INTRODUÇÃO
A reconstrução de defeitos da parede torácica é desafiadora e compreende a
restauração da forma e da função, bem como a cobertura e proteção de estruturas
vitais1,2. Avanços nas técnicas cirúrgicas, na ventilação mecânica, no
suporte de terapia intensiva, nos antibióticos com amplo espectro e na anestesia
permitiram ressecções mais amplas, com morbidade e mortalidade aceitáveis, o que
proporcionou melhora no prognóstico dos pacientes. Um fator que se mostrou
determinante na evolução dos procedimentos foi a melhor compreensão e manejo da
dinâmica ventilatória3.
As principais indicações para grandes ressecções de parede torácica incluem necroses
decorrentes de radioterapia, defeitos congênitos, traumas, osteomielites, sarcomas,
neoplasias pulmonares e mamárias avançadas4.
O câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil depois
do
de pele não melanoma, respondendo por cerca de 28% dos casos novos a cada ano. É
descrito um aumento da sua incidência tanto nos países desenvolvidos quanto nos em
desenvolvimento. No Brasil a estimativa é 59.700 casos novos em 2018, segundo o INCA
(Instituto Nacional do Câncer) e em 2013 ocorreram 14.388 mortes devido câncer de
mama5.
Considera-se o câncer de mama localmente avançado os que se apresentam nos estádios
clínicos IIIB ou IV. Sua ocorrência pode variar de 20 a 25% de todos os casos, sendo
caracterizados por uma alta taxa de recorrência local e comportamento
heterogêneo6,7. O estádio IIIB compreende pacientes com
classificação tumoral T4, que representa tumor de qualquer tamanho com extensão
direta para a parede torácica ou a pele, apresentando-se como uma ulceração ou
nódulos cutâneos. Já o estádio clínico IV compreende pacientes com qualquer T,
qualquer N (status linfonodal) e M1, que significa doença metastática, inclusive
para a pele. Tratamento com quimioterapia adjuvante frequentemente é considerado
nesta apresentação clínica antes da cirurgia, bem como radioterapia7.
Tansini é considerado o primeiro cirurgião a usar um retalho musculocutâneo para
reconstrução de partes moles da parede torácica anterior. O caso relatado é o
fechamento do defeito decorrente de uma mastectomia radical com um retalho de
latíssimo do dorso em 19068. Existem outras
descrições de transposição de retalho de latíssimo do dorso nas décadas de 409 e 5010
do século XX para reconstrução da parede torácica2. A técnica só passou a ser utilizada largamente quando o conceito de
retalhos musculocutâneos foi revivido e aperfeiçoado na década de 70 do século XX,
o
que sedimentou sua utilização rotineira até a atualidade1,2.
Os principais músculos utilizados para a reconstrução da parede torácica são: o
latíssimo do dorso (LD), peitoral maior e o reto do abdome, cada um com suas
vantagens e desvantagens, porém todos robustos, confiáveis e versáteis, com uma
anatomia vascular consistente e possibilidade de utilização de uma ilha de pele
associada1,11.
Retalhos locais ao acaso e retalhos fasciocutâneos toracoabdominais também apresentam
sua utilidade em casos selecionados12. Em
alguns casos, está descrito o uso de omento maior como arcabouço para reconstrução
da parede torácica como demonstrado inicialmente por Kiricuta13 e, em nosso meio, por Tavares et al.14.
Existem tentativas de elaboração de algoritmos11,15 para
reconstrução das partes moles da parede torácica, mas observa-se na prática uma
grande complexidade e variedade de defeitos. O cirurgião reconstrutor deve estar
preparado para alterar seu planejamento devido aos achados intraoperatórios1.
A escolha da técnica depende da localização extensão do defeito, da sua localização
e
disponibilidade das áreas doadoras, devendo-se levar em consideração abordagens
cirúrgicas anteriores na região torácica e abdominal, bem como radioterapia1,2.
OBJETIVO
Avaliar resultados das reconstruções de parede torácica com retalhos musculocutâneos
e fasciocutâneos em pacientes com câncer de mama localmente avançados em hospital
de
referência para tratamento do câncer.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo retrospectivo, observacional descritivo, em único centro, todos
operados pelo mesmo cirurgião. A população estudada é composta de pacientes
submetidos a ressecção de lesões oncológicas em parede torácica no A.C. Camargo
Cancer Center, em São Paulo, SP, e reconstruídas com retalhos musculocutâneos pelo
autor no período de 1 de janeiro de 2016 a 31 dezembro de 2017.
O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da instituição,
sob
o código EC 51/18. Todos os pacientes foram orientados sobre os procedimentos e
assinaram termo de consentimento informado.
As variáveis estudadas foram a idade, gênero, histologia, dimensões do defeito, tipo
de retalho musculocutâneo utilizado para a reconstrução, dimensões do retalho,
presença de metástases cutâneas e viscerais, evolução pós-operatória e complicações
imediatas e tardias.
Para a avaliação das complicações pós-operatórias, foram constituídos quatro grupos
-1) Retalho vertical do músculo reto abdominal (VRAM), 2) Latíssimo do dorso em
conformação VY (LDVY), 3) Retalho toracoabdominal (TA) e 4) Latíssimo do dorso
associado ao retalho toracoabdominal (LDVYTA).
A técnica utilizada para a confecção dos retalhos foi a seguinte:
Retalho musculocutâneo de latíssimo do dorso com ilha de pele em VY
Inicialmente, foi realizada a mudança para decúbito lateral oposto ao defeito da
mastectomia. Em seguida, foi demarcada a ilha de pele em V sobrejacente ao
músculo latíssimo do dorso a partir da borda lateral do defeito resultante da
mastectomia. Teste de pinçamento cutâneo foi utilizado para avaliar a tensão no
fechamento da área doadora. Foi realizada então infiltração com solução de
1:250.000 de adrenalina e ropivacaína a 10mg/ml.
O retalho musculocutâneo foi confeccionado com isolamento do pedículo da artéria
toracodorsal e desinserção do tendão no sulco intertubercular do úmero.
Realizada transposição do retalho para a área do defeito da mastectomia seguido
de confecção de 10 pontos de adesão de Baroudi com vycril 2,0. A área doadora
foi fechada por planos em forma de “Y” após a drenagem com dreno de Blake
n°19.
O decúbito da paciente foi então modificado para horizontal e procedida a
distribuição do retalho sobre o defeito da mastectomia, instalado dreno a vácuo
(Blake n° 19) e fechamento por planos. Quando necessário, foi associado retalho
toracoabdominal (LDVYTA) para complementação do fechamento devido cobertura
insuficiente do retalho de latíssimo do dorso.
Os curativos tanto da área doadora quanto da área reconstruída foram feitos com
adaptic, gaze e opsite.
Retalho com ilha vertical de pele do músculo reto do abdome (VRAM)
Paciente em decúbito horizontal sendo realizada demarcação de ilha de pele sobre
o eixo longitudinal do músculo reto do abdome contralateral e monopediculado ao
defeito da mastectomia.
Em seguida, foi realizada infiltração com solução de 1:250.000 de adrenalina e
ropivacaína a 10mg/ml. Realizada incisão com dissecção por planos até a bainha
do músculo reto do abdome com sua abertura e isolamento do músculo. Em seguida,
procedeu-se à secção no terço distal do músculo reto do abdome, na projeção da
linha semilunar, após ligadura da artéria epigástrica inferior e veias
correspondentes com fios de vycril 2,0. O retalho foi mobilizado para a área do
defeito e procedeu-se fechamento da área doadora com reconstituição da bainha
anterior do músculo reto do abdome com fio de nylon 0,0 em pontos separados.
Neste momento foi avaliada a necessidade de reforço com tela Ultrapro (Johnson
& Johnson), de acordo com a tensão encontrada no fechamento. Foi então
realizada drenagem a vácuo (Blake n° 19) e a área doadora fechada por planos. O
retalho mobilizado foi acomodado sobre o defeito resultante da mastectomia,
realizada drenagem a vácuo com dreno de Blake n° 19 e fechamento por planos.
Os curativos, tanto da área doadora quanto da área reconstruída, foram feitos com
adaptic, gaze e opsite.
Retalho toracoabdominal
Após avaliação do defeito resultante da mastectomia, foram confeccionados
retalhos fasciocutâneo de avanço da região torácica e abdominal. O tamanho do
retalho foi proporcional ao defeito resultante e a elasticidade da pele da área
doadora foi o critério utilizado para sua utilização. Após o avanço do retalho,
foram feitos pontos de adesão de Baroudi com vycril 2,0, drenagem da espaço
morto com dreno de Blake n° 19 e fechamento por planos.
Os curativos, tanto da área doadora quanto da área reconstruída, foram feitos com
adaptic, gaze e opsite.
As análises estáticas foram realizadas com o software SPSS,
versão 24.0 (Chicago, IL).
Diferenças serão consideradas estatisticamente significativas quando o valor de
p for menor que 0,05. A análise descritiva foi realizada
utilizando frequências e porcentagens para as características das diversas
variáveis categóricas e da obtenção de medidas de tendência central (média e
mediana) para as variáveis quantitativas.
O método de Kaplan Meier foi utilizado para avaliação da sobrevida.
RESULTADOS
Foram selecionadas 11 pacientes com os critérios escolhidos (Tabela 1). Considerando as variáveis descritivas, a faixa etária
variou de 28 a 63 anos, com uma média de 49 anos e todas as pacientes foram do
gênero feminino com câncer de mama avançado em estádio clínico IIIB ou IV. Quanto
à
lateralidade da doença, o lado esquerdo foi o mais acometido, sendo representado por
6 das 11 pacientes. Nenhum caso teve acometimento bilateral.
Tabela 1 - Dados dos pacientes.
Paciente |
Idade |
Retalho |
Clínica |
Lateralidade |
Métastasés Cutâneas |
Métastasés Viscerais |
Dimensões do defeito (cm2)
|
Dimensões do retalho (cm2)
|
Óbito |
1 |
38 |
VRAM |
Massa |
Esquerda |
Sim |
Não |
240 |
200 |
Sim |
2 |
53 |
LDVY |
Massa ulcerada |
Direita |
Não |
Sim |
450 |
240 |
Sim |
3 |
60 |
VRAM |
Massa e hiperemia |
Esquerda |
Não |
Sim |
600 |
350 |
Não |
4 |
51 |
LDVYTA |
Massa e hiperemia |
Esquerda |
Sim |
Não |
119 |
198 |
Não |
5 |
50 |
LDVYTA |
Massa ulcerada |
Direita |
Sim |
Não |
144 |
684 |
Sim |
6 |
42 |
TA |
Massa e hiperemia |
Esquerda |
Não |
Sim |
595 |
800 |
Não |
7 |
47 |
TA |
Massa |
Esquerda |
Sim |
Sim |
63 |
800 |
Sim |
8 |
28 |
LDVY |
Massa e hiperemia |
Direita |
Não |
Sim |
625 |
171 |
Não |
9 |
52 |
VRAM |
Massa ulcerada |
Direita |
Sim |
Sim |
600 |
720 |
Sim |
10 |
63 |
TA |
Massa ulcerada |
Direita |
Não |
Sim |
336 |
425 |
Não |
11 |
59 |
VRAM |
Massa ulcerada |
Esquerda |
Sim |
Não |
300 |
375 |
Sim |
Tabela 1 - Dados dos pacientes.
O tipo tumoral mais encontrado foi o carcinoma ductal invasivo, com 9 casos,
representando 81% da amostra. Os outros dois casos foram um carcinoma lobular
invasivo e outro de tumor metaplásico. Das 11 pacientes 4 foram submetidas à
mastectomia à Halsted e as demais à mastectomia radical modificada.
Os retalhos realizados foram em números: 2 LDVY, 2 LDVYTA (Figuras 1 e 2), 4 VRAM
(Figuras 3 e 4) e 3 TA (Figura 5). A tela para
reforço da parede do abdome foi utilizada em 2 pacientes em que a técnica do VRAM
foi selecionada para reparar o defeito. O tamanho dos defeitos variou de 17x7 a
45x10cm, com uma área média em centímetros quadrados de 421,72cm2 e o
tamanho dos retalhos utilizados para reconstrução foi de 19x9 a 40x20cm2,
com uma área média de 451cm2.
Figura 1 - Reconstrução com retalho de músculo latíssimo do dorso associado a
retalho toracoabdominal. A: Defeito; B:
Pós-operatório imediato; C: 6 meses de pós-operatório, pós-
radioterapia.
Figura 1 - Reconstrução com retalho de músculo latíssimo do dorso associado a
retalho toracoabdominal. A: Defeito; B:
Pós-operatório imediato; C: 6 meses de pós-operatório, pós-
radioterapia.
Figura 2 - Reconstrução com retalho de músculo latíssimo do dorso associado a
retalho toracoabdominal. A: Lesão inicial; B:
3 semanas de pós-operatório; C: 4 meses de pós-operatório -
extensa recidiva local.
Figura 2 - Reconstrução com retalho de músculo latíssimo do dorso associado a
retalho toracoabdominal. A: Lesão inicial; B:
3 semanas de pós-operatório; C: 4 meses de pós-operatório -
extensa recidiva local.
Figura 3 - Reconstrução com VRAM - Retalho do músculo reto abdominal com ilha de
pele vertical. A: Lesão inicial; B: Defeito,
C: 6 meses de pós-operatório.
Figura 3 - Reconstrução com VRAM - Retalho do músculo reto abdominal com ilha de
pele vertical. A: Lesão inicial; B: Defeito,
C: 6 meses de pós-operatório.
Figura 4 - Reconstrução com VRAM - Complicação: A: 2 semanas de
pós-operatório - necrose e Deiscência parcial; B:
Mobilização de retalho fasciocutâneo paraescapular; C: 3
Semanas de pós-operatório - Recidiva local.
Figura 4 - Reconstrução com VRAM - Complicação: A: 2 semanas de
pós-operatório - necrose e Deiscência parcial; B:
Mobilização de retalho fasciocutâneo paraescapular; C: 3
Semanas de pós-operatório - Recidiva local.
Figura 5 - Reconstrução com retalho toracoabdominal. A: Lesão
inicial; B: Defeito; C: Pós-operatório
imediato; D: 3 meses de pós-operatório.
Figura 5 - Reconstrução com retalho toracoabdominal. A: Lesão
inicial; B: Defeito; C: Pós-operatório
imediato; D: 3 meses de pós-operatório.
A apresentação clínica inicial foi uma massa mamária volumosa em 2 das pacientes,
massa com hiperemia cutânea difusa em 4 pacientes e massa com ulceração em 5
pacientes (Figura 6). Hemorragia estava
presente em 4 das pacientes, sendo que uma delas necessitou de radioterapia
hemostática antes da cirurgia para controle dos sintomas.
Figura 6 - Apresentação clínica.
Figura 6 - Apresentação clínica.
Das 11 pacientes, 4 apresentaram metástases cutâneas durante o período de
acompanhamento, 4 metástases viscerais e 3 metástases viscerais e cutâneas
concomitantes (Figura 7). Quatro pacientes já
haviam sido submetidas a quadrantectomias previamente e retornaram com doença
recidivada para tratamento de controle locorregional da neoplasia.
Figura 7 - Distribuição das metástases.
Figura 7 - Distribuição das metástases.
A média de internação após o procedimento foi de 4 dias, variando de 1 até 15 dias.
Apenas 1 paciente teve necessidade de acompanhamento pós-operatório na unidade de
terapia intensiva (UTI) com permanência de 1 dia.
Quatro pacientes receberam radioterapia complementar após o tratamento cirúrgico.
Das
11 pacientes operadas, 10 foram tratadas por quimioterapia neoadjuvante e dez
pacientes quimioterapia adjuvante. Das 11 pacientes, 3 apresentavam comorbidades,
sendo 1 delas hipertensão arterial sistêmica e 2 com diabetes e hipertensão
associadas.
A complicação mais frequente foi deiscência parcial da ferida operatória, estando
presente em 7 pacientes, 6 destas manejadas conservadoramente e 1 necessitou de
ressutura em regime ambulatorial com o intuito de habilitar a paciente o mais rápido
possível para a quimioterapia adjuvante. Além disso, necrose parcial do retalho
ocorreu em 2 pacientes, hemorragia em 1 paciente, abscesso em 2, epiteliólise em 3
e
seroma em uma paciente (Figura 8).
Figura 8 - Complicações por tipo de retalho.
Figura 8 - Complicações por tipo de retalho.
Uma paciente diabética e hipertensa apresentou abscesso de ferida operatória em
vigência de quimioterapia adjuvante, evoluindo para choque séptico e i n d o a óbito
32 dias após a cirurgia. Em uma paciente com câncer de mama e radioterapia prévia
submetida à reconstrução com VRAM ocorreu necrose parcial do retalho e da pele da
área receptora na região axilar, o que causou exposição dos vasos axilares. Optou-se
por desbridamento cirúrgico amplo e reconstrução local com retalho fasciocutâneo
paraescapular, que apresentou boa evolução, embora a paciente tenha apresentado
recidiva locorregional da doença 3 semanas após e foi a óbito 3 depois de 3 meses
da
recidiva.
No momento da aquisição dos dados, seis pacientes da série haviam ido a óbito. Dos
quatro grupos avaliados, a reconstrução com VRAM foi o que apresentou o maior número
de complicações e a com o retalho toracoabdominal a que menos apresentou.
Quanto à sobrevida, utilizando o teste de Kaplan Meier e estratificando por retalho
utilizado, obtiveram-se os seguintes resultados (Figura 9 e Tabela 2): VRAM:
sobrevida em 12 meses de 75% e 37,5% em 28 meses; LDVYTA: sobrevida de 50% em 18
meses; TA: sobrevida de 66,7% em 13 meses. A sobrevida média para VRAM foi de 25,5
meses, para LDVY de 17 meses, TA de 17 meses e LDVYTA de 20,5 meses.
Figura 9 - Funções de Sobrevida.
Figura 9 - Funções de Sobrevida.
Tabela 2 - Tabela de Sobrevida.
Tabela de sobrevivência |
|
|
|
Proporção Cumulativa |
Número de Eventos Cumulativos |
Número de Casos Remanescentes |
|
|
|
Survivina at the Time |
Retalho |
Tempo |
Status |
Estimativa |
Std. Erro |
VRAM |
1 |
12,000 |
Sim |
0,750 |
0,217 |
1 |
3 |
|
2 |
22,000 |
Não |
. |
. |
1 |
2 |
|
3 |
28,000 |
Sim |
0,375 |
0,286 |
2 |
1 |
|
4 |
32,000 |
Sim |
0,000 |
0,000 |
3 |
0 |
LDVY |
1 |
16,000 |
Não |
. |
. |
0 |
1 |
|
2 |
17,000 |
Sim |
0,000 |
0,000 |
1 |
0 |
TA |
1 |
13,000 |
Sim |
0,667 |
0,272 |
1 |
2 |
|
2 |
14,000 |
Não |
. |
. |
1 |
1 |
|
3 |
19,000 |
Não |
. |
. |
1 |
0 |
LDVYTA |
1 |
18,000 |
Sim |
0,500 |
0,354 |
1 |
1 |
|
2 |
23,000 |
Não |
. |
. |
1 |
0 |
Tabela 2 - Tabela de Sobrevida.
Um teste de log rank foi aplicado para verificar se existia
diferenças estatísticas entre os tipos de tratamento, encontrando um valor de
p de 0,87. Dessa forma, com um nível de significância de 5% não
existe diferença estatisticamente significativa entre o tipo de retalho utilizado
em
termos de sobrevida.
DISCUSSÃO
A ressecção cirúrgica ampla com margens livres e fechamento do defeito com retalhos
musculocutâneos ou fasciocutâneos é considerada a abordagem de eleição para o câncer
de mama localmente avançado (estádios IIIB e IV). Este tratamento proporciona um
tempo livre de progressão de doença aumentado, melhora da qualidade de vida e
aumento da sobrevida global16-28.
O retalho de músculo latíssimo do dorso apresenta papel de protagonismo nas
reparações torácicas e mamárias, pois possui pedículo vascular consistente e bom
arco de rotação como advogado por Dutra, sendo o retalho confeccionado com a
paciente em decúbito lateral, modalidade que foi adotada em todos os casos operados
neste estudo29,30. Andrade et al.31, em 2015, descreveram a mobilização do retalho em decúbito
dorsal, relatando redução no tempo operatório.
Devido à necessidade de grandes quantidades teciduais para cobertura dos defeitos,
variações na composição da ilha de pele foram descritas, como a proposta por Micali
et al.32 , em 2001, com ilha de pele do
retalho de músculo latíssimo do dorso em VY. Sua utilidade na reconstrução mamária
foi confirmada por Woo et al.33, em 2006, e
Luz et al.34,em 2010 e por nós no presente
estudo, sendo definido como retalho de primeira escolha, quando possível.
A adequada seleção de pacientes, planejamento coordenado com o mastologista e
cuidados na manipulação intraoperatória dos tecidos envolvidos são essenciais para
o
sucesso da reconstrução com o retalho de latíssimo do dorso em VY35,36. Em nosso entendimento, a extensão de pele que se posiciona fora da
topografia do músculo e, dessa forma, com vascularização ao acaso, desempenha
importante fator na ocorrência de complicações com deiscência e necrose parcial. O
VRAM é considerado para defeitos extensos ou quando houver contraindicação ao
latíssimo23.
Silva et al.12, em um estudo semelhante ao
nosso, apresentaram uma área de ressecção de 259,2 cm2, menor que a
encontrada por nós, de 421,72cm2, o que pode explicar o maior uso do VRAM
em nosso estudo. Neste mesmo trabalho a complicação mais frequente foi a
epiteliólise bem como em nossa casuística, seguido por necrose parcial do
retalho.
A utilização de retalhos musculocutâneos e fasciocutâneos não interfere no
diagnóstico e tratamento de uma recidiva locorregional de câncer de mama. Na
literatura, a taxa de recorrência encontrada é de 10,6%, variando de 2 semanas até
3,8 anos20. Em nosso estudo encontramos 63,3%
de recorrência local. Atribui-se a isso o perfil das pacientes operadas, todas com
doença localmente agressiva.
Quando apenas metástases cutâneas estão presentes, a sobrevida média é de 42,1 meses.
Quando metástases viscerais também estão presentes a sobrevida mediana é de 12,08
meses37. As 7 pacientes que foram a óbito
apresentavam metástases cutâneas e viscerais e apresentaram sobrevida mediana de 15
meses.
CONCLUSÃO
Os retalhos musculocutâneos e fasciocutâneos permanecem predominantes como opção de
reconstrução na parede torácica e viabilizam as extensas ressecções necessárias para
as margens oncologicamente adequadas, com índices aceitáveis de complicações.
COLABORAÇÕES
JAJ
|
Análise e/ou interpretação dos dados; análise estatística; aprovação
final do manuscrito; coleta de dados; conceitualização; concepção e
desenho do estudo; gerenciamento do projeto; metodologia; realização das
operações e/ ou experimentos; redação - preparação do original; redação
- revisão e edição; supervisão; visualização.
|
AKD
|
Supervisão.
|
MCD
|
Redação - revisão e edição.
|
EKY
|
Redação - revisão e edição.
|
REFERÊNCIAS
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1. A. C. Camargo Cancer Center, Núcleo de Cirurgia
Plástica Reparadora, São Paulo, SP, Brasil.
Autor correspondente: Joel Abdala Junior, Rua Prof. Antônio
Prudente, nº 211 - Liberdade, São Paulo, SP, Brasil, CEP 01509-010. E-mail:
drjoelabdala@gmail.com
Artigo submetido: 31/7/2018.
Artigo aceito: 11/11/2018.
Conflitos de interesse: não há.