INTRODUÇÃO
As consequências relacionadas à obesidade são consideradas, hoje, um dos problemas
mais graves enfrentado na saúde pública brasileira e em outros países. A Organização
Mundial de Saúde (OMS) considera que, atualmente, nos países desenvolvidos, elas
sejam os principais problemas de saúde a enfrentar. O aumento da incidência e da
prevalência da obesidade se deve principalmente ao estilo de vida, consumo de
alimentos ricos em gorduras e açúcares, sedentarismo e redução de consumo de
fibras1. Atualmente, no Brasil, dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que sobrepeso e
obesidade juntos apresentam uma prevalência de aproximadamente 50%, tanto para
homens como para mulheres, em uma faixa etária maior de 20 anos2.
Então, com as frequentes consequências relacionadas a esse tipo de patologia, a
medicina evoluiu para prevenir enquanto é tempo e a partir da consequência
instalada, tratar para tentar restabelecer a qualidade de vida do paciente. As
opções de tratamento clínico consistem em promover um estilo de vida mais saudável,
com menor ingestão de calorias e aumento da atividade física, buscando sempre evitar
o tratamento cirúrgico, sendo hoje realizado em pacientes ditos refratários ao
tratamento clínico.
As indicações cirúrgicas sofrem constantes revisões e modificações, visto que o tempo
demonstrou diversas complicações inerentes ao procedimento cirúrgico em um paciente
descompensado3. A seleção do paciente
beneficiado com a cirurgia é rigorosa e, além do IMC, são levados em conta aspectos
como idade, aspectos emocionais e presença de comorbidades. Partindo do ponto da
análise do IMC, o procedimento está indicado para indivíduos que apresentem IMC 50
kg/m2; indivíduos que apresentem IMC 40 kg/m2, com ou sem
comorbidades, sem sucesso no tratamento clínico longitudinal realizado, na atenção
básica e/ou na atenção ambulatorial especializada, por no mínimo dois anos e que
tenham seguido protocolos clínicos; indivíduos com IMC > 35 kg/m2 e
com comorbidades, tais como pessoas com alto risco cardiovascular, diabetes
mellitus e/ou hipertensão arterial sistêmica de difícil
controle, apneia do sono, doenças articulares degenerativas, sem sucesso no
tratamento clínico longitudinal realizado por no mínimo dois anos e que tenham
seguido protocolos clínicos.
A cirurgia bariátrica é o tratamento mais efetivo para obesidade grau III. A
finalidade do tratamento cirúrgico consiste em melhorar não somente a qualidade,
como também o tempo de vida do obeso, resolvendo os problemas de ordem física e
psicossocial que o excesso de peso acarreta1.
A cirurgia para o tratamento da obesidade grave vem sendo empregada há quase 50
anos, ocasionando perdas de peso ponderais nos pacientes, resultando em excedente
cutâneo e flacidez3. Assim, como forma de
reparação do excedente cutâneo e flacidez, a procura pela cirurgia plástica
reparadora aumentou, principalmente para a realização de dermolipectomia abdominal,
para correção das consequências secundárias da cirurgia bariátrica, possibilitando
uma grande melhora da qualidade de vida dos pacientes tratados cirurgicamente.
OBJETIVO
O propósito deste estudo é descrever uma série de casos de pacientes que realizaram
dermolipectomia em um serviço de saúde público no ano de 2018, além de caracterizar
os pacientes operados e que realizaram internação pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, referência regional para tratamento
cirúrgico dos pacientes que realizaram cirurgia bariátrica.
MÉTODO
Trata-se de uma análise quantitativa, descritiva, baseada em dados secundários. A
fonte dos dados constituiu-se dos prontuários dos pacientes e dados de internação
contidos no Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), correspondentes
ao
período entre março e dezembro de 2018. Foram realizadas revisões visando observar
complicações trans e pós-operatórias e o tipo de técnica utilizada. A base de dados
foi avaliada utilizando-se testes estatísticos paramétricos e não paramétricos.
Todos os casos foram realizados pelo mesmo cirurgião.
RESULTADOS
Neste estudo foram avaliados 52 pacientes com idade variando entre 42 e 66 anos, com
média de idade de 50,91 ± 6,89 anos (média ± desvio-padrão da média).
Em relação ao sexo, 48 (92,30%) eram femininos e 4 (7,69%) eram masculinos. Em
relação à etnia, 39 (55,71%) eram autodeclarados brancos, 18 (25,71%) eram
autodeclarados pardos e 13 (18,57%) eram autodeclarados negros. Com relação aos
procedimentos realizados, 45 (86,53%) abdominoplastias estéticas, 1 (1,92%)
cruroplastia, 4 (7,69%) braquioplastias e 2 (3,84%) abdomes higiênicos. Todos os
pacientes homens realizaram abdominoplastia, representando quatro procedimentos
(8,88%) de todas abdominoplastias estéticas. Foram operadas pacientes com IMC até
30
kg/m², sendo a média de IMC de 28,69 ± 0,90 kg/m2. Com relação às
complicações, foram cinco seromas com necessidade de punção, sendo todos nos
pacientes que realizaram abdominoplastia estética, além de duas infecções de ferida
operatória em pacientes que realizaram abdominoplastia, uma deiscência parcial de
suturas na cruroplastia e uma deiscência parcial de suturas na braquioplastia. Além
disso, ocorrência de um episódio de hemorragia com necessidade de intervenção
cirúrgica. Com relação ao peso do retalho, pesos variaram de 1,2 a 5,6 kg, sendo a
média de 3,57 ± 1,03 kg. A redução de peso total resultante da cirurgia
bariátrica média foi de 31,6 ± 13,57 kg. As características demográficas
estão organizados na Tabela 1. Pré e
pós-operatório estão organizados nas Figuras 1
a 3.
Tabela 1. - Características demográficas e complicações de pacientes submetidas a
cirurgia reparadora pós bariátrica (n = 52).
Variáveis |
Valores |
Idade (anos) |
50,91 ± 6,89 anos |
Gênero |
|
Feminino |
48 (92,3%) |
Masculino |
4 (7,7%) |
Etnia (autodeclarada) |
|
Brancos |
39 (55,7%) |
Pardos |
18 (25,7%) |
Negros |
13 (18,6%) |
IMC (kg/m2)
|
28,69 ± 0,90 |
Cirurgia realizada |
|
Abdominoplastia estética |
45 (86,5%) |
Abdominoplastia reparadora
(higiênica)
|
2 (3,8%) |
Cruroplastia |
1 (1,9%) |
Braquioplastia |
4 (7,7%) |
Complicações |
|
Seroma |
5 (9,6%) |
Infecção de FO |
2 (3,8%) |
Deiscência parcial de
suturas
|
2 (3,8%) |
Tabela 1. - Características demográficas e complicações de pacientes submetidas a
cirurgia reparadora pós bariátrica (n = 52).
Figura 1 - Pré e pós-operatório de 6 meses.
Figura 1 - Pré e pós-operatório de 6 meses.
Figura 2 - Pré e pós-operatório de 6 meses.
Figura 2 - Pré e pós-operatório de 6 meses.
Figura 3 - Pré e pós-operatório de 6 meses.
Figura 3 - Pré e pós-operatório de 6 meses.
DISCUSSÃO
A obesidade tornou-se um crescente problema global, com significante morbidade,
mortalidade e problemas psicossociais. Devido a isso, a cirurgia bariátrica tem
aumentado sua popularidade, resultando em uma maior procura por cirurgia estética
e
funcional4,5. A significativa perda de peso do paciente
submetido a cirurgia bariátrica causa grande distorção no contorno corporal. Além
disso, existe uma grande dificuldade de movimentação e de higiene pessoal, que podem
causar infecções cutâneas. Assim, a abordagem cirúrgica torna-se de necessidade
tanto funcional como estética. A dermolipectomia abdominal em âncora tornou-se uma
das principais cirurgias escolhidas pelos pacientes pós-bariátricos; esse
procedimento de cirurgia plástica pode melhorar a qualidade de vida, mas altos
índices de complicações podem afetar negativamente estes ganhos em potencial5. Na literatura, muitos trabalhos relatam altos
índices de complicações nas dermolipectomias pós-bariátricas, por volta de
50,4%3,6,7, aumentando
muito os custos do procedimento. Assim, torna-se fundamental que o cirurgião domine
técnicas cirúrgicas que visam contribuir para a diminuição dessas complicações,
como: um período operatório curto (diminui infecção, TVP, hemotransfusão), o uso
preferencial de bisturi frio (diminui a formação de seroma), uma hemostasia
meticulosa (diminui a necessidade de hemotransfusão), a permanência hospitalar curta
(diminui as taxas de infecção e TVP), o uso de botas de compressão pneumática, a
mobilização precoce e a profilaxia medicamentosa (diminuem o risco de fenômenos
tromboembólicos)8. Em nossa casuística,
identificamos a maioria desses fatores e a ausência de complicações maiores
descritas na literatura.
CONCLUSÃO
A dermolipectomia em âncora é um método seguro e efetivo para o contorno corporal
do
ex-obeso. Para aperfeiçoar as cirurgias de contorno corporal, é mandatório
identificar os preditores de complicação e satisfação com criteriosa seleção dos
pacientes. Mostramos que é possível sistematizar o procedimento cirúrgico com tempo
operatório e de hospitalização reduzido e manter altos índices de satisfação, com
ausência de complicações maiores. Esse tipo de cirurgia tem apresentado um grande
crescimento nos últimos anos, por isso é dever do cirurgião plástico adaptar-se a
esse novo tipo de público, com o objetivo de proporcionar uma melhora na qualidade
de vida desses pacientes.
REFERÊNCIAS
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População e Indicadores Sociais. Indicadores sociodemográficos e de saúde no
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22]; 4(1):61-6. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21372612.
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1. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica,
Santa Catarina, SC, Brasil.
2. Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, SC, Brasil.
3. Universidade Franciscana, Santa Maria, RS,
Brasil.
4. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS,
Brasil.
5. Hospital Universitário, Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
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