INTRODUÇÃO
Obesidade é definida como um acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal que
é capaz de afetar a saúde1. Atualmente, cerca de um terço da população mundial é obesa ou está com sobrepeso2. No Brasil, 18,9% dos brasileiros são obesos e mais da metade da população está com
excesso de peso3.
A elevada taxa de prevalência da obesidade faz com que o Brasil seja o segundo país
no qual mais se realiza a cirurgia bariátrica e metabólica, tratamento mais efetivo
para a doença, que aumentou 46,7% entre 2012 e 2017, sendo 76% no sexo feminino4. O sucesso cirúrgico é considerado quando há perdas maiores de 20% do peso corporal
total em 6 meses5, porém a perda do excesso de peso em 5 anos pode variar entre 59,1% e 69,3% quando
submetidos a gastrectomia em manga via laparoscópica e bypass gástrico em Y-de-Roux, respectivamente6.
Após uma significativa perda de peso, a flacidez cutânea associada à ptose de diversos
compartimentos anatômicos são consequências diretas7 e cerca de metade dos pacientes sentem-se insatisfeitos com esse resultado8. A cirurgia plástica os recebe, após a estabilização do peso, e realiza dermolipectomia
abdominal, mamoplastia, braquioplastia, cruroplastia, entre outras9. Tais procedimentos são desejados por 65% dos pacientes do sexo masculino e 85% do
sexo feminino10, principalmente na região abdominal11.
Toda cirurgia está sujeita a complicações, sejam elas as maiores como hemorragia,
trombose venosa profunda (TVP) e tromboembolismo pulmonar (TEP); ou menores como hematoma,
deiscência cirúrgica, seroma e infecção de ferida operatória12. A avaliação pré-operatória e os cuidados pós-operatórios são relevantes para evitá-las
e obter melhor resultado funcional e estético para o paciente13, principalmente nos pós-bariátricos, os quais apresentam risco de complicações significativamente
maiores (48%) quando comparados aos não submetidos a cirurgia para redução de peso
(29%)14. Contudo, mesmo com todos os cuidados, 68% dos casos apresentam seroma, deiscência
ou hematoma, e ainda 32% podem apresentar abscesso, infecção de seroma, cicatrização
patológica, TVP e TEP15. Seroma é a complicação menor mais frequente16.
Os curativos pós- operatórios são fundamentais para a diminuição de complicações menores
e são divididos em basicamente dois tipos: os comuns, que incluem micropore, bandagem,
fitas adesivas, e os curativos modernos como a terapia de pressão negativa17. Essa última é uma modalidade que ganha espaço na prática cirúrgica como um método
de intervenção para a melhora do processo cicatricial, em incisões fechadas de risco,
por manter os bordos da ferida juntos, estimulando a perfusão sanguínea e diminuindo
a tensão e o edema, além de proteger a ferida contra infecções18.
A literatura internacional atual reconhece os diversos benefícios do uso da terapia
de pressão negativa em incisões cirúrgicas fechadas, identificando o seu valor no
tratamento19,20,21,22,23. Em nosso meio, entretanto, há uma notável escassez de estudos sobre o assunto; isto
posto, a verificação do impacto do uso da terapia de pressão negativa nas incisões
cirúrgicas fechadas de dermolipectomia em pacientes pós-bariátricos torna-se de grande
valor a ser estudada.
OBJETIVO
Analisar a presença de complicações em pacientes submetidos a cirurgia de dermolipectomia
pós-bariátrica com curativo de pressão negativa em incisões cirúrgicas fechadas.
MÉTODO
Estudo observacional, descritivo, realizado no período de agosto a novembro de 2019
com coleta através do prontuário físico de uma clínica em Florianópolis, Santa Catarina,
Brasil. Vinte pacientes submetidos a cirurgia de dermolipectomia pós-bariátrica compuseram
a população do estudo. A amostra é não probabilística por conveniência. Foram incluídos
dados clínicos e cirúrgicos dos pacientes que realizaram o procedimento com curativo
de pressão negativa, dentre eles: sexo, idade, tipo de cirurgia bariátrica, índice
de massa corporal (IMC) pré-cirurgia bariátrica, perda de peso total, tempo desde
a cirurgia bariátrica, IMC pré-cirurgia de dermolipectomia abdominal, tabagismo, tipo
de incisão abdominal, tecido removido, tempo de internação e complicações.
Os dados foram tabulados no software Windows Excel e após analisados por meio do programa
Statistical Package for the Social Sciences 18.0. As variáveis qualitativas foram apresentadas em frequência simples e relativas e
as quantitativas através de média, desvio padrão e amplitude. O estudo foi submetido
e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unisul, sob o CAAE 16295519.0.0000.5369.
Técnica cirúrgica
A cirurgia de dermolipectomia com ampla retirada tecidual sem procedimentos adicionais,
como lipoaspiração, foi o procedimento cirúrgico ao qual todos os pacientes foram
submetidos. O tecido retirado cirurgicamente foi pesado e registrado em prontuário.
O fechamento da ferida operatória foi realizado em todos os pacientes adequadamente
para evitar formação de espaço morto e, após isso, a terapia de pressão negativa foi
estabelecida de forma contínua a 125mmHg. O procedimento nesse estudo pode ser observado
nas figuras a seguir (Figuras 1A, 1B, 1C, 2A, 2B e 2C).
Figura 1 - A. Pré-operatório de cirurgia plástica de dermolipectomia pósbariátrica (perfil direito);
B. Pré-operatório de cirurgia plástica de dermolipectomia pósbariátrica (frente); C. Pré-operatório de cirurgia plástica de dermolipectomia pósbariátrica (perfil esquerdo).
Figura 1 - A. Pré-operatório de cirurgia plástica de dermolipectomia pósbariátrica (perfil direito);
B. Pré-operatório de cirurgia plástica de dermolipectomia pósbariátrica (frente); C. Pré-operatório de cirurgia plástica de dermolipectomia pósbariátrica (perfil esquerdo).
Figura 2 - A. Pós-operatório imediato; B. Peça cirúrgica retirada no transoperatório de cirurgia de dermolipectomia pós- bariátrica
pela técnica da âncora; C. Instalação da terapia de pressão negativa e dreno tipo Portovac.
Figura 2 - A. Pós-operatório imediato; B. Peça cirúrgica retirada no transoperatório de cirurgia de dermolipectomia pós- bariátrica
pela técnica da âncora; C. Instalação da terapia de pressão negativa e dreno tipo Portovac.
Como rotina, o dreno de sucção contínua, tipo Portovac, foi utilizado no espaço suprafascial.
Todos os participantes utilizaram a terapia de pressão negativa por 7 dias e depois
migraram para curativo simples com micropore até a retirada total dos pontos cirúrgicos
no 14º dia.
Pacientes tiveram consulta de retorno no sétimo, décimo quarto e trigésimo dias pós-
operatório para avaliação clínica da incisão cirúrgica, com seus resultados anotados
em prontuário físico.
RESULTADOS
Vinte pacientes foram submetidos a terapia de pressão negativa em incisão cirúrgica
fechada de dermolipectomia pós-bariátrica. As características clínicas e cirúrgicas
identificadas em cada pacientes estão descritas na Tabela 1. 80% dos participantes eram do sexo feminino (n=16) e a idade média de 39,55 anos
(±9,08), com a faixa etária entre 29 e 59 anos.
Tabela 1 - Características clínicas e cirúrgicas e desfecho de cada paciente.
#Caso
Sexo
Idade
(anos)
|
Tipo de cirurgia bariátrica (IMC pré-OP)
Perda de peso total (%)
Tempo desde a cirurgia (meses)
IMC pré-dermolipectomia (kg/m2)
Tabagismo
|
Tipo de incisão
Tecido removido (gramas)
Tecido removido (%)
Tempo de internação (horas)
|
Complicações |
#1
♀
33 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (40,27 kg/m2)
46,72%
48 meses
26,34 kg/m2
|
Em âncora
900,00g
2,71%
24 horas
|
- |
#2
♀
45 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (45,72 kg/m2)
41,66%
36 meses
26,67 kg/m2
|
Em âncora
2100,00g
3%
72 horas
|
- |
#3
♀
36 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (39,54 kg/m2)
34,18%
60 meses
25,68 kg/m2
|
Clássica
1900,00g
2,50%
36 horas
|
- |
#4
♀
37 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (49,47 kg/m2)
42,10%
26 meses
30,04 kg/m2
|
Em âncora
2000,00g
2,66%
72 horas
|
- |
#5
♀
59 anos
|
Gastrectomia em manga (32,84 kg/m2)
14,63%
36 meses
28,04 kg/m2 Tabagista
|
Em âncora
2000,00g
2,85%
72 horas
|
- |
#6
♀
31 anos
|
Gastrectomia em manga (53,23 kg/m2)
43,47%
78 meses
30,47 kg/m2
|
Em âncora
2000,00g
2,53%
72 horas
|
- |
#7
♀
34 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (36,57 kg/m2)
31,37%
17 meses
26,89 kg/m2
|
Em âncora
2900,00g
3,86%
24 horas
|
- |
#8
♂
31 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (53,62 kg/m2)
47,48%
15 meses
24,3 kg/m2
|
Clássica 600,00g
0,95%
24 horas
|
Hematoma |
#9
♀
32 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (48,47 kg/m2)
44,64%
26 meses
28,99 kg/m2
|
Em âncora 3600,00g
5,37%
24 horas
|
- |
#10
♀
29 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (40,27 kg/m2)
38,31%
14 meses
24,84 kg/m2 Tabagista
|
Em âncora 2000,00g
3,03%
24 horas
|
Deiscência |
#11
♀
57 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (40,26 kg/m2)
43,87%
22 meses
22,6 kg/m2
|
Em âncora 1800,00g
3,27%
24 horas
|
- |
#12
♀
38 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (48 kg/m2)
42,59%
30 meses
26,22 kg/m2
|
Clássica 1200,00g
2,03%
24 horas
|
- |
#13
♀
31 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (39,51 kg/m2)
47,61%
36 meses
22,58 kg/m2 Tabagista
|
Em âncora
3000,00g
5,00%
24 horas
|
- |
#14
♀
51 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (47,25 kg/m2) 45,21%
32 meses
25,88 kg/m2
|
Em âncora 1000,00g
1,58%
48 horas
|
- |
#15
♀
36 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (40,61 kg/m2) 37,93%
16 meses
25,9 kg/m2
|
Clássica 1500,00g
2,02%
24 horas
|
- |
#16
♂
40 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (45,63 kg/m2) 29,62%
48 meses
30,42 kg/m2
|
Em âncora 2500,00g
2,77%
48 horas
|
- |
#17
♂
34 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (41,09 kg/m2) 24,39%
17 meses
29,4 kg/m2
|
Clássica 2200,00g
2,50%
48 horas
|
- |
#18
♂
46 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (45,16 kg/m2) 43,33%
8 meses
25,21 kg/m2
|
Em âncora 1800,00g
2,68%
24 horas
|
- |
#19
♀
39 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (46,84 kg/m2)
49,12%
60 meses
24,65 kg/m2
|
Clássica
1800,00g
3,00%
48 horas
|
- |
#20
♀
52 anos
|
Bypass gástrico em Y-de-Roux (41,62 kg/m2)
40%
24 meses
26,22 kg/m2
|
Em âncora 1000,00g
1,58%
48 horas
|
Seroma |
Tabela 1 - Características clínicas e cirúrgicas e desfecho de cada paciente.
O bypass gástrico em Y-de-Roux foi a técnica de cirurgia bariátrica e metabólica mais prevalente
em 90% (n=18), com IMC pré-cirúrgico médio de 43,85 kg/m2 (±5,31) e perda de peso média de 39,41% (±8,72). O tempo médio para realização da
cirurgia de dermolipectomia pós-bariátrica foi de 32,45 meses (±18,31). Demonstrou-se
um IMC pré-dermolipectomia de 26,55 kg/m2 (±2,18) com o valor mínimo e máximo de 23 e 30 kg/m2, respectivamente. O tabagismo estava ausente em 85% (n=17).
A incisão em âncora foi a de escolha em 70% (n=14) dos procedimentos. Teve-se a ressecção
tecidual média de 1940 gramas (±710,37), sendo que correspondeu a uma excisão média
de 2,75% (±1,04) em relação ao peso antes da dermolipectomia. O tempo de internação
pós-dermolipectomia foi de 40,20 horas (±19,18), equivalente a 1,66 diárias.
Apenas 15% (n=3) dos pacientes apresentaram complicações, sendo elas a deiscência,
seroma e hematoma, as quais ocorreram na mesma proporção. Não se identificou caso
de necrose de qualquer extensão (Tabela 2).
Tabela 2 - Complicações relacionadas com o uso de terapia de pressão negativa em incisões cirúrgicas
fechadas dos pacientes submetidos a cirurgia de dermolipectomia pós-bariátrica (n=20).
Desfechos |
n |
(%) |
Complicações Totais |
3 |
15 |
Deiscência |
1 |
5 |
Seroma |
1 |
5 |
Hematoma |
1 |
5 |
Necrose |
- |
- |
Tabela 2 - Complicações relacionadas com o uso de terapia de pressão negativa em incisões cirúrgicas
fechadas dos pacientes submetidos a cirurgia de dermolipectomia pós-bariátrica (n=20).
DISCUSSÃO
Sabe-se de que a maciça perda de peso, como a que ocorre em pacientes submetidos a
cirurgia metabólica e bariátrica, está diretamente relacionada a deformidades estéticas
que por muitas vezes fazem com que o indivíduo não tenha uma boa percepção sobre si8. A cirurgia plástica reparadora de contorno corporal, a dermolipectomia, torna-se
relevante para a melhora da aceitação da autoimagem9. No entanto, pacientes pós-bariátricos apresentam índices mais elevados de complicações
cirúrgicas quando comparados àqueles que não realizaram a cirurgia da redução de peso14.
É indiscutível que a maior procura para cirurgia de dermolipectomia abdominal pós-bariátrica
seja do sexo feminino. No presente estudo 80% corresponderam a esse grupo, indo ao
encontro de diversos trabalhos publicados tanto em meio nacional quanto internacional16,24,25,26,27. A idade média foi de 39,50 anos, similar à encontrada na literatura24,26,27, porém com discrepância de 4 anos comparado a um estudo colombiano de García Botero
et al.25.
Merece destaque a técnica cirúrgica do bypass gástrico em Y-de-Roux como método cirúrgico para redução de peso em 90% dos pacientes
analisados. O IMC pré-cirúrgico variou, de acordo com a indicação formal da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM)4, entre 33 e 54 kg/m2, com valor médio de 43,85 kg/m2, o qual corresponde também ao valor encontrado nos estudos de Donnabella et al.24 e Staalesen et al.14.
A perda ponderal média pós-bariátrica foi de 39,41% do peso corporal total, o que
significa que tais pacientes atingiram a meta de eficácia proposta pela SBCBM com
o procedimento5. Isso exibe o quão considerável é a redução do peso, ao ponto que o cirurgião responsável
preveja a provável necessidade de uma cirurgia reparadora pós-bariátrica como método
para melhora da qualidade de vida do seu paciente. Reitera-se que a indicação não
é somente estética, mas também como método higiênico-profilático, pois há riscos de
formação de eczemas pelo acúmulo de suor e odor fétido, além de proliferações de fungos
e bactérias em regiões com maior ptose de pele9.
O tempo médio entre a realização da cirurgia bariátrica e a de dermolipectomia abdominal
foi de 32,45 meses, valor mais baixo do que o encontrado na literatura, visto que
estudo de Donnabella et al.24 demonstrou 47 meses. Ressalta-se que o procedimento está indicado a partir do momento
em que há uma estabilidade da perda de peso, não existindo um limite mínimo ideal,
porém já se tornou rotina indicar a partir de 6 meses9.
Nesse estudo, o IMC pré-dermolipectomia médio foi de 26,55 kg/m2, três pacientes estavam no grupo de obesidade grau I (30,42; 30,47 e 30,04 kg/ m2), enquanto os remanescentes eram eutróficos ou com sobrepeso, o que está de acordo
com diversos artigos publicados14,24,25,27. Imprescindível destacar que a cirurgia de dermolipectomia pós-bariátrica não tem
como função principal a perda de peso, por isso, o cirurgião plástico deve considerar
para aqueles que já estejam com IMC abaixo de 30 kg/m2 ou com indicações específicas para aqueles acima de 30 kg/m2
9.
O tabagismo esteve presente em somente 15% (n=3) dos participantes deste estudo, sendo
que apenas um deles apresentou deiscência parcial da incisão cirúrgica, mesmo com
o uso da terapia de pressão negativa. Já é estabelecido tanto na literatura quanto
na prática clínica que a nicotina, produto presente no cigarro, dificulta o processo
cicatricial, uma vez que as fibras de colágeno tornam-se desorganizadas e a deficiência
do tecido de granulação impede a adequada proliferação celular para o devido fechamento
ferida operatória28, por isso, caso o paciente seja tabagista ativo, solicita-se a cessação prévia ao
ato cirúrgico de um mês.
A escolha do tipo de incisão cirúrgica de dermolipectomia depende de um conjunto de
fatores clínicos e cirúrgicos. Nesse trabalho houve predomínio da incisão em âncora
proposta a 70% dos pacientes, convergindo ao estudo de Donnabella et al.24, porém divergindo do artigo de Rosa et al.27, no qual foi apenas indicada a 19,42%. Tal diferença pode ser atribuída às características
específicas dos pacientes envolvidos nesse estudo, por exemplo: tempo pós-cirurgia
bariátrica, flacidez cutânea e perda de peso total. A ressecção tecidual média foi
de 1940 gramas, com excisão média de 2,75% em relação ao peso corporal total, confirmando
dados obtidos na literatura14,26. Reitera-se que a cirurgia pós-bariátrica tem como objetivo maior a correção da flacidez
e não a redução do peso.
Nesse estudo, os pacientes que tiveram a instalação da terapia de pressão negativa
na incisão cirúrgica de dermolipectomia pós-bariátrica apresentaram um tempo de internação
médio de 40,2 horas, equivalente a somente 1,66 diárias, enquanto em diversos estudos,
que não tiveram o uso da terapia de pressão negativa como intervenção, a permanência
hospitalar variou entre 2 e 5 dias16,27. Essa redução pode ser associada à imobilização da ferida operatória que é mantida
pelo curativo; o resultado disso propicia menor do estímulo álgico local, maior conforto
e retorno precoce do paciente as suas atividades diárias.
São diversos os fatores de risco para complicações em pacientes que apresentaram uma
expressiva perda de peso devido à cirurgia bariátrica quando comparados àqueles que
tiveram a perda de peso através de dieta e atividade física, 48% vs. 29%14. No estudo de coorte de García Botero et al.25 a taxa de complicações menores em cirurgia de dermolipectomia abdominal ampla foi
de 53,7%, sendo as principais seroma e deiscência. Esses dados persistem elevados
na literatura, seguindo o padrão de taxas maiores que 20%14,16,26,27.
Somente 15% dos participantes desse estudo apresentaram complicações menores, em proporções
iguais, tratando-se de deiscência, seroma e hematoma. Não foi constatado nenhum caso
de necrose de qualquer extensão em todos os pacientes que realizaram o procedimento
de dermolipectomia abdominal pós-bariátrica com o uso de terapia de pressão negativa.
Esses resultados parecem indicar que a pressão negativa pode contribuir para a melhora
do processo cicatricial pela estabilização dos bordos da ferida junto da linha de
sutura, aumento da perfusão sanguínea local e diminuição da tensão e do edema18.
CONCLUSÃO
O presente estudo não está isento de limitações quanto ao seu desenho, população e
tamanho amostral. No entanto, com a escassez de trabalhos nacionais demonstrando relação
causal entre o uso ou não da terapia de pressão negativa em incisão cirúrgica de dermolipectomia
abdominal pós-bariátrica e suas complicações, demonstra a sua importância.
O uso da terapia de pressão negativa em incisões cirúrgicas fechadas de dermolipectomia
abdominal pós-bariátrica parece indicar que contribua para redução das complicações
pós-operatórias, sugerindo diminuição importante nas complicações associadas a esse
procedimento. Novos estudos são necessários para confirmação desse desfecho.
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e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas
nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2017. Brasília: Ministério
da Saúde; 2018.
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bariátricas no Brasil aumenta em 46,7% [acesso 2020 Abr 22]. Disponível em: https://www.sbcbm.org.br/numero-de-cirurgias-bariatricas-no-brasil-aumenta-467/
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custear cirurgias reparadoras após bariátrica [acesso 2020 Abr 22]. Disponível em:
https://www.sbcbm.org.br/planos-de-saude-devem-custear-cirurgias-reparadoras-apos-bariatrica/
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1. Universidade do Sul de Santa Catarina Campus Pedra Branca, Curso de Medicina, Palhoça,
Santa Catarina, Brasil
Autor correspondente: Lara Gomes Faistel Rua José Durieux, 90, casa 2, Florianópolis, SC, Brasil. CEP: 88037-406 E-mail: lgfaistel@gmail.com
Artigo submetido: 20/07/2020.
Artigo aceito: 13/09/2022.
Conflitos de interesse: não há.