Figura 3. Duplo retalho em V-Y com 15 cm de comprimento cada e espessura total na região glétea.
Figura 4. Pós-operatório tardio.
DISCUSSÃOO artigo relata um caso de uma cirurgia de reconstrução de lesão perianal com retalho em duplo V-Y de avanço após recidiva de neoplasia perineal. Os retalhos são opções complexas de fechamento quando abrangem grandes áreas. O objetivo desse tipo de cirurgia é recobrir, proteger e preencher a área da afecção. A região perineal pode ser acometida por extensas lesões, necessitando de retalhos para sua reparação1.
Retalho é um tecido que é mobilizado conforme sua anatomia vascular. Os retalhos normalmente são compostos por: pele, pele e fáscia, pele e mésculo ou pele, ou mésculo e osso. Para sobrevida do tecido, há necessidade de dependência para mobilização do tecido da anatomia vascular da pele e tecido subjacente.
Retalhos baseados no plexo subdérmico incluem os bipediculados, os de avanço (V-Y), retalhos de rotação e transposição. Reconstruções de períneo muitas vezes são indicadas devido a tumores, traumas, infecções, queimaduras ou élceras de pressão. As feridas podem ser extensas e, devido à proximidade com a uretra e ânus, as infecções são frequentes. Próteses e radioterapia local podem agravar a lesão2.
Dentre os mésculos que podem ser utilizados como doadores para área lesada, estão o sartório, que possui méltiplos pedículos vasculares, o que limita seu arco de rotação. O grácil é um mésculo com arco de rotação bidirecional, podendo ser utilizado para reconstrução da virilha e do períneo, além de vagina, pênis, escroto e esfíncter anal. O mésculo tensor da fáscia lata, reto femoral, reto abdominal, que é ideal para retalhos irradiados do períneo, gléteo máximo, gléteo da coxa também podem ser utilizados. A extensão do retalho é importante, pois quanto maior o retalho maior o aporte sanguíneo3,4.
A região anal é dividida em canal anal e margem anal. Anatomicamente, o canal se estende do reto até a pele perianal, com um comprimento de cerca de 2,5 a 3,5 cm. A parte superior do canal é revestida por uma mucosa semelhante ao reto, sendo que a parte inferior é revestida por epitélio semelhante ao da pele da região perianal. Entre essas regiões, as colunas anais e válvulas anais constituem a linha pectínea. Existem dois tipos de tumores nessa região, conforme a localização: originados na mucosa, chamados de câncer do canal anal, e aqueles provenientes da pele ou porção distal à junção mucocutânea, denominados câncer da margem anal5,6.
Dentre os tipos histológicos de neoplasia que podem ocorrer na região do canal anal pode-se citar: carcinoma de células escamosas (histologia mais comum), adenocarcinoma, melanoma, carcinoma de pequenas células e sarcomas7.
Os tumores da região da pele perianal são geralmente carcinomas de células escamosas, podendo existir também carcinoma basocelular, melanoma, doença de Bowen e doença de Paget extramamária6,8.
A maioria dos cânceres anais têm origem das células da mucosa e abaixo dela estão glândulas que produzem muco. O adenocarcinoma é o câncer anal proveniente dessas células glandulares6,8.
O câncer anal é raro e menos comum do que o câncer do cólon ou do reto, porém o némero de casos está aumentado. É uma doença rara em pessoas com menos de 35 anos e encontrada principalmente em idosos com idade média no início com 60 anos6,8.
Apesar do conhecimento de alguns fatores de risco para o câncer anal (infecção pelo vírus do papiloma humano - HPV, sendo subtipo 16 relacionado a carcinoma de células escamosas e o 18 a adenocarcinoma - cigarro, imunidade baixa, sexo receptivo por via anal, grande némero de parceiros sexuais), a causa exata não é conhecida6,8.
A maioria dos pacientes com câncer anal apresenta sangramento retal como sintoma inicial. Dor e sensação de massa retal pode ocorrer em até 30% dos casos.
O câncer anal é uma doença predominantemente locorregional, com extensão local do tumor primário e disseminação para os linfonodos da região inguinal e pélvicos. A disseminação hematogênica para sítios à distância é rara. A disseminação local para o reto e/ou pele perianal ocorre em cerca de 50% dos casos. A invasão profunda do septo anovaginal ocorre em até 10% dos casos6.
O risco de recidiva locorregional, após tratamento, pode atingir cerca de 30% dos casos e é o padrão de recidiva mais frequente7. Se o câncer retorna no ânus ou nos linfáticos próximos a lesão após o tratamento, a conduta depende do tratamento que realizado anteriormente e, geralmente, nos casos de recorrência, cursa para colostomia6.
Alguns casos são diagnosticados por testes de triagem, como o exame de toque retal e/ou teste de Papanicolau anal6,8.
COLABORAÇÕESGJSAF Análise e/ou interpretação dos dados; aprovação final do manuscrito; concepção e desenho do estudo; redação do manuscrito ou revisão crítica de seu conteúdo.
EF Redação do manuscrito ou revisão crítica de seu conteúdo.
LPSR Redação do manuscrito ou revisão crítica de seu conteúdo.
IAYK Redação do manuscrito ou revisão crítica de seu conteúdo.
FYK Redação do manuscrito ou revisão crítica de seu conteúdo.
ERGF Redação do manuscrito ou revisão crítica de seu conteúdo.
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1. Clínica Belvivere de Cirurgia Plástica e Laser, Criciéma, SC, Brasil
2. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, São Paulo, SP, Brasil
3. Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciéma, SC, Brasil
4. Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, SP, Brasil
Instituição: Clínica Belvivere de Cirurgia Plástica e Laser, Criciéma, SC, Brasil.
Autor correspondente:Glayse June Sasaki Acacio Favarin
Rua Coronel Pedro Benedet, 505, sala 10
Centro - Criciéma, SC, Brasil - CEP 88801-250
E-mail:
glaysejune@yahoo.com.brArtigo submetido: 22/10/2016.
Artigo aceito: 26/1/2018.
Conflitos de interesse: não há.