RESUMO
INTRODUÇÃO: As complicações de ferida operatória após esternotomia para acessos cirúrgicos para procedimentos cardiovasculares variam desde pequenas deiscências até mediastinite e osteomielite do esterno. Mediastinite e osteomielite do esterno associam-se a alto risco, alta morbidade e altas taxas de mortalidade, além de altas taxas de recidiva. O tratamento nos casos de maior gravidade envolvem internação hospitalar prolongada. A utilização de antibióticos por tempo prolongado, durante a internação, e após a alta, tem impacto importante no custo global do tratamento. Mais recentemente, uma opção de tratamento envolve o amplo debridamento cirúrgico da ferida em centro cirúrgico, preparo do leito da ferida com terapia por pressão negativa, seguida do fechamento da ferida com retalhos miocutâneos ou fasciocutâneos. Aparentemente, essa estratégia traz vantagens como a melhora na qualidade de vida do paciente, menor manipulação e menor incômodo ao doente, menos sobrecarga para os profissionais de saúde envolvidos nos cuidados, menor taxa de recidiva infecciosa e, assim, redução da morbidade do tratamento como um todo.
MÉTODOS: O presente estudo tem por objetivo realizar levantamento dos pacientes vítimas dessa grave complicação que tenham sido tratados segundo protocolo desenvolvido e aprimorado no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor - HCFMUSP), e que tenham sido operados por um mesmo cirurgião plástico, a fim de analisar o perfil epidemiológico, e eventual indicador de pior prognóstico dentre os exames colhidos habitualmente desses pacientes. Foram avaliados, retrospectivamente, os prontuários dos pacientes atendidos no InCor - HCFMUSP vítimas de infecção de esternotomia durante o ano de 2014. As variáveis analisadas foram comorbidades, intervalo entre abordagens cirúrgicas, valores de Proteína C Reativa (PCR), procedimento empregado no fechamento da ferida, complicações do tratamento, entre outros.
RESULTADOS: Os dados são essencialmente descritivos e de caráter epidemiológico: observa-se a incidência de ao menos uma comorbidade em 84% dos pacientes; média de 2,5 procedimentos cirúrgicos por paciente, variando de 1 a 7 procedimentos; queda nos níveis de PCR em 75% dos pacientes já após o primeiro procedimento cirúrgico e mortalidade de 17%, entre outros dados.
CONCLUSÃO: Os dados analisados nos permitem concluir que o método padronizado adotado trouxe impacto na redução da mortalidade global dos pacientes, além da redução de recidiva e reinternações. Identificamos, ainda, indicadores de pior prognóstico como PCR e leucograma no momento do diagnóstico e indicação da aplicação do protocolo.
Palavras-chave: Mediastinite; Osteomielite; Infecção da ferida cirúrgica; Retalhos cirúrgicos; Tratamento de ferimentos com pressão negativa.