INTRODUÇÃO
As mamas têm uma importância fundamental no bem-estar psicossexual da paciente, uma
vez que o desejo de melhorar a aparência estética faz parte do autocuidado, seja para
reverter flacidez, aumentar volume, rejuvenescer, corrigir assimetria ou reconstruir
as mamas1. Desse modo, o implante de próteses mamárias é uma das cirurgias mais realizadas
no mundo, segundo dados divulgados pela Sociedade Internacional de Cirurgia plástica
Estética (ISAPS), representando cerca de 15,8% das intervenções cirúrgicas estéticas
realizadas em 2018, no mundo2.
Em 1889, Gersuny descreveu o aumento das mamas com injeção de parafina no parênquima
mamário. Ao longo do tempo, diversos materiais foram utilizados com o objetivo de
reconstituir o volume mamário, como próteses de marfim, esponjas de diferentes composições,
enxertos dermogordurosos, silicone líquido ou gel3.
A introdução dos implantes de silicone nas mamas teve início em 1963, nos Estados
Unidos da América, por meio de Cronin e Gerow, e desde então a referida intervenção
cirúrgica é objeto de grandes discussões4,5. A concepção inicial visava cirurgias estéticas, mas atualmente o campo da reconstrução
mamária emprega os implantes em grande escala6. Os primeiros implantes eram fabricados com elastômero espesso, em duas metades,
as quais eram coladas para formar uma única peça. Ao longo do tempo, vários degraus
evolutivos foram superados7,8.
Sperli descreveu 7 fases evolutivas dos implantes mamários que dependem do tipo do
envoltório, com ou sem patch, revestimento e próteses infláveis9,10. Para a maioria dos tipos de implantes e estilos, houve variações ao longo dos anos,
sendo mais comum em nosso meio os implantes de único lúmen com preenchimento de gel6.
Apesar das melhorias técnicas cirúrgicas e da segurança dos implantes atuais, os pacientes
ainda são confrontados com potenciais complicações, sendo as mais encontradas: hematomas,
seromas, infecções, assimetrias, rippling e principalmente as contraturas capsulares, que ainda são as complicações mais comumente
vistas, com uma incidência global na ordem de 27%, associadas ao uso de implantes
lisos e texturizados das primeiras gerações de próteses11-13.
Embora a mamografia e a ultrassonografia sejam os exames inicialmente solicitados
para investigação, a ressonância magnética nuclear (RMM) é a modalidade de imagem
mais útil para a caracterização de implantes mamários, devido a sua alta resolução
espacial e pelo fornecimento de uma imagem de contraste entre o implante e os tecidos
moles circunjacentes14. Outra vantagem é a ausência de radiação ionizante. A RMN tem maior sensibilidade
(72-94%) e especificidade (85-100%) para constatar rupturas de implante, graças às
suas sequências que podem suprimir ou enfatizar o sinal a partir do silicone3.
No protocolo de RMN os aparelhos de alta resolução a composição interna do silicone
é melhor visualizada com detalhes em imagem sagital T2 FSE (Fast spin eco), e a imagem em T2 de alta qualidade e com supressão de água pode ser útil para diferenciar
o silicone com ruptura intracapsular do líquido periimplante15. Já a imagem em dois planos é indicada para diferenciar rupturas intracapsulares
precoces das dobras formadas na parte inferior e superior do implante. Além disso,
a imagem no plano anteroposterior não é recomendada devido aos artefatos ocasionados
pelo coração e pelo tórax15.
Complicações não usuais podem ocorrer, como rupturas intracapsulares e extracapsulares,
hematomas tardios e deformidades de contorno, tendo a ressonância magnética como avaliação
de imagem padrão-ouro para elucidação diagnóstica16.
Seromas são complicações tardias pouco comuns, mas que podem se manifestar sem causa
definida, cujo tratamento implica a retirada ou a troca das próteses17. O aparecimento do seroma volumoso depois de um ano após a colocação de implantes
é definido como tardio. Em estudos prospectivos, estimou-se que linfoma anaplásico
de grandes células relacionadas ao implante mamário (BIA-ALCL) é frequente nas apresentações
de seroma tardio18. Na ocorrência de seroma tardio e que não seja explicável facilmente por infecção
ou trauma, deve ser considerado suspeito de doença19.
O tipo mais comum de ruptura é a do invólucro do implante (envelope de elastômero)20, cujo vazamento não se estende além da cápsula fibrosa que comumente se forma ao
redor dos implantes de silicone, sendo 80 a 90% de todas as rupturas de implantes
intracapsulares5. Já a ruptura extracapsular é definida como a extrusão tanto do invólucro quanto
da cápsula fibrosa, com vazamento macroscópico de silicone21-23.
OBJETIVO
Realizar um levantamento das alterações encontradas nos exames de ressonância magnética
de pacientes portadoras de implantes de silicone, identificar achados não usuais e
suas frequências em um grande serviço de radiologia.
MÉTODO
Foi realizado um levantamento retrospectivo no cadastro de uma clínica privada de
radiologia de Brasília-DF dos exames realizados em pacientes portadoras de implantes
de silicone entre abril de 2015 e março de 2023.
Trata-se de uma série de casos em que foram levantadas as pacientes portadoras de
alterações e selecionadas as alterações ditas “não usuais”, pela baixa frequência
ou ausência de citação na literatura, após cirurgias de inclusão de prótese de silicone.
Foram incluídas no estudo as pacientes que se submeteram ao aumento mamário com uso
de implantes com finalidade estética ou reconstrução mamária.
O motivo da realização do exame não foi objeto do estudo. Foi realizado levantamento
dos laudos e imagens da ressonância magnética nuclear (RMN) e selecionados para estudo
aqueles que mostraram achados incomuns. Ademais, realizou-se revisão da literatura
sobre cada um dos casos descritos e listados abaixo.
Por fim, ressalte-se que o presente estudo seguiu os princípios constantes da Declaração
de Helsinque, desenvolvida pela Associação Médica Mundial. Ademais, o trabalho foi
submetido e aprovado pela Comissão de Ética e Pesquisa, sob o número 75934023.7.0000.0257.
RESULTADOS
Foram submetidas à realização de RMN 211 pacientes portadoras de implantes mamários
e encontraram-se alterações nas RMN de 12, o que corresponde a 5,68% do total. Utilizou-se
a classificação em 3 grupos:
Grupo 1, com um total de 5 pacientes: 5 pacientes (2,3%) apresentaram volumosa quantidade
de líquido pericapsular, sendo 3 desses casos de seroma pericapsular, submetidos a
punções aspirativas e dosagem CD30 e ALK1, considerando-se a possibilidade de BIA-ACL,
tendo 1 paciente positivo. Outros 3 pacientes (1,4%) apresentaram granuloma capsular
e 1 paciente (0,4%) apresentou seroma capsular tardio com conteúdo hemorrágico.
Grupo 2, com um total de 3 pacientes: 2 pacientes (0,9%) apresentaram linfonodopatia
axilar; 1 paciente (0,4%) teve rotura intra e extracapsular; 1 paciente (0,4%) nódulo
junto à capsula fibrosa do implante; 1 paciente (0,4%) linfonodopatia axilar ipsilateral
de provável origem inflamatória/infecciosa e 1 paciente (0,4%) silicone intralinfonodal.
Grupo 3, com um total de 4 pacientes: 1 paciente (0,4%) com edema do músculo peitoral,
2 pacientes com tumor desmoide e 1 paciente (0,4%) com herniação da cápsula fibrosa.
Caso 1
B.A.L.I., sexo feminino, 25 anos, refere que há 5 anos realizou a cirurgia para colocação
de prótese com finalidade estética para aumento mamário. Submetida a cirurgia com
aposição de implantes em plano retroglandular. Achado radiológico: líquido pericapsular
bilateral, em maior quantidade à direita associado a realce da capsula fibrosa. Diante
da possibilidade de BIA-ALCL, prosseguiu a investigação com punção aspirativa guiada
por ecografia, apresentando resultado positivo.
Caso 2
D.G., sexo feminino, 69 anos, refere que foi submetida a cirurgia para reconstrução
mamária após mastectomia bilateral com próteses de silicone em plano retromuscular.
Foi realizado o exame de RMN com achado de volumoso seroma pericapsular à direita,
com característica de suspeição para BIA-ALCL, imagem nodular capsular com realce
heterogêneo, mas provavelmente correspondendo a granuloma capsular de silicone induzido.
Além disso, apresentou alteração morfologia da prótese direita compatível com contratura
capsular.
Caso 3
R.C.M., sexo feminino, 71 anos. Há 22 anos foi submetida a cirurgia estética mamária
com implante de silicone em plano retroglandular. Em exame de rotina foi evidenciado
volumoso seroma pericapsular com conteúdo hiperproteico/hemorrágico à direita, foi
submetida a PAAF, considerando a possibilidade de BIA-ALCL. Essa paciente foi submetida,
após esse exame de RNM, a cirurgia de capsulectomia bilateral, com retirada de coágulos
à direita e reconstrução mamária há 1 ano.
Caso 4
J.M., sexo feminino, 62 anos, refere que há 6 anos foi submetida a cirurgia para aumento
mamário com colocação de implantes em plano retroglandular. Na RMN foi evidenciado
nódulo junto à capsula fibrosa do implante esquerdo de origem inespecífica que pode
corresponder a granuloma.
Caso 5
K. A., sexo feminino, 55 anos submetida a cirurgia de reconstrução devido a mastectomia
direita. Realizada RMN, evidenciou-se realce do parênquima mamário e da cápsula do
implante à esquerda associado à linfonodopatia axilar ipsilateral inespecífica, provavelmente
inflamatório/infeccioso.
Caso 6
R.C.S., 66 anos, refere que há 11 anos realizou cirurgia estética para aumento mamário
com prótese de silicone retroglandular. RNM evidenciou que o implante esquerdo apresentava
sinais de contratura capsular. Ausência de sinais sugestivos de rotura intra e extracapsular
dos implantes.
Caso 7
A.S., 46 anos, sexo feminino, submetida a cirurgia estética de implante mamário de
silicone em posição retroglandular há 10 anos. Apresenta em mama direita silicone
com moderada quantidade de líquido pericapsular, além espessamento e realce difuso
da capsula fibrosa.
Caso 8
C.A.M., 52 anos, sexo feminino, foi submetida a cirurgia de reconstrução mamária devido
a adenomastectomia bilateral por meio de expansores de duplo lúmen, com sinais sugestivos
de rotura intracapsular à esquerda. Além disso, apresenta nos exames de imagem linfonodomegalia
axilar esquerda, com sinal heterogêneo, podendo corresponder a silicone intralinfonodal,
sugerindo rotura extracapsular ipsilateral.
Caso 9
E.R., 49 anos, sexo feminino, submetida a cirurgia estética há 2 anos com implante
mamário em plano retroglandular. Em exames de imagem exibindo acentuado espessamento
e realce pericapsular difuso, associado a alterações morfologia, volumoso seroma pericapsular
e edema do músculo peitoral subjacente, com extensão pré-esternal para o aspecto medial
da cápsula fibrosa e músculo peitoral contralaterais.
Caso 10
C.M., 47 anos, sexo feminino, submetida a cirurgia de reconstrução de mama com prótese
em plano submuscular. Apresenta em exame de ressonância magnética das mamas expansor
mamário à direita de formato habitual, sem sinais de rotura, com realce capsular difuso.
No quadrante inferolateral da mama direita, nota-se herniação da cápsula fibrosa com
conteúdo heterogêneo.
Caso 11
B.K.A., 30 anos, sexo feminino, submetida a mamoplastia com inclusão de implantes,
com finalidade estética. Notou-se, um ano após a cirurgia, área endurecida em mama
esquerda. Foi realizada ressonância magnética, com achado de nodulação heterogênea
em íntimo contato com a cápsula do implante, com resultado positivo para tumor desmoide.
Caso 12
L.M.F., 54 anos, sexo feminino, submetida a cirurgia estética com implante em plano
retroglandular. Referiu nodulação em mama esquerda, a qual apresentou aspecto irregular
e espiculado na ressonância magnética, com resultado compatível com tumor desmoide.
DISCUSSÃO
Diante de diversas complicações relacionadas a implante mamários, a ressonância magnética
é o método de escolha para avaliação da integridade de implantes de silicone, pois
apresenta maior acurácia do que a mamografia e a ecografia, escolhidas para acompanhamento
e rastreio de câncer6. Com sensibilidade de até 94% na detecção de ruptura e especificidade entre 85% a
100%, são usadas sequências com e sem supressão de silicone, bem como sequências combinadas
para avaliar parênquima e prótese24.
Na avaliação das lesões no parênquima mamário, pode-se utilizar contraste paramagnético,
que possui melhor precisão em mamas no pósoperatório recente, devido à distorção arquitetural
e ao edema da mama operada24. Essa alteração usual é verificada quando ocorre a contratura capsular, após o aumento
das mamas com silicone. A fina cápsula fibrosa normalmente se forma ao redor da prótese
e provoca desconforto e deformidade na arquitetura da mama15.
Existem diversos sinais encontrados na RMN que correspondem a complicações dos implantes
de silicone, sendo descritos na literatura achados compatíveis com ruptura extracapsular
(sinal de fechadura ou o sinal de noix)6. Além disso, na imagem ponderada em sagital, o sinal da linha subcapsular corresponde
ao rompimento intracapsular. O referido sinal é conhecido como salad oil (focos de hipersinal em T2 no interior da prótese)24.
Dois pacientes apresentaram ruptura intracapsular, conforme evidenciado na Figura 8C, que retrata o sinal de linguine, presença de várias linhas curvilíneas hipointensas
dentro do gel de silicone.
Já o sinal radiológico de contratura capsular evidenciado nas Figuras 1C e 2D pode ser analisado como o aumento do diâmetro anteroposterior do implante, associado
à assimetria e à forma arredondada do mesmo8.
Figura 1 - A e B. Sequências T2 em plano axial evidenciando volumoso seroma pericapsular bilateral,
discretamente maior à direita. C. Sequência T1 pós-contraste em plano axial evidenciando
discreto espessamento e realce da capsula fibrosa (setas).
Figura 1 - A e B. Sequências T2 em plano axial evidenciando volumoso seroma pericapsular bilateral,
discretamente maior à direita. C. Sequência T1 pós-contraste em plano axial evidenciando
discreto espessamento e realce da capsula fibrosa (setas).
Os volumosos seromas tardios foram encontrados no grupo 1 e exemplificados nas Figuras 1A, 1B, 2A e 3C. Na literatura, as possíveis suposições etiológicas apontam para ruptura da prótese,
o que não ocorreu em nenhum caso25. No entanto, em estudos prospectivos, estimou-se o BIA-ALCL ocorre em 9 a 13% das
apresentações dos seromas tardios17. Mas tal fato poderia ser justificado por outras causas, como, por exemplo, o atrito
entre a prótese e a loja orgânica, o processo inflamatório crônico e metaplasia da
face interna da cápsula10.
Figura 2 - A. Sequência T2 em plano axial evidenciando volumoso seroma pericapsular à direita,
discretamente hiperproteico. B e C. Sequências T1 pós-contraste (B) e T2 (C) em plano
axial evidenciando imagem nodular capsular hiperintensa em T2 e com realce heterogêneo
e persistente no aspecto posterior do implante direito, sugestiva de granuloma capsular
de silicone induzido (setas). D. Sequência T1 pós-contraste em plano axial evidenciando
alteração da morfologia do implante direito, com redução das lobulações associada
a espessamento e realce pericapsular difuso e irregular, sugestiva de contratura capsular.
Figura 2 - A. Sequência T2 em plano axial evidenciando volumoso seroma pericapsular à direita,
discretamente hiperproteico. B e C. Sequências T1 pós-contraste (B) e T2 (C) em plano
axial evidenciando imagem nodular capsular hiperintensa em T2 e com realce heterogêneo
e persistente no aspecto posterior do implante direito, sugestiva de granuloma capsular
de silicone induzido (setas). D. Sequência T1 pós-contraste em plano axial evidenciando
alteração da morfologia do implante direito, com redução das lobulações associada
a espessamento e realce pericapsular difuso e irregular, sugestiva de contratura capsular.
Figura 3 - A, B e C. Sequências T2 (A e B) e T1 pós-contraste (C) em plano axial evidenciando
volumoso seroma pericapsular hiperproteico heterogêneo à direita, e espessamento e
realce pericapsular difuso. D e E. Sequências T1 pós-contraste (D) e T2 (E) em plano
axial evidenciando imagem nodular capsular hiperintensa em T2 e com realce heterogêneo
e persistente no implante esquerdo, sugestiva de granuloma capsular de silicone induzido
(seta).
Figura 3 - A, B e C. Sequências T2 (A e B) e T1 pós-contraste (C) em plano axial evidenciando
volumoso seroma pericapsular hiperproteico heterogêneo à direita, e espessamento e
realce pericapsular difuso. D e E. Sequências T1 pós-contraste (D) e T2 (E) em plano
axial evidenciando imagem nodular capsular hiperintensa em T2 e com realce heterogêneo
e persistente no implante esquerdo, sugestiva de granuloma capsular de silicone induzido
(seta).
Pinchuk & Tymofii26, em casuística de 569 pacientes que fizeram inclusão de próteses mamárias, relataram
6 casos de seroma tardio, ocorridos entre 2 anos e 10 anos de pós-operatórios. Na
opinião dos autores, o atrito da prótese contra a superfície interna da cápsula orgânica
foi um dos principais motivos para a metaplasia sinovial dessa superfície, mas também
a infecção crônica e a consequente a formação do seroma.
A drenagem linfática da mama ocorre principalmente por 3 vias: supraclavicular, axilar
e mamária interna, justificando o quadro de linfadenopatia local nos casos de ruptura
de prótese27, semelhante ao ocorrido com o caso 8 e demonstrado na Figura 8D. A linfadenopatia por silicone é um achado não usual em ressonância magnética e tem
um mecanismo mal compreendido. No entanto, acredita-se que ocorre o transporte de
partículas de silicone para os linfonodos através de macrófagos no sistema reticuloendotelial.
Nesses casos, o diagnóstico de câncer de mama deve ser excluído25.
Ao contrário da ruptura, o vazamento de gel de silicone é microscópico através de
um envoltório do implante intacto. Esse fenômeno está relacionado com a afinidade
química entra a camada externa do elastômero de silicone e gel nele contidos14. O contato com a casca exterior pode romper laços não covalentes moleculares entre
as cadeias poliméricas, causando inchaço e enfraquecimento do próprio reservatório.
Uma vez que se separa do seu envoltório, o silicone pode migrar, atingindo membros
superiores, linfonodos inguinais e fluido pleural. Assim, pode-se explicar a possível
alteração em dois pacientes do grupo 2 com linfonodopatia axilar e silicone intralinfonodal.
Quando o extravasamento de gel é extenso, pode ser detectado por exame de imagem,
havendo a formação do sinal da lágrima invertida6,10.
Foi evidenciado granuloma capsular em duas pacientes, conforme observado nas Figuras 2D, 4A e 4B. Ainda, atestou-se edema do músculo peitoral em uma paciente, consoante demonstrado
na Figura 9A. As alterações em questão podem ser explicadas pela literatura. No caso, o silicone
gel do implante pode ter o seu envoltório dissolvido com o tempo, tornando o seu revestimento
mais fino, ou até mesmo dissolvido por completo, o que torna o produto viscoso dentro
da cápsula fibrosa orgânica. Desse modo, em certos casos há a migração do produto
viscoso para tecidos vizinhos, o que pode formar granulações, inflamação da pele com
rash cutâneo, urticária, calcificações, migração para linfonodos ou mesmo infiltração
em músculos do tórax, simulando tumores25.
Figura 4 - A e B. Sequências T1 pós-contraste (A) e T2 (B) em plano axial evidenciando imagem
nodular capsular hiperintensa em T2 e com realce heterogêneo e persistente no implante
esquerdo, sugestiva de granuloma capsular de silicone induzido (seta).
Figura 4 - A e B. Sequências T1 pós-contraste (A) e T2 (B) em plano axial evidenciando imagem
nodular capsular hiperintensa em T2 e com realce heterogêneo e persistente no implante
esquerdo, sugestiva de granuloma capsular de silicone induzido (seta).
Figura 5 - A, B e C. Sequências T1 pós-contraste em plano axial evidenciando realce do parênquima
mamário no terço posterior dos quadrantes mediais da mama esquerda, junto ao implante
mamário, associado a realce da capsula fibrosa e espessamento e realce cutâneo local.
D. Reconstrução 3D MIP (projeção de intensidade máxima) em plano sagital evidenciando
estes achados.
Figura 5 - A, B e C. Sequências T1 pós-contraste em plano axial evidenciando realce do parênquima
mamário no terço posterior dos quadrantes mediais da mama esquerda, junto ao implante
mamário, associado a realce da capsula fibrosa e espessamento e realce cutâneo local.
D. Reconstrução 3D MIP (projeção de intensidade máxima) em plano sagital evidenciando
estes achados.
Figura 6 - A e B. Sequências T2 em plano axial evidenciando seroma pericapsular heterogêneo à
esquerda (setas), além de redução das lobulações deste implante. C. Sequências T1
pós-contraste em plano axial evidenciando espessamento e realce difuso da capsula
fibrosa do implante esquerdo (seta).
Figura 6 - A e B. Sequências T2 em plano axial evidenciando seroma pericapsular heterogêneo à
esquerda (setas), além de redução das lobulações deste implante. C. Sequências T1
pós-contraste em plano axial evidenciando espessamento e realce difuso da capsula
fibrosa do implante esquerdo (seta).
Figura 7 - A e B. Sequências T2 em plano axial evidenciando seroma pericapsular heterogêneo à
direita (setas). C. Sequência T1 pós-contraste em plano axial evidenciando espessamento
e realce difuso da capsula fibrosa do implante direito (seta).
Figura 7 - A e B. Sequências T2 em plano axial evidenciando seroma pericapsular heterogêneo à
direita (setas). C. Sequência T1 pós-contraste em plano axial evidenciando espessamento
e realce difuso da capsula fibrosa do implante direito (seta).
Figura 8 - A, B e C. Sequências T2 em plano axial evidenciando diminutas inclusões líquidas de
permeio ao implante esquerdo (A e C) e “sinal do linguine” (B), sugestivos de rotura
intracapsular do lúmen externo. D. Sequência T1 em plano axial evidenciando linfonodomegalia
axilar esquerda, com sinal heterogêneo e semelhante ao do silicone (seta), podendo
corresponder a silicone intralinfonodal e sugerindo rotura extracapsular ipsilateral.
Figura 8 - A, B e C. Sequências T2 em plano axial evidenciando diminutas inclusões líquidas de
permeio ao implante esquerdo (A e C) e “sinal do linguine” (B), sugestivos de rotura
intracapsular do lúmen externo. D. Sequência T1 em plano axial evidenciando linfonodomegalia
axilar esquerda, com sinal heterogêneo e semelhante ao do silicone (seta), podendo
corresponder a silicone intralinfonodal e sugerindo rotura extracapsular ipsilateral.
Figura 9 - A. Sequência T2 em plano axial evidenciando perda das lobulações e morfologia arredondada
do implante direito, associadas a seroma pericapsular deslocando este implante anteriormente,
além de edema difuso do músculo peitoral subjacente (seta) e do aspecto medial do
musculo peitoral contralateral (seta). B, C e D. Sequências T1 pós-contraste em plano
axial (B e C) e sagital (D) evidenciando acentuado espessamento e realce pericapsular
difuso irregular do implante direito, sobretudo no seu aspecto posterossuperior (C
e D - seta), com extensão pré-esternal em direção à capsula fibrosa do implante contralateral
(B - seta) e associado a espessamento e tênue realce cutâneo nos quadrantes inferiores
e mediais da mama direita.
Figura 9 - A. Sequência T2 em plano axial evidenciando perda das lobulações e morfologia arredondada
do implante direito, associadas a seroma pericapsular deslocando este implante anteriormente,
além de edema difuso do músculo peitoral subjacente (seta) e do aspecto medial do
musculo peitoral contralateral (seta). B, C e D. Sequências T1 pós-contraste em plano
axial (B e C) e sagital (D) evidenciando acentuado espessamento e realce pericapsular
difuso irregular do implante direito, sobretudo no seu aspecto posterossuperior (C
e D - seta), com extensão pré-esternal em direção à capsula fibrosa do implante contralateral
(B - seta) e associado a espessamento e tênue realce cutâneo nos quadrantes inferiores
e mediais da mama direita.
Figura 10 - Sequências T1 pós-contraste em plano axial (A e B) e T2 em plano axial (C e D) evidenciando
herniação da cápsula fibrosa com conteúdo heterogêneo no quadrante inferolateral da
mama direita (setas). E. Sequência T1 pós-contraste em plano sagital evidenciando
a localização subcutânea da herniação, em íntimo contato com a pele (seta).
Figura 10 - Sequências T1 pós-contraste em plano axial (A e B) e T2 em plano axial (C e D) evidenciando
herniação da cápsula fibrosa com conteúdo heterogêneo no quadrante inferolateral da
mama direita (setas). E. Sequência T1 pós-contraste em plano sagital evidenciando
a localização subcutânea da herniação, em íntimo contato com a pele (seta).
Figura 11 - Na topografia do músculo peitoral esquerdo, nos seus aspectos central e medial, no
nível do segundo ao quinto espaços intercostais, há imagem nodular heterogênea sólido-cística,
de paredes espessas irregulares e com realce heterogêneo, medindo 9,4 x 7,2 x 5,0cm,
com realce inicial rápido e curva cinética do tipo persistente. Esta imagem nodular
exibe íntimo contato com a cápsula do implante (com realce desta e deslocando o implante
anteriormente) e exibe ainda contiguidade com a musculatura intercostal posteriormente
(com realce desta), acolado à pleura pulmonar e pericárdio nos respectivos espaços
intercostais e sem realce dos arcos e cartilagens costais adjacentes.
Figura 11 - Na topografia do músculo peitoral esquerdo, nos seus aspectos central e medial, no
nível do segundo ao quinto espaços intercostais, há imagem nodular heterogênea sólido-cística,
de paredes espessas irregulares e com realce heterogêneo, medindo 9,4 x 7,2 x 5,0cm,
com realce inicial rápido e curva cinética do tipo persistente. Esta imagem nodular
exibe íntimo contato com a cápsula do implante (com realce desta e deslocando o implante
anteriormente) e exibe ainda contiguidade com a musculatura intercostal posteriormente
(com realce desta), acolado à pleura pulmonar e pericárdio nos respectivos espaços
intercostais e sem realce dos arcos e cartilagens costais adjacentes.
Figura 12 - No quadrante superomedial da mama esquerda, 11h, terço posterior, próximo à região
preesternal, há realce do tipo nodular, irregular, espiculado, heterogêneo, medindo
3,4 x 3,2 x 2,2cm, distando 9,7cm do complexo areolopapilar e invadindo a metade anterior
da musculatura peitoral ipsilateral, com realce inicial rápido e curva cinética do
tipo persistente.
Figura 12 - No quadrante superomedial da mama esquerda, 11h, terço posterior, próximo à região
preesternal, há realce do tipo nodular, irregular, espiculado, heterogêneo, medindo
3,4 x 3,2 x 2,2cm, distando 9,7cm do complexo areolopapilar e invadindo a metade anterior
da musculatura peitoral ipsilateral, com realce inicial rápido e curva cinética do
tipo persistente.
A fibromatose desmoide (DF) é tumor miofibroblástico não metastático, raro, localmente
agressivo, com taxas altas de recorrência (24-77%) e curso clínico imprevisível. A
incidência é de aproximadamente 0,2% de todas as neoplasias da mama28. O local mais acometido é o intra-abdominal, sendo na mama uma condição extremamente
rara29. Foram encontrados 2 pacientes nos quais inicialmente foi levantada a hipótese de
tumor mamário maligno, que o resultado da biópsia e imuno-histoquímica confirmou ser
tumor desmoide. Na imuno-histoquímica a presença positiva de actina e vimentina, desmina
raramente é positiva, enquanto S100 e CD34 são negativos, sendo úteis para o diagnóstico
de tumor desmoide29.
Na ressonância magnética os tumores desmoides são tipicamente massas irregulares,
de contorno mal definidos, hipointensos e isointenso em relação ao músculo em sequências
ponderadas em T1 e com hiperintensidade de sinal variável em sequências ponderadas
em T230. Esses achados são evidenciados nas Figuras 11A,11B, 12A e 12B.
A investigação diagnóstica por meio de exames de imagens como a ressonância magnética
pode facilitar a elucidar as complicações ditas “não usuais” em cirurgias de próteses
mamária. Diante dessas possíveis alterações, a paciente deve ser previamente informada
sobre a inclusão de próteses mamárias, que sua decisão poderá ter implicações futuras,
sendo necessárias novas intervenções cirúrgicas para tratamento caso ocorram complicações.
CONCLUSÃO
Estima-se que existam 50 milhões de mulheres com próteses de mama no mundo. O número
de mulheres submetidas a aumento de mama com implantes de silicone tende a aumentar
e o Brasil é um dos principais países em números estatísticos. Com base nessa tendência,
o número de complicações ditas “não usuais” passa ser um desafio diagnóstico para
o cirurgião plástico e o radiologista.
No presente estudo, foi encontrada baixa incidência de complicações não usuais, sendo
12 casos em 211 analisados por meio da ressonância magnética das mamas. Esse método
diagnóstico permite auxiliar na detecção precoce dessas alterações e possibilita maior
segurança para acompanhamento no pósoperatório, devido sua alta sensibilidade e especificidade,
apresentando um papel central na orientação terapêutica.
REFERÊNCIAS
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1. Hospital Daher Lago Sul, Brasília, DF, Brasil
Autor correspondente: Igor Moura Soares Quadra SHIS QI 7, conjunto F, área especial F, Setor de Habitações Individuais Sul,
Brasília, DF, Brasil, CEP: 71615-660, E-mail: igormoura739@gmail.com
Artigo submetido: 19/01/2024.
Artigo aceito: 04/02/2024.
Conflitos de interesse: não há.