ISSN Online: 2177-1235 | ISSN Print: 1983-5175
Lipoabdominoplastia - Técnica Saldanha
Lipoabdominoplasty - Saldanha's Technique
Articles -
Year2003 -
Volume18 -
Issue
1
Osvaldo Ribeiro SaldanhaI, Ewaldo Bolivar de Souza PintoII, Wilson Novaes Matos Jr.III, Reynaldo Luís LuconIV, Felipe MagalhãesIV, Erika Mônica Lopes BelloIV, Madeleine Ramos dos SantosIV
RESUMO
O objetivo deste trabalho é apresentar um novo conceito cirúrgico para o tratamento estético da região abdominal, utilizando os princípios da lipoaspiração e da abdominoplastia tradicional, sem descolamento do retalho. Seguindo a idéia de não se fazer o descolamento tradicional da região supra-umbilical e utilizando a lipoaspiração superficial, os autores executam a lipoabdominoplastia, preservando, assim, os vasos perfurantes abdominais, diminuindo o comprometimento vascular da pele do retalho abdominal. Atentam ainda para a melhoria da forma, com a aparência mais jovem do abdome, e a uniformidade do retalho com o púbis.
Palavras-chave:
Lipoaspiração; abdominoplastia; lipoabdominoplastia
ABSTRACT
The objective of this paper is to present a new surgical concept for the aesthetic treatment of the abdominal region, combining the principles of liposuction and traditional abdominoplasty, without flap detachment. Following the idea of not carrying out traditional supraumbilical detachment and using superficial liposuction, the authors peiformed lipoabdominoplasty, thus preserving, abdominal perforans vessels, and reducing vascular damages to the skin of the abdominal flap. Moreover, the improvement in shape should be noted, wi a younger-looking abdomen, and uniformity of the flap with the pubis.
Keywords:
Liposuction; abdominoplasty; lipoabdominoplasty
INTRODUÇÃO
A partir de 1980, com o advento da lipoaspiração introduzida por Illouz(1), houve um grande progresso na abordagem da região abdominal, com mudanças na indicação das abdominoplastias, subdividindo-as em lipoaspiração, lipoaspiração com pequena ressecção de pele suprapúbica e abdominoplastia tradicional com lipoaspiração complementar do dorso e flancos.
Em 1985, Hakme(2) descreveu a miniabdominoplastia, associando-a à técnica de lipoaspiração, com ressecção de excesso de pele da região suprapúbica, para casos selecionados.
Recentemente, no ano de 2000, Avelar(3) apresentou um trabalho em que retira pele parcial da região suprapúbica, semelhante a Hakme, sem descolamento do retalho infra-umbilical e sem ressecção do panículo e tecido conectivo, preservando a cicatriz umbilical.
Dentro dessa evolução, um grande avanço foi a lipoaspiração superficial descrita por Souza Pinto(4, 5), na qual se preconiza-se o tratamento da gordura superficial e profunda, promovendo maior retração da pele.
Apesar do avanço técnico em relação ao tratamento da região abdominal, a abdominoplastia clássica(6, 7) ainda é um procedimento cirúrgico que apresenta, estatisticamente, um grande número de complicações, tais como hematoma, seroma, epiteliose e necrose de pele, além de reintervenções para correção de cicatrizes e "orelhas" no pós-operatório tardio. O amplo descolamento do retalho abdominal é, sem dúvida, o grande responsável pela alta incidência de seroma, epiteliose e necrose de pele, principalmente nos pacientes fumantes.
Alguns cirurgiões(8) praticam a lipoaspiração e abdominoplastia em um mesmo tempo cirúrgico, embora a grande maioria utilize dois tempos distintos para esses dois procedimentos (geralmente com um intervalo de seis meses entre ambos), devido ao risco de comprometimento vascular.
Em 1992, Illouz(9) publicou uma técnica de abdominoplastia sem descolamento, indicada para pacientes com abdome em avental ou abdominoplastias supra-umbilicais, em que se realizava ressecção em bloco acima da cicatriz umbilical, seguida de lipoaspiração superior e neo-onfaloplastia, podendo ainda ser feita uma plicatura limitada dos músculos retos abdominais.
A lipoabdominoplastia, como a preconizamos, acrescenta àquela técnica uma seleção mais ampla de pacientes, sendo que, atualmente, a utilizamos em todos os casos de indicação de abdominoplastia clássica. A ressecção se restringe à pele infra-umbilical, preservando a circulação linfática e os tecidos conectivos e aspirando-se a gordura. Observamos ainda a diferença no tratamento da cicatriz umbilical, que fazemos do modo tradicional, técnica em estrela(10), e, em casos com diástase dos músculos retos abdominais, a plicatura é realizada na linha média desde o púbis ao apêndice xifóide.
O objetivo deste trabalho é apresentar um novo conceito cirúrgico para o tratamento estético da região abdominal, utilizando os princípios da lipoaspiração e da abdominoplastia tradicional, sem descolamento do retalho. O deslizamento da pele supra-umbilical ao encontro da região púbica é feito de maneira ampla e natural, devido aos túneis produzidos pelas cânulas de lipoaspiração. Dessa forma, são preservados os vasos perfurantes abdominais, diminuindo o comprometimento vascular da pele do retalho abdominal.
CASUÍSTICA E MÉTODO
Foram operados, no período de janeiro de 2000 a fevereiro de 2002, sessenta e cinco pacientes, com idade entre 28 e 52 anos, todos do sexo feminino.
Os pacientes que apresentavam indicação para a abdominoplastia clássica foram selecionados para a utilização da lipoabdominoplastia, inclusive os pacientes com diástase dos músculos retos abdominais.
TÉCNICA OPERATÓRIA
Feita a marcação, a região abdominal é infiltrada com solução fisiológica com adrenalina a 1:1.000.000 (Fig. 1).
Fig. I - Marcação e Lipoaspiração em Abdome Superior.
Inicia-se a aspiração pela região supra-umbilical (Fig. 1), continuando-se com os flancos e a região infra-umbilical (Fig. 2). Terminada a lipoaspiração, isola-se o umbigo e resseca-se exclusivamente a pele infra-umbilical (Fig. 3) (semelhante a abdominoplastia clássica), preservando-se porém o panículo remanescente de fina espessura, tecido conectivo e vasos linfáticos, arteriais e venosos (Fig. 4). Se necessário, é feita uma lipoaspiração complementar, a céu aberto. Nesse momento, são utilizados dois ganchos para se elevar o retalho para completar a lipoaspiração do abdome superior, uniformizando os túneis (Fig. 4). Para melhor ascensão do umbigo, divulsiona-se a gordura da região supra-umbilical.
Fig. 2 - Lipoaspiração Abdome Inferior.
Fig. 3 - Ressecção da Pele.
Fig. 4 - Vasos Preservados e Lipoaspiração Complementar (abdome superior).
Em pacientes em que haja indicação de plicatura dos retos abdominais, realiza-se a divulsão ou descolamento do tecido subcutâneo sobre a linha média, evitando-se ultrapassar as bordas internas desses músculos, preservando-se assim os vasos perfurantes abdominais (Fig. 5). Na parte infra-umbilical, resseca-se o tecido gorduroso na linha média, realizando-se, a seguir, a plicatura da aponeurose do modo convencional.
Fig. 5 - Marcação da Plicarura.
Efetua-se a "onfaloplastia em estrela", que consiste em uma marcação "em cruz" na pele do abdome.
O umbigo é, então, exteriorizado e pinçado pelos pontos cardeais, sendo então feitas pequenas ressecções triangulares entre esses pinçamentos, de modo que o umbigo se encaixe na incisão cruciforme da pele, fixando-o em seguida com pontos subdérmicos de Nylon 5-0.
O fechamento do abdome é feito em dois planos, com mononylon 3-0 no tecido celular subcutâneo, e 5-0 na subderme. Em todos os casos foram utilizados drenos aspirativos, retirados por volta do 5º dia pós-operatório (Fig. 6).
Fig. 6 - Drenagem a vácuo e aspecto final.
RESULTADOS
Os resultados das 65 pacientes tratadas com esta técnica foram considerados bons, tanto pela nossa avaliação quanto pelas pacientes. Em um caso observamos a presença de seroma, no 12º dia de pós-operatório, que foi resolvido satisfatoriamente, com duas sessões de aspiração com seringa. Não ocorreram complicações como hematomas, deiscência de sutura, epiteliólise, necrose ou infecção.
O ajuste das bordas do retalho com a região suprapúbica teve melhor acomodação, devido à homogeneidade na espessura do tecido gorduroso, proporcionada pela lipoaspiração. Conseqüentemente, observou-se que as "orelhas de cachorro" ocorreram em percentual menor do que com a técnica tradicional, além de uma cicatriz final de menor extensão.
Observou-se, também, a melhoria na forma e no contorno, com uma aparência mais jovem do abdome (Fig. 7).
Fig. 7a - Pré-operatório: 39 anos.
Fig. 7b - Pós-operatório: 3 meses.
Fig. 7e - Pré-operatório: 39 anos.
Fig. 7d - Pós-operatório: 3 meses.
DISCUSSÃO
A cirurgia plástica abdominal clássica apresenta uma morbidade elevada, em decorrência da necessidade de um grande descolamento, em que são seccionados os vasos linfáticos e perfurantes que nutrem o retalho abdominal.
Os fundamentos da técnica de lipoabdominoplastia baseiam-se no não descolamento do retalho abdominal, preservando os vasos perfurantes e linfáticos, diminuindo as complicações causadas pelos grandes descolamentos, como seromas, hematomas, epitelioses e necroses de pele.
Esta técnica promove o tratamento da adiposidade localizada em todas as regiões do abdome, tracionando mais amplamente as áreas mais altas do abdome superior, proporcionando silhueta abdominal mais harmoniosa (Fig. 8).
Fig. 8a - Pré-operatório: 36 anos.
Fig. 8b - Pós-operatório: 6 meses.
Fig. 8e - Pré-operatório: 36 anos.
Fig. 8d - Pós-operatório: 6 meses.
Embora a quase totalidade dos cirurgiões utilize a plicatura dos retos abdominais rotineiramente, há trabalhos que questionam sua efetividade nos casos leves e moderados de diástase(11), tendo-se em conta a capacidade de contenção músculoaponeurótica que é reforçada pela fibrose pós-operatória.
CONCLUSÃO
A busca por melhores resultados e a diminuição do índice de complicações são, sem dúvida, a maior preocupação dos cirurgiões plásticos.
Com a lipoabdominoplastia acreditamos ter encontrado uma maneira mais segura e de menor morbidade no tratamento da região abdominal, com resultados mais harmoniosos. Esta nova abordagem proporciona silhueta abdominal mais jovem, melhor acomodação do retalho com a região suprapúbica e cicatrizes menores e mais estéticas.
BIBLIOGRAFIA
1. Illouz YG. Study of subcutaneous fat. Aesth Plast Surg. 1990;14(3):165-77.
2. Hakme F. Technical details in the lipoaspiration associated with liposuction. Rev Bras Cir. 1985;75(5):331-7.
3. Avelar JM. Abdominoplasty: a new technique without undermining and fat layer removal. Arq Catarin Med. 2000;29:147-9.
4. Souza Pinto EB, Almeida AE, Knudsen AF, Andrade SM, de Medeiros JC. A new methodology in abdominal aesthetic surgery. Aesth Plast Surg. 1987;11(4):213-22.
5. Souza Pinto EB. Superficial Liposuction. Rio de Janeiro : Revinter; 1999.01-04.
6. Pitanguy I, Gontijo de Amorim NF, Radwanski HN. Contour surgery in the patient with great weight loss. Aesth Plast Surg. 2000;24(6):406-11.
7. Pitanguy I. Abdominoplaty: Classification and surgical techniques. Rev Bras Cir. 1995;85:23-44.
8. Dellerud E. Abdominoplasty combined with suction lipoplasty: a study of complication, revisions, and risk factors in 487 cases. Ann Plast Surg. 1990;25(5):333-8.
9. Illouz YG. A new safe and aesthetic approach to suction abdominoplasty. Aesth Plast Surg. 1992;16(3):237-45.
10. Saldanha O. Star-Shaped onfhaloplasty, 498: Annals of The International Symposium RAPS/90. 1990 Mar; São Paulo, Brazil.
11. Marques A. Abdominoplasty without muscle plication. Rev Soc Bras Cir Plast. 1993;8(2):103-8.
I. Regente do Serviço de Cirurgia Plástica "Dr. Ewaldo Bolivar de Souza Pinto" - Santos - SP.
II. Diretor do Curso de Pós-Graduação em Cirurgia Plástica da UNISANTA - Santos - SP.
III. Prof. Assistente do Serviço de Cirurgia Plástica "Dr. Ewaldo Bolivar de Souza Pinto".
IV. Residentes do Serviço de Cirurgia Plástica "Dr. Ewaldo Bolivar de Souza Pinto".
Endereço para correspondência:
Osvaldo Ribeiro Saldanha
Av. Washington Luiz, 142 - Encruzilhada
Santos - SP - 11050-200
e-mail: clinica@clinicasaldanha.com.br
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