INTRODUÇÃO
As alterações anatômicas nas mamas masculinas, causadas após grandes perdas
ponderais, seja por dietas ou pós-cirurgia bariátrica, têm predisposto a alterações
psicológicas, principalmente baixa da autoestima. Esse quadro tem levado a um
aumento da procura do tratamento cirúrgico desta região por homens.
A grande flacidez da pele e do conteúdo mamário leva à queda do complexo
areolopapilar (CAP) sobre os rebordos costais, causando uma aparência antiestética.
Várias técnicas cirúrgicas foram descritas para o tratamento dos diversos graus
de
ginecomastias e de ptoses mamárias masculinas.
Rezende et al.1 publicaram, em
2007, uma técnica que corrigia grandes ptoses mamárias masculinas, cuja cicatriz
resultante foi periareolar, prolongando-se de cada lado, às 9 e 3 horas. Baseado
nas
técnicas já descritas para o tratamento das grandes ginecomastias e das grandes
ptoses mamárias masculinas, surgiu a ideia de usar um retalho de pedículo inferior
composto pelo CAP.
Esse retalho facilitaria as correções destas alterações anatômicas através de uma
única incisão arqueada, além de reposicionar o CAP, com facilidade, de volta para
o
seu local de origem. Apresenta como vantagens: facilidade na confecção do retalho,
segurança na irrigação, facilidade na ressecção do excesso de conteúdo glandular
e
gorduroso e adequado reposicionamento do CAP. Como desvantagem, apresenta uma
cicatriz arqueada, alta e aparente.
OBJETIVO
Correção cirúrgica das grandes ptoses mamárias masculinas após grandes perdas
ponderais, utilizando um único retalho com pedículo inferior contendo o CAP.
MÉTODO
Estudo primário, prospectivo, descritivo de intervenção. A casuística foi de
conveniência, os pacientes foram alocados no ambulatório do Serviço de Cirurgia
Plástica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
e
clínica privada do autor. Foram operados 36 pacientes do sexo masculino, no período
de 2005 a 2018. Os pacientes apresentavam grande perda de peso, em função de dieta
ou pós-gastroplastia, que, ao exame físico, apresentavam ptose das mamas com excesso
de pele e CAP distante da sua localização original.
Com o paciente em posição ortostática, é determinada uma linha vertical da região
hemiclavicular até o mamilo, visando determinar o vetor para ascensão do CAP.
Em
seguida, é demarcado o sulco submamário em toda sua extensão, determinando os
pontos
“B” e “C”. Com uma manobra digital, eleva-se toda a mama no sentido cranial,
seguindo a linha vertical previamente marcada, determinando assim o ponto “A”,
superior ao CAP (Figura 1A).
Figura 1 - Marcação da técnica.
Figura 1 - Marcação da técnica.
É desenhada a primeira linha arqueada (Linha I) que partindo do ponto “B”, passa por
cima do CAP, onde está marcado o ponto “A”, indo até o ponto “C”. Dessa forma,
demarca-se o retalho com pedículo inferior contendo o CAP (Figura 1B). Uma segunda linha é desenhada (Linha II), que parte
do ponto “B”, passa pelo ponto “A” - projeção futura da nova localização do CAP
- e
se dirige até o ponto “C”, desenhando, assim, um novo retalho correspondente ao
excesso de pele e gordura a ser ressecado (Figura 2A).
Figura 2 - Confecção do retalho composto com o complexo areolopapilar.
Figura 2 - Confecção do retalho composto com o complexo areolopapilar.
Inicia-se com uma incisão na linha I (Pontos B, A, C) e avança-se até a fáscia do
músculo peitoral maior, dissecando o retalho no plano subcutâneo até o nível
correspondente ao sulco submamário. (Figura 1B
e C). Nesse momento, verifica-se a uniformidade
do retalho e pode-se realizar a ressecção do excesso de tecido adiposo e glandular
remanescentes, que irá variar com o caso (Figura 1C e D).
Outra incisão é realizada na segunda linha (Pontos B, A, C) e todo o excesso é
ressecado (Figura 2 B e C). Após o reposicionamento do CAP em seu novo local, são
realizados, em média, 5 pontos tipo Baroudi2
para adesão do retalho na fáscia muscular, e feita síntese da ferida operatória
(Figura 2D). Realizada drenagem
tubular.
RESULTADOS
Os 36 pacientes operados apresentaram a correção da flacidez e da ptose do CAP,
entretanto, dois apresentaram hipertrofia cicatricial, e três, cicatrizes alargadas
(Figuras 3 e 4).
Figura 3 - Pré e pós-operatório.
Figura 3 - Pré e pós-operatório.
Figura 4 - Pré e pós-operatório.
Figura 4 - Pré e pós-operatório.
DISCUSSÃO
O primeiro tratamento cirúrgico para as distrofias mamárias masculinas foi descrito
em 1538 por Aegineta3. Desde então, várias
técnicas e táticas para realização do procedimento foram criadas e modificadas
para
o tratamento da redução, modelagem e correção da flacidez mamária. O objetivo
seria
a correção da flacidez, do excesso de pele, tecido adiposo e glandular e
principalmente do reposicionamento do CAP para sua localização original.
Com relação à cirurgia para o tratamento das ptoses mamárias masculinas, em 2007,
Rezende et al.1 publicaram a
técnica com a qual conseguiram a redução do diâmetro do CAP, do volume mamário
e
reposicionamento do CAP, tendo como resultante uma cicatriz periareolar com
prolongamentos bilaterais ao CAP, correspondente às 9 e 3 horas.
A técnica ora descrita envolve um único retalho composto de pele, gordura, glândula
mamária e CAP, irrigado por um largo pedículo inferior. Apresenta, como vantagens,
a
facilidade na confecção do retalho, um bom suprimento sanguíneo, o que previne
isquemias, segurança na ressecção do excesso do conteúdo glandular e gorduroso,
além
facilitar a mobilização do CAP para o seu local de origem.
Como desvantagem, apresenta uma cicatriz arqueada, alta e aparente, porém sem o
estigma das marcas deixadas nas técnicas de mamas femininas. Este trabalho foi
apresentado no XXXXIX Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica como nota
prévia4. Os títulos foram pesquisados nas
seguintes bases de dados: PubMed, BVS, MEDLINE e SciELO.
CONCLUSÃO
O uso de um retalho único de pedículo inferior, composto de pele, tecido adiposo e
CAP para o tratamento cirúrgico das grandes ptoses mamárias masculinas, mostrou
ser
de fácil execução, corrigiu grandes distâncias do CAP e manteve o resultado a
longo
prazo.
REFERÊNCIAS
1. Resende JHC. Técnica para Correção de Ptose Mamária Masculina
Pós-Grandes Emagrecimentos. Rev Bras Cir Plást. 2007;22(1):1-9.
2. Baroudi R, Ferreira CA. Seroma: how to avoid it and how to treat it.
Aesthetic Surg J. 1998;18(6):439-41. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S1090-820X(98)70073-1
3. Aegineta P. The Seven Books of Paulus Aegineta (translated), 46.
London: Sydenham Society; 1847. p. 334-5.
4. Pita PCC, Holanda DBR, Kawamura K, Lopes OS, Caldas EAL, Barros MF.
Correção de Grandes Ptoses Mamárias Masculinas - Nota Prévia. In: XXXXIX
Congresso Brasileiro de Cirurgia. Plástica; 2012 Nov 14-18; Porto Alegre, RS,
Brasil.
1. Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina,
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil.
2. Hospital Esperança Recife, PE,
Brasil.
3. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, São
Paulo, SP, Brasil.
Endereço Autor: Pedro Celso de Castro
Pita
Praça Miguel de Cervantes, nº 60, sala 301 - Ilha do Leite
Recife, PE, Brasil CEP 50070-520
E-mail: pedro.pitta@hotmail.com