INTRODUÇÃO
O couro cabeludo é composto por cinco camadas anatômicas distintas: pele, tecido
subcutâneo, gálea, tecido areolar frouxo e pericrânio, como descrito pelo mnemônico,
em inglês SCALP (Skin, subcutaneous tissue, galea aponeurotica, loose
areolar tissue e pericranium). O escalpo é o tegumento
mais espesso do corpo humano. A gálea, camada aponeurótica, proporciona força à
cobertura cutânea. A fáscia subgaleal ou plano subaponeurótico é uma camada de
tecido conjuntivo frouxo, responsável por boa parte da mobilidade do couro
cabeludo1.
O couro cabeludo é uma área difícil de ser reconstruída devido a sua pouca
elasticidade. Os retalhos locais podem ser usados na cobertura das grandes lesões
do
couro cabeludo, evitando a sequela de feridas crônicas, diminuindo tanto o tempo de
internação como a exposição à infeções e riscos para o paciente4.
OBJETIVO
Relatar o caso de uma reconstrução de couro cabeludo com retalho subgaleal, em uma
paciente com complicação tardia por exposição cutânea de placa de acrílico utilizada
em cranioplastia, após trauma cranioencefálico sofrido aos 2 anos de idade.
MÉTODO
Paciente do sexo feminino, 19 anos, com história de traumatismo cranioencefálico e
exposição de massa encefálica por espancamento aos 2 anos de idade, submetida a
cranioplastia com aposição de placa de acrílico. Apesar de sequelas de déficit
cognitivo e hemiplegia direita com espasticidade distal, permaneceu com situação
clínica estável em acompanhamento médico regular. Como complicação tardia do
primeiro procedimento, apresentou lesões justapostas de aproximadamente 5cm e 2cm
em
couro cabeludo, com exposição de material sintético e calota craniana, acompanhada
de drenagem de secreção exsudativa. Em internação hospitalar, aos cuidados da
neurocirurgia, realizou uso de antibióticos pela suspeita de abscesso e osteomielite
(Figura 1).
Figura 1 - Couro cabeludo após tricotomia.
Figura 1 - Couro cabeludo após tricotomia.
Após condições clínicas favoráveis, realizou-se intervenção cirúrgica conjunta das
equipes de cirurgia plástica e neurocirurgia. Nessa ocasião, optou-se por incisão
em
couro cabeludo que obedecia à cicatriz cirúrgica prévia em região frontoparietal
esquerda, dissecção cuidadosa com descolamento no plano subgaleal, retirada da placa
de acrílico, lavagem copiosa com soro fisiológico 0,9% e hemostasia rigorosa com
auxílio de eletrocautério monopolar (Figura 2).
Como protocolo neurocirúrgico, foi aplicada solução de iodopovidona e pulverizado
com pó de vancomicina. Foram desbridados os bordos da área em que houve lesões
cutâneas e realizada síntese primária (Figura 3). A confecção do retalho de avanço subgaleal ocorreu livre de tensão e um
dreno portovac foi colocado para observar possíveis complicações locais (Figura 4).
Figura 2 - Incisão do couro cabeludo.
Figura 2 - Incisão do couro cabeludo.
Figura 3 - Pulverização com Iodopovidona.
Figura 3 - Pulverização com Iodopovidona.
Figura 4 - Pós-operatório imediato.
Figura 4 - Pós-operatório imediato.
No 1º dia pós-operatório, não apresentou débito da drenagem considerável e o dreno
foi retirado, sem intercorrências. Permaneceu sem queixas aos cuidados da
neurocirurgia para a realização de antibioticoterapia até o 7º dia, recebendo
alta.
RESULTADOS
A cobertura do defeito depende do tamanho da área a ser coberta. Não houve evidência
de complicações infecciosas ou deiscência no período pós-operatório (Figura 5).
Figura 5 - 25º dia de pós-operatório.
Figura 5 - 25º dia de pós-operatório.
DISCUSSÃO
As reconstruções com retalhos de avanço do próprio couro cabeludo são opções bastante
seguras e de resultados favoráveis. São cirurgias de realização técnica mais simples
e resultados também satisfatórios3. O
cirurgião plástico deve se esforçar para obter resultado estético favorável, além
da
cobertura total do crânio1.
CONCLUSÃO
Defeitos de tamanho pequeno a médio do couro cabeludo contam com rearranjo tecidual
local, proporcionando bom arsenal reconstrutivo. Em defeitos pequenos ou moderados
-
2cm2 a 25cm2 ou 10cm2 a 50cm2 -, não é possível fechamento primário, sendo
necessária confecção de retalho local. Devido à pouca elasticidade do couro cabeludo
é preciso um retalho grande para cobrir um defeito pequeno4. A rotação de retalhos fornece tecido amplo, com preservação
da sensibilidade do couro cabeludo, cor, espessura e cabelo. Esses podem ser ao
acaso, quando não apresentam um pedículo definido; ou axiais, quando há pedículo
vascular definido5.
A reconstrução com retalhos locais, sempre foi um grande desafio para os cirurgiões
plásticos, pois o sucesso está diretamente ligado ao planejamento do pedículo e
execução das incisões de forma individualizada, visando o melhor resultado funcional
e estético.
REFERÊNCIAS
1. Marques PA, Matzenbacher CAW, Siqueira LPF, Martins DMFS.
Reconstrução de couro cabeludo com retalho supragaleal: uma boa opção para
grandes avulsões de escalpo. Rev Bras Cir Plást.
2017;32(3):435-440.
2. Maricevich P, Mansur A, Peixoto A, Amando J, Pantoja E, Braune A, et
al. Cranioplastias: estratégias cirúrgicas de reconstrução. Rev Bras Cir Plást.
2016;31(1):32-42.
3. Souza CD. Reconstrução de grandes defeitos de couro cabeludo e
fronte em oncologia: tática pessoal e experiência - análise de 25 casos. Rev
Bras Cir Plást. 2012;27(2):227-237. DOI:
https://doi.org/10.1590/S1983-51752012000200011
4. Pinilla AIB, Santos SRS, Figueredo FS, Miranda LF. Reconstrução de
defeitos no couro cabeludo. Rev Bras Cir Plást.
2018;33(0):55-57.
5. Marcondes CA, Pessoa SGP, Pessoa BBGP. Estratégias em reconstruções
complexas do couro cabeludo e da fronte: uma série de 22 casos. Rev Bras Cir
Plást. 2016;31(2):229-234.
1. Hospital Geral de Fortaleza, Papicu,
Fortaleza, CE, Brasil.
Endereço Autor: Karine Lorena Sousa Queiroz,
Travessa Beni Carvalho nº 50, Apartamento 503, Bairro Cocó, Fortaleza, CE,
Brasil. CEP: 60135-281. E-mail: karine_lorena@hotmail.com