Editorial - Year2013 - Volume28 - Issue 1
Linhas de pesquisa: o que são realmente?
What are lines of research?
Os artigos podem ser de um único ou de diversos autores integrados no mesmo programa de pós-graduação. Em alguns centros, colegas brasileiros desenvolveram uma série extensa de estudos sobre determinado assunto, formando linhas de pesquisa próprias.
Em geral, esses pesquisadores estão envolvidos em programas de pós-graduação de serviços acadêmicos ou de grandes hospitais privados. É importante salientar que, dificilmente, pode-se trabalhar isoladamente em projetos como esses. Os alunos, orientados pelo líder da linha, realizam os estudos como se fossem peças de um grande quebra-cabeça. Essas peças reunidas poderão trazer conclusões maiores. Portanto, mesmo que uma linha de pesquisa seja desenvolvida por um único pesquisador, ela será o resultado de uma equipe de trabalho.
A consolidação de uma linha de pesquisa pode levar vários anos e envolver um grande grupo de pesquisadores, que, por sua vez, irá permitir a formação de outras, que poderão se tornar independentes da inicial. Poderá ocorrer dentro de linhas já existentes nos programas de pós-graduação ou ser desenvolvida pelo próprio pesquisador, porém sempre mais difícil no seu início.
Conforme mencionado, a linha de pesquisa deve tratar de um assunto específico. Não se pode falar em linha de pesquisa sobre estudos da parede abdominal e das abdominoplastias. Eles são amplos e diversos. Por exemplo, um tema como "Avaliação das propriedades mecânicas do plano músculo-aponeurótico da parede abdominal" pode ser considerado uma linha de pesquisa. Nela podem-se estudar técnicas de correção do plano músculo-aponeurótico e suas repercussões na tensão nas fáscias. A partir do último registrado, nova linha pode ser estudada, como a composição da matriz extracelular desse plano ou a repercussão de determinadas correções musculares na pressão intra-abdominal. Por sua vez, o aumento de pressão intra-abdominal está relacionado a fenômenos tromboembólicos, ao aumento da estase venosa, entre outros. Como uma árvore, ocorre o desenvolvimento de ramificações dessa linha principal.
O cirurgião plástico deve escolher um assunto pelo qual tenha afinidade e que gere contribuições científicas. Cada estudo deverá buscar a resposta a uma pergunta que possa solucionar questões que levem à melhora da técnica cirúrgica e da recuperação pós-operatória e à redução de complicações, entre outras. Além disso, algumas respostas podem compor um quadro mais amplo, que terá uma finalidade a mais a longo prazo, como estudos em mosaico, que serão completados quando finalizados. Em geral, esses estudos são relacionados a ciências básicas.
A linha de pesquisa pode ser encerrada quando não haja mais interesse em desenvolver estudos numa determinada área ou porque os esforços do grupo foram dirigidos a outros de maior interesse. Na verdade, as questões sobre um assunto não terminam; portanto, uma linha de pesquisa não se esgota por falta de novos objetivos.
Especificamente, ressalta-se que um cirurgião plástico dedicado a certa linha de pesquisa em rinoplastias poderá também ser um excelente cirurgião de mamas.
O grande objetivo de uma linha de pesquisa é dar um rumo ao conhecimento científico desenvolvido pelo pesquisador, como propulsor da especialidade. A Cirurgia Plástica está se tornando cada vez mais especializada em seus diversos campos e necessita de estudos mais específicos, para dar suporte e orientação a esse desenvolvimento. Do ponto de vista profissional e científico, se estivermos à frente do desenvolvimento nas diversas áreas, seremos sempre a principal referência para o paciente e da evolução da especialidade.
Fábio Xerfan Nahas
Cirurgião plástico, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, editor associado da Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, São Paulo, SP, Brasil