INTRODUÇÃO
A reconstrução de um defeito total na columela nasal constitui um desafio para os
cirurgiões, sendo possível realizá-la em um ou vários estágios1,2. Dentre as alternativas para o reparo da columela nasal, podemos optar por retalhos
locais, entre os quais, o nasolabial bilateral3.
A literatura relata inúmeras outras reconstruções: o retalho indiano4, o retalho do músculo frontal em forma de “U”2,5 e o retalho unilateral nasolabial6 para reparação da columela nasal.
Buscando uma opção cirúrgica pós-excisão de extenso tumor (carcinoma basocelular -
CBC) na columela com margens de segurança oncológicas, deparamo-nos com o retalho
nasolabial bilateral3, objeto do presente relato de caso, que se mostrou uma solução pouco agressiva, de
rápida resolução e realizado com anestesia local e sedação.
OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo descrever a reconstrução da columela nasal utilizando
o retalho nasolabial bilateral3 após defeito complexo causado por ressecção de carcinoma basocelular.
RELATO DE CASO
J.A.S., branco, sexo masculino, 50 anos. Apresentou um CBC esclerodermiforme na região
da columela nasal, documentado em biópsia anterior à ressecção cirúrgica.
Posteriormente, houve ressecção tumoral com critérios oncológicos e anestesia com
solução de Klein modificada7 (100ml de solução fisiológica a 0,9%, 20ml de lidocaína a 2% sem vasoconstritor +
1 ampola de adrenalina 1/1000 + 4ml de bicarbonato de sódio a 8,4%) e sedação com
midazolan + fentanil, realizada pelo anestesista.
Após a ressecção tumoral com margens de segurança oncológicas, sucedeu-se um grande
defeito na parte anterior do nariz envolvendo a columela nasal (Figura 1).
Figura 1 - Aspecto da ponta nasal após ressecção de carcinoma basocelular.
Figura 1 - Aspecto da ponta nasal após ressecção de carcinoma basocelular.
Realizou-se a demarcação bilateral dos retalhos nasolabiais, baseada na artéria facial
anterior3. A posteriori, houve a elevação do retalho, transposição e sutura ao novo leito.
A área doadora foi reparada com avançamento de retalhos locais (Figura 2).
Figura 2 - Demarcação cirúrgica para primeiro refinamento.
Figura 2 - Demarcação cirúrgica para primeiro refinamento.
Após 2 meses, procedeu-se o segundo tempo, com refinamento do retalho (Figura 3). Posteriormente, houve nova etapa de refinamento, na qual chegamos ao resultado
final (Figura 4).
Figura 3 - Pós-operatório do refinamento.
Figura 3 - Pós-operatório do refinamento.
Figura 4 - Resultado final.
Figura 4 - Resultado final.
DISCUSSÃO
O carcinoma basocelular é o tumor de pele não melanoma mais frequente no nosso meio,
apresentando vários subtipos, segundo Terzian et al.8: nodular, nódulo ulcerativo, plano cicatricial, esclerodermiforme, terebrante e pigmentado.
Desses subtipos, apresentam maior agressividade o terebrante e o esclerodermiforme,
sendo o último o que apresenta o maior número de recidivas. Atinge principalmente
a face, acometendo predominantemente as áreas de maior exposição solar9.
O tratamento cirúrgico é o preferido quando o tumor apresenta grandes extensões. Nesse
caso, foi preconizada a anestesia local com solução de Klein modificada7 associada a sedação, a qual proporcionou analgesia e vasoconstrição adequada para
a realizarmos a ressecção tumoral com boa visibilidade e a confecção dos retalhos
para a sua reconstrução, evitando assim o uso da anestesia geral, a qual oferece maiores
riscos para o paciente e maior custo para a instituição.
A revisão de literatura nos mostrou inúmeras opções para reconstrução da columela
nasal, desde retalhos da região frontal5 até retalhos da região infraclavicular10. Porém, sendo as mais simples e menos agressivas o retalho nasolabial unilateral6 e o retalho nasolabial bilateral3. Paletta & Van Norman11, em 1962, citaram que, quando um defeito nasal consiste em perda columelar total,
o retalho nasolabial unilateral fornece um excelente meio de reconstrução.
Ingracio et al.1, em 2014, advogaram o uso do retalho nasolabial unilateral para reconstrução da columela
de pedículo superior como sendo a escolha adequada, levando-se em consideração a manutenção
da musculatura orbicular oral.
Entretanto, a opção pelo retalho nasolabial bilateral em relação ao unilateral se
deu pela maior quantidade de tecido para a reparação de um extenso defeito, ao posicionamento
deste para simular a columela e maior versatilidade em cobrir uma grande área a ser
reconstruída3.
Kaplan12, em 1972, relatou este mesmo retalho como uma ilha de pele na região do sulco nasolabial,
baseado na artéria facial com pedículo inferior à altura da asa e dorso nasal. Porém,
recomenda-se a demarcação com um Doppler para rotação deste. Não utilizamos esta opção
devido à execução do mesmo retalho com pedículo superior retirado próximo ao lábio,
buscando maior quantidade de pele e menor risco de cicatrizes hipertróficas.
Lewis13, em 1990, demonstrou que a reconstrução da columela pode ser feita com retalho bilateral
do lábio, utilizando mucosa e músculo da região intraoral do lábio superior. Não utilizamos
esta técnica devido à quantidade insuficiente de tecido que a mesma nos forneceria
para a confecção da reconstrução.
Mendelson et al.10, em 1979, citaram um retalho tubular retirado da região cervical em quatro tempos
para reconstrução desta unidade nasal. Este tipo de reconstrução não foi realizada
devido à necessidade de quatro ou mais tempos cirúrgicos. Além disso, a cicatriz da
área doadora (região infraclavicular) tornase extensa e com grande chance de gerar
uma cicatriz hipertrófica.
Outros retalhos para reconstrução columelar não foram preconizados (Orticochea14 e Millard5), devido à necessidade de vários tempos cirúrgicos e, às vezes, ocasionar oclusão
parcial de um dos olhos.
CONCLUSÃO
O retalho nasolabial bilateral, utilizado para a reconstrução da columela, mostrou-se
viável, de fácil execução e com boa perfusão. Ademais, possibilitou um resultado satisfatório
no aspecto columelar e incisões praticamente imperceptíveis na área doadora. No entanto,
apresentou a desvantagem de necessitar de dois refinamentos cirúrgicos para apresentar
um resultado estético satisfatório.
REFERÊNCIAS
1. Ingracio AR, Carvalho MS, Barazzetti DO, Pavan G, Martinelli A. Reconstrução parcial
de nariz baseada em retalho nasogeniano após ressecção de carcinoma espinocelular
envolvendo septo nasal, columela e lábio superior. Rev Bras Cir Plást. 2014;29(3):312-5.
2. Gillies H. The columella. Br J Plast Surg. 1949;2(3):192-201.
3. Yanai A, Nagata S, Tanaka H. Reconstruction of the columella with bilateral nasolabial
flaps. Plast Reconstr Surg. 1986;77(1):129-32.
4. Oliveira Junior FC, Figueiredo J, Piva A. Técnicas de reconstrução cutânea aplicadas
às subunidades estéticas nasais. Rev Bras Cir Craniomaxilofac. 2009;12(3):105-8.
5. Millard DR Jr. Columella lengthening by a forked flap. Plast Reconstr Surg Transplant
Bull. 1958;22(5):454-7.
6. Nicolai J P. Reconstruction of the columella with nasolabial flaps. Head Neck Surg.
1982;4(5):374-9.
7. Klein JA. Tumescent Technique. Philadelphia: Mosby; 2000. 470 p.
8. Terzian LR, Nogueira VMA, Paschoal FM, Barros JC, Machado Filho CDAS. Mohs Micrographic
Surgery for tissue preservation in facial oncologic surgery. Surg Cosmet Dermatol.
2010;2(4):257-63.
9. Nigro MHMF, Brandão LSG, Coelho APCP, Motta LM, Bastazini Júnior I. Estudo epidemiológico
do carcinoma basocelular no período de 2010 a 2013 em um hospital de referência em
dermatologia na cidade de Bauru, São Paulo. Surg Cosmet Dermatol. 2015;7(3):232-5.
10. Mendelson BC, Masson JK, Arnold PG, Erich JB. Flaps used for nasal reconstruction:
a perspective based on 180 cases. Mayo Clin Proc. 1979;54(2):91-6.
11. Paletta FX, Van Norman RT. Total reconstruction of the columella. Plast Reconstr Surg
Transplant Bull. 1962;30:322-8.
12. Kaplan I. Reconstruction of the columella. Br J Plast Surg. 1972;25(1):37-8.
13. Lewis JR Jr. Labial mucosal flaps for reconstruction of the columella. In: Strauch
B, Vasconez LO, Hall-Findlay EH. Grabb’s Encyclopedia of Flaps. Volume 1. Boston:
Little, Brown and Company; 1990.
14. Orticochea M. A new method for total reconstruction of the nose: the ears as donor
areas. Br J Plast Surg. 1971;24(3):225-32.
1. Hospital de Câncer de Campo Grande Alfredo Abrão, Campo Grande, MS, Brasil.
2. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, Brasil.
3. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, Brasil.
Autor correspondente: Marcelo Rosseto Rua Raul Pires Barbosa, 1477, Chácara Cachoeira, Campo Grande, MS, Brasil CEP: 79040-150
E-mail: marcelorosseto@yahoo.com.br
Artigo submetido: 14/07/2022.
Artigo aceito: 16/11/2022.
Conflitos de interesse: não há.