INTRODUÇÃO
A reconstrução cirúrgica da mama, após o tratamento locorregional de um câncer,
possui relação com a qualidade de vida das pacientes1. Entretanto, em um país como o Brasil onde o
acesso a esse tipo de procedimento pela grande maioria das mulheres afetadas
por
câncer de mama é muito limitado, considerando que, muitas vezes, são necessárias
mais de uma intervenção para alcançar o resultado estético esperado.
Pensando na acessibilidade à cirurgia reparadora mamária no sistema público de
saúde brasileiro, a Lei nº 9.797, de 6 de maio de 1999, definiu a
obrigatoriedade desse tipo de procedimento pela rede de unidades integrantes
do
Sistema Único de Saúde (SUS) nos casos de mutilação decorrentes de tratamento
de
câncer2. Essa
legislação foi modificada em 2013 (pela Lei nº 12.802), sendo estabelecido que
o
reparo estético deveria ser no mesmo tempo cirúrgico do tratamento do câncer,
e
quando fosse impossibilitado haveria a garantia da reconstrução mamária em um
segundo tempo3; e pela portaria
GM/MS nº 127, de fevereiro de 2023, que deliberou a instalação de estratégia
excepcional de ampliação do acesso à reconstrução mamária4.
As opções de tratamento cirúrgico para o câncer de mama são inúmeras, e a técnica
empregada depende de vários fatores, que incluem as características biológicas
da neoplasia mamária, o volume da mama, as dimensões da lesão primária, a
resposta ao tratamento sistêmico neoadjuvante e o estágio da doença no momento
do diagnóstico, entre outros5.
Também, com o maior acesso aos testes genéticos para verificar presença de
variantes patogênicas de genes relacionados com maior predisposição de câncer
de
mama como BRCA1 e BRCA2, aumentou a indicação
de adenomastectomias profiláticas6.
A lipoenxertia (ou lipofilling) é um enxerto autólogo de células
do tecido adiposo, amplamente utilizado como método adjuvante na reconstrução
mamária após cirurgia oncológica e/ou radioterapia, para corrigir o volume e
irregularidades7.
Recentemente, foi demostrado que o uso da lipoenxertia é seguro inclusive em
cirurgias conservadoras para tratamento de câncer de mama, podendo ser empregada
em mesmo tempo cirúrgico da excisão da neoplasia mamária8,9. Associada às indicações dessa técnica na área
oncológica, também é empregada em inúmeros procedimentos estéticos na região
da
face, mamas, em remodelamento de contornos em diferentes sítios anatômicos, além
da utilização na amenização de contraturas cicatriciais em grandes
queimados10,11.
Este tipo de enxerto é um método complementar que permite obter grandes
quantidades de células-tronco mesenquimais derivadas de tecido adiposo
subcutâneo (CTDAs), que são as células responsáveis pela colonização e formação
tecidual na área receptora12,13. Atualmente, as CTDAs são as
mais utilizadas como estratégia de renovação celular, pois possuem capacidade
semelhante às células-tronco originárias da medula óssea, além de serem obtidas
através de uma técnica menos traumática e invasiva. Entretanto, o procedimento
possui limitações, pois parte do volume de gordura aplicado é reabsorvido,
prejudicando o resultado14.
Na reconstrução mamária, a lipoenxertia é realizada logo após a lipoaspiração de
volumes pequenos de fração celular, não havendo preservação do material para
enxertos posteriores, sendo o excedente descartado. Em situações em que existe
a
necessidade de volumes maiores de lipoenxertia, vários procedimentos sequenciais
de lipoenxertia são realizados até que o resultado estético esperado seja
alcançado15. Com isso,
aumentam os custos operacionais, além de gerar maiores riscos cirúrgicos para
a
paciente.
A possibilidade de uso de técnicas de criopreservação celular poderia auxiliar
nesse processo, pois as CTDAs seriam conservadas em baixas temperaturas, por
tempo indeterminado e serem descongeladas de forma fracionada dependendo do
planejamento cirúrgico16. A
criopreservação de células busca assegurar as taxas de viabilidade celular
adequadas mantendo o potencial biológico delas. Para isso, é necessária a
utilização de criopreservantes durante as técnicas de congelamento, sendo o
dimetilsulfóxido (DMSO) a substância mais utilizada nos protocolos convencionais
em estudos experimentais, pois proporciona boa viabilidade celular após o
descongelamento17.
Entretanto, a utilização de criopreservação de CTDAs com DMSO, na prática
clínica, é limitada, pois este solvente é toxico para as células
humanas18.
Tendo em vista a importância das CTDAs na reconstrução de mama pósmastectomia,
entre outras indicações em cirurgia estética, a pesquisa por criopreservantes
não tóxicos e eficazes permitiria a conservação das CTDAs e, consequentemente,
o
planejamento de lipoenxertias seriadas.
OBJETIVO
Verificar a viabilidade celular de CTDAs após criopreservação de lipoaspirados
com a combinação de L-prolina e trealose, substâncias que não possuem toxicidade
celular documentada, além de terem um custo operacional baixo.
MÉTODO
Estudo descritivo transversal experimental, no qual foram coletadas amostras de
tecido lipoaspirado de pacientes do sexo feminino, maiores de 18 anos, que
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que optaram em
doar parte do lipoaspirado que iria ser desprezado após o procedimento de
lipoaspiração estética; realizadas por 4 cirurgiões plásticos em hospitais do
município de Chapecó-SC, entre junho de 2021 e março de 2022.
Buscando comparar a efetividade de criopreservantes frente a diferentes tempos de
congelamento, foram coletados 90mL de material lipoaspirado, de cada paciente,
que foram então alocados em 6 tubos Falcon® de 15mL. O material foi
centrifugado a 3000rpm por 3 minutos, lavado com soro fisiológico 0,9% e
novamente centrifugado com os mesmos parâmetros. Sucessivamente, foi
acrescentado colagenase IA (C2674 - Sigma®) na concentração de 0,075%
na proporção de 1:100, seguido de incubação em banho-maria a 37ºC por 30
minutos, com homogeneização a cada 10 minutos.
A inativação da colagenase foi realizada com a adição do meio de cultivo DMEM
(Dulbecco’s Modified Eagle’s Medium) + 10% soro bovino
fetal (SBF) na proporção de 1:1, sendo, então, o conteúdo centrifugado a 1600rpm
por 10 minutos. O sobrenadante foi descartado e o sedimento celular
(pellet) foi transferido para um novo tubo e ressuspendido
em 2mL de tampão fosfato salino (PBS- Phosphate Buffered
Saline) para posterior contagem de células em câmara de Neubauer. O
conjunto celular foi dividido em 6 tubos, sendo que em 3 deles foram adicionados
DMSO para concentração final de 10% + 10% de SFB. Nos tubos restantes foram
adicionados L-prolina 1,5M e trealose 0,2M dissolvidos em tampão PBS. As
amostras foram então congeladas a -80ºC (Figura 1).
Figura 1 - Etapas da metodologia para criopreservação dos lipoaspirados
contendo células-tronco mesenquimais derivadas de tecido adiposo
subcutâneo.
Figura 1 - Etapas da metodologia para criopreservação dos lipoaspirados
contendo células-tronco mesenquimais derivadas de tecido adiposo
subcutâneo.
O processo de descongelamento das amostras em banho-maria a 37ºC se deu após 30 e
90 dias. Nas amostras que continham DMSO, foi realizada a remoção através de
diluição e lavagem com tampão PBS. A L-prolina e a trealose não necessitaram
de
remoção. As amostram foram cultivadas em triplicata em placas estéreis de 12
poços na concentração de 106 células por poços. Em cada poço foram
adicionados 2mL de DMEM contendo SBF 10% e penicilina 1% + estreptomicina 1%.
Foi realizada a incubação das amostras em estufa sem CO2 a 37ºC por 24
horas.
A viabilidade celular foi realizada pelo ensaio com brometo de 3-(4,5 -
dimetiltiazol-2il)-2,5 difeniltetrazólio (MTT). O conteúdo contido nos poços
foi
transferido para microtubos de 1,5mL, que foram centrifugados a 3000rpm por 15
minutos. A porção sobrenadante foi descartada e ao sedimento celular foram
adicionados 300uL de PBS + 20uL de MTT e submetidos a incubação novamente a 37ºC
por 1 hora. Posteriormente, as amostras foram centrifugadas com os mesmos
parâmetros da etapa anterior, sendo então descartado 75uL de cada amostra para
depois adicionar esse mesmo volume de DMSO. As amostras foram homogeneizadas
e
transferidas para uma placa de 96 poços para avaliação de absorbância por
espectrofotometria em 560ηm (Figura 2).
Figura 2 - Etapas da metodologia para o descongelamento do material
criopreservado com L-prolina associada a trealose, e avaliação da
viabilidade celular. Etapa realizada aos 30 dias e 90 dias de
criopreservação.
Figura 2 - Etapas da metodologia para o descongelamento do material
criopreservado com L-prolina associada a trealose, e avaliação da
viabilidade celular. Etapa realizada aos 30 dias e 90 dias de
criopreservação.
Os dados gerados de viabilidade celular foram tabulados em planilha
Microsoft® Office Excel, sendo então realizado o teste
ANOVA de duas vias pelo GraphPad Prism 6.0, considerando
significativos os resultados quando p<0,05.
O projeto inicial da pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Unochapecó, sob CAAE 23243519.7.0000.0116, e o parecer número 4.822.999, e pelas
instituições envolvidas.
RESULTADOS
Foram processadas e congeladas amostras de 9 pacientes femininas, autodeclaradas
como da raça branca e que foram submetidas a procedimento de lipoaspiração
ultrassônica assistida de terceira geração (Vaser). Os
lipoaspirados foram criopreservados e analisados em dois momentos, após 30 e
90
dias de congelamento. A média de idade das pacientes doadoras do lipoaspirado
foi de 35,7 anos, enquanto a média do índice de massa corporal (IMC) foi de
25kg/m2.
O principal local de coleta foi na região abdominal e o número da cânula mais
utilizado foi a de tamanho 3,7mm. A avaliação da viabilidade celular, após um
e
três meses de congelamento, indicou que as amostras criopreservadas com
L-prolina + trealose apresentaram viabilidade celular semelhante àquelas que
continham DMSO + SBF (p=0,4442) (Figura 3). Além disso, em relação ao tempo de congelamento, as
amostras que ficaram 90 dias congeladas mantiveram CTDAs viáveis quando
comparadas com as amostras descongeladas no primeiro mês
(p=0,5301). constatando que, além do tipo de criopreservante, o
tempo de congelamento também pareceu não interferir na viabilidade das
células.
Figura 3 - Comparação da viabilidade celular obtida após congelamento com
DMSO/SFB e com L-prolina associada a trealose.
Figura 3 - Comparação da viabilidade celular obtida após congelamento com
DMSO/SFB e com L-prolina associada a trealose.
DISCUSSÃO
Vários fatores podem influenciar na viabilidade das CTDAs, dentre eles:
metodologias de extração e de injeção do lipoaspirado, velocidade de
centrifugação, utilização de soluções anestésicas e/ou salinas, volume de
conteúdo aspirado, local e características biológicas do tecido adiposo da área
doadora, entre outros12,19. Além disso, não há um
consenso quanto à melhor maneira de processar a gordura para posteriormente
utilizar como enxerto11,17.
Características clínicas e fenotípicas das pacientes podem influenciar na
qualidade do material adiposo aspirado. Como no IMC, em que, em pacientes com
valores maiores que 25kg/m2, existe uma relação indireta com a
capacidade de proliferação e diferenciação celular, ou seja, o excesso de peso
da paciente pode contribuir para resultados não satisfatórios na utilização de
CTDAs em cirurgias reparadoras20.
A idade da paciente também é um fator relevante em função das alterações causadas
pelo envelhecimento nas CTDAs. Isso se deve a diversos eventos celulares, como
o
encurtamento dos telômeros e enfraquecimento do sistema de proteção antioxidante
associado ao estresse oxidativo e danos acumulados no sistema de reparo do
DNA21,22.
No presente estudo, esses fatores provavelmente não interferiram na avaliação da
viabilidade celular, pois a média dos valores encontrados para essas duas
variáveis, no grupo das pacientes estudadas, estava dentro da faixa dos
resultados descritos na literatura revisada19-21.
Outro aspecto verificado na literatura que poderia interferir na viabilidade
celular seria o diâmetro da cânula utilizada na tanto na coleta do lipoaspirado
na área doadora como na injeção da fração que contém as CTDAs na área
receptora23. Em artigo
de revisão, foi demostrado que a maioria dos autores usa cânulas que variam de
2mm a 6mm24, mas a viabilidade
celular é maior quando o lipoaspirado for realizado com cânulas com diâmetros
superiores a 3mm25. Esses
resultados podem ser explicados pela obtenção de aspirados com grande quantidade
de células da fração vascular do estroma, em comparação ao uso de cânulas com
diâmetros menores25,26.
A maioria dos autores usam cânulas com diâmetro menor que 2mm para realizar a
injeção da fração intermediária do lipoaspirado, pois diminui a chance de
extravasamento do material, além de minimizar a possibilidade de injeção do
conteúdo em meio intravascular27. No presente estudo, foram utilizadas amostras obtidas com
cânulas de 3mm, 3,7mm, 4mm e 5mm, sendo a de 3,7mm a mais prevalente. Em nenhum
dos procedimentos foi realizada lipoenxertia.
A forma de separação dos componentes do lipoaspirado pode ser via decantação ou
centrifugação. A técnica de centrifugação permite concentrar gordura e aumentar
o número de células por mililitro, ao mesmo tempo em que separa a gordura
liquefeita e os componentes celulares sanguíneos28. Estudos indicam que as CTDAs presentes no
sedimento, obtido após a lavagem do material centrifugado, apresentam maior
viabilidade, uma vez que não estão contaminadas com resíduos de células
sanguíneas, o que é comum em amostras tratadas apenas por decantação, além de
haver maior rompimento das paredes de adipócitos e maior número de
CTDAs12,29,30.
Na publicação em que comparamos diferentes velocidades de centrifugação,
documentamos a metodologia descrita por Coleman (3000rpm durante três minutos)
e
encontramos maior manutenção das características biológicas das CTDAs,
necessárias para a colonização celular nas áreas receptoras de enxerto12,29. Isso porque centrifugar as amostras faz com que as
células de gordura consigam ficar mais concentradas, além de separar das células
sanguíneas30.
Da mesma maneira, no presente estudo as amostras foram centrifugadas visando
separar as frações de tecido em três porções bem definidas: camada inferior de
células sanguíneas, camada intermediária contendo as células estromais e tecido
adiposo, e camada superficial de gordura liquefeita. Com isso, não houve
interferência dos restos celulares sanguíneos e da gordura liquefeita no cultivo
e na criopreservação das CTDAs.
A viabilidade celular após um período de criopreservação também pode variar
dependendo da quantidade de células estocadas em cada microtubo31. Goh et al.16 utilizaram quatro
concentrações celulares e notaram que a concentração de 5x105
células/mL apresentou uma taxa de viabilidade de 81,10%; enquanto na
concentração de 1x106 células/mL a viabilidade foi de 77,9%. Poucos
estudos descritos na literatura documentaram viabilidade de CTDAs tão
significativas como o publicado por De Rosa et al.32, no qual foi descrito índice de 92,5% das
células viáveis; porém, a concentração celular era de 6x103
células/mL.
Para esta pesquisa, a concentração de células utilizadas em cada microtubo foi de
5x105 células/mL, e as taxas de viabilidade, nas células
congeladas tanto com L-prolina e trealose como o controle DMSO, foram próximas
dos 60%. Comparando esses resultados, é possível inferir que uma menor
quantidade de células armazenadas em cada microtubo se relaciona com maior taxa
de viabilidade, provavelmente devido ao espaço mais adequado para manutenção
fisiológica das CTDAs.
Considerando a temperatura utilizada para o congelamento das amostras, mantivemos
as células congeladas a temperatura de -80ºC, através da técnica de resfriamento
rápido, que também foi utilizada por Ray et al.33. Entretanto, atualmente, a temperatura mais
frequentemente descrita para armazenamento celular seria a -196ºC (via
nitrogênio líquido), pois a utilização de freezer -80ºC estaria relacionada a
maior formação de cristais de gelo, o que poderia causar dano ao material
criopreservado. Porém, o uso de nitrogênio líquido é uma técnica que demanda
alto custo de manutenção31,34.
Em relação aos criopreservantes, o DMSO é a substância mais utilizada em diversos
protocolos para preservação celular, pois está relacionado com a manutenção da
viabilidade das CTAS11.
Todavia, é uma substância tóxica causando alterações negativas nos processos
celulares como metabolismo, nas vias do ciclo do ácido cítrico e transporte
respiratório de elétrons, metabolismo da glicose, de lipídios e lipoproteínas.
Também possui relação com mudanças nas vias mitocondriais, produção de espécies
reativas de oxigênio e geração de ATP celular35.
Na presente pesquisa, optou-se por utilizar dois criopreservantes naturais de
custo baixo, e alternativos ao DMSO. A trealose é um dissacarídeo não redutor
constituído de duas unidades de glicose, enquanto a L-prolina é um aminoácido
natural formado por meio de biossíntese a partir do L-glutamato; ambos não
causam toxicidade na célula e são fonte de estudos na busca de um
criopreservante adequado36.
Em estudo realizado com hemácias criopreservadas com diferentes concentrações de
L-prolina e trealose, foi observada manutenção da estrutura celular, além de
não
ter sido alterada a atividade das bombas Na +/ K +-ATPase, cuja função é manter
as concentrações dos íons intracelulares, muito relevante para a transdução de
sinal e o metabolismo celular, além da metilação do DNA não ser
alterada22,37. Além disso, pelo fato de a
L-prolina e a trealose não serem toxicas às células, não há necessidade de
remoção dos crioprotetores, reduzindo a perda celular, como o realizado quando
é
usado o DMSO23.
Segundo estudos de Dovgan et al.38, que utilizaram um protocolo de criopreservação apenas com
trealose (0,25M), houve viabilidade celular comparável do agente não tóxico em
relação ao DMSO; também foi observado que as concentrações de trealose possuem
correlação positiva em relação à viabilidade celular. Em outro estudo, foi
demostrado que as CTDAs provenientes de lipoaspirado, quando criopreservadas
por
6 meses com trealose na concentração de 0,35M, conseguem manter a atividade
biológica, quase em mesmo índice que o tecido fresco39. No presente estudo, a associação de L-prolina
e trealose mostrou índices de vitalidade celular equiparados ao uso de DMSO na
criopreservação de CTDAs.
O tempo de criopreservação celular também vem sendo estudado31,34,40. De Rosa et
al.32 mantiveram as
células congeladas por até 12 meses, utilizando trealose, DMSO e SBF e
encontraram dados significativos de viabilidade celular, com mais de 80% de
células recuperadas. Também, já foi documentado que, ao deixar as células
criopreservadas por 6 meses, o potencial de proliferação e diferenciação celular
foi semelhante ao grupo de células não criopreservadas39,41. No
presente estudo, foi possível demonstrar que amostras de CTDAs congeladas por
90
dias apresentaram viabilidade celular semelhante àquelas congeladas por 30 dias.
Ou seja, a criopreservação por longos períodos pode ser uma metodologia
factível, para uso fracionado de CTDAs em múltiplos tempos cirúrgicos com
utilização de volumes suficientes para correções cirúrgicas, sejam estéticas
ou
de reparação.
CONCLUSÃO
A criopreservação de CTDAs com o uso combinado de L-prolina e trealose resultou
em viabilidade celular equivalente ao uso de DMSO. Além disso, células
congeladas por 90 dias mantiveram taxas de viabilidade semelhantes daquelas
conservadas por um período menor. Considerando os dados encontrados e os
revisados na literatura, o uso da combinação de L-prolina e trealose pode ser
uma opção ao DMSO, evitando toxicidade celular. Essa metodologia pode ser uma
alternativa para evitar múltiplas coletas de lipoaspirado em procedimentos
cirúrgicos que necessitem de várias sessões de lipoenxertia, principalmente na
reconstrução mamária pós-tratamento cirúrgico do câncer de mama.
AGRADECIMENTOS
A todos os colegas pesquisadores do grupo de pesquisa “Biologia Molecular e
Biotecnologia em Saúde” da Universidade Comunitária da Região de Chapecó
(Unochapecó) e ao grupo de pesquisa “Estudos Biológicos e Clínicos em Patologias
Humanas” da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) campus Chapecó-SC. Aos
cirurgiões plásticos Dr. Gustavo Colonheze, Dr. Jorge Diego Valentini, Dr.
Rafael de Almeida Tirapelle e Dra. Tainara Cassol, que gentilmente aceitaram
participar com o contato inicial das pacientes e receber a equipe de
pesquisadores.
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1. Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó,
SC, Brasil
2. Universidade Comunitária da Região de Chapecó,
Chapecó, SC, Brasil
Autor correspondente: Marcelo Moreno Rodovia SC
484, Km 02, Bloco dos professores, Chapecó, SC, Brasil, CEP: 89815-899, E-mail:
marcelo.moreno@uffs.edu.br
Artigo submetido: 15/05/2023.
Artigo aceito: 20/08/2023.
Conflitos de interesse: não há.