INTRODUÇÃO
A placa areolopapilar (PAP) na reconstrução mamária deve ser considerada uma unidade
estética única, pois representa o estágio final nas reconstituições de mama, nos casos
em que há amputação desse complexo durante a mastectomia1. Após a confecção da PAP, a neomama adquire o aspecto mais similar possível em comparação
com a mama contralateral.
Há uma diversidade de técnicas publicadas nos últimos anos, com o intuito de atingir
a melhor forma e projeção da PAP2-14. Entretanto, a maioria apresenta resultados controversos, alguns considerados muito
bons, e outros, frustrantes. A perda de projeção parece ser mais proeminente com o
uso de determinadas técnicas em comparação com outras.
A perda de projeção e o resultado final das confecções de papila estão relacionados
a uma série de razões: pouco tecido subcutâneo dos retalhos, mau planejamento do retalho,
processo natural de contração da ferida, memória tecidual, aumento da pressão interna
(suturas tensas) ou externa (a pressão feita pelo uso do sutiã, por exemplo), infecção,
radiação prévia1-18.
Sendo assim, o principal desafio é reconstruir uma papila que seja capaz de ultrapassar
estes obstáculos locais e tendências naturais18. A PAP na reconstrução mamária deve ser considerada uma unidade estética única, pois
representa o estágio final nas reconstituições de mama, nos casos em que há amputação
desse complexo durante a mastectomia1. Após a confecção da PAP, a neomama adquire o aspecto mais similar possível em comparação
com a mama contralateral.
Conforme o trabalho de Broadbent et al.2, pacientes e parceiros avaliam melhor o resultado da mama quando há a conclusão da
reconstrução desta unidade anatômica em comparação com as pacientes que não se submetem
à reconstrução da PAP. Além disso, a satisfação está relacionada com a projeção sustentada
do neomamilo (especialmente a longo prazo) e com a ausência de complicações2.
Millard Jr. et al.5, em 1971, descreveram os chamados “bancos de mamilos”. Originalmente, consistia na
retirada da PAP e na transferência para a nádega, para a virilha ou para o abdome
como enxerto de pele total durante a mastectomia. Posteriormente à reconstituição
da mama, os enxertos eram coletados e utilizados para reconstrução da PAP. Dúvidas
em relação à segurança desse método surgiram após descrição de casos em que pacientes
apresentaram comprometimento linfonodal, com células mamárias na região inguinal ao
utilizar a virilha como “banco de mamilo”.
Nos últimos 20 anos, o marco evolutivo das técnicas de reconstrução da PAP tem sido
a utilização de retalhos locais. A primeira técnica foi publicada por Berson6, em 1946, que confeccionava três retalhos triangulares de pele que seriam elevados
e suturados para formação de uma projeção mamilar. Em 1984, Little7 criou o skate flap, que se tornou a técnica mais popular para reconstrução da PAP. Trata-se de um retalho
dermogorduroso vertical que é elevado, e ambas as asas são enroladas ao redor de um
núcleo central de gordura, para garantir adequada projeção mamilar. Para recompor
a coloração da PAP, utilizava-se dermopigmentação.
Múltiplas modificações a partir dessa técnica surgiram desde então. Uma técnica muito
eficiente é a descrita por Shestak e Nguyen8 chamada double opposing flap. Essa técnica possibilita reconstruir a PAP com diâmetro adequado, boa projeção, simétrico
ao contralateral, com a possibilidade de fechar a área doadora e com todas as cicatrizes
contidas na topografia da nova aréola reconstruída.
Evidências literárias mostram as dificuldades para se atingir uma PAP satisfatória,
devido às variações dos retalhos locais. A projeção pode ser difícil de ser mantida,
especialmente em pacientes de pele flácida, fina ou irradiada. Algumas pacientes não
se sentem confortáveis com a projeção dos mamilos em tempo integral. Outras chegam
a renunciar abordagens cirúrgicas, pois não desejam outro procedimento cirúrgico.
Por último, em pacientes irradiadas, a tatuagem pode ser a opção mais segura considerando
o aumento da taxa de complicações de outras técnicas nestas pacientes. Spears et al.15 relataram, em seus estudos, que 84% de suas pacientes estavam satisfeitas com a tatuagem
e 86% optariam por tatuar novamente15,16.
A perda de projeção e o resultado final das confecções de papila estão relacionados
a uma série de razões: pouco tecido subcutâneo dos retalhos, mau planejamento do retalho,
processo natural de contração da ferida, memória tecidual, aumento da pressão interna
(suturas tensas) ou externa (a pressão feita pelo uso do sutiã, por exemplo), infecção,
radiação prévia1,16. Sendo assim, o principal desafio é reconstruir uma papila que seja capaz de ultrapassar
estes obstáculos locais e tendências naturais16.
Objetivo
Descrever a técnica do retalho cutâneo triangular para a reconstrução da papila mamária.
MÉTODOS
Estudo prospectivo de uma série de casos de 31 pacientes submetidas ao segundo tempo
de reconstrução de mama, nas quais foram reconstruídas 45 PAPs (17 unilaterais e 14
bilaterais) utilizando-se a técnica do retalho cutâneo triangular invertido, para
confecção da papila, no período de 1 janeiro de 2015 a 1 de março de 2016 em dois
centros hospitalares em Brasília, DF, Brasil.
Em virtude de sua versatilidade, a técnica foi empregada após reconstruções mamárias
com retalho miocutâneo do músculo reto abdominal (TRAM), com retalho do músculo grande
dorsal (RGD), reconstruções com implante de silicone e com técnicas de expansão, independente
da presença de cicatrizes na área doadora ou da escassez de tecido cutâneo ou subcutâneo.
O desenvolvimento da nova técnica foi baseado em estudos para otimizar a projeção
e formato a longo prazo e minimizar complicações como a necrose e resultados insatisfatórios.
Todas as cirurgias foram realizadas pela mesma cirurgiã plástica.
Trinta e uma pacientes submetidas à reconstrução de papila por meio da técnica do
retalho cutâneo triangular foram analisadas, sendo 17 reconstruções unilaterais e
14 bilaterais, totalizando 45 reconstruções.
Trata-se de amostra exclusivamente do sexo feminino, com média de idade de 50 anos,
variando de 32 a 64 anos, índice de massa corporal (IMC) médio de 24,95 (variando
de 20,76 a 36,76 kg∕m2) e acompanhamento médio de 14 meses (variando de 12 a 18 meses).
Todas as pacientes foram submetidas à mastectomia total.
Técnica cirúrgica
O formato “triangular invertido” - técnica original do retalho cutâneo triangular
invertido - apresenta um caráter inovador, o qual difere das habituais formas de marcações
papilares já propostas na literatura. A Figura 1 ilustra o desenho esquemático da técnica do retalho cutâneo triangular invertido.
Figura 1 - Nova técnica para confecção de mamilo. Etapa 1 - Marcação: Marcação realizada em triangulo
invertido independente da presença de cicatrizes.
Figura 1 - Nova técnica para confecção de mamilo. Etapa 1 - Marcação: Marcação realizada em triangulo
invertido independente da presença de cicatrizes.
Essa técnica para confecção da papila, como a maioria dos retalhos locais, deve ser
executada após obtenção da estabilidade da projeção da neomama, no segundo ou terceiro
tempos das reconstruções mamárias.
Nas reconstruções mamárias unilaterais, deve-se inicialmente estudar a posição da
papila contralateral, a projeção e o diâmetro da base, bem como as medidas horizontais
e verticais da aréola para alcançar a maior simetria possível da PAP reconstruída.
Considerando a aréola oposta nos casos de reconstrução unilateral, o retalho é desenhado
com a papila localizada no ponto de maior projeção da neomama. A largura da base da
papila oposta e sua projeção determinam o tamanho do retalho a ser desenhado.
Nos casos de reconstruções bilaterais, essa medida deve ser projetada de acordo com
as peculiaridades de cada caso, o que lhe confere maior versatilidade.
Para melhor explanação da técnica do retalho cutâneo triangular invertido, 5 etapas
foram descritas:
Etapa 1 - Marcação
A marcação prévia é realizada conforme a Figura 1, formando um triangulo equilátero dentro dos limites da neopapila.
Etapa 2 - Decorticação
Realizada a decorticação total dos três vértices do triângulo formando 3 retalhos
cutâneos, com manutenção apenas do centro fixo ao seu leito (Figura 2).
Figura 2 - Nova técnica para confecção de mamilo. Etapa 2 - Decorticação: Procedida realização
de decorticação dos 3 vértices do triangulo como se eleva um enxerto de pele parcial,
mantendo o centro pediculado.
Figura 2 - Nova técnica para confecção de mamilo. Etapa 2 - Decorticação: Procedida realização
de decorticação dos 3 vértices do triangulo como se eleva um enxerto de pele parcial,
mantendo o centro pediculado.
Etapa 3 - Arcabouço inicial mamilar
Os 3 vértices do triangulo (A, B e C) são unidos em forma de dobradura de envelope,
mantendo apenas a área central da Figura 2 aderida à neomama (Figura 3).
Figura 3 - Nova técnica para confecção mamilar. Etapa 3 - Confecção mamilar: Os três vértices
do retalho triangular são elevados e suturados em formato de envelope confeccionando
o novo mamilo.
Figura 3 - Nova técnica para confecção mamilar. Etapa 3 - Confecção mamilar: Os três vértices
do retalho triangular são elevados e suturados em formato de envelope confeccionando
o novo mamilo.
Etapa 4 - Confecção final mamilar
Suturas, através de pontos simples, são realizadas para coaptação das bordas e então
finaliza-se a confecção da neopapila (Figura 3).
Etapa 5 - Enxertia areolar
Enxertia de pele total oriunda da região crural foi utilizada para confecção da neopapila
com abertura central para emersão da neopapila já confeccionada, em todas as pacientes.
Sutura contínua foi realizada no enxerto de pele (Figura 4).
Figura 4 - Nova técnica de confecção mamilar. Etapa 4 - Enxertia areolar: Procedida enxertia
areolar através de enxerto de pele total oriunda da região crural.
Figura 4 - Nova técnica de confecção mamilar. Etapa 4 - Enxertia areolar: Procedida enxertia
areolar através de enxerto de pele total oriunda da região crural.
Os resultados foram avaliados por meio de documentação fotográfica em momentos do
período pré-operatório e pós-operatório e pré-operatório da segunda fase da reconstrução
e pós-operatório final por três cirurgiões plásticos que não participaram das cirurgias.
As avaliações foram feitas através de fotos levando em conta alguns critérios. No
caso de reconstruções unilaterais, analisava-se o resultado a partir da semelhança
e naturalidade da neopapila com a papila contralateral. Realizada a medição com régua
da papila contralateral e comparação dos valores da neopapila para a avaliação da
similaridade. Nos casos bilaterais, levava-se em consideração a semelhança na projeção
e a naturalidade de seu aspecto (base da papila sendo o dobro do ápice) respeitando
a viabilidade dos retalhos. Baseado nesses critérios, a neopapila foi classificada
em satisfatória ou muito satisfatória
Dados como tipo de reconstrução primária, lateralidade, realização de quimio e radioterapia
pós-operatórias ou neoadjuvantes, comorbidades e complicações pós-operatórias também
foram resgatados da análise de prontuários.
Avaliação estatística dos resultados foi realizada por meio dos testes de por testes
exato de Fisher, Qui-quadrado e análise post hoc, sendo considerado significativo p < 0,05.
O presente trabalho seguiu os princípios da declaração de Helsinque, adotada pela
18ª Assembleia Médica Mundial, Helsinque, Finlândia, em junho de 1964, e corrigida
pelas 29ª Assembleia Médica, Tóquio, Japão, em outubro de 1975, e 35ª Assembleia Médica
Mundial, Veneza, Itália, em outubro de 1983, e pela 41ª Assembleia Médica Mundial,
Hong Kong, em setembro de 1989.
RESULTADOS
Dentre todas as pacientes submetidas à nova técnica de confecção de mamilo, 25 pacientes
foram submetidas à quimioterapia neoajuvante e 16 pacientes à radioterapia pós-operatória
(Tabela 1).
Tabela 1 - Dados demográficos dos pacientes submetidos à técnica do retalho cutâneo triangular
para confecção da papila.
Número de pacientes (n) |
31 |
NeoPAP |
45 |
Lateralidade: Unilateral |
17 |
Bilateral |
14 |
Idade média (média ± SD) |
50,7 ± 2,3 |
IMC - Kg por m2 (média ± SD)
|
24,95 ± 3,4 |
Número de cirurgias realizadas |
50 |
Mastectomia total |
31 |
Terapias: Quimioterapia |
25 |
Radioterapia |
16 |
Comorbidades |
|
HAS |
6 |
DM |
3 |
Tabagismo |
10 |
Hipotireoidismo |
7 |
Depressão |
7 |
Histopatológico |
|
CDI (%) |
24 |
CDIS (%) |
8 |
CLI (%) |
3 |
Tabela 1 - Dados demográficos dos pacientes submetidos à técnica do retalho cutâneo triangular
para confecção da papila.
Comorbidades diversas como hipertensão, diabetes, tabagismo, hipotireoidismo e depressão
foram observadas em cerca de 80% das pacientes, entretanto, sem prejuízo significativo
na evolução do neomamilo.
Os dados demográficos das pacientes do estudo e suas características estão demonstrados
na Tabela 1.
A Tabela 2 avalia a incidência de complicações na reconstrução de mamilo em relação ao tipo
de reconstrução primária da mama (implante de silicone, grande dorsal, expansor ou
TRAM) e a incidência de complicações em relação à realização de quimioterapia e∕ou
radioterapia. Essa análise não evidenciou significância estatística.
Tabela 2 - Avaliação das complicações dos pacientes versus o tipo de reconstrução primária mamária e realização de quimioterapia e ∕ou radioterapia.
Complicações |
Perda de projeção |
Necrose parcial |
Boa evolução |
p |
Implante de silicone |
4 |
1 |
14 |
0,741 |
Grande dorsal |
0 |
0 |
4 |
Expansor |
1 |
0 |
2 |
TRAM |
0 |
0 |
5 |
Terapia |
Perda de projeção |
Necrose parcial |
Boa evolução |
p |
Quimioterapia |
4 |
1 |
20 |
0,883 |
Radioterapia |
2 |
0 |
16 |
0,299 |
Tabela 2 - Avaliação das complicações dos pacientes versus o tipo de reconstrução primária mamária e realização de quimioterapia e ∕ou radioterapia.
De todas as reconstruções de mamilo realizadas, 5 pacientes necessitaram de complemento
com polimetilmetacrilato (PMMA) para preenchimento e melhor contorno mamilar e apenas
1 paciente evoluiu com pequena área de necrose parcial. Não foi necessário nenhum
tipo de tratamento nessa última paciente, apenas curativos, e não houve comprometimento
do resultado final. Esses resultados estão listados na Tabela 2.
A principal forma de reconstrução mamária primária realizada foi com a utilização
de implantes de silicone (n = 19), que totalizou mais de 60%. Os outros tipos foram:
o retalho TRAM (n = 5), o retalho do músculo grande dorsal (n = 4) e o uso de expansores
(n = 3). Os tipos de reconstrução mamária realizados na amostra estão quantificados
no Gráfico 1 - Figura 5.
Figura 5 - Tipo de reconstrução mamária utilizada. O gráfico 1 mostra a distribuição baseada
no tipo de reconstrução mamária que foi utilizada, no qual observamos 61% das reconstruções
com uso de próteses de silicone, 16% das reconstruções utilizaram a técnica do retalho
do músculo transverso do abdome (TRAM), 13% fizeram uso do músculo grande dorsal e,
por fim, 11% usaram expansores teciduais nas reconstruções da mama.
Figura 5 - Tipo de reconstrução mamária utilizada. O gráfico 1 mostra a distribuição baseada
no tipo de reconstrução mamária que foi utilizada, no qual observamos 61% das reconstruções
com uso de próteses de silicone, 16% das reconstruções utilizaram a técnica do retalho
do músculo transverso do abdome (TRAM), 13% fizeram uso do músculo grande dorsal e,
por fim, 11% usaram expansores teciduais nas reconstruções da mama.
Foi realizada regressão logística através de análise post hoc para identificar qual
a técnica de reconstrução mamilar atingia maior índice de satisfação dos avaliadores.
Observou-se que a técnica do retalho cutâneo triangular para confecção do mamilo,
alcançou os maiores índices de total de satisfação, dado este com significância estatística
com p < 0,01 (Gráfico 2) - Figura 6.
Figura 6 - Avaliação da técnica de reconstrução mamária versus a satisfação dos avaliadores. O gráfico 2 mostra a avaliação da técnica de reconstrução
mamária relacionada ao grau de satisfação dos avaliadores. As técnicas de reconstrução
mamilar que usam mamilo contralateral e a técnica do retalho cutâneo triangular invertido
apresentaram maior índice de satisfação por parte dos avaliadores, com significância
estatística (p < 0,05).
Figura 6 - Avaliação da técnica de reconstrução mamária versus a satisfação dos avaliadores. O gráfico 2 mostra a avaliação da técnica de reconstrução
mamária relacionada ao grau de satisfação dos avaliadores. As técnicas de reconstrução
mamilar que usam mamilo contralateral e a técnica do retalho cutâneo triangular invertido
apresentaram maior índice de satisfação por parte dos avaliadores, com significância
estatística (p < 0,05).
A Tabela 3 mostra os resultados comparativos da avaliação pós-operatória das neopapilas em função
do tipo de reconstrução primária da mama. Após análise utilizando o Teste exato de
Fisher, observou-se que todas as reconstruções apresentaram variação mínima na sua
avaliação, o que denota significância estatística (p = 0,48).
Tabela 3 - Avaliação das papilas versus o tipo de reconstrução.
Avaliação das papilas X Tipo de reconstrução
|
Expansor (15)
|
TRAM (27)
|
Grande dorsal (36)
|
Implante de silicone (24)
|
p |
TS |
10 (66,66%) |
14 (51,85%) |
17 (47,22%) |
16 (66,66%) |
p < 0,48
|
S |
0 (0,00%) |
9 (33.33%) |
11 (30,55%) |
4 (16,66%) |
PS |
2 (13,3%) |
1 (3,70%) |
6 (16,66%) |
4 (16,66%) |
I |
3 (20%) |
3 (11,11%) |
2 (5,55%) |
0 (0,00%) |
Tabela 3 - Avaliação das papilas versus o tipo de reconstrução.
A Tabela 4 avalia as complicações papilares em decorrência do tipo de técnica utilizada para
a sua confecção. A análise post hoc mostrou p < 0,001 nas comparações entre a técnica de mamilo contralateral e 4 pétalas (para
fator apagamento); p < 0,001 na comparação entre mamilo contralateral e skate flap (para necrose) e p < 0,001 na comparação entre mamilo contralateral e double opposing flap (para necrose) - Tabela 4.
Tabela 4 - Avaliação das complicações papilares versus o tipo de técnica de confecção.
Complicações |
Double flap (15)
|
Skate flap (18)
|
4 pétalas (22)
|
Mamilo contralateral (15)
|
Triangular (20)
|
p |
Necrose pequena |
2 (13,4%) |
2 (11,1%) |
0 (0,0%) |
0 (0,0%) |
1 (5,0%) |
0,001 |
Assimetria CAP |
1 (6,6%) |
0 (0,0%) |
2 (9,1%) |
0 (0,0%) |
0 (0,0%) |
Apagamento |
0 (0,0%) |
0 (0,0%) |
4 (18,2%) |
0 (0,0%) |
5 (25,0%) |
Perda parcial do enxerto |
0 (0,0%) |
2 (11,1%) |
2 (9,1%) |
0 (0,0%) |
0 (0,0%) |
Sem complicações |
12 (80,0%) |
14 (77,8%) |
14 (63,6%) |
15 (100,0%) |
14 (70,0%) |
Tabela 4 - Avaliação das complicações papilares versus o tipo de técnica de confecção.
A Figuras 7 a 12 explanam os resultados cirúrgicos da amostragem nos quais a técnica do retalho cutâneo
triangular foi utilizada na reconstrução das papilas.
Figura 7 - Caso 1 - A imagem ilustra um mamilo confeccionado pela técnica do retalho cutâneo
triangular invertido e mostra mamilo satisfatório.
Figura 7 - TS: Totalmente satisfatório; S: Satisfatório; PS: Parcialmente satisfatório; I: Insatisfatório.
Figura 7 - Caso 1 - A imagem ilustra um mamilo confeccionado pela técnica do retalho cutâneo
triangular invertido e mostra mamilo satisfatório.
Figura 7 - TS: Totalmente satisfatório; S: Satisfatório; PS: Parcialmente satisfatório; I: Insatisfatório.
Figura 8 - Caso 2 - Paciente, feminino, submetida à reconstrução mamária com uso de músculo grande
dorsal bilateralmente sem necessidade de ilha de pele e, posteriormente, confeccionados
os mamilos pela técnica do retalho cutâneo triangular invertido. Os mamilos possuem
resultado satisfatório.
Figura 8 - Caso 2 - Paciente, feminino, submetida à reconstrução mamária com uso de músculo grande
dorsal bilateralmente sem necessidade de ilha de pele e, posteriormente, confeccionados
os mamilos pela técnica do retalho cutâneo triangular invertido. Os mamilos possuem
resultado satisfatório.
Figura 9 - Caso 3 -Paciente, feminino, submetida à reconstrução mamária com uso de músculo grande
dorsal unilateral com a necessidade de uso de ilha de pele e, posteriormente, submetida
à confecção de novo mamilo unilateral pela técnica do retalho cutâneo triangular invertido.
Mamilo totalmente satisfatório.
Figura 9 - Caso 3 -Paciente, feminino, submetida à reconstrução mamária com uso de músculo grande
dorsal unilateral com a necessidade de uso de ilha de pele e, posteriormente, submetida
à confecção de novo mamilo unilateral pela técnica do retalho cutâneo triangular invertido.
Mamilo totalmente satisfatório.
Figura 10 - Caso 4 - A) Mamilo confeccionado pela técnica do retalho cutâneo triangular invertido
evidenciando, após 1 ano de seguimento, projeção mantida.
Figura 10 - Caso 4 - A) Mamilo confeccionado pela técnica do retalho cutâneo triangular invertido
evidenciando, após 1 ano de seguimento, projeção mantida.
Figura 11 - Caso 4 - B) Mamilo confeccionado pela técnica do retalho cutâneo triangular invertido
evidenciando, após 1 ano de seguimento, formato mantido.
Figura 11 - Caso 4 - B) Mamilo confeccionado pela técnica do retalho cutâneo triangular invertido
evidenciando, após 1 ano de seguimento, formato mantido.
Figura 12 - Caso 4 - C) Mamilo confeccionado pela técnica do retalho cutâneo triangular invertido
evidenciando, após 1 ano de seguimento, simetria mantida.
Figura 12 - Caso 4 - C) Mamilo confeccionado pela técnica do retalho cutâneo triangular invertido
evidenciando, após 1 ano de seguimento, simetria mantida.
DISCUSSÃO
A excelência dos resultados nas reconstruções de papila é adquirida quando se obtém
simetria nas posições, no formato, no tamanho e na textura, além de projeção permanente.
A criação de uma papila natural, tridimensional e com projeção duradoura permanece
um desafio, enquanto as reconstruções areolares são de simples execução e usualmente
não oferecem dificuldades. No intuito de otimizar os resultados, alguns preceitos
devem ser seguidos, independentemente da técnica utilizada6.
Farhadi et al.11 e Berson6 mostram que nas reconstruções unilaterais, a escolha da técnica para reconstrução
neopapilar utilizada, deverá ser ditada pelas características da papila contralateral
e concordamos plenamente com essa hipótese. Em trabalho previamente publicado17 verificaram que nos casos de pacientes portadoras de papilas contralaterais muito
projetadas ou de base muito larga, a técnica que ofereceu melhor resultado quando
comparada a outras foi a de enxertia da papila contralateral. Nas pacientes com papila
contralateral pouco projetada, é a qualidade da pele e do tecido celular subcutâneo
que vai nos indicar a técnica.
Atualmente, temos observado que com o aumento das reconstruções com a técnica de próteses
ou expansores, conforme mostrado na Tabela 3, a área doadora para confecção de retalhos dermocutâneos está cada vez mais escassa
e, na maioria das vezes, possui uma cicatriz atravessada na parte central da neomama,
resultante da retirada da PAP em mastectomias com preservação da pele. Esses dois
fatores, em uma grande maioria de pacientes, começaram a se tornar uma contraindicação
para reconstrução da PAP no segundo tempo cirúrgico da reconstrução mamária, sendo
necessário realizar enxertia de gordura nessa região para possibilitar uma futura
reconstrução.
A técnica ideal de reconstrução da PAP deveria possibilitar sua confecção sobre qualquer
tipo de tecido, a despeito de cicatrizes prévias e radioterapia, além de permitir
que os limites do nova PAP não ultrapassassem as margens dos retalhos usados nas reconstituições
mamárias. Losken et al.13 (C-V flap), Anton et al.14 (star flap e wrap flap) e Little apud Dilamartine et al.16 (skate flap) apresentaram resultados em conformidade com essas características.
Entretanto, ao longo dos anos, temos acompanhamos a perda do resultado com índice
crescente de insatisfação por parte das pacientes. Além disso, todas essas características
ainda podem ser agravadas se a paciente for submetida à radioterapia. A soma desses
fatores nos levou a desenvolver uma técnica que permitisse a confecção segura do neopapila.
Os retalhos dermocutâneos, de uma forma geral, quando confeccionados sobre uma superfície
tensa, têm a tendência a achatamento, pois ocorre alargamento da cicatriz da área
de onde ele foi retirado. Farhadi et al.11 relatam que devido à contração da ferida ocorre a perda de projeção papilar. Dessa
forma, a hipercorreção deve ser de 25% para haver, a longo prazo, melhor simetrização
com o mamilo contralateral2,17.
A técnica do retalho cutâneo triangular foi baseada na observação das chamadas “dog ear”, nas quais existe uma sobra cutânea em uma área sem tensão, que faz com que não
ocorra uma acomodação desse excesso de tecido. O fato de ser apenas pele com pouco
componente dérmico diminui a retração e como mantemos a integridade do plexo subdérmico
temos observado poucas complicações relacionadas à necrose, mesmo com a presença de
cicatrizes nessa área (Tabela 4).
Em relação às reconstruções bilaterais, a indicação da técnica será baseada no desejo
da paciente de um mamilo mais ou menos projetado, novamente dependendo da qualidade
da pele. Se a opção for por maior projeção, Shestak et al.1, Shestak e Nguyen8 e Farhadi et al.11 sugerem a técnica do double opposing flap para confecção da neopapila e temos verificado um bom resultado com essa técnica
também. Mas, de forma geral, temos observado uma preferência por mamilos menos projetados.
Algumas pacientes não se sentem à vontade com a projeção volumosa permanente. Nestes
casos, optamos pela indicação da técnica do retalho cutâneo triangular17.
Bezerra et al.18 demonstraram resultados tardios satisfatórios utilizando tecidos autólogos para preenchimento,
assim como Tostes et al.19, que utilizaram materiais sintéticos. Tanabe et al.20 e Brent e Bostwick3 têm utilizado cartilagem auricular para conseguir melhores projeções mamilares e
mostram perda parcial de projeção de 48,1%, com o mínimo de complicações.
Tanabe et al.20 utilizaram retalhos bilobados e trilobados em seus estudos e comprovaram que os retalhos
bilobados proporcionam maiores projeções mamilares, enquanto os trilobados levam a
maiores índices de perda de projeção e necroses parciais. Essa nova técnica, apesar
de ser trilobada, apresentou baixo índice de necrose. Acreditamos ser esse fato devido
à fina espessura do retalho que se mantém irrigada apenas pelo plexo dérmico superficial.
Quanto aos materiais aloplásticos, há uma variedade deles disponíveis para o aumento
da projeção da PAP. No entanto, os riscos reacionais ao corpo estranho ou infecção
e à tendência à migração e extrusão do mesmo, torna um desafio no uso desses materiais3.
Spears et al.15 apresentaram uma técnica tridimensional de tatuagem na qual é realizada apenas a
tatuagem para a reconstrução de toda PAP e obtiveram bons resultados estéticos4. Além disso, a técnica tridimensional pode resolver assimetrias após a reconstrução
da PAP, sem novo procedimento cirúrgico. Quanto à projeção, ocorre uma ilusão de ótica
causada pelo sombreamento da pigmentação4. É um avanço significativo na obtenção de melhores resultados estéticos para mulheres
submetidas a reconstruções mamárias4.
Observamos uma avaliação bastante satisfatória dos resultados nos pacientes que realizaram
a técnica original do retalho cutâneo triangular. Este fato pode ser decorrente de
um maior cuidado em prever o seu apagamento e assimetria em comparação com as demais
técnicas. Além disso, há uma tendência a baixos índices de complicações na área doadora
em comparação com retalhos locais, entre eles, as distorções e achatamentos do contorno
da mama.
O impacto emocional e estético na aparência final das reconstruções de papila são
fundamentais na reconstrução mamária. Enquanto esse procedimento é frequentemente
considerado como “pequeno” na mente da paciente, o seu resultado pode alterar o destino
de todo o processo de reconstrução da mama17. Dessa forma, a posição e simetria das papilas são elementos críticos a serem considerados
na avaliação da aparência da mama após a cirurgia.
O mau posicionamento das PAPs e a necessidade de novas cirurgias para correção não
são raras, atingindo níveis de até 50% de correção em estudos publicados5. Em nossa casuística, não tivemos casos de necessidade de reabordagem cirúrgica para
correção de assimetrias, entretanto utilizamos em 5 casos a injeção de PMMA para correção
de distorções na projeção.
CONCLUSÃO
A técnica original do retalho cutâneo triangular apresenta as vantagens de fácil execução
e segurança na reconstrução das placas areolopapilares.
COLABORAÇÕES
MCC
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Análise e/ou interpretação dos dados; aprovação final do manuscrito; concepção e desenho
do estudo; realização das operações e/ou experimentos; redação do manuscrito ou revisão
crítica de seu conteúdo.
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MCAG
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Análise e/ou interpretação dos dados; aprovação final do manuscrito; realização das
operações e/ou experimentos; redação do manuscrito ou revisão crítica de seu conteúdo.
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LGM
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Análise e/ou interpretação dos dados.
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LMCD
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Análise e/ou interpretação dos dados.
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LDPB
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Análise e/ou interpretação dos dados.
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OMC
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Análise e/ou interpretação dos dados.
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BEP
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Análise e/ou interpretação dos dados.
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FTM
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Análise estatística.
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REFERÊNCIAS
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1. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, São Paulo, SP, Brasil.
2. Hospital Daher Lago Sul, Brasília, DF, Brasil.
Autor correspondente: Marcela Caetano Cammarota Quadra SMHN, Quadra 2, Bloco C, Sala 1315, Asa Norte, Brasília, DF, Brasil. CEP:
70710-149. E-mail: marcelacammarota@yahoo.com.br
Artigo submetido: 18/1/2017.
Artigo aceito: 26/1/2018.
Conflitos de interesse: não há.