham histórico
de amamentação. Apenas seis pacientes (6,5%) eram fumantes e 39 pacientes (42,4%)
tinham cirurgia prévia da mama (aumento, mastopexia de aumento ou mamoplastia redutora).
Todos as pacientes foram submetidas a abordagem de duplo espaço para suporte interno
do implante, e a maioria dos casos foi realizada com mastopexia em T invertido (90,25%)
e alguns (9,75%) com apenas uma cicatriz vertical e periareolar.
O índice de complicações foi de 27,17%. Não houve casos de infecção pós-operatória
ou necrose de retalhos ou complexo areolomamilar (CAM). Apenas uma paciente (1,09%)
teve sofrimento do CAM em uma mastopexia secundária, que foi completamente resolvida
com cilostazol 100 mg/dia durante 10 dias associada a três sessões de câmara hiperbárica.
Houve mais complicações relacionadas ao tecido do que complicações relacionadas ao
implante (Tabela 2). Três pacientes (3,26%) tiveram contratura capsular grau III: uma foi submetida
a capsulectomia com troca de implantes, a segunda foi submetida a explante com capsulectomia
e nova mastopexia, a terceira foi tratada apenas com Singulair 10 mg/dia durante 3
meses, com melhora para uma contratura grau I e não foi necessária reoperação.
Tabela 2 - Complicações relacionadas ao implante e aos tecidos.
|
Total |
% |
Conduta |
Implante |
|
|
|
Contratura capsular |
3 |
3,26 |
Capsulectomia e troca do implante / Explante / Singulair 10 mg/dia |
Assimetria |
1 |
1,09 |
Lipoinjeção / revisão de cicatriz |
Tecido |
|
|
|
Ptose recorrente |
7 |
7,61 |
Nova mastopexia |
Cicatrizes inestéticas |
6 |
6,52 |
Revisão das cicatrizes |
Deformidade dinâmica |
4 |
4,35 |
Lipoinjeção |
Perda de fixação da alça muscular |
3 |
3,26 |
Nova fixação com sutura de bloqueio |
Sofrimento do CAM |
1 |
1,09 |
Câmara hiperbárica e cilostazol 100 mg/dia |
Tabela 2 - Complicações relacionadas ao implante e aos tecidos.
A complicação mais comum foi a ptose recorrente (7,61%) e todas as pacientes foram
submetidas a uma nova mastopexia para correção. As cicatrizes inestéticas foram a
segunda complicação mais comum (6,52%), e algumas pacientes foram revisadas apenas
com anestesia local, porém a peridural foi utilizada quando outra complicação foi
tratada na mesma paciente. Foi encontrada em três pacientes (3,26%) a ruptura de fixação
do retalho muscular e perda de suporte por este motivo; todos foram cirurgicamente
revisados para nova fixação com sutura de bloqueio. Em quatro pacientes (4,35%) foi
necessário a lipoinjeção no quadrante inferolateral devido à deformidade dinâmica
da alça muscular (Figura 3).
Figura 3 - Deformidade dinâmica. Uma mulher de 51 anos com mastopexia periareolar feita 11 anos
antes com prótese de perfil alto de 280 ml. Ela desejava restaurar a forma e volume
das mamas e também revisão de cicatrizes. A paciente foi submetida a mastopexia de
aumento com cicatriz vertical e colocação de um implante de perfil alto de 335 ml
com técnica de duplo espaço. Ela apresentou deformidade dinâmica visível no polo inferior
e foi submetida à revisão com lipoinjeção de 150 ml e também mudança para cicatriz
T invertida. A visão oblíqua é mostrada no pós-operatório de 6 meses com deformidade
dinâmica no polo inferior (esquerda, seta verde) e 1 ano após revisão (direita).
Figura 3 - Deformidade dinâmica. Uma mulher de 51 anos com mastopexia periareolar feita 11 anos
antes com prótese de perfil alto de 280 ml. Ela desejava restaurar a forma e volume
das mamas e também revisão de cicatrizes. A paciente foi submetida a mastopexia de
aumento com cicatriz vertical e colocação de um implante de perfil alto de 335 ml
com técnica de duplo espaço. Ela apresentou deformidade dinâmica visível no polo inferior
e foi submetida à revisão com lipoinjeção de 150 ml e também mudança para cicatriz
T invertida. A visão oblíqua é mostrada no pós-operatório de 6 meses com deformidade
dinâmica no polo inferior (esquerda, seta verde) e 1 ano após revisão (direita).
O índice de revisões foi de 25,3% (Tabela 3) e duas (8,7%) dessas foram consideradas menores porque foram feitas sob sedação/local
ou local somente duraram menos de 30 minutos. As revisões feitas sob a sedação/peridural
foram consideradas maiores, levaram mais de 30 minutos e foram realizadas em estruturas
mais profundas (tecido mamário, músculo). Quatro pacientes (4,4%) apresentaram duas
complicações associadas (Tabela 3). Os resultados de longo prazo são mostrados em pacientes primários (Figura 4), secundários (Figura 5) e pós-bariátricos (Figura 6).
Figura 4 - Caso primário. Paciente de 43 anos com ptose pós-parto grau 2, desejando restauração
de volume e projeção das mamas. A paciente foi submetida a mastopexia de aumento em
T invertido e colocação de um implante em duplo espaço de 285 ml de perfil ultra-alto.
A visão anterior é mostrada no pré-operatório (esquerda) e 3 anos no pós-operatório
(direita).
Figura 4 - Caso primário. Paciente de 43 anos com ptose pós-parto grau 2, desejando restauração
de volume e projeção das mamas. A paciente foi submetida a mastopexia de aumento em
T invertido e colocação de um implante em duplo espaço de 285 ml de perfil ultra-alto.
A visão anterior é mostrada no pré-operatório (esquerda) e 3 anos no pós-operatório
(direita).
Figura 5 - Caso secundário. Dual-plane prévio. Paciente de 48 anos com mastopexia de aumento feita 7 anos antes com um implante
de perfil alto de 300 ml. Ela desejava restauração da forma e volume das mamas. Foi
submetida a mastopexia de aumento em T invertido com ressecção de 405 g de tecido
mamário e colocação de implante de 375 ml de perfil ultra-alto e troca de dual plane para técnica de duplo espaço. A visão anterior é mostrada no préoperatório (esquerda)
e 4 anos no pós-operatório (direita).
Figura 5 - Caso secundário. Dual-plane prévio. Paciente de 48 anos com mastopexia de aumento feita 7 anos antes com um implante
de perfil alto de 300 ml. Ela desejava restauração da forma e volume das mamas. Foi
submetida a mastopexia de aumento em T invertido com ressecção de 405 g de tecido
mamário e colocação de implante de 375 ml de perfil ultra-alto e troca de dual plane para técnica de duplo espaço. A visão anterior é mostrada no préoperatório (esquerda)
e 4 anos no pós-operatório (direita).
Figura 6 - Paciente pós-bariátrica. Paciente de 40 anos com ptose grau 2 póscirurgia bariátrica,
desejando restauração de volume e projeção das mamas. Foi submetida a mastopexia de
aumento em T invertido e colocação de implante em duplo espaço de 310 ml de perfil
ultra-alto. As visões anterior e oblíqua são mostradas no pré-operatório (esquerda),
1 ano de pós-operatório (centro) e 6 anos no pós-operatório (direita).
Figura 6 - Paciente pós-bariátrica. Paciente de 40 anos com ptose grau 2 póscirurgia bariátrica,
desejando restauração de volume e projeção das mamas. Foi submetida a mastopexia de
aumento em T invertido e colocação de implante em duplo espaço de 310 ml de perfil
ultra-alto. As visões anterior e oblíqua são mostradas no pré-operatório (esquerda),
1 ano de pós-operatório (centro) e 6 anos no pós-operatório (direita).
Tabela 3 - Complicações e revisões.
|
Mastopexia de aumento (92 pacientes) |
% |
Revisão |
Ptose recorrente |
7 |
7,61 |
7 |
Contratura capsular |
3 |
3,26 |
2 |
Cicatrizes inestéticas |
6 |
6,52 |
6 |
Deformidade dinâmica |
4 |
4,35 |
4 |
Assimetria |
1 |
1,09 |
1 |
Perda de fixação da alça muscular |
3 |
3,26 |
3 |
Sofrimento do CAM |
1 |
1,09 |
0 |
Tamanho (muito grande) |
0 |
0,00 |
0 |
Tabela 3 - Complicações e revisões.
Não encontramos diferença estatisticamente significativa nos índices de revisão em
fatores de risco como tabagismo, cirurgia prévia da mama, pacientes pós-bariátricos
e histórico de amamentação (Figura 7).
Figura 7 - Fatores de risco para revisão cirúrgica.
Figura 7 - Fatores de risco para revisão cirúrgica.
DISCUSSÃO
A técnica de duplo espaço foi descrita pela primeira vez por Daniel em 2005 em uma
série de 320 pacientes em que ele a utilizou para casos primários e secundários para
aumento mamário e mastopexia de aumento. Daniel alegou que sua técnica combinava as
vantagens do plano submuscular (melhor cobertura no polo inferior, mais suporte, menos
ondulação) e subglandular (recuperação mais rápida, sem deformidades dinâmicas, sem
deslocamento de implante ou deformidade em cachoeira). Além disso, segundo ele, as
desvantagens de cada um foram eliminadas8.
Um dos problemas nos estudos de cirurgia mamária é a variedade de técnicas e manobras
cirúrgicas para tratar músculo, tecido mamário e pele, sem falar no implante em si
(tamanho, perfil, preenchimento, texturização)5,16,24-26. Todos esses fatores podem ter influência no resultado e, portanto, nas taxas de
revisão/complicação17,27,28.
Há também a perspectiva da paciente, claro, que pode aumentar a demanda por revisões
cirúrgicas mesmo quando, sob os olhos do cirurgião, o resultado é mais do que satisfatório.
Outro aspecto a ser considerado são as diferenças culturais entre os países, quando
o nível de aceitação de determinados resultados pode ser menor. No Brasil, as mulheres
são muito mais exigentes, especialmente quanto ao preenchimento do polo superior e
firmeza dos seios, mesmo com um histórico anterior de grande perda ponderal e amamentação.
Portanto, pedidos de revisões para atingir esses objetivos são bastante comuns em
nosso meio17,25,26 (Figura 8).
Figura 8 - Pseudoptose. Paciente de 35 anos, apresentando pseudoptose, desejando volume e projeção
das mamas. A paciente foi submetida a mastopexia de aumento em T invertido com ressecção
de 58 g de tecido mamário e colocação de prótese em duplo espaço de perfil alto de
250 ml. Depois de 6 meses, ela ainda desejava mais projeção e preenchimento do polo
superior, com aspecto mais marcado e artificial. Ela foi submetida a revisão com um
implante em espaço duplo ultra-alto de 295 ml e nova mastopexia. A visão anterior
é mostrada no pré-operatório (esquerda), 6 meses após o pós-operatório (centro) e
12 meses após revisão (direita).
Figura 8 - Pseudoptose. Paciente de 35 anos, apresentando pseudoptose, desejando volume e projeção
das mamas. A paciente foi submetida a mastopexia de aumento em T invertido com ressecção
de 58 g de tecido mamário e colocação de prótese em duplo espaço de perfil alto de
250 ml. Depois de 6 meses, ela ainda desejava mais projeção e preenchimento do polo
superior, com aspecto mais marcado e artificial. Ela foi submetida a revisão com um
implante em espaço duplo ultra-alto de 295 ml e nova mastopexia. A visão anterior
é mostrada no pré-operatório (esquerda), 6 meses após o pós-operatório (centro) e
12 meses após revisão (direita).
Uma das únicas revisões sistemáticas que avalia a mastopexia de aumento em tempo único
encontrou uma heterogeneidade significativa de interestudos em termos de complicações
e revisões25. A complicação individual mais comum foi a ptose recorrente, com uma taxa agrupada
de 5,2%, assim como em outros estudos9,18,20. No presente estudo (7,61%) foi também a complicação mais comum. Portanto, todos
os esforços para evitar essa complicação devem ser feitos. Muitos autores publicaram
diferentes formas de suporte ao implante11-13,15,26,29,30.
Em 2018, um autor fez abordagem semelhante, mas com uma fixação diferente de retalho
muscular e apenas em casos secundários, e não mencionou o trabalho de Daniel (2005),
embora o retalho muscular fosse o mesmo15. A fixação utilizada no estudo corrente é com pelo menos 4 pontos no pilar medial
com uma sutura de bloqueio para evitar que o retalho muscular seja rasgado pela linha
de sutura. Mais suturas podem ajudar a prevenir a ruptura muscular que foram encontradas
em três pacientes, mesmo com 4 ou mais suturas. No último ano foi adicionada uma sutura
de bloqueio na tentativa de resolver esse problema, e até agora não foi mais observada
essa complicação.
Munhoz (2019) publicou um estudo com técnica muito semelhante, à qual ele chamou de
CRIMS (composite reverse inferior muscle sling), mas não havia nenhum relato de deformidade dinâmica ou ptose recorrente neste estudo.
Isso provavelmente se deve a uma pequena amostra (32 pacientes), em que apenas casos
primários foram operados. O tamanho da loja que este autor criou para a inserção do
implante variava de acordo com o tamanho do implante, cobrindo pelo menos 50-60% do
implante. Foi utilizada uma abordagem semelhante sobre o tamanho da loja, mas como
o tamanho médio foi maior (281 ml em comparação com 255 ml), a cobertura desejada
era de 30-40% do implante11.
Daniel alegou que não havia deformidade dinâmica com essa técnica, mas o autor a encontrou
em 4,35% das pacientes (4 casos) no polo inferior e estas pacientes tiveram que fazer
lipoinjeção para correção. É possível que esta complicação esteja relacionada ao descolamento
incompleto da loja e também à posição do músculo peitoral maior e à sua relação com
o sulco inframamário (SIM), como alegaram Maclin et al. (2015)31. Os autores afirmam que a extensão lateral do SIM pode ser difícil de identificar
e varia de acordo com o tamanho da mama e o tamanho da paciente.
Em média, o SIM é 2 cm inferior ao limite inferior do músculo peitoral maior, e a
origem inferior muscular pode ser encontrada na 5ª, 6ª ou 7ª costela32. Às vezes, principalmente em implantes maiores, o descolamento deve incluir músculo
serrátil. Foi também observado nesta casuística que, no lado esquerdo, a inserção
do músculo peitoral maior é geralmente mais cranial que no lado direito. Uma vez que
a técnica apresentada neste estudo se baseia no apoio de um retalho de peitoral maior
inferolateralmente, as fibras musculares não são divididas como na técnica de dual plane. Essa é a principal razão pela qual os autores que utilizam dual plane não teriam essa complicação no polo inferolateral, porque a contração muscular age
de forma diferente da técnica atual3,5,16,17,20,21.
Não foram encontrados casos de deformidade em cachoeira (Waterfall / Snoopy nose), quando o implante fica na posição certa e o parênquima mamário “cai” ou desliza
sobre ele15,22. Isso aparece mais em uma avaliação de longo prazo, independentemente da texturização
do implante e do plano de inserção. A técnica em si cria duas superfícies diferentes
de contato com o implante, uma subfascial (metade superomedial) e uma submuscular
(metade inferolateral) que poderiam reduzir as chances dessa complicação. Além disso,
a modificação aplicada pelo autor pode ajudar a evitar esta deformidade, uma vez que
há uma fixação entre tecido muscular e mamário. Outros estudos podem considerar a
deformidade em cachoeira como pseudoptose ou ptose recorrente, mas são entidades diferentes4.
Não houve retalho de pele ou necrose na CAM nesta série de casos, apenas um caso de
sofrimento do CAM resolvido com sessões de câmara hiperbárica e cilostazol, embora
quase 40% das pacientes tivessem cirurgias prévias da mama, e essas pacientes notoriamente
apresentam maior chance de comprometimento do fluxo sanguíneo com atrofia tecidual4. Isto demonstra a segurança da técnica no que se refere ao suprimento sanguíneo dos
retalhos.
Cicatrizes são uma das complicações mais comuns de qualquer mamoplastia, seja redução
ou mastopexia. Quando se aplica tensão do aumento da mama ao mesmo procedimento como
na mastopexia de aumento, pequenas deiscências e cicatrizes alargadas são mais propensas
a ocorrer. Esta foi a segunda causa mais comum de complicação (6,52%). Algumas revisões
eram menores e feitas sob anestesia local (pequenas áreas), mas outras exigiam peridural,
especialmente quando associadas a cicatrizes mais longas ou outros problemas (ptose
recorrente, deformidades dinâmicas ou mesmo outras áreas). Isso também foi encontrado
por outros autores, e alguns tiveram índices maiores provavelmente pelo uso de implantes
maiores que a média desta série (281 ml)6,9,10,11,14-17,20,21,29,33,34.
A ptose recorrente é a razão pela qual há tantas técnicas diferentes para flacidez
das mamas. Quando adiciona-se aumento à mastopexia, são adicionados elementos extras
à equação: tamanho e textura do implante, posição (embaixo ou acima do músculo), interconexão
entre implante e tecido mamário (deformidade em cachoeira), quantidade de tecido mamário
residual. A técnica de mastopexia também é importante para resultados de longo prazo.
Qual é a verdadeira causa da ptose recorrente? Implante, mastopexia ou ambos25?
A taxa de ptose recorrente encontrada foi semelhante a alguns estudos9,15,29,30,34, mas significativamente maior que outros10,17,18,20,21,33,35,36. Novamente, outros estudos com abordagens semelhantes tiveram menores índices de
ptose recorrente, provavelmente por serem séries pequenas de pacientes, seguimento
curto ou somente casos primários11,15. O retalho muscular se mantém ativo mesmo após muito anos de pós-operatório, demonstrando
que a técnica proporciona suporte adequado sem se sustentar apenas na mastopexia.
Embora 42,4% dos casos desta série tivessem cirurgias prévias da mama, 5,44% eram
pós-bariátricos e mais da metade (53,26%) de pacientes tinham histórico de aleitamento
materno; não houve diferença estatística significativa destas variáveis no índice
de complicações/revisões. A taxa de fumantes (6,52%) foi pequena e também não influenciou
este índice de complicações e revisões. A maioria dos estudos não avalia esses fatores
como determinantes em resultados, complicações e revisões. Calobrace et al. (2013)17, por outro lado, avaliaram esta variável e encontraram uma taxa de complicações maior
em casos secundários do que em primários.
A taxa de complicação foi de 27,5%, semelhante a alguns estudos16,17,20,21,29,35, mas maior que outros11,15,18. Estes últimos estudos foram de pequena série de casos (em torno de 30) ou tiveram
seguimento curto13, o que poderia explicar a menor taxa de complicações. Dois estudos tiveram taxas
de complicações muito altas (cerca de 50%)9,36, talvez porque ambos os autores consideraram pequenas alterações como complicações:
hematomas menores, vesículas cutâneas superficiais, deiscências menores, sobras cutâneas
discretas (orelhas) e até super projeção areolar. A maioria dos estudos não considerou
estes fatores como complicações.
A taxa de revisão global foi de 25,5%, semelhante à de Calobrace et al. (2013)17 e Hubbard (2019)37, mas maior do que de outros autores15,18,33,35. Há muitas nuances para este achado: seguimento curto, séries pequenas, apenas casos
primários são apenas algumas delas. Também pode-se trazer à tona diferenças culturais
na aceitação dos resultados, o que significa que algumas pacientes vão para revisão
com resultados já efetivamente muito bons26. Como exemplo, Spear et al.18 tiveram 54% dos pacientes que concluíram uma pesquisa de satisfação dizendo que desejariam
cirurgia de revisão, mas sua taxa de revisão era de apenas 14%.
Calobrace et al.17 encontraram cerca de 30% de cirurgia de revisão em casos secundários, 10% a mais
do que os primários. Como quase 40% das cirurgias desta série eram secundárias, seria
esperada uma taxa de revisão mais alta considerando a dificuldade desses casos (mudança
de planos, cicatrizes mal colocadas, tecidos desvascularizados, atrofia de parênquima
e contratura capsular4. Entretanto, não foi encontrada diferença estatisticamente significativa nos casos
secundários.
Limitações do estudo
É um estudo retrospectivo; nenhuma avaliação de satisfação foi feita. A técnica evoluiu
ao longo dos anos em termos de confecção da loja e fixação do retalho muscular para
melhorar os resultados. O autor realizou pela primeira vez a técnica de duplo espaço
em 2012; portanto, essas pacientes incluem sua curva de aprendizado. Não há medidas
objetivas para avaliar resultados pré/pós- operatórios ou de curto/longo prazo.
Este estudo tolera tempos de seguimento relativamente curtos para maximizar a taxa
de inclusão.
CONCLUSÃO
A técnica modificada de duplo espaço apresenta em nossa experiência resultados consistentes
a longo prazo, e as taxas de revisão/complicação foram semelhantes a alguns estudos,
mas maiores do que outros. Cirurgia prévia da mama, tabagismo, amamentação e cirurgia
bariátrica anterior não aumentam as taxas de complicações e revisões.
Pode ser uma das opções para a cobertura e suporte dos implantes em procedimentos
de mastopexia de aumento.
REFERÊNCIAS
1. Gonzalez-Ulloa M. Correction of hypotrophy of the breast by exogenous material. Plast
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1. Consutório particular, Curitiba, PR, Brasil.
Autor correspondente: Luiz Roberto Reis Araujo, Alameda Presidente Taunay, 1820, Merces, Curitiba, PR, Brasil CEP 80430-042, E-mail:
drluiz@drluizaraujo.com.br
Artigo submetido: 16/03/2021.
Artigo aceito: 13/12/2021.
Conflitos de interesse: não há.