INTRODUÇÃO
O ensino e a aptidão das técnicas de reconstrução mamária requerem um longo e
específico treinamento. Usualmente, os casos, revestidos de um alto índice de
gravidade e complexidade, implicam de forma inerente um maior risco de complicações,
que devem, sobretudo, serem levadas em consideração em hospitais de ensino. Assim,
reduzir a incidência de complicações e manter um bom nível de treinamento é
fundamental para a formação de bons médicos residentes nessa área1,2.
OBJETIVO
Descrever um algoritmo em reconstrução mamária baseado em opções técnicas mais
seguras e eficazes.
MATERIAL E MÉTODOS
Desde 2013, baseado nas pacientes que realizaram reconstrução mamária no Hospital
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, advindas pelo Sistema Único de Saúde,
e
operadas pelo grupo da residência médica, identificou-se quais seriam as principais
complicações cirúrgicas, bem como as limitações terapêuticas evolvidas. As
principais limitações encontradas foram: complicações e resultados insatisfatórios
no uso de implantes associados à radioterapia; isquemia de retalhos; desfechos
inadequados por planejamento insuficiente. A partir de então, criou-se um algoritmo
perioperatório nessa instituição. No pré-operatório, foi contraindicado o uso de
expansor em monoterapia nas pacientes que realizaram radioterapia. Da mesma forma,
não é adequado o uso de prótese imediatamente à confecção de retalho com o músculo
grande dorsal, optando-se pelo uso conjunto de expansores, evitando gerar tensão
excessiva na ferida. Nesse momento, realizamos um planejamento específico em relação
ao formato e à posição da mama a ser reconstruída, baseado na mama sadia,
contralateral. No transoperatório, o algoritmo visa a proteção do paciente em
relação ao posicionamento, prevenção de embolia, e outras complicações cirúrgicas.
Já no pós-operatório, o foco é sobre a identificação e tratamento precoce das
complicações.
RESULTADOS
O grupo desse estudo é composto quase exclusivamente de pacientes que realizaram a
reconstrução mamária tardiamente, ou seja, não fora realizado nenhum ato
reconstrutor durante a mastectomia ou setorectomia. Nosso algoritmo avalia,
primeiramente, a submissão à radioterapia; caso a paciente não tenha sido submetida,
tenha uma boa qualidade da pele local e não seja tabagista, a preferência é a
utilização de retalho autólogo. O uso do retalho transverso do músculo reto
abdominal (TRAM) é a primeira opção quando há excesso dermocutâneo no abdome, além
de ausência de cirurgias abdominais prévias que comprometam a vascularização do
segmento do retalho. Nos casos em que as exigências anteriores não são atendidas,
usa-se o retalho do músculo grande dorsal, com colocação de expansor. Na
impossibilidade ou na falha desses retalhos, o serviço iniciou recentemente com
reconstruções microcirúrgicas, podendo utilizar autotransplantes, tais como o DIEP
e
o SIEA, que são retalhos microcirúrgicos profundos e superficiais da artéria
epigástrica inferior, respectivamente. Menos comumente, utilizamos o retalho TUG
(transverse upper gracilis), construído a partir do músculo
grácil. Nas reconstruções microcirúrgicas, as anastomoses costumam ser realizadas
com vasos mamários internos. Ainda, o enxerto de gordura vem ganhando cada vez mais
espaço nos protocolos de reconstrução mamária. As pacientes submetidas à
radioterapia apresentam dano da pele e do tecido celular subcutâneo. Nesses casos,
optamos por realizar enxerto de gordura da parede abdominal. Pode-se realizar
lipoenxertia também para refinamento dos bordos e simetrização da mama
contralateral, com ou sem uso de implantes. No último estágio, realiza-se a
reconstrução do complexo aréolo-mamilar (CAM), sendo o mamilo reconstruído com
retalhos locais e a aréola com enxerto de pele ou tatuagem. No transoperatório,
fazemos uso de cefazolina ou clindamicina alternativamente por 24 horas, mesmo
quando há indicação de implantes. A paciente é posicionada em flexão do tronco. O
risco de evento tromboembólico é avaliado de acordo com escore de Caprini
modificado. A utilização de botas de compressão pneumática, heparina e meias
elásticas de média compressão é feita de acordo com tal escore. Estimula-se a
deambulação precoce. No pós-operatório, avaliamos a vitabilidade do retalho
baseando-se na sua cor, enchimento capilar, temperatura, sangramento à perfuração
com agulha e a razão entre glicemia capilar no retalho com a glicemia sistêmica, que
idealmente deverá estar maior que 70%. A hemoglobina do paciente também deve ser
mantida acima de 8 mg/dL. Perante diagnóstico de necrose, realizamos desbridamento.
Em casos de sinais e sintomas abdominais após retalhos TRAM, realizam-se exames de
imagem, como ultrassonografia ou tomografia.
DISCUSSÃO
Idealmente, recomenda-se, para a maioria dos casos, a reconstrução mamária em vários
tempos, iniciando já no momento da mastectomia, no qual se posiciona o expansor
retromuscular no mesmo tempo cirúrgico ou se realiza a reconstrução com implante e
matriz dérmica de sustentação. Essas manobras permitem à paciente permanecer com um
monte mamário imediatamente após a mastectomia, diminuindo os traumas psicológicos,
ao mesmo tempo em que protege um futuro retalho autólogo dos efeitos danosos da
radioterapia. Em um serviço com alto fluxo de pacientes, cirurgiões em treinamento
e
rotatividade das equipes, é essencial a implementação de rotinas que padronizem o
atendimento para estabelecer e reproduzir um padrão elevado de qualidade. Os
residentes em cirurgia plástica devem estar habituados a todos os passos da
reconstrução mamária, adquirindo experiência com posicionamento e manejo de
expansores, lipoenxertia, retalhos autólogos, simetrização e reconstrução do CAM,
bem como princípios de microcirurgia. Recentemente, nosso serviço tem incorporados
técnicas e oferecido às pacientes a possibilidade de reconstruções microcirúrgicas.
Além das técnicas, é imprescindível para um bom resultado cirúrgico a observação dos
refinamentos como posicionamento do polo superior e sulco inframamário, volume e
formato adequado da mama contralateral. Nossa padronização otimizou o fluxo de
pacientes, bem como o ensino da reconstrução mamária3,5.
CONCLUSÃO
O protocolo de reconstrução estabelecido deve otimizar resultados e reduzir
complicações. Além disso, deve haver equipe qualificada para executar qualquer tipo
de técnica proposta.
REFERÊNCIAS
1. Kronowitz SJ. Delayed Immediate Breast Reconstruction: Technical and
Timing Considerations. Plast Reconstr Surg. 2010; 125:463. DOI: https://doi.org/10.1097/PRS.0b013e3181c82d58
2. Ter Louw RP, Patel KM, Sosin M, Weissler JM, Nahabedian MY. Patient
centred decision making in breast reconstruction utilising the delayed immediate
algorithm. J Plast Reconstr Aesthet Surg. 2014; 67:477-82.
3. Kwok AC, Goodwin IA, Ying J, Agarwal JP. National trends and
complication rates after bilateral mastectomy and immediate breast
reconstruction from 2005 to 2012. 2015; 210:5126.
4. Barry M, Kell MR. Radiotherapy and breast reconstruction: a
meta-analysis. Breast Cancer Res Treat. 2011; 127:1522.
5. Lee KT, Mun GH. Comparison of Onestage versus Twostage Prosthesis
based Breast Reconstruction: A Systematic Review and Meta-Analysis. Am J Surg.
2015; 212:33644.
1. Santa Casa de Porto Alegre, Porto Alegre, RS,
Brasil.
2. Universidade Federal de Ciências da Saúde de
Porto Alegre, Porto alegre, RS, Brasil.
Endereço Autor: João Vitor Peixoto Leal Zanirati
Avenida Senador Salgado Filho, nº 257 - Centro, Porto Alegre, RS, Brasil CEP
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