INTRODUÇÃO
A plástica da genitália externa feminina consiste em um conjunto de procedimentos
que engloba a abordagem cirúrgica e estética e/ou funcional da região íntima da mulher
com o objetivo de alcançar um formato mais estético dos pequenos lábios e regiões
adjacentes, como clitóris, prepúcio clitoriano, monte pubiano e grandes lábios vaginais.
Os mais comuns, entre os procedimentos, são a ninfoplastia ou labioplastia, que visam
ao aprimoramento e ao modelamento do tecido redundante, assim como de assimetrias,
caso haja1.
A labioplastia traz grandes benefícios para a função sexual feminina, principalmente
em fatores como dor e prazer2. A mulher submetida ao procedimento cirúrgico relata também melhora na autoimagem;
no entanto, quando a melhoria é exclusivamente ligada aos lábios menores, o clitóris
não tratado pode ser mais observado pela paciente no pós-operatório3.
Em alguns casos, há um excesso de capuz clitoriano e hipertrofia da glândula clitoriana.
Quando a medida é superior a 35mm, é sugerida a hipertrofia do clitóris2. A média do clitóris deve ter menos de 5mm de largura e 16mm de comprimento4.
Atualmente, várias técnicas são descritas para a realização de ninfoplastia ou redução
de pequenos lábios vaginais. A labioplastia é um procedimento cirúrgico de redução
do tamanho dos lábios vaginais. Essa intervenção é realizada mais comumente nos pequenos
lábios, mas também pode ocorrer em relação aos grandes lábios vaginais5,6.
A técnica elíptica ou longitudinal foi inicialmente descrita por Hodgkinson & Hait7. É a técnica mais realizada no mundo6, seguida pela técnica em forma de “V” ou técnica em cunha, descrita por Alter8. A combinação de técnica longitudinal com ressecção em cunha também é realizada9.
Ressecção em forma de W, Z-plastia, ressecção posterior e ressecção epitelial também
são técnicas descritas para ressecção de pequenos lábios. Porém, estas não são tão
comuns quanto as anteriores10-13.
A cirurgia de ressecção de excesso de pequenos lábios vaginais pode ser associada
à ressecção do capuz clitoriano em sua região lateral, cefálica ou ambas1,5,8,14-16 e pode ser associada ou não à clitoripexia, que significa a fixação do clitóris ao
púbis8,11,14-20.
Em casos de lipodistrofia em região púbica, no monte de vênus, é possível a realização
de lipoaspiração dessa região21.
Outra classificação também descrita é a de Motakef, que se refere à protrusão de pequenos
lábios em relação aos grandes lábios vaginais. O autor define classe I (0 a 2cm de
protrusão), classe II (2 a 4cm de protrusão) e classe III (maior de 4cm de protrusão).
Acrescentam-se a letra “A” para casos de assimetria e a letra “C” para casos de excesso
de capuz. Nessa classificação, não são considerados casos de hipotrofia e flacidez
dos grandes lábios vaginais. Esses sinais ficam evidentes com o envelhecimento da
mulher22.
De acordo com os dados mais recentes, divulgados pela Sociedade Internacional de Cirurgia
Plástica Estética em 2020, referentes a procedimentos realizados no ano de 2019, o
Brasil é o país campeão no número de labioplastias, ninfoplastias ou cirurgia de redução
dos pequenos lábios vaginais. Foram 20.334 em comparação com 13.697 nos Estados Unidos,
considerando um total de 142.119 desse tipo de cirurgia realizadas no mundo. Além
disso, no comparativo entre os anos de 2016 e 2020, a nível mundial, a realização
desse procedimento teve um aumento de 3%, apesar da queda, quando comparados com 2019
e 202023.
As especialidades que executam esse tipo de procedimento em sua maior proporção são
a cirurgia plástica e a uroginecologia. Estima-se, portanto, que esses dados devem
ser ainda maiores, uma vez que, no presente estudo, constam apenas os dados relativos
à cirurgia plástica.
Diversos fatores são associados ao crescimento do número de procedimentos. Entre eles,
estão o maior acesso à informação, a liberdade sexual, o maior número de profissionais
capacitados e mudanças culturais e de paradigmas em relação à sexualidade24.
As principais fontes das quais se extraem os resultados acerca da divulgação da ninfoplastia
referem-se a sites, vídeos, reportagens em jornais e revistas de grande circulação
e revistas femininas. Nesses veículos, em geral, apresentam-se a opinião de especialistas
e alguns depoimentos de mulheres.
É muito comum também o material produzido pelos próprios médicos, principalmente cirurgiões
plásticos e ginecologistas, seja em suas páginas pessoais, seja em perfis profissionais
em redes sociais, em sites de suas clínicas, além de canais no YouTube25.
Outros procedimentos cirúrgicos, na área genital visam, além da hipertrofia dos pequenos
lábios, ao aumento e/ou à redução dos grandes lábios, bem como à redução do clitóris
e/ou capuz clitoriano.
Existem diversos tipos de vulva e, nem sempre, a mulher se sente desconfortável com
sua área genital do ponto de vista estético. Assim, a intenção de alterar ou melhorar
a aparência da genitália externa e se submeter a um procedimento cirúrgico não estará
presente.
OBJETIVO
O objetivo deste estudo é descrever a técnica cirúrgica em boomerang e os resultados cirúrgicos. O procedimento da vulva é realizado de forma ampla para
melhorar a estética da região, incluindo o reposicionamento do clitóris e ressecção
do capuz clitoriano, a redução dos pequenos lábios e aumento dos grandes lábios, quando
indicado.
MÉTODO
Foi conduzido um estudo retrospectivo, de caráter analítico, para avaliar os prontuários
médicos de 48 pacientes consecutivas submetidas a cirurgia estética genital feminina
em uma clínica privada de cirurgia plástica (Instituto Tatiana Turini de Cirurgia
Plástica) e no Hospital Regional Asa Norte (HRAN), em Brasília, Brasil, entre julho
de 2017 e julho de 2021. O estudo foi realizado de acordo com os padrões éticos da
Declaração de Helsinki de 1964 e suas alterações subsequentes. O estudo foi aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa (FEPECS-DF), sob
o número 4842358. Todas as pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
para o procedimento, uso de dados clínicos e registros fotográficos para fins científicos
e de publicação. O anonimato do paciente foi garantido.
As pacientes apresentaram hipertrofia tipo III (hipertrofia labial que se estende
a todo o capuz clitoriano), de acordo com a classificação de Cunha et al.26 (Figura 1) com ou sem hipertrofia do clitóris, o que justificou o procedimento que se estende
até o capuz. Algumas pacientes ainda apresentavam flacidez e volume reduzido dos grandes
lábios. A vulva padrão pode ser vista na Figura 2.
Figura 1 - Hipertrofia tipo III.
Figura 1 - Hipertrofia tipo III.
As fotografias do pré-operatório e do pós-operatório foram tiradas com vista frontal
(em que o limite superior é a metade da distância entre o xifoide e o umbigo e o limite
inferior são os joelhos com as pernas posicionadas na mesma largura dos ombros e com
os braços atrás do corpo). E posição de litotomia (com os joelhos flexionados e as
coxas fletidas e abduzidas) em um ângulo de 45º na posição vertical anterior.
Procedimento cirúrgico
As pacientes foram operadas pela mesma médica cirurgiã plástica sob anestesia local,
bloqueio do neuroeixo ou anestesia geral, em posição de litotomia.
Quando o procedimento foi realizado sob anestesia local, a precaução tomada foi administrar
um anti-inflamatório e um comprimido analgésico via oral uma hora antes da cirurgia.
A área de incisão foi delineada com uma caneta de marcação, com a paciente na posição
de litotomia. A linha de incisão foi marcada na forma de um boomerang no capuz clitoriano (pele prepucial), estendendo-se até o sulco entre os grandes
e pequenos lábios. Posteriormente, o excesso de pequenos lábios foi marcado para ressecção
(Figura 3). Houve atenção à largura mínima de 1cm quanto para posicionamento dentro das margens
dos grandes lábios (Figura 4). A ressecção dos pequenos lábios é realizada longitudinalmente, com excisão da mucosa
em toda a sua extensão. De grande importância é a hemostasia dessa região. A assimetria
no pré-operatório de labioplastia não é incomum. Por isso, deve haver o cuidado na
marcação dos pequenos lábios para que fiquem o mais simétricos possível no pós-operatório.
Outro cuidado importante é manter a cicatriz em região de fúrcula vaginal anterior.
Figura 3 - Marcação pré-operatória da técnica boomerang.
Figura 3 - Marcação pré-operatória da técnica boomerang.
Figura 4 - Incisão a 12 horas realizada em direção ao ligamento suspensor do clitóris.
Figura 4 - Incisão a 12 horas realizada em direção ao ligamento suspensor do clitóris.
A antissepsia foi realizada com clorexidine aquosa em região de vulva e introito vaginal
e clorexidine degermante e clorexidine alcoólica em regiões adjacentes como abdome
inferior e coxas. Lidocaína spray 10% foi usada na região operada 15 minutos antes
da infiltração com uso de solução de xilocaína 2%, nos pequenos lábios, capô e região
junto ao periósteo de púbis, normalmente não é usado mais do que 20mL de infiltração.
Após a ressecção da pele, usando o formato de boomerang na região do capuz clitoriano, foi realizada uma incisão e dissecção a 12 horas em
direção ao ligamento suspensor do clitóris na região bulbar (Figura 5). O corpo clitoriano foi suturado ao periósteo do púbis anterior usando um nylon
de 4-0. O excesso de tecido dos pequenos lábios foi removido por ressecção longitudinal
realizada em um plano medialmente inclinado, deixando cicatrizes mínimas e ocultas.
A remoção do excesso de tecido deve ser cuidadosamente realizada para evitar ressecção
excessiva. A síntese de pequenos lábios e capô clitoriano com pontos contínuos utilizando
fio de catgut 5.0.
A hemostasia foi obtida por eletrocauterização. Finalmente, um ponto contínuo utilizando
fio de catgut 5.0 foi executado. O vicryl 5-0 rapid, pode ser uma opção para a sutura
dessa região.
O cuidado no pós-operatório inclui o uso de creme vaginal com lidocaína, calêndula,
mentol, óleo de hamamelis e copaíba. Esse creme foi criado pela própria cirurgiã com
auxílio farmacêutico. Higienização após urinar e evacuações e o uso de roupa íntima
para incontinência são também orientações do pós-operatório.
Os dados dos desfechos cirúrgicos e complicações foram coletados por meio da revisão
do prontuário dos pacientes.
Os dados numéricos são demonstrados como média, desvio padrão (DP) e intervalos.
RESULTADOS
Nesse estudo analítico retrospectivo, foram revisados os prontuários de 49 pacientes
submetidas ao procedimento descrito durante o período do estudo. Uma paciente foi
excluída da análise em virtude da idade inferior a 18 anos, totalizando, assim, 48
pacientes. Mais da metade da amostra (64,68%) teve acesso ao procedimento cirúrgico
via Sistema Único de Saúde (SUS).
As análises dos dados foram realizadas no programa IBM SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) 23, 2015. O nível de significância utilizado em todo o estudo foi de 5%.
Nos procedimentos realizados, a anestesia local foi a forma de anestesia mais prevalente,
sendo aplicada em 39 pacientes (81,25%), principalmente nos casos em que foi realizada
apenas a cirurgia íntima. A anestesia peridural foi realizada em 12 pacientes (12,5%)
e a anestesia geral em três (6,25%), conforme apresentado na Tabela 1. As anestesias peridural e geral aconteceram em cirurgias combinadas, como a mamoplastia
e a lipoaspiração, que têm maior recorrência entre os procedimentos realizados juntamente
à plástica genital feminina.
Tabela 1 - Características sociodemográficas e cirúrgicas das pacientes submetidas ao procedimento
de plástica genital feminina, Brasília, DF, Brasil, 2022.
|
Item |
n |
% |
Faixa etária |
18 a 27 anos |
8 |
16,67 |
28 a 37 anos |
20 |
41,67 |
38 a 47 anos |
14 |
29,17 |
≥ 48 anos |
6 |
12,50 |
SUS / Particular |
SUS |
31 |
64,58 |
Particular |
17 |
35,42 |
Ressecção de excesso de pequenos lábios |
Não |
1 |
2,08 |
Sim |
47 |
97,92 |
Anestesia |
Local |
39 |
81,25 |
Peridural |
6 |
12,50 |
Geral |
3 |
6,25 |
Refinamento |
Não |
42 |
87,5 |
Sim |
6 |
12,5 |
Complicações |
Não |
45 |
93,25 |
Sim |
03 |
6,25 |
Cirurgia combinada |
Não |
39 |
81,25 |
Sim |
9 |
18,75 |
Total |
|
48 |
100,00 |
Tabela 1 - Características sociodemográficas e cirúrgicas das pacientes submetidas ao procedimento
de plástica genital feminina, Brasília, DF, Brasil, 2022.
A idade dos pacientes variou entre 18 e 48 anos (DP: 9,68). A maioria das pacientes
(41,67%) estavam na faixa etária entre 28 e 37 anos, com média de 36,25 anos (+ 9,76%)
e mediana de 35,5 anos. Nove pacientes eram casadas ou tinham um parceiro conjugal
e nove eram solteiras (Tabela 1).
Conforme apresentado na Tabela 1, ocorreram três casos de complicação precoce (6,25%), sendo dois de hematoma de pequenos
lábios e um de deiscência de ferida. Apenas três pacientes (6,25%) buscaram orientação
médica para realização de procedimento secundário devido a complicações tardias de
cirurgias feitas com outros cirurgiões.
Realizou-se refinamento cirúrgico em seis pacientes. Em um caso, tal prática foi executada
para melhoria de pequena assimetria, por meio de pequena ressecção unilateral; em
outro caso, havia, ainda, redundância de pequenos lábios, em que foi realizada nova
ressecção de tecido. Em três casos, houve cirurgia de plicatura de clitóris (clitoripexia)
em pacientes que apresentavam previamente hipertrofia clitoriana secundária a hormônio.
Não houve nenhum caso de infecção. Para a maioria das pacientes, era a cirurgia primária,
ou seja, nunca tinham sido operadas na região vulvar previamente.
De acordo com a Tabela 2, pode-se verificar que a maioria das pacientes (97,65%) foram submetidas a ressecção
de pequenos lábios vaginais. E em 85,4% dos casos a labioplastia foi realizada de
forma ampla, em que o procedimento incluiu o capuz e o clitóris. A ressecção do capuz
com a técnica boomerang foi realizada em 87,5% das pacientes. A associação de lipoenxertia em grandes lábios
foi realizada em seis pacientes (12,5%). Em apenas três casos (6,28%), a labioplastia
foi realizada isoladamente. Não houve nenhum caso de diminuição de sensibilidade,
apenas uma paciente referiu aumento de sensibilidade em virtude da maior exposição
do clitóris, porém sem nenhum prejuízo à relação sexual e ao orgasmo.
Tabela 2 - Distribuição das áreas genitais operadas das pacientes do estudo, Brasília, DF, Brasil,
2022.
Plástica genital feminina |
Áreas da genital feminina |
N |
% |
Pequenos lábios (Ninfoplastia/labioplastia) |
3 |
6,28 |
Pequenos lábios + grandes lábios |
1 |
2,08 |
Pequenos lábios + capuz clitoriano + clitóris |
41 |
85,4 |
Pequenos lábios + capô capuz clitoriano |
1 |
2,08 |
Pequenos lábios + fúrcula vaginal posterior |
1 |
2,08 |
Capuz clitoriano + clitóris |
1 |
2,08 |
Total |
48 |
100 |
Tabela 2 - Distribuição das áreas genitais operadas das pacientes do estudo, Brasília, DF, Brasil,
2022.
Ao serem questionadas sobre a melhora da atividade sexual após o procedimento, 83%
das pacientes relataram melhora durante a relação sexual e autoconfiança com seu corpo
e 12% do total relataram que não houve diferença no seu desempenho sexual. Nenhuma
paciente relatou piora. E uma paciente não teve relação sexual após o procedimento.
Fotografias do pré-operatório e pós-operatório de pacientes que estão incluídas nesse
estudo podem ser vistas nas Figuras 5 a 12.
Figura 5 - (A) Fotografias pré-operatórias e (B) pós-operatórias de seis meses de uma paciente
em pé.
Figura 5 - (A) Fotografias pré-operatórias e (B) pós-operatórias de seis meses de uma paciente
em pé.
Figura 6 - (A) Fotografias pré-operatórias e (B) pós-operatórias de seis meses de uma paciente
na posição de litotomia em 45°.
Figura 6 - (A) Fotografias pré-operatórias e (B) pós-operatórias de seis meses de uma paciente
na posição de litotomia em 45°.
Figura 7 - (A) Fotografias pré-operatórias e (B) pós-operatórias de 20 dias de uma paciente em
Pé.
Figura 7 - (A) Fotografias pré-operatórias e (B) pós-operatórias de 20 dias de uma paciente em
Pé.
Figura 8 - (A) Fotografias pré-operatórias e (B) pós-operatórias de 20 dias de uma paciente na
posição de litotomia em 45°.
Figura 8 - (A) Fotografias pré-operatórias e (B) pós-operatórias de 20 dias de uma paciente na
posição de litotomia em 45°.
Figura 9 - (A) Fotografias pré-operatórias e (B) pós-operatórias de seis meses de uma paciente
em pé.
Figura 9 - (A) Fotografias pré-operatórias e (B) pós-operatórias de seis meses de uma paciente
em pé.
Figura 10 - (A) Fotografias pré-operatórias e (B) pós-operatórias de seis meses de uma paciente
na posição de litotomia em 45°.
Figura 10 - (A) Fotografias pré-operatórias e (B) pós-operatórias de seis meses de uma paciente
na posição de litotomia em 45°.
Figura 11 - (A) Fotografias pré-operatórias e (B) pós-operatórias de dois meses de uma paciente
em pé.
Figura 11 - (A) Fotografias pré-operatórias e (B) pós-operatórias de dois meses de uma paciente
em pé.
Figura 12 - (A) Fotografias pré-operatórias e (B) pós-operatórias de dois meses de uma paciente
na posição de litotomia em 45°.
Figura 12 - (A) Fotografias pré-operatórias e (B) pós-operatórias de dois meses de uma paciente
na posição de litotomia em 45°.
DISCUSSÃO
As pacientes são submetidas a labioplastia por vários motivos. Miklos & Moore27 avaliaram 131 pacientes de labioplastia que foram submetidas a cirurgia apenas por
queixas estéticas (37%), apenas queixas funcionais (32%), como desconforto e dor,
ou queixas funcionais e estéticas (31%). Nesse estudo, as pacientes procuraram a labioplastia
apenas por queixas estéticas (44%), demonstrando seu grande interesse na melhora da
aparência genital, por queixas estéticas e funcionais (33,33%), por queixas estéticas,
funcionais e psicológicas (5,56%) e por queixa funcional (5,56%).
Muitas técnicas para a redução dos pequenos lábios foram descritas. Entretanto, poucos
estudos descrevendo o tratamento do capuz clitoriano foram encontrados na literatura.
Hamori28 descreveu a ressecção em V invertido para redução do capuz clitoriano redundante.
Oppenheimer15 mostrou “a labioplastia em ferradura”, uma técnica baseada em um recontorno circunferencial
contíguo dos pequenos lábios e do capuz clitoriano. Xia et al.20 demonstraram em seu trabalho a ressecção do capuz clitoriano na região do sulco associado
a ressecção de pequenos lábios. Li et al.11 descreveram a técnica em L. Yang & Hengshu13 descreveram a técnica em que fizeram uma adaptação da W-plastia para ressecção tanto
do pequeno lábio quanto do capuz.
Gress14, em sua técnica, descreveu a redução dos pequenos lábios e do capuz clitoriano, combinado
com o reposicionamento da glande. Após ressecção de um segmento de tecido cranialmente
com cerca de 2 a 3cm de comprimento (visto como a extensão caudal do capuz clitoriano),
um segmento de pele abaixo do clitóris e um segmento de pele retangular acima do capuz
clitoriano são removidos e as margens da ferida são unidas. Esse estudo demonstra
que aproximadamente 35% dos pacientes, após a técnica, melhoraram a aptidão sexual
em que há ressecção combinada.
Mañero Vázquez et al.29 realizaram, em seu trabalho, a ressecção do capuz clitoriano em sua porção lateral
associado à plicatura do corpo clitoriano junto ao periósteo a 4 e 8 horas. Diferentemente
do presente trabalho, no qual é realizado a ressecção do capuz clitoriano em sua região
cefálica com ponto a 12 horas e consequente à ascensão do clitóris.
Já existe uma preocupação generalizada sobre o tratamento da vulva que não se limita
à correção da hipertrofia dos pequenos lábios, mas inclui o reparo do capuz clitoriano,
envolvendo o tratamento do capuz clitoriano redundante e a hipertrofia do clitóris14,18.
O termo “realocação do clitóris” (ou reposicionamento) foi usado pela primeira vez
por Lattimer30, em 1961, para descrever o tratamento do resultado da hipertrofia congênita do clitóris,
que veio do uso materno de anabolizantes durante a gravidez.
As preocupações com a perda de sensibilidade do clitóris são consistentes em estudos
neuroanatômicos do clitóris fetal, mostrando que a maior densidade nervosa está localizada
dentro da túnica do aspecto dorsal do clitóris31. A técnica cirúrgica descrita nesse estudo, a inervação a 12 horas, não é afetada,
mas deve-se ter cuidado para tratar a inervação a 11 e 13 horas devido à presença
de terminações nervosas originadas do nervo pudendo.
O capuz clitoriano é uma estrutura que cobre e protege o clitóris (glande) quando
tem um tamanho normal de cerca de 2cm de comprimento. No entanto, em casos como a
hipertrofia do clitóris ou capuz clitoriano redundante, a redução dos pequenos lábios,
por si só, pode levar a resultados insatisfatórios, chamando a atenção para o capuz
clitoriano, que não era tão evidente antes do procedimento. Em contraste, a remoção
do excesso de pele com a exposição da glande pode resultar em aumento da sensibilidade
do clitóris19,31.
Na avaliação pré-operatória, as pacientes também podem apresentar dobras nos pequenos
lábios, na forma de tecido redundante, que podem ser abordados pelo reposicionamento
tecidual, com resultados positivos em uma visão litotômica.
CONCLUSÃO
A técnica boomerang descrita é um procedimento cirúrgico para melhora do excesso de tecido em região
de capô clitoriano associado ao excesso de pequenos lábios vaginais. Tal técnica é
reprodutível e apresenta baixo índice de complicação e alto índice de satisfação,
proporcionando benefícios estéticos e/ou funcionais na genitália feminina.
REFERÊNCIAS
1. Triana L, Robledo AM. Aesthetic surgery of female external genitalia. Aesthet Surg
J. 2015;35(2):165-77.
2. Turini T, Weck Roxo AC, Serra-Guimarães F, Abreu ML, de Castro CC, Aboudib JH, et
al. The Impact of Labiaplasty on Sexuality. Plast Reconstr Surg. 2018;141(1):87-92.
3. Goodman MP, Placik OJ, Matlock DL, Simopoulos AF, Dalton TA, Veale D, et al. Evaluation
of Body Image and Sexual Satisfaction in Women Undergoing Female Genital Plastic/Cosmetic
Surgery. Aesthet Surg J. 2016;36(9):1048-57.
4. Selvaggi G, Ressa CM, Ostuni G, Selvaggi L. Reduction of the hypertrophied clitoris:
surgical refinements of the old techniques. Plast Reconstr Surg. 2008;121(5):358e-61e.
5. Lista F, Mistry BD, Singh Y, Ahmad J. The Safety of Aesthetic Labiaplasty: A Plastic
Surgery Experience. Aesthet Surg J. 2015;35(6):689-95.
6. Placik OJ, Devgan LL. Female Genital and Vaginal Plastic Surgery: An Overview. Plast
Reconstr Surg. 2019;144(2):284e-97e.
7. Hodgkinson DJ, Hait G. Aesthetic vaginal labioplasty. Plast Reconstr Surg. 1984;74(3):414-6.
8. Alter GJ. Aesthetic labia minora and clitoral hood reduction using extended central
wedge resection. Plast Reconstr Surg. 2008;122(6):1780-9.
9. Jiang X, Chen S, Qu S, Ma N, Wang W, Li Y, et al. A New Modified Labiaplasty Combined
with Wedge De-Epithelialization on the Medial Side and Edge Resection. Aesthetic Plast
Surg. 2021;45(4):1869-76.
10. Kelishadi SS, Elston JB, Rao AJ, Tutela JP, Mizuguchi NN. Posterior wedge resection:
a more aesthetic labiaplasty. Aesthet Surg J. 2013;33(6):847-53.
11. Li F, Li Q, Zhou Y, Li S, Cao Y, Liu M, et al. L-Shaped Incision in Composite Reduction
Labiaplasty. Aesthetic Plast Surg. 2020;44(5):1854-8.
12. Oranges CM, Sisti A, Sisti G. Labia minora reduction techniques: a comprehensive literature
review. Aesthet Surg J. 2015;35(4):419-31.
13. Yang E, Hengshu Z. Individualized Surgical Treatment of Different Types of Labia Minora
Hypertrophy. Aesthetic Plast Surg. 2020;44(2):579-85.
14. Gress S. Composite reduction labiaplasty. Aesthetic Plast Surg. 2013;37(4):674-83.
15. Oppenheimer AJ. The Horseshoe Labiaplasty: Problems and Pearls. Ann Plast Surg. 2017;78(6S
Suppl 5):S286-8.
16. Zeplin PH. Clitoral Hood Reduction. Aesthet Surg J. 2016;36(7):NP231.
17. Davison SP, Hayes KD, LaBove G. The Extended Clitoral-U Suspension and Unhooding.
Clin Surg. 2018;3:1916.
18. Hamori CA. Postoperative clitoral hood deformity after labiaplasty. Aesthet Surg J.2013;33(7):1030-6.
19. Hunter JG. Labia Minora, Labia Majora, and Clitoral Hood Alteration: Experience-Based
Recommendations. Aesthet Surg J. 2016;36(1):71-9.
20. Xia Z, Liu CY, Yu N, Liu Z, Zeng A, Zhang Y, et al. Three-Step Excision: An Easy Way
for Composite Labia Minora and Lateral Clitoral Hood Reduction. Plast Reconstr Surg.
2021;148(6):928e-35e.
21. El-Khatib HA. Mons pubis ptosis: classification and strategy for treatment. Aesthetic
Plast Surg. 2011;35(1):24-30.
22. Motakef S, Rodriguez-Feliz J, Chung MT, Ingargiola MJ, Wong VW, Patel A. Vaginal labiaplasty:
current practices and a simplified classification system for labial protrusion. Plast
Reconstr Surg. 2015;135(3):774-88.
23. American Society of Aesthetic Plastic Surgery (ASAPS). Plastic Surgery Statistics:
Plastic surgery procedural statistics from the American Society of Plastic Surgeons.
Available at: https://www.plasticsurgery.org/news/plastic-surgery-statistics
24. Furnas HJ, Graw GJ, Cho MJ, Othman S, Graw B, Percec I. Safety in Female Genital Plastic
Surgery. Plast Reconstr Surg. 2020;146(4):451e-63e.
25. Rohden F. The dissemination of intimate surgery in Brazil: gender norms, dilemmas,
and responsibilities in the field of aesthetic plastic surgery. Cad Saude Publica.
2021;37(12):e00178021.
26. Cunha FI, Silva LM, Costa LA, Vasconcelos FRP, Amaral GT. Nymphoplasty: Classification
and technical refinements. Rev Bras Cir Plást. 2011;26(3):507-11.
27. Miklos JR, Moore RD. Labiaplasty of the labia minora: patients’ indications for pursuing
surgery. J Sex Med. 2008;5(6):1492-5.
28. Hamori CA. Aesthetic surgery of the female genitalia: labiaplasty and beyond. Plast
Reconstr Surg. 2014;134(4):661-73.
29. Mañero Vázquez I, García Buendía G, Rodríguez Vega A, Rubí Oña CG. Labiaplasty with
Clitoropexy. Plast Reconstr Surg Glob Open. 2019;7(5):e2239.
30. Lattimer JK. Relocation and recession of the enlarged clitoris with preservation of
the glans: an alternative to amputation. J Urol. 1961;86:113-6.
31. Baskin LS, Erol A, Li YW, Liu WH, Kurzrock E, Cunha GR. Anatomical studies of the
human clitoris. J Urol. 1999;162(3 Pt 2):1015-20.
1. Instituto de Cirurgia Plástica Tatiana Turini, Brasília, DF, Brasil
2. Hospital Regional da Asa Norte, Brasília, DF, Brasil
3. Centro Universitário de Brasília, Brasília, DF, Brasil
Autor correspondente: Tatiana Turini SGAS II St. de Grandes Áreas Sul 616, Conjunto A, Lote 116/117, Sala 1, Asa Sul,
Brasília, DF, Brasil., CEP: 70200-001, E-mail: tatianaturini@hotmail.com
Artigo submetido: 18/08/2023.
Artigo aceito: 04/02/2024.
Conflitos de interesse: não há.