ISSN Online: 2177-1235 | ISSN Print: 1983-5175

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Original Article - Year2024 - Volume39 - Issue 1

http://www.dx.doi.org/10.5935/2177-1235.2023RBCP0823-PT

RESUMO

Introdução: O envelhecimento facial é um processo gradual, complexo e multifatorial. É o resultado de mudanças na qualidade, volume e posicionamento dos tecidos. Cirurgiões plásticos têm modificado sua abordagem na cirurgia do rejuvenescimento facial optando pelo plano subaponeurótico (SMAS). O objetivo deste estudo é analisar 100 casos de pacientes operados pela técnica de SMAS profundo, avaliando sua aplicabilidade e eficácia.
Método: Foram avaliados 100 pacientes, submetidos a cirurgia plástica facial pela técnica de SMAS profundo - "Deep Smas", e acompanhados por 6 meses. Observou-se a satisfação dos pacientes, número de complicações, número de reoperações, riscos e vantagens da técnica.
Resultados: Foram operados 100 pacientes, num período de 3 anos. A idade variou de 41 a 79 anos, sendo 95% sexo feminino. As complicações foram 8 casos (8%) de lesões de ramos do nervo facial, sendo: 4 casos lesão do zigomático, 3 casos de lesão do mandibular e 1 caso de lesão do bucal; houve 1 caso (1%) de queloide retroauricular; 1 caso (1%) de hematoma. Em relação às revisões cirúrgicas, houve 8 casos (8%) de complementação cirúrgica por insatisfação das pacientes. Houve 15% de lesões nervosas entre a 1ª e a 40ª cirurgia, 5% entre a 41ª e a 80ª, e nenhuma lesão entre o 81º e o 100º paciente.
Conclusão: O lifting facial profundo ou subSMAS mostrou ser efetivo, proporcionando bons resultados estéticos. Apresenta baixa taxa de recidiva e baixa taxa de morbidade, porém, necessita de uma longa curva de aprendizagem.

Palavras-chave: Face; Procedimentos de cirurgia plástica; Estética; Técnicas cosméticas; Nervo facial; Curva de aprendizado.

ABSTRACT

Introduction: Facial aging is a gradual, complex, and multifactorial process. It is the result of changes in the quality, volume, and positioning of tissues. Plastic surgeons have modified their approach to facial rejuvenation surgery, opting for the subaponeurotic plane (SMAS). The objective of this study is to analyze 100 cases of patients operated on using the deep SMAS technique, evaluating its applicability and effectiveness.
Method: 100 patients were evaluated, undergoing facial plastic surgery using the deep SMAS technique - "Deep Smas", and followed up for 6 months. Patient satisfaction, number of complications, number of reoperations, risks, and advantages of the technique were observed.
Results: 100 patients were operated on over 3 years. Age ranged from 41 to 79 years, with 95% being female. The complications were 8 cases (8%) of injuries to branches of the facial nerve, of which 4 cases of zygomatic injury, 3 cases of mandibular injury, and 1 case of buccal injury; there was 1 case (1%) of post-auricular keloid; 1 case (1%) of hematoma. Regarding surgical revisions, there were 8 cases (8%) of surgical completion due to patient dissatisfaction. There were 15% of nerve injuries between the 1st and 40th surgery, 5% between the 41st and 80th, and no injuries between the 81st and 100th patient.
Conclusion: Deep facial lifting or subSMAS has proven to be effective, providing good aesthetic results. It has a low recurrence rate and low morbidity rate; however, it requires a long learning curve.

Keywords: Face; Plastic surgery procedures; Esthetics; Cosmetic techniques; Facial nerve; Learning curve


INTRODUÇÃO

O envelhecimento facial é um processo gradual, complexo e multifatorial. É o resultado de mudanças na qualidade, volume e posicionamento dos tecidos1-3.

Cirurgiões plásticos têm modificado sua abordagem técnica nos pacientes que desejam ser submetidos ao rejuvenescimento facial, incluindo a videoendoscopia, tratamentos cosméticos como laser, toxina botulínica e preenchedores faciais, e amplo conhecimento da anatomia, destacando-se os ligamentos retentores da face4-7. Os ligamentos retentores unem os tecidos frouxos da face às estruturas ósseas profundas.

A cirurgia facial moderna foi iniciada por Skoog8, que descreveu a elevação do retalho cérvico facial profundo ao platisma e à fáscia superficial da face. Em se falando de abordagem profunda, Hamra9,10 e Barton11,12 acrescentaram modificações pessoais, mas mantiveram o conceito do retalho composto de pele com o sistema músculo aponeurótico superficial (SMAS)13.

Após melhor compreensão e conhecimento do sistema de compartimentos de gordura, tanto mais superficial quanto profundo, descritos por Rohrich & Pessa6,7, somados às publicações de Aston13 sobre o FAME (finger assisted malar elevation), Mendelson et al.14,15 descreveram a importância dos ligamentos da face e também os espaços subSMAS, os ligamentos formando um complexo sistema de suporte fibroso de sustentação, e os espaços que são áreas delimitadas pelos ligamentos nas laterais onde não há estruturas anatômicas cruzando em seu interior, ou seja, são espaços seguros com todos os ramos nervosos estando fora desses compartimentos.

Mais recentemente, destacaram-se os estudos de Jacono1, que com riqueza de detalhes mostrou as vantagens da liberação dos ligamentos retentores do tecido ptótico do terço médio facial seguida da tração em bloco, fixação e reposicionamento ao nível da proeminência malar e do SMAS fixo. A secção do ligamento zigomático cutâneo, ligamento mais forte da face (conforme estudos biomecânicos)15, permite a elevação e mobilização do coxim gorduroso malar. A mobilização tecidual permite grande volumização do terço médio que se acredita não ser possível nas técnicas tradicionais de retalho ou de plicatura do SMAS, pois elas não mobilizariam as estruturas de tecidos frouxos1,16-22 visto que os estudos de Gassner et al.23 demonstraram histologicamente não haver tecido de SMAS medialmente à musculatura zigomática.

Características dos Estudos de Mendelson

Os ligamentos da face assemelham-se a uma árvore onde o tronco são os ligamentos que unem os tecidos moles ao esqueleto facial, os galhos maiores atravessam o SMAS e suas ramificações (pequenos galhos) conectam o SMAS à subderme (retinacular cutis fibers), formando um complexo sistema de suporte fibroso de sustentação14,15.

O espaço subSMAS são áreas delimitadas pelos ligamentos retentores nas laterais onde não há estruturas anatômicas cruzando em seu interior, ou seja, são espaços seguros com todos os ramos nervosos estando fora desses compartimentos. Em função de permitirem a movimentação dos tecidos frouxos pode haver flacidez nestes espaços e não nos seus limites onde ficam os ligamentos14,15. A dissecção nessas áreas apresenta menos sangramento, edema e risco de lesão nervosa.

Espaço pré-zigomático: recobre o osso zigomático, os músculos zigomáticos originam-se abaixo do assoalho, o teto ou forro é pelo músculo orbicular dos olhos e pelo SOOF (sub orbicular oculi fat), o bordo superior pelo ligamento retentor orbicular (que não é tão resistente) e o bordo inferior pelo ligamento zigomático (este sim mais forte).

Espaço pré-massetérico: recobre a ½ inferior do músculo masseter, o teto é formado pelo platisma, o bordo posterior pelo platisma auricular fáscia (PAF), o bordo anterior, pelos ligamentos massetéricos, sendo que a fraqueza da fixação do assoalho formado pelo platisma no ligamento massetérico inferior permite a formação do jowl.

Limites do espaço pré-massetérico:

    a) Base: masseter/triângulo adicional e anterior;

    b) Teto: platisma;

    c) Posterior: transição para o PAF;

    d) Superior: ligamentos massetéricos cutâneos;

    e) Inferior: membrana formada entre o PAF e o ligamento mandibular;

    f) Anterior: membrana formada entre o platisma e o masseter.

C) Espaço Mastigador: também chamado de bucal, esse espaço contém a bucal fat, e a frouxidão nessa área permite a formação do sulco nasolabial (SNL).

Quando o termo “deep Smas facelift” foi introduzido, referia-se à dissecção subSMAS, porém não estava claro se envolvia a face lateralmente (aqui no plano subcutâneo) até a transição do músculo orbicular e músculo zigomático maior, na face anterior24,25. Hamra9,10,24,26 descreveu o acesso à face anterior através da pálpebra inferior, dissecção zigomático orbicular. Atualmente, o termo lifting composto envolve a dissecção da face anteriormente, sempre plano subSMAS, porém com acesso lateral vindo sobre o 1/3 médio da face (midcheek) usada em nosso estudo e também preconizado por Jacono1,18-20.

Diferentes técnicas de facelifting oferecem bons resultados. Entretanto, uma análise mais profunda permite observar que o equilíbrio entre tensão na pele e volume ou forma é que determinará a harmonia da face.

Há 3 áreas ou camadas onde se pode aplicar tensão para tratar flacidez: pele, SMAS e periósteo. Vantagens do subSMAS: espaços são naturalmente pré-dissecados, rápido, sangra pouco e atraumática.

Características dos Estudos Hamra

Inicialmente, Hamra9,26 descreveu sua técnica de dissecção profunda “Deep Plane” que visava tratar a gordura da bochecha que flácida tornava o SNL mais evidente e profundo. Tracionando superiormente promoveria atenuação do SNL. Uma característica que salientava era que o tecido gorduroso estava sobre os músculos zigomáticos, era de fácil dissecção e mantinha-se conectado ao SMAS (“cheek fat” + platisma).

Evoluindo no tempo, descreveu o Composite Face Lift, que formava um retalho composto do músculo orbicular dos olhos (MOO) + “cheek fat” + platisma. Incisão no arcus marginalis (junção do septo com a rima orbital)10.

Finalizando, descreveu o Zigomático Orbicular Flap e Septal Reset, incisão do septo orbital inferiormente e “redraping” o tecido superiormente, tratando o sulco naso jugal, deixando-o mais jovial27.

Jowl

O “jowl” é uma protrusão de tecidos moles no terço inferior e anterior da face14,15,28-30, sendo o principal estigma do envelhecimento facial30. Tem como limite anterior o ligamento mandibular e o sulco lábio mandibular, é localizado no plano supraplatismal, como uma redundância do tecido subcutâneo (gordura) recoberto por pele da face28. As estruturas anatômicas subplatismais não têm relação com a formação do jowl, porém as estruturas adjacentes sim: gordura de Bichat (coxim adiposo bucal) e a glândula submandibular quando muito proeminente30. Os irmãos Auersvald28 acreditam que os fatores principais envolvidos na formação do “jowl” são: gordura do subcutâneo, sobra de pele, SMAS descendente deslizando e infiltrando a gordura e gordura de Bichat.

OBJETIVO

O objetivo deste estudo é analisar 100 pacientes operados pela técnica de SMAS profundo (Extended Deep Plane Face Lifting), avaliando sua aplicabilidade, eficácia, morbidade e resultados cirúrgicos.

MÉTODO

Foram analisados 100 pacientes, entre janeiro de 2020 e novembro de 2022, submetidos a cirurgia plástica facial pela técnica de SMAS profundo - “Deep Smas”, e acompanhados por 6 meses no pós-operatório (PO). Estudo realizado em clínica privada em Curitiba-PR, observando o número de complicações, número de reoperações, riscos e vantagens da técnica. O estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná, com o número 5.281.745.

Técnica operatória

Marcação prévia com azul de metileno na pele, iniciando no contorno da costela do cabelo, contornando toda orelha, posicionando pós-tragal na região anterior, na região posterior na transição entre a cartilagem da concha e a mastoide, estendendo-se até o pé do cabelo na região posterior.

Incisão na pele seguida de dissecção subcutânea até cerca de 3cm anteriormente até onde se encontra a linha de transição para plano profundo. Esta linha vai do canto lateral da órbita até o ângulo da mandíbula (gônio) (Figura 1).

Figura 1 - Marcação área a ser incisada no SMAS, a porta de entrada para o plano profundo ("Deep Plane").

O acesso ao plano subSMAS é feito através de incisão com bisturi; a seguir, com uso de eletrocautério, é feita dissecção no tecido areolar frouxo com os ramos do nervo facial (zigomático, bucal e marginal da mandíbula) estando abaixo deste plano protegidos pela fáscia massetérica. Segue-se anteriormente com dissecção romba e liberação dos ligamentos massetéricos, nos espaços pré-massetéricos superior, médio e inferior. Mais superiormente, com a secção do ligamento zigomático cutâneo, tem-se acesso ao espaço pré-zigomático e permite-se a comunicação desse com o espaço pré-massetérico. Nesta região encontra-se o músculo zigomático maior, abaixo dele passa o ramo zigomático do nervo facial. A suspensão da região malar é feita após a realização do FAME13 utilizando-se o dedo indicador (Figura 2).

Figura 2 - FAME - “finger assisted malar elevation”.

Continua-se com dissecção romba anteriormente até o nível do SNL e, inferiormente, até a transição do espaço pré-massetérico com espaço subplatismal (Figuras 3 e 4). Com todo plano subSMAS dissecado, realiza-se a confecção do “cuff”, que tem em média 2cm, sendo um retalho de SMAS que servirá para ancoragem sustentando a tração do retalho fasciocutâneo (Figura 5). São cerca de 5 a 6 pontos de tração feitos com Vycril® plástica 4,0, iniciando mais inferiormente com sentido posterossuperior até o SMAS fixo (Figuras 6 e 7).

Figura 3 - Dissecção estendida até o sulco nasolabial (SNL).

Figura 4 - Plano profundo amplamente dissecado: espaço pré-zigomático (A); espaços massetéricos superior, médio e inferior; (B) e espaço mastigatório (C).

Figura 5 - “Cuff”.

Figura 6 - Pontos de Vycril 4,0 fixando o retalho de SMAS.

Figura 7 - Cerca de 6 pontos simples para fixação do retalho.

O último passo é a sutura do platisma lateral, conforme descrito por Jacono1, com a técnica de hammock, até o periósteo da mastoide (Figuras 8, 9, 10 e 11). Finalizando, realiza-se a ressecção do excedente de pele, revisão da hemostasia, drenagem com dreno de sucção, acomodando os tecidos sem tensão, com pontos simples de monocryl 4,0 na subderme e de nylon 5,0 contínuo na pele.

Figura 8 - Marcação do platisma lateral.

Figura 9 - Abertura do platisma lateral.

Figura 10 - Tração do retalho do platisma lateral - “Platisma hammock”.

Figura 11 - Fixação do “Platisma hammock” no periósteo da mastoide.

Análise estatística

Variáveis quantitativas foram descritas através das estatísticas de média, mediana, valor mínimo, valor máximo e desvio padrão. Variáveis qualitativas foram sumarizadas através de frequências e percentuais. Para avaliação da associação entre sexo e presença de lesão, foi considerado o teste Exato de Fisher. A associação entre idade e presença de lesão foi avaliada através do teste t de Student para amostras independentes. A associação entre ordem da cirurgia e a presença de lesão foi avaliada através do teste de Cochran-Armitage. Valores de p menores do que 0,05 indicaram significância estatística.

RESULTADOS

Foram operados 100 pacientes, num período de 3 anos. A idade variou de 41 a 79 anos, média de idade de 58,7 anos, sendo 95% sexo feminino e 5% sexo masculino (Tabelas 1 e 2).

Tabela 1 - Idade.
N Média Mediana Mínimo Máximo Desvio Padrão
100 58,7 59 41 79 8,1
Tabela 1 - Idade.
Tabela 2 - Sexo.
Sexo N %
Feminino 95 95,0%
Masculino 5 5,0%
Total 100 100,0%
Tabela 2 - Sexo.

As complicações foram 8 casos (8%) de lesões de ramos do nervo facial, sendo: 4 casos lesão do zigomático, 3 casos de lesão do mandibular e 1 caso de lesão do bucal; houve 1 caso (1%) de queloide retroauricular; 1 caso (1%) de hematoma (Figura 12). Todas as lesões nervosas foram transitórias, tratadas com neurorregeneradores de nervos periféricos via oral e com duração de 45 a 60 dias.

Figura 12 - Paciente de 44 anos, no 10º dia pós-operatório, apresentando lesão do ramo mandibular à esquerda.

Em relação às revisões cirúrgicas, houve 8 casos (8%) de complementação cirúrgica por insatisfação das pacientes por flacidez de pele ou pouca projeção no terço médio da face, sendo realizadas entre 6 e 8 meses de PO. A grande maioria dos pacientes submetidos a revisão cirúrgica tinham mais que 60 anos (75%) (Tabela 3).

Tabela 3 - Revisões cirúrgicas.
Idade Pacientes Revisões (%)
< 49 2 1
50-59 17 1
60-69 57 4
70-79 24 2
Total 100 8
Tabela 3 - Revisões cirúrgicas.

Avaliação da associação de sexo com presença de lesão

Testou-se a hipótese nula de que a probabilidade de presença de lesão em pacientes do sexo feminino é igual à probabilidade de presença de lesão em pacientes do sexo masculino versus a hipótese alternativa de probabilidades diferentes. Na tabela abaixo são apresentados os resultados obtidos no estudo, bem como o valor de p do teste estatístico (Tabela 4).

Tabela 4 - Relação entre sexo e lesão.
Lesão NN Sexo
Feminino Masculino
N % N %
Não 87 91,6% 5 100,0%
Sim 8 8,4% 0 0,0%
Total 95 100,0% 5 100,0%

Valor de p=1.

Tabela 4 - Relação entre sexo e lesão.

Avaliação da associação de idade com presença de lesão

Testou-se a hipótese nula de média de idade em casos sem lesão igual à média de idade em casos com lesão versus a hipótese alternativa de médias diferentes. Na tabela abaixo são apresentadas as estatísticas descritivas de idade, em cada classificação de lesão, bem como o valor de p do teste estatístico (Tabela 5).

Tabela 5 - Relação entre idade e lesão.
Lesão NN N Média Mediana Mínimo Máximo Desvio
Padrão
Valor de p*
Não 92 58,9 59 41 79 8,3 0,504
Sim 8 56,9 57,5 45 64 6,1

(*) Teste t de Student para amostras independentes; p<0,05.

Tabela 5 - Relação entre idade e lesão.

Avaliação da associação entre a ordem da cirurgia e a presença de lesão

Testou-se a hipótese nula de associação entre a ordem em que as cirurgias são realizadas e a probabilidade de presença de lesão versus a hipótese alternativa de inexistência de associação entre a ordem em que as cirurgias são realizadas e a probabilidade de presença de lesão. Para aplicação do teste, as cirurgias foram agrupadas em classes com 20 cirurgias considerando a ordem da realização das mesmas. Desse modo, as primeiras 20 foram realizadas antes das próximas 20 e assim por diante.

Na tabela abaixo são apresentados os resultados obtidos no estudo (Tabela 6).

Tabela 6 - Relação entre ordem da cirurgia e lesão.
Cirurgias Cirurgias % com
lesão
Com lesão NN Sem lesão NN Total
1 a 20 3 17 20 15,0%
21 a 40 3 17 20 15,0%
41 a 60 1 19 20 5,0%
61 a 80 1 19 20 5,0%
81 a 100 0 20 20 0,0%
Total 8 92 100 8,0%

p=0,037

Tabela 6 - Relação entre ordem da cirurgia e lesão.

O resultado do teste estatístico indicou a rejeição da hipótese nula (p=0,037), fornecendo evidência para a constatação de que há uma tendência de diminuição da probabilidade de presença de lesão conforme há o aumento da experiência com a realização da cirurgia.

No gráfico abaixo podem ser visualizados os resultados obtidos no estudo (Figura 13).

Figura 13 - Gráfico mostrando a relação de porcentagem de lesões de nervos e o número de cirurgia realizadas.

A seguir, são apresentados alguns casos de pré e pós-operatório (Figuras 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20 e 21).

Figura 14 - Paciente de 63 anos em imagem de perfil no pré-operatório.

Figure 15 - Paciente de 63 anos em imagem de perfil no pós-operatório de 6 meses.

Figura 16 - Paciente de 63 anos em imagem frontal no pré-operatório.

Figura 17 - Paciente de 63 anos em imagem frontal no pós-operatório de 6 meses.

Figura 18 - Paciente de 52 anos em imagem de perfil no pré-operatório.

Figura 19 - Paciente de 52 anos em imagem de perfil no pós-operatório de 7 meses.

Figura 20 - Paciente de 52 anos em imagem frontal no pré-operatório.

Figura 21 - Paciente de 52 anos em imagem de perfil no pós-operatório de 7 meses.

DISCUSSÃO

Curva de aprendizagem foi descrita em 1936 por Wright31 e pode ser definida como a expressão gráfica representativa do período de incorporação de um novo conhecimento. Na prática tem sido confundida com o número de procedimentos necessários para que se atinja o ponto de proficiência, entendendo-se como ponto de proficiência o momento em que se chega à otimização deste procedimento ou, melhor dizendo, é o momento em que o cirurgião pode realizar o procedimento sem supervisão32.

A Sociedade Brasileira de Vídeo Cirurgia estabelece em 25 o número mínimo de procedimentos realizados, para que o cirurgião seja considerado habilitado33. Em cirurgia plástica os dados são esparsos, porém Tapking et al.34 revisaram 29 artigos que indicam que a curva de aprendizagem entra num platô entre 45-100 casos operados em reconstrução mamária. Isso se traduz por maior índice de sucesso, menor tempo cirúrgico e menor taxa de complicações.

A abordagem profunda na cirurgia facial, também chamada de lifting profundo, subSMAS ou deep plane, teve início com as publicações de Hamra9,10 e Barton11,12, mas foi só após os estudos de Mendelson et al.14,15 que se compreendeu de forma mais clara e com detalhes a anatomia desta região. A difusão e a “popularização” da técnica, por assim dizer, entre cirurgiões plásticos ao redor do mundo e até entre os leigos deu-se principalmente através dos estudos de Jacono1,18,19,20.

Tanto Jacono1 como Mendelson et al.14 propõem a dissecção e abordagem do espaço pré-zigomático, de todos os espaços pré-massetéricos, e do espaço mastigatório. A partir daqui Jacono1 propõe a realização do FAME, porém de forma distinta de Aston13. Este aborda com o dedo indicador deslizando abaixo do músculo orbicular até a gordura malar (malar fat pad), enquanto Jacono1 orienta o uso do indicador por sobre o músculo orbicular, como forma de proteger o ramo zigomático do nervo facial.

Outra característica distinta se dá no tratamento do músculo platisma. Jacono1 propõe a dissecção romba anteriormente até o nível do SNL e, inferiormente, até a transição do espaço pré-massetérico com espaço subplatismal. Com a dissecção subplatismal feita tanto via terço médio da face como pelo platisma lateral, tem-se o retalho do platisma chamado de platisma hammock (rede de balanço) que será ancorado no periósteo da apófise mastoide com fios de sutura.

Jacono1 preconiza o uso de fios inabsorvíveis monofilamentares para a fixação do retalho composto, em número médio de 6 suturas. Justifica o uso de nylon para que, se no futuro houver nova reintervenção da face, o cirurgião encontre os fios e que sirvam de guia ou parâmetro para nova dissecção plano sub SMAS. Neste estudo, foram utilizados fios de Vycril® plástica 4,0 multifilamentados, absorvíveis, que por característica técnica fariam maior reação inflamatória e consequente maior aderência e fixação do retalho que o fio monofilamentar (nylon). Pode-se salientar como desvantagens também o risco de visualização dos fios de nylon preto na subderme, e, ainda, a palpação dos nós em caso de reação de corpo estranho (fios inabsorvíveis).

A maior preocupação do paciente e do cirurgião facial é o risco de lesão nervosa, sendo esta a razão para se evitar algumas técnicas que envolvem dissecções mais amplas como subSMAS ou deep plane. A despeito das especulações, a maioria das casuísticas individuais consideram taxas de lesões nervosas temporárias entre 1% e 2%, independentemente da técnica utilizada. Já as lesões definitivas variam de 0,04% a 0,08%35. Jacono18,22, em 584 pacientes, relatou 1% de lesões temporárias e 0% de lesões definitivas, atribuindo sobretudo às conexões entre os ramos bucal e zigomático, a possibilidade de visão direta dos ramos e da proteção da fáscia massetérica parotídea.

Neste estudo, observou-se, após complementação da curva de aprendizagem - que em cirurgia plástica pode se considerar entre 45-100 casos34, valores iguais aos das demais técnicas e também aos de Jacono18,22; com caráter regressivo tendendo a 0% nos últimos 20 casos operados. E também nenhum caso de lesão nervosa definitiva, o que também se assemelha à literatura18,22,35 (p=0,037).

Em relação às taxas de revisões cirúrgicas, Jacono1,18,22 cita valores entre 3% e 5% em mais de 2000 casos operados em cerca de 11 anos. E corrobora seus resultados com a publicação de Kamer & Frankel36, que citam valores de 3,3% de revisões cirúrgicas em outros estudos nos quais as técnicas eram SMASectomia, imbricação do SMAS, e, plicatura do SMAS. As revisões cirúrgicas dentro do período de 1 ano ficavam entre 11,4% e 21,7%36. Jones & Lo37, por sua vez, mostraram 69% de recorrência de flacidez do ângulo da mandíbula e da região cervical em um acompanhamento de 5,5 anos de PO. Encontraram-se, neste estudo, valores de 1% em pacientes com menos de 60 anos, de 4% entre 60 e 70 anos, e de e 2% entre 70 e 79 anos. O que é similar a dados da literatura, já que Jacono1 cita que as revisões aumentam em pacientes com idade mais avançada, alcançando 100% em pacientes acima de 80 anos e 50% em pacientes entre 70 e 79 anos.

Diferentes técnicas de facelifting podem oferecer bons resultados deixando tanto o paciente como o cirurgião satisfeitos, e cada cirurgião precisa desenvolver sua própria abordagem que proporcione resultados almejados e duradouros. Entretanto, uma análise mais profunda permite observar que o equilíbrio entre tensão na pele e volume ou forma é que determinarão a harmonia da face. A abordagem profunda na cirurgia facial, também chamada de lifting profundo, subSMAS ou deep plane, proporciona resultados mais efetivos e longevos com baixa taxa de revisões cirúrgicas1,36,37.

CONCLUSÃO

A técnica de lifting facial profundo ou subSMAS (Extended Deep Plane Face Lifting) mostrou ser efetiva, proporcionando bons resultados estéticos, apresenta baixa taxa de recidiva e baixa taxa de morbidade, porém, necessita de uma longa curva de aprendizagem.

REFERÊNCIAS

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1. Clínica Privada, Curitiba, PR, Brasil
2. PUC Pr, Curso de Medicina, Curitiba, PR, Brasil
3. Faculdade Evangélica Mackenzie de Medicina, Curitiba, PR, Brasil

Autor correspondente: Lincoln Graça Neto Rua Alferes Ângelo Sampaio, 2029, Batel, Curitiba, PR, Brasil, CEP:80420-160, E-mail:lgracaneto@hotmail.com lgracaneto@hotmail.com

Artigo submetido: 05/06/2023.
Artigo aceito: 20/08/2023.

Conflitos de interesse: não há.



 

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