INTRODUÇÃO
Os lábios são a característica central no terço inferior da face1, sendo uma das características faciais mais ilustres, têm um papel fundamental na
formação de expressões faciais. No passado, os lábios excessivamente grandes eram
uma questão estética entre certos grupos étnicos. Embora os lábios cheios sejam uma
característica desejável procurada por muitas pessoas, o mundo atual da moda tende
a enfatizar o equilíbrio e a correspondência significativa de características, incentivando
as pessoas a buscar refinamento através da cirurgia estética2.
A presença de lábios excessivamente grandes (macroqueilia) representa um desafio ocasional,
mas significativo na cirurgia plástica. Pode interferir com a função oral, com uma
vedação inadequada entre os lábios superior e inferior. É mais prevalente em certos
grupos étnicos, tem múltiplas etiologias e pode afetar um ou ambos os lábios3.
A técnica denominada “queiloplastia redutora em biquíni”, descrita em 20074, difere das técnicas anteriormente descritas. Relatamos um caso com planejamento
detalhado do pré-operatório e das etapas cirúrgicas intraoperatórias, não focando
apenas na redução dos lábios, mas também na restauração da sua anatomia, propiciando
um contorno labial mais harmônico.
OBJETIVO
Divulgar a técnica de queiloplastia redutora “em biquíni” em um paciente com os lábios
excessivamente grandes.
RELATO DE CASO
Paciente de 18 anos, sexo masculino, raça negra com queixa de lábios excessivamente
grandes. Negava comorbidades associadas, tabagismo e/ou alergias
Técnica cirúrgica
A marcação do paciente é realizada na internação pré-operatória da seguinte forma:
com os lábios fechados em repouso e após a determinação da linha média, é marcado
o ponto de contato do lábio superior com o inferior no vermelhão, denominados pontos
A - A’. Agora com os lábios ligeiramente entreabertos, o cirurgião com os dedos pinça
o lábio superior 1cm lateralmente aos “pilares do filtro”, girando-o suavemente para
dentro, na forma de estabelecer um posicionamento mais adequado4. Mantendo o lábio superior nessa posição, a mesma manobra é repetida agora no lábio
inferior com o intuito de fazê-los parecerem menores, numa proporção de aproximadamente
30% para o lábio superior e 70% para o inferior5; e o novo ponto de contato entre os lábios na linha média é marcado, sendo denominado
pontos B - B’ (Figura 1A). A partir da determinação desses pontos, o desenho para a técnica da “queiloplastia
redutora em biquíni” pode ser estabelecido. No lábio superior, o “top” do biquíni
consiste no desenho medial de duas linhas paralelas com aproximadamente 1cm de comprimento
através dos pontos A e B, que corresponde à faixa central do biquíni. Esta faixa agora
diverge formando duas cúpulas ovais. O ápice da dimensão anteroposterior destas cúpulas
denominados pontos C e D, deve ser o dobro da dimensão A - B. O fim da marcação deve
parar a poucos milímetros da comissura labial.
No lábio inferior, a parte de baixo do biquíni consiste no desenho de um triângulo
E - B’ - F, onde os pontos E e F seguem no mesmo nível do ponto A’ e devem parar a
poucos milímetros das comissuras (Figuras 1B e 1C)5.
Figura 1 - A. Marcação pré-operatória das uniões secas/molhadas originais (A - A’) e novas (B -
B’); B. Marcação, consistindo de um "top do biquíni " no lábio superior e a "parte de embaixo
de biquíni" (um triângulo) no lábio inferior; C. Marcação pré-operatória do paciente.
Figura 1 - A. Marcação pré-operatória das uniões secas/molhadas originais (A - A’) e novas (B -
B’); B. Marcação, consistindo de um "top do biquíni " no lábio superior e a "parte de embaixo
de biquíni" (um triângulo) no lábio inferior; C. Marcação pré-operatória do paciente.
Inicia-se a cirurgia com o paciente sob sedação, sendo realizado infiltração local
de solução anestésica contendo 60ml de solução salina a 0,9%, 20ml de lidocaína a
2%, 20ml ropivacaína a 7,5% e 1ml adrenalina 1:1.000, resultando numa solução com
concentração de adrenalina a 1:100.000. A fim de limitar o sangramento, o lábio é
tracionado com os dedos numa manobra bidigital, sendo então realizada a incisão segundo
a marcação pré-estabelecida. A profundidade da ressecção tecidual, envolve apenas
a mucosa. A incisão do lábio inferior é realizada de forma semelhante. A hemostasia
deve ser criteriosa, com auxílio do eletrocautério (Figuras 2 A, 2B e 2C). Os pontos principais (A - B, C - D e A’ - B’) serão aproximados com
pontos simples de categute cromado 5-0, em seguida o restante é realizado distribuindo-se
a incisão com sutura contínua (chuleio) com categute cromado 5- 0 (Figura 2D).
Figura 2 - A. Incisão segundo marcação; B. Tecido ressecado; C. Pós-ressecção de tecido labial; D. Sutura final.
Figura 2 - A. Incisão segundo marcação; B. Tecido ressecado; C. Pós-ressecção de tecido labial; D. Sutura final.
No pós-operatório foi indicado o uso de PerioGard®como profilaxia antibiótica por 1 semana. O edema labial foi manejado com compressas
geladas nas primeiras 2 semanas e foi usado Cicaplast Baume®na segunda semana para ajudar na cicatrização.
RESULTADOS
No pós-operatório imediato o paciente apresentou edema labial acentuado por duas semanas,
sendo tratado com compressas frias.
Nos 3-6 meses seguintes houve melhora significativa do volume e contorno labial, sem
alteração da dinâmica labial, e o aspecto da cicatriz foi pouco perceptível por encontrar-se
na parte interna dos lábios. Foi enfatizado durante as consultas pré-operatórias que
o resultado final poderia ser observado após 1 ano (Figura 3).
Figura 3 - A. Pré-operatório; B. Pós-operatório 3 meses.
Figura 3 - A. Pré-operatório; B. Pós-operatório 3 meses.
DISCUSSÃO
As principais etiologias da macroqueilia são as caraterísticas raciais e a herança
biológica. Outras causas podem ser as doenças inflamatórias6, malformações congênitas7 e procedimentos iatrogênicos8. A abordagem da macroqueilia, como descrita por Zanini et al. (2005)3 na Síndrome de Melkersson-Rosenthal, Hauben (1988)7 nos hemagiomas de lábio, Botti (2002)8 para correção de injeção de produtos aloplásticos e Niamtu (2010)9 nas macroqueilias diversas, só consistia na excisão de uma cunha horizontal ou vertical
de tecido mole no lábio superior e inferior para diminuição do tamanho dos mesmos,
sem dar atenção ao contorno, volume e/ou proporção entre os lábios superior e inferior.
Propomos que a técnica “em biquíni” para abordagem dos lábios excessivamente grandes
é considerada mais adequada, pois além de abordar o volume dos lábios, também corrige
a desproporção labial conferindo harmonia estética.
CONCLUSÃO
Portanto, baseado na correta indicação e execução, podemos concluir que a técnica
de queiloplastia redutora em biquíni é uma alternativa segura, de fácil execução e
que proporciona um resultado estético satisfatório.
REFERÊNCIAS
1. Maloney BP. Cosmetic surgery of the lips. Facial Plast Surg. 1996 Jul;12(3):265-78.
2. Sforza M, Andjelkov K, Zaccheddu R, Jovanovic M, Colic M. The "Brazilian" bikini-shaped
lip-reduction technique: new developments in cheiloplasty. Aesthetic Plast Surg. 2012
Ago;36(4):827-83.
3. Zanini M, Martinez MAR, Machado Filho CDS. Síndrome de Melkersson- Rosenthal: relato
de dois casos e revisão da literatura. Med Cutan Iber Lat Am. 2005;33(3):113-7.
4. Fanous N, Brousseau VJ, Yoskovitch A. The 'bikini lip reduction': A detailed approach
to hypertrophic lips. Can J Plast Surg. 2007;15(4):205-10.
5. Maricevich P, Campolina AC, Sinder R, Mazzarone F, Pitanguy I. Sequela de injeção
de silicone em lábio inferior: correção cirúrgica pela técnica do biquíni modificada.
Rev Bras Cir Plást. 2014;29(1):172-5.
6. Popenko NA, Tripathi PB, Devcic Z, Karimi K, Osann K, Wong BJF. A quantitative approach
to determining the ideal female lip aesthetic and its effect on facial attractiveness.
JAMA Facial Plast Surg. 2017 Jul;19(4):261-7. DOI: https://doi.org/10.1001/jamafacial.2016.2049
7. Hauben DJ. Reduction cheiloplasty for upper lip hemangioma. Plast Reconstr Surg. 1988
Oct;82(4):694-7.
8. Botti G, Botti C, Cella A. A simple surgical remedy for iatrogenic excessively thick
lips. Plast Reconstr Surg. 2002 Out;110(5):1329-34.
9. Niamtu J. Lip reduction surgery (reduction cheiloplasty). Facial Plast Surg Clin North
Am. 2010 Feb;18(1):79-97. DOI: https://doi.org/10.1016/j.fsc.2009.11.007
1. Hospital Niterói D’Or, Serviço de Cirurgia Plástica Prof. Ronaldo Pontes, Niterói,
RJ, Brasil.
Autor correspondente: Gian Karlo Alberto Vigo Castro, Calle Contralmirante Villar, 619, Miraflores, Lima, Lima, Perú CEP: 15074. E-mail:
gvc_1505@hotmail.com
Artigo submetido: 02/12/2018.
Artigo aceito: 15/07/2020.
Conflitos de interesse: não há.