INTRODUÇÃO
A pandemia da COVID-19, doença respiratória potencialmente grave, é considerada uma
das maiores crises sanitárias e econômicas da história. Desde o seu surgimento e disseminação,
os impactos gerados pela doença sobre os sistemas de saúde se alastraram em ritmo
avassalador, alcançando todas as regiões do planeta1-3.
No momento da redação deste artigo, o Brasil se aproximava das 370 mil mortes pela
doença, com estimativas de 14 milhões de pessoas infectadas, dados estes ainda subestimados
devido à baixa taxa de testagem populacional e subnotificação.
A pandemia tem causado enormes desafios para as organizações e profissionais de saúde
ao redor do mundo. A adoção de protocolos de segurança, treinamento de equipes, uso
de equipamentos de proteção individual e aumento de leitos de Unidade de Terapia Intensiva
(UTI) se tornaram práticas indispensáveis em todos os países4. A questão econômica dentro dos sistemas de saúde também se tornou fator de preocupação
para gestores e profissionais da área, dado que o impacto sobre a suspensão de atendimentos
também vem corroborando para a redução da receita dentro do setor5,6.
Nos Estados Unidos da América (EUA), as cirurgias eletivas correspondem a uma fatia
expressiva do faturamento de hospitais e clínicas particulares e o sistema de saúde
americano representa aproximadamente 18% do Produto Interno Bruto (PIB) do país em
receita. Os impactos econômicos projetados nos EUA apontam que a suspensão dessas
cirurgias pode levar à falência dezenas de serviços de saúde privados, com queda de
arrecadação federal anual estimada em 12,5%7.
Segundo a International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS), O Brasil é o país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo, responsável
por quase 1,5 milhões de procedimentos apenas em 20188. A suspensão de consultas e cirurgias eletivas se tornou a principal recomendação
de prevenção da COVID-19 entre os cirurgiões plásticos brasileiros, com objetivo de
proteger a população que assistem. Dentro deste contexto, este estudo busca compreender
a dimensão do prejuízo econômico causado pela primeira onda da pandemia sobre os cirurgiões
plásticos atuantes no Brasil, correlacionando ainda dados sobre a saúde física e mental
destes profissionais.
OBJETIVO
Avaliar os efeitos socioeconômicos da pandemia da COVID-19 entre cirurgiões plásticos
brasileiros nos diversos contextos e regiões do país, por meio da aplicação de um
questionário on-line dirigido.
MÉTODOS
Um questionário estruturado, de múltipla-escolha e on-line, criado pelos autores, foi direcionado a todos os cirurgiões plásticos associados
a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). O questionário foi desenvolvido
na plataforma “Google Docs”, composto por 31 perguntas, divididas em cinco blocos
(Tabela 1) e endereçado de forma direta aos profissionais, por meio de redes sociais e endereços
de e-mail cadastrados, com apoio da SBCP na divulgação da pesquisa aos médicos associados.
Tabela 1 - Legenda das questões incluídas no questionário, agrupadas em cinco blocos: demográfico;
emocional; contaminação; mudanças; prevenção.
Bloco |
Demográfico |
N |
% |
p-valor |
P03 |
Qual é a sua idade? <30 anos
|
2 |
0,7 |
<0,001 |
|
30 - 35 anos |
25 |
9,3 |
0,002 |
|
36 - 40 anos |
48 |
17,9 |
0,823 |
|
41 - 45 anos |
50 |
18,7 |
Ref. |
|
46 - 50 anos |
37 |
13,8 |
0,128 |
|
51 - 55 anos |
30 |
11,2 |
0,015 |
|
56 - 60 anos |
22 |
8,2 |
<0,001 |
|
61 - 65 anos |
33 |
12,3 |
0,042 |
|
66 - 70 anos |
14 |
5,2 |
<0,001 |
|
> 70 anos |
7 |
2,6 |
<0,001 |
P04 |
Qual seu sexo? Feminino
|
130 |
20,1 |
|
|
Masculino |
515 |
79,9 |
<0,001 |
P05 |
Há quanto tempo trabalha como Cirurgião Plástico? <5 anos
|
110 |
17 |
<0,001 |
|
5-10 anos |
109 |
16,9 |
<0,001 |
|
10-20 anos |
185 |
28,7 |
<0,001 |
|
>20 anos |
241 |
37,4 |
<0,001 |
P06 |
Atualmente, atua em qual estado do Brasil? |
|
|
|
|
Centro-Oeste |
81 |
12,5 |
<0,001 |
|
Nordeste |
82 |
12,7 |
<0,001 |
|
Norte |
16 |
2,5 |
<0,001 |
|
Sudeste |
341 |
52,9 |
Ref. |
|
Sul |
125 |
19,4 |
<0,001 |
P07 |
Em qual setor você trabalha? Ambos os serviços
|
251 |
38,9 |
<0,001 |
|
Serviço particular |
388 |
60,2 |
Ref. |
|
Serviço Público |
6 |
0,9 |
<0,001 |
Bloco |
Emocional |
N |
% |
p-valor |
P28 |
Você fez uso de alguma medicação psiquiátrica durante a pandemia que não utilizava
previamente?
|
|
|
|
|
Não |
597 |
92,5 |
<0,001 |
|
Sim |
48 |
7,4 |
P29 |
Você se sentiu sobrecarregado mentalmente em algum momento esse ano devido a pandemia
COVID-19? Não
|
194 |
30,1 |
<0,001 |
|
Sim |
451 |
69,9 |
|
P30 |
Você iniciou alguma rotina de exercícios/esportes/hábitos saudáveis que não realizava
previamente à pandemia?
|
|
|
|
|
Não |
430 |
66,7 |
<0,001 |
|
Sim |
215 |
33,3 |
P31 |
Você SUSPENDEU alguma rotina de exercícios/esportes/hábitos saudáveis que realizava
previamente à pandemia?
|
|
|
|
|
Não |
252 |
39,1 |
<0,001 |
|
Sim |
393 |
60,9 |
Bloco |
Contaminação |
N |
% |
p-valor |
P10 |
Algum dos serviços em que você atua como cirurgião plástico atende pacientes COVID-19
+?
|
|
|
|
|
Não |
239 |
37,1 |
|
|
Sim |
406 |
62,9 |
<0,001 |
Bloco |
Contaminação |
N |
% |
p-valor |
P11 |
Você atua diretamente com pacientes COVID19+? Não
|
479 |
74,2 |
<0,001 |
|
Sim. Abordagem de lesões por pressão. |
51 |
7,9 |
<0,001 |
|
Sim. Cirurgias de urgência em pacientes sem diagnóstico confirmado. |
31 |
4,8 |
<0,001 |
|
Sim. Cirurgias oncológicas. |
56 |
8,7 |
<0,001 |
|
Sim. Cuidados em UTI, SAMU e hospitais de campanha. |
28 |
4,4 |
<0,001 |
P19 |
Você foi acometido pela COVID 19? |
|
|
|
|
Não. |
590 |
91,5 |
Ref. |
|
Sim. Forma assintomática (apenas exames positivos). |
19 |
2,9 |
<0,001 |
|
Sim. Forma sintomática branda (tratamento domiciliar). |
36 |
5,6 |
<0,001 |
P20 |
Você já retornou às suas atividades eletivas no consultório? |
|
|
|
|
Não retornei às atividades. |
99 |
15,3 |
<0,001 |
|
Nunca parei. |
51 |
7,8 |
<0,001 |
|
Sim. Já retornei. |
495 |
76,8 |
Ref. |
P21 |
Se já retornou, quantos dias ficou parado? |
|
|
|
|
Ainda não retornei às atividades. |
77 |
11,8 |
<0,001 |
|
Até 7 dias. |
45 |
7,0 |
<0,001 |
|
7-14 dias. |
45 |
7,0 |
<0,001 |
|
14-21dias. |
54 |
8,4 |
<0,001 |
|
21-30 dias. |
65 |
10,1 |
<0,001 |
|
>30 dias. |
359 |
55,7 |
Ref. |
Bloco |
Mudanças |
N |
% |
p-valor |
P12 |
A pandemia COVID-19 reduziu seu volume de trabalho (dentro do campo da Cirurgia Plástica)?
|
|
|
|
|
Não. Houve aumento do volume de trabalho. |
3 |
0,5 |
<0,001 |
|
Não. O volume se manteve constante. |
8 |
1,2 |
<0,001 |
|
Sim, mas apenas no serviço particular. |
46 |
7,1 |
<0,001 |
|
Sim, mas apenas no serviço público. |
5 |
0,8 |
<0,001 |
|
Sim. Houve redução do volume de trabalho. |
583 |
90,4 |
Ref. |
P13 |
Houve restrição institucional de cirurgias plásticas ELETIVAS no seu serviço? |
|
|
|
|
Não. |
42 |
6,5 |
<0,001 |
|
Sim, mas apenas no serviço particular. |
33 |
5,1 |
<0,001 |
|
Sim, mas apenas no serviço público. |
17 |
2,6 |
<0,001 |
|
Sim. |
553 |
85,7 |
Ref. |
P14 |
Houve restrição institucional de cirurgias plásticas de URGÊNCIA no seu serviço? |
|
|
|
|
Não. |
451 |
69,8 |
Ref. |
|
Sim, mas apenas no serviço particular. |
29 |
4,5 |
<0,001 |
|
Sim, mas apenas no serviço público. |
28 |
4,4 |
<0,001 |
|
Sim. |
137 |
21,2 |
<0,001 |
P15 |
Em relação aos meses de Março-Abril/2019, qual foi o percentual de REDUÇÃO de cirurgias
eletivas observado na SUA prática para esse mesmo período em 2020?
|
|
|
|
|
Houve aumento dos procedimentos cirúrgicos eletivos. |
10 |
1,6 |
<0,001 |
|
Não realizo procedimentos cirúrgicos eletivos |
3 |
0,5 |
<0,001 |
|
<30% |
14 |
2,1 |
<0,001 |
|
30-60% |
64 |
9,9 |
<0,001 |
|
60-90% |
237 |
36,7 |
<0,001 |
|
>90% |
317 |
49,1 |
<0,001 |
Bloco |
Mudanças |
N |
% |
p-valor |
P16 |
Em relação aos meses de Março-Abril/2019, qual foi o percentual de REDUÇÃO de procedimentos
NÃO CIRÚRGICOS (botox/preenchimentos/etc) observado na SUA prática para esse mesmo
período em 2020?
|
|
|
|
|
Houve aumento do número de procedimentos não cirúrgicos |
17 |
2,6 |
<0,001 |
|
Não realizo procedimentos não cirúrgicos |
81 |
12,5 |
<0,001 |
|
<30% |
18 |
2,9 |
<0,001 |
|
30-60% |
80 |
12,4 |
<0,001 |
|
60-90% |
171 |
26,5 |
<0,001 |
|
>90% |
278 |
43,2 |
<0,001 |
P17 |
Os seus custos operacionais (aluguéis/ consultório/secretária/fornecedores) se mantiveram
constantes durante a pandemia?
|
|
|
|
|
Não. Aumentaram. |
8 |
1,2 |
<0,001 |
|
Não. Foram reduzidos. |
177 |
27,4 |
<0,001 |
|
Sim. Se mantiveram iguais. |
460 |
71,3 |
Ref. |
P18 |
Qual foi, em média, a REDUÇÃO percentual da sua receita devido à pandemia? |
|
|
|
|
<30% |
35 |
5,4 |
<0,001 |
|
30-60% |
159 |
24,6 |
<0,001 |
|
60-90% |
279 |
43,3 |
<0,001 |
|
>90% |
172 |
26,6 |
<0,001 |
Bloco |
Prevenção |
N |
% |
p-valor |
P08 |
Houve medida de isolamento social na sua principal cidade de atuação? |
|
|
|
|
Não |
2 |
0,3 |
<0,001 |
|
Sim |
643 |
99,7 |
P09 |
Houve LOCKDOWN na sua principal cidade de atuação profissional?
|
|
|
|
|
Não |
381 |
59 |
<0,001 |
|
Sim |
264 |
41 |
P22 |
Os pacientes a serem operados no seu serviço são testados para COVID-19 com algum
método?
|
|
|
|
|
Não. |
273 |
42,3 |
Ref. |
|
Sim. Apenas RT-PCR. |
151 |
23,4 |
<0,001 |
|
Sim. Apenas sorologia. |
108 |
16,7 |
<0,001 |
|
Sim. Sorologia + RT-PCR. |
113 |
17,5 |
<0,001 |
P23 |
Os membros da sua equipe são/foram testados para COVID-19 com algum método antes de
reiniciar as atividades?
|
|
|
|
|
Não. |
374 |
58,0 |
Ref. |
|
Sim. Apenas RT- PCR. |
54 |
8,4 |
<0,001 |
|
Sim. Apenas sorologia. |
124 |
19,2 |
<0,001 |
|
Sim. Sorologia + RT-PCR. |
93 |
14,4 |
<0,001 |
P24 |
No atendimento presencial dos seus pacientes, houve mudança de rotina de cuidados?
(mais de uma opção disponível)
|
|
|
|
|
Não. |
4 |
0,6 |
<0,001 |
|
Sim. Avental descartável |
93 |
14,4 |
<0,001 |
|
Sim. Face shield |
116 |
18,0 |
<0,001 |
|
Sim. Máscara e álcool-gel |
603 |
93,5 |
Ref. |
|
Sim. Máscara N95/similar. |
190 |
29,5 |
<0,001 |
P25 |
Em cirurgias eletivas, houve inclusão de cláusulas sobre a COVID-19 no termo de consentimento
cirúrgico?
|
|
|
|
|
Não. |
70 |
12,1 |
<0,001 |
|
Sim. |
510 |
87,9 |
P26 |
Você se utilizou de teleconferência e/ou mídias sociais (incluindo Whatsapp) para
atender pacientes durante a pandemia?
|
|
|
|
|
Não. |
211 |
32,7 |
<0,001 |
|
Sim. |
434 |
67,3 |
P27 |
Você já utilizava teleconferência e/ou mídias sociais (incluindo Whatsapp) para atender
pacientes antes da pandemia?
|
|
|
|
|
Não. |
346 |
53,6 |
0,009 |
|
Sim. |
299 |
46,4 |
Tabela 1 - Legenda das questões incluídas no questionário, agrupadas em cinco blocos: demográfico;
emocional; contaminação; mudanças; prevenção.
Para a montagem do questionário, foi utilizado como base um modelo semelhante da European Society of Plastic Reconstructive & Aesthetic Surgery (ESPRAS)9. O questionário foi confeccionado de modo a garantir o anonimato dos respondedores.
O tempo médio de resposta foi calculado de 2 a 3 minutos.
Considerando a população de 6 mil cirurgiões plásticos brasileiros10, o número de respostas necessárias para atingir o parâmetro estatisticamente representativo,
com erro padrão de 5% e IC de 95%, foi de 362. A aplicação do questionário foi iniciada
na primeira semana de junho de 2020. Após o período de 20 dias, foram coletadas 645
respostas. Os dados obtidos foram transportados e organizados na plataforma Excel
e a avaliação estatística com cruzamento dos dados foi realizada em seguida.
Os dados coletados foram agrupados em domínios, referentes a dados demográficos (idade,
gênero), formação profissional (tempo de formado e perfil de atuação profissional),
dados de saúde (positividade para COVID-19) e atividade durante a pandemia (taxa de
lockdown e isolamento, restrição a cirurgias eletivas e de urgência). Os dados foram comparados
conforme as regiões do país. Os entrevistados também foram divididos em dois grupos,
de acordo com o tempo de formação. Formados há menos de 10 anos e mais de 10 anos
foram comparados quanto aos parâmetros estudados.
Todas as análises estatísticas foram realizadas com o software Stata 14.2, Stata Corporation, College Station, TX, EUA.
RESULTADOS
Foram obtidas respostas de todas as regiões do país, incluindo 23 dos 26 estados brasileiros,
além do Distrito Federal. Os estados sem representantes na pesquisa foram Acre, Tocantins
e Amapá. A distribuição por gênero obedeceu a uma proporção de aproximadamente 4:1,
sendo 515 homens e 130 mulheres. A Região Sudeste foi a mais representada, correspondendo
a 52,9% das respostas, seguida pela Região Sul, com 19,4% das respostas, Região Centro-Oeste,
com 12,5%, Região Nordeste, por 12,7%, e Região Norte com 2,5%. Aproximadamente 34%
dos respondedores tinham até 10 anos de formados, enquanto 66% possuíam mais de 10
anos de formados em cirurgia plástica. O perfil sociodemográfico conforme região está
demonstrado na Tabela 2.
Tabela 2 - Perfil sociodemográfico conforme região e em nível nacional.
Região |
Sul |
Sudeste |
Centro-Oeste |
Norte |
Nordeste |
BRASIL |
Respostas |
125 (19,4%) |
341 (52,9%) |
81 (12,5%) |
16 (2,5%) |
82 (12,7%) |
645 |
Sexo |
80%M : 20% F |
81%M : 19%F |
80%M : 20%F |
100%M |
68%M : 32%F |
79,9%M : 20,1%F |
Serviço em que atua Privado SUS Ambos
|
68,8% 0,8% 30,4%
|
61,6% 0,9% 37,5%
|
61,7% - 38,3%
|
50% - 50%
|
41,5% 2,4% 56,1%
|
60,2% 0,9% 38,9%
|
Tempo de formação <5 anos 5-10 anos 10-20 anos >20 anos
|
12,8% 16% 32% 39,2%
|
16,7% 13,5% 29% 40,8%
|
30,9% 21% 23,4% 24,7%
|
12,5% 31,25% 31,25% 25%
|
12,2% 25,6% 26,8% 35,4%
|
17% 16,9% 28,7% 37,4%
|
Taxa de isolamento |
100% |
99,4% |
100% |
100% |
100% |
99,7% |
Taxa de lockdown |
43,2% |
30,8% |
37% |
68,7% |
57,3% |
41% |
Covid-19+ Não Sim, assintomático Sim, sintomático
|
96,8% 1,6% 1,6%
|
90% 3,2% 6,8%
|
97,5% - 2,5%
|
75% - 25%
|
86,6% 7,3% 6,1%
|
91,5% 2,9% 5,6%
|
Restrição institucional às cirurgias eletivas |
92,8% |
93,8% |
90,1% |
93,8% |
96,3% |
993,4% |
Restrição institucional às cirurgias de urgência |
25,6% |
34,6% |
18,5% |
25% |
31,7% |
30,1% |
Tabela 2 - Perfil sociodemográfico conforme região e em nível nacional.
A Região Sul contou com a maior proporção de cirurgiões trabalhando exclusivamente
no setor particular, representando 68,8% das respostas, enquanto 30,4% declararam
trabalhar tanto no serviço público quanto no privado. A Região Sudeste evidenciou
61,6% com trabalho exclusivo na rede particular e 37,5% em ambas as redes. Na Região
Centro-Oeste havia 61,7% trabalhando apenas na rede privada e 38,3% em ambas (pública
e privada). A Região Nordeste apontou para 41,5% dos médicos trabalhando na rede particular
de forma exclusiva e 56,1% em ambas as redes. Por fim, na Região Norte, 50% responderam
trabalhar na rede particular e 50% em ambos os serviços. Apenas 0,9% dos cirurgiões
plásticos entrevistados responderam trabalhar somente na rede pública.
Em todas as regiões do Brasil houve alguma medida de isolamento social nas cidades
de principal atuação dos cirurgiões entrevistados. Contudo, restrições mais severas,
como lockdown, foram adotadas de forma heterogênea entre as cinco regiões. Segundo os entrevistados,
Norte e Nordeste foram as regiões que mais implementaram essas medidas, com 68,7%
e 57,3%, respectivamente. O Sul foi a terceira região que mais adotou o fechamento
completo das atividades comerciais, com 43,2%. No Centro-Oeste e Sudeste essa taxa
foi de 37% e 30,8%, respectivamente.
Questionou-se também se o serviço em que os cirurgiões plásticos atuavam atendiam
aos pacientes com infecção suspeita ou confirmada pelo novo coronavírus. Entrevistados
do Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte mostraram as seguintes taxas de atendimento:
58%, 68%, 50%, 81% e 62%, respectivamente. Nessas mesmas regiões, entretanto, houve
atuação direta do cirurgião plástico com pacientes COVID positivo em apenas 12%, 26%,
34%, 41% e 63%. Nas ocasiões em que houve atendimento diretamente ao paciente COVID
positivo, houve diferenciação entre a atuação na condição de clínico/intensivista/triagem
e a participação como cirurgião plástico (cirurgias oncológicas, traumáticas ou reparadoras).
Nesta última situação, observou-se que a participação do cirurgião plástico na própria
área de atuação ocorreu em 8,8% no Sul do país; 19,6% na Região Sudeste; 23,8% na
Região Centro-Oeste; 33,3% da Região Nordeste e 56,25% na Região Norte.
Quando o critério adotado para análise foi o tipo de serviço em que estava inserido
o cirurgião (público ou particular), variações significativas entre as respostas foram
observadas. Nas ocasiões em que o médico atuava exclusivamente no serviço particular,
não houve atuação direta com pacientes infectados em 87% das respostas; por outro
lado, nos casos em que atuavam tanto na rede particular quanto pública esse número
caiu para 53,1%, indicando maior presença do cirurgião plástico na linha de frente
na rede pública.
A respeito da redução do volume de trabalho no campo da Cirurgia Plástica, houve queda
expressiva em todos os estados analisados. O Norte foi o mais impactado, uma das regiões
mais afetadas pela pandemia durante a primeira onda, com 93,7% dos entrevistados revelando
terem notado algum grau de redução no volume de trabalho. O Nordeste ficou em segundo
lugar, com 82,9% dos entrevistados referindo redução no volume de trabalho. Observou-se
também que houve restrição imposta de forma institucional para cirurgias eletivas,
pelos próprios serviços de saúde onde atuam os entrevistados, em todas as regiões
do país. Por outro lado, os procedimentos de urgência foram pouco impactados. Apenas
30% dos entrevistados em todo o país revelaram limitações institucionais para esse
tipo de cirurgia.
Analisando a questão financeira, os dados levantados mostram que os custos operacionais
(aluguéis, fornecedores, secretárias, etc) se mantiveram constantes para 71,4% dos
entrevistados, tendo redução para 27,4% e aumento para apenas 1,2%. Apesar disso,
a receita mensal dos cirurgiões plásticos durante os meses de março-abril de 2020
(quando o período de quarentena foi declarado no país) apresentou importante redução
em todas as regiões analisadas (Tabela 3).
Tabela 3 - Resultados estratificados conforme região e comparados a nível nacional.
Região |
Sul |
Sudeste |
Centro-Oeste |
Norte |
Nordeste |
BRASIL |
Retorno às atividades |
92,8% |
81,2% |
98,7% |
67,8% |
75,6% |
76,8% |
Tempo parado |
|
<7 dias |
3,2% |
7,6% |
11,1% |
- |
7,3% |
7% |
7-14 dias |
10,4% |
4,8% |
14,8% |
6,25% |
2,4% |
7% |
14-21 dias |
11,2% |
7% |
12,4% |
6,25% |
6,1% |
8,4% |
21-30 dias |
16,8% |
9,3% |
11,1% |
--- |
4,9% |
10,1% |
>30 dias |
52% |
56,9% |
50,6% |
68,75% |
58,6% |
55,7% |
Não retornou |
6,4% |
14,4% |
--- |
18,75% |
20,7% |
11,8% |
↓ Cirurgias eletivas <30%
|
3,2% |
4,7% |
2,5% |
- |
2,4% |
4,2% |
30-60% |
16,8% |
5,3% |
27,2% |
6,25% |
2,4% |
9,9% |
60-90% |
48% |
33,7% |
50,6% |
18,75% |
35,4% |
36,7% |
>90% |
32% |
56,3% |
19,7% |
75% |
59,8% |
49,1% |
↓ Procedimentos não cirúrgicos |
|
Não realiza |
14,8% |
12,3% |
6,2% |
25% |
13,4% |
12,5% |
<30% |
5,9% |
15% |
7,4% |
--- |
3,7% |
5,4% |
30-60% |
17,3% |
7% |
25,9% |
12,5% |
3,6% |
12,4% |
60-90% |
38% |
20,4% |
33,3% |
18,75% |
23,3% |
26,5% |
>90% |
24% |
45,3% |
27,2% |
43,75% |
56% |
43,2% |
↓ Receita líquida |
|
<30% |
5,8% |
5,3% |
8,8% |
- |
6,1% |
5,4% |
30-60% |
29,9% |
19,5% |
34,2% |
18,75% |
26,8% |
24,6% |
60-90% |
45,3% |
43,8% |
48,1% |
43,75% |
35,4% |
43,3% |
>90% |
19% |
31,4% |
8,9% |
37,5% |
31,7% |
26,6% |
Tabela 3 - Resultados estratificados conforme região e comparados a nível nacional.
A Região Norte foi a que apresentou os maiores impactos no ganho líquido: 81,25% dos
entrevistados revelaram queda superior a 60% de suas receitas em relação aos mesmos
meses do ano anterior. No Sudeste, esse número foi de 75,2%. Nordeste, Sul e CentroOeste
apresentaram 67,1%, 64,3% e 57% de redução maior que 60% na receita, comparativamente
ao ano anterior, respectivamente. O Brasil, de forma conjunta, apresentou quedas superiores
a 90% no rendimento para 26,3% dos cirurgiões plásticos. Menos de 1% dos entrevistados
revelou aumento na receita.
Quando estratificados por tempo de formação, nota-se que as quedas na receita foram
mais expressivas entre os cirurgiões plásticos formados há mais de 10 anos. Nesse
grupo, redução superior a 60% na receita foi identificado em 76,2% dos entrevistados,
contra 57,7% daqueles formados há menos de 10 anos (Tabela 4). Entre os cirurgiões mais experientes, 87,1% responderam redução superior a 60%
no número de procedimentos cirúrgicos realizados, enquanto para procedimentos não
cirúrgicos (injeção de toxina botulínica, preenchimentos e outros procedimentos ancilares)
foi de 73,4%. No grupo com menos de 10 anos de atuação em Cirurgia Plástica, queda
superior a 60% na realização de cirurgias foi identificada em 80,9%, e 61,9% nos procedimentos
não cirúrgicos.
Tabela 4 - Impacto da pandemia na saúde, qualidade de vida e renda dos cirurgiões plásticos,
conforme tempo de formação.
|
<10 anos de formado (n=220) |
>10 anos de formado (n=425) |
Serviço |
Número de respostas |
Porcentagem |
Número de respostas |
Porcentagem |
Privado SUS Ambos
|
124 3 93
|
56,4% 1,4% 42,2%
|
264 3 158
|
62,1% 0,7% 37,2%
|
Onde trabalha como cirurgião plástico, atende COVID-19? |
|
Sim |
152 |
69,1% |
254 |
59,8% |
Não |
68 |
30,9% |
171 |
40,2% |
Atua diretamente com COVID-19? Sim - Cirurgias de urgência, oncologicas, reparadoras e lesões por pressão - SAMU, UTI, hospitais de campanhaNão
|
83 66 17 137
|
37,7% 30% 7,7% 62,3%
|
83 72 11 342
|
19,5% 16,9% 2,6% 80,5%
|
Acometido pela COVID-19? |
|
Sim Não
|
30 190
|
13,7% 86,3%
|
25 400
|
5,9% 94,1%
|
Se sentiu sobrecarregado mentalmente? Sim Não
|
160 60
|
72,7% 27,3%
|
291 134
|
68,5% 31,5%
|
Utilizou nova medicação psiquiátrica na pandemia? Sim Não
|
17 203
|
7,7% 92,3%
|
31 394
|
7,3% 92,7%
|
Iniciou nova atividade física durante a pandemia? Sim Não
|
66 154
|
30% 70%
|
149 276
|
35% 65%
|
Suspendeu atividade física durante a pandemia? |
|
Sim |
145 |
65,9% |
248 |
58,4% |
Não |
75 |
34,1% |
177 |
41,6% |
↓ Receita líquida <30%
|
18 |
8,2% |
17 |
4% |
30-60% |
75 |
34,1% |
84 |
19,8% |
60-90% |
94 |
42,7% |
185 |
43,5% |
>90% |
33 |
15% |
139 |
32,7% |
Tabela 4 - Impacto da pandemia na saúde, qualidade de vida e renda dos cirurgiões plásticos,
conforme tempo de formação.
Diagnóstico de COVID-19 foi feito em 8,5% dos entrevistados. Os mais atingidos foram
na Região Norte, onde 25% dos entrevistados confirmaram acometimento pela doença,
seguida pelo Nordeste (13,4%) e Sudeste (10%). Esses dados estão representados na
Figura 1.
Figura 1 - Mapa do número de casos de COVID-19 no Brasil em junho de 2020, conforme região, comparado
com porcentagem de cirurgiões plásticos entrevistados acometidos pela doença (fontes:
IBGE; consórcio de veículos de Imprensa, atualizado em 28/06/20).
Figura 1 - Mapa do número de casos de COVID-19 no Brasil em junho de 2020, conforme região, comparado
com porcentagem de cirurgiões plásticos entrevistados acometidos pela doença (fontes:
IBGE; consórcio de veículos de Imprensa, atualizado em 28/06/20).
Observou-se também que os indivíduos mais jovens (isto é, aqueles com menos tempo
de formação) foram mais diagnosticados do que os mais velhos (13,7% versus 5,9%). Não houve relato de formas graves. Todos tiveram a forma branda (tratamento
ambulatorial) ou assintomática (exames positivos, sem repercussões clínicas).
Em relação ao retorno às atividades laborais, 76,9% dos entrevistados afirmaram já
terem retomado suas rotinas na ocasião em que responderam o questionário (junho de
2020). Esse contingente foi mais expressivo no Centro-Oeste (98,7%) e Sul (92,8%).
Médicos atuantes no Sudeste, Nordeste e Norte já haviam retomado suas atividades habituais
em 81,2%, 75,6% e 67,8% dos casos, respectivamente. A suspensão das atividades foi
superior a 30 dias para 52% dos entrevistados da Região Sul, 56,9% no Sudeste; 50,6%
no Centro-Oeste; 58,6% no Nordeste e 68,75% no Norte do país. A nível nacional, 15,3%
dos cirurgiões plásticos no Brasil ainda não haviam retornado às atividades na ocasião
da pesquisa, enquanto 7,6% revelaram nunca terem suspendido suas atividades.
Os entrevistados foram questionados quanto às adaptações realizadas nos serviços em
que atuam para o atendimento aos pacientes. Nesse campo, 42,3% dos cirurgiões plásticos
do Brasil afirmaram não realizar qualquer testagem pré-operatória em seus serviços,
enquanto 57,6% informaram utilizar pelo menos um método laboratorial (Reação em Cadeia
da Polimerase em Tempo Real (RT-PCR) ou sorologia) para rastreio pré-operatório. Quando
a pergunta se referia à testagem da equipe envolvida nos cuidados ao paciente, 58%
dos médicos afirmaram não realizar qualquer teste, enquanto 42% utilizavam alguma
das metodologias disponíveis.
No atendimento presencial aos pacientes, houve introdução de alguma forma de EPI em
99,4% dos casos, sendo a utilização de máscara cirúrgica comum aliada à higienização
das mãos com álcool em gel a medida mais adotada (93,5%). Uso de máscaras N95 ou similares
foi relatada por 29,5%, “face shields” por 18% e aventais descartáveis por 14,4%.
Houve ainda inclusão de cláusulas sobre a COVID-19 no termo de consentimento cirúrgico
para 87,9% dos entrevistados. A utilização de métodos de atendimento a distância (teleconferência
ou mídias sociais) demonstrou crescimento de 13,7% após o início da pandemia.
Quanto aos hábitos pessoais, uso de medicações psiquiátricas e estresse mental nos
profissionais, alguma forma de sobrecarga mental foi relatada por 69,9% dos cirurgiões
plásticos entrevistados. Além disso, 7,4% dos profissionais entrevistados relataram
terem iniciado o uso de alguma medicação psiquiátrica durante a pandemia. Quando estratificados
por gênero, não houve diferença nas taxas de sobrecarga mental entre homens e mulheres.
Contudo, a incidência do uso de novas medicações psiquiátricas foi maior entre mulheres
cirurgiãs plásticas (14,8% versus 5,1%). Novas atividades físicas e hábitos de vida
mais saudáveis foram iniciados em 33,3% dos entrevistados durante a pandemia, enquanto
60,9% revelaram terem interrompido tais atividades (que realizaram previamente) nesse
período.
DISCUSSÃO
O Brasil é um país de dimensões continentais e especificidades geográficas, que, associadas
a políticas públicas distintas no controle da pandemia da COVID-19, contribuem para
cenários heterogêneos dentro do território nacional. Os impactos da pandemia foram
sentidos em toda a população brasileira e em todos os setores econômicos. Os cirurgiões
plásticos, não estando blindados aos efeitos da crise sanitária instalada no país,
também foram afetados.
O questionário on-line utilizado, embora não validado previamente, foi um instrumento
criado especificamente para o momento vivido pela comunidade, tendo valor intrínseco
baseado no seu ineditismo e na sua abordagem ampla dos aspectos que afetaram o cotidiano
dos cirurgiões entrevistados.
Observamos neste levantamento que os cirurgiões plásticos tiveram participação tímida
no tratamento e acompanhamento dos pacientes infectados. Em todo o país, apenas 25,8%
dos entrevistados atuaram de alguma forma no manejo de pacientes com COVID-19. A exceção
foi a Região Norte, em que 63% dos entrevistados atuaram diretamente no combate à
pandemia. Nas demais regiões, esse percentual foi inferior a 50%. Possível explicação
para esse fenômeno reside na falta de mão de obra médica no Norte do país, problema
crônico de dispersão e fixação de profissionais longe dos grandes centros, com necessidade
de mobilização desses cirurgiões para outras áreas de atendimento além da sua formação
principal. Dessa forma, entende-se que especialidades médicas primariamente não associadas
às demandas da COVID-19 foram recrutadas para o tratamento desses pacientes.
Ainda que a Cirurgia Plástica não esteja diretamente envolvida no tratamento clínico
dos infectados pelo novo coronavírus, a especialidade teve também papel no tratamento
desses pacientes. Entre os entrevistados, 11,7% disseram continuar realizando cirurgias
plásticas de urgência em pacientes com COVID-19, enquanto 8,6% responderam realizarem
cirurgias oncológicas nessa população.
Além disso, a especialidade encontrou no manejo das lesões por pressão uma importante
área de atuação nesse contexto. Entre os entrevistados, 7,8% estão inseridos no tratamento
dessa complicação, que vem ocorrendo em incidência crescente devido ao aumento da
população de pacientes em leitos de UTI durante a pandemia. Em alguns centros, equipes
de cirurgiões plásticos foram reorganizadas para atuar exclusivamente no tratamento
desse tipo de lesão. Assim, mesmo quando chamados a realizar algum atendimento ao
paciente com coronavírus, os cirurgiões plásticos conseguiram se manter dentro do
seu próprio campo de atuação.
Outra importante característica notada foi a diferença de participação dos cirurgiões
plásticos no combate à pandemia quando avaliado o tipo de serviço em que estavam inseridos
previamente. Observou-se que os médicos que trabalham no serviço público tiveram participação
maior do que aqueles afiliados exclusivamente ao setor privado. Esse indicador evidencia
não só a importância do setor público no cuidado com os pacientes acometidos pelo
novo vírus, mas reafirma o protagonismo do Sistema Único de Saúde (SUS) na garantia
fundamental do direito do cidadão ao acesso à saúde.
No âmbito econômico, foi evidenciada queda importante tanto no volume de trabalho
quanto no rendimento mensal dos cirurgiões plásticos, em todo o país. Apesar disso,
essa queda ocorreu de forma desproporcional entre as regiões. As regiões Norte e Sudeste
foram as mais afetadas, coincidindo com as regiões mais afetadas pela COVID-19 no
Brasil durante a primeira onda. Novamente, essa discrepância pode ser explicada por
efeitos tardios das políticas públicas de isolamento social, fechamento de comércio,
conscientização da população e mudança de conduta dos próprios médicos. Interessante
notar que 26,3% dos entrevistados afirmaram ter sofrido reduções de arrecadação superiores
a 90%, número provavelmente associado à suspensão quase completa das atividades laborais
eletivas, em especial dentro dos serviços particulares.
É importante ressaltar que, embora a doença tenha trazido prejuízos socioeconômicos
a todos, esse impacto foi diferente quando se estratificou os entrevistados por tempo
de formação A linha de corte de tempo de formação de 10 anos foi considerada em função
do tempo médio para a estabilização econômica do profissional dentro da sua área de
atuação. A análise mostrou que a redução de receita entre os mais jovens (menos de
10 anos de formado) foi, em média, 77% menor do que a sofrida pelos médicos mais experientes.
Uma possibilidade seria o temor da contaminação entre os médicos mais experientes
e/ou com comorbidades. Ainda, a taxa de infecção superior entre os cirurgiões plásticos
mais jovens pode ser justificada pela maior exposição desses profissionais, cuja rotina
de trabalho foi menos impactada.
Notou-se o crescimento de apenas 14% na utilização de métodos de atendimento a distância
(teleconferência ou mídias sociais) durante a pandemia. Isso demonstra que grande
parte da especialidade já utilizava formas de comunicação e acompanhamento não presencial
com seus pacientes, por fotos ou conversas em aplicativos. Ainda assim, a nova realidade
do isolamento social e fechamento dos consultórios permitiu a expansão dessa forma
de atendimento.
Quanto às mudanças na rotina de trabalho, quase todos os entrevistados adotaram alguma
medida de proteção e higienização pessoal, como uso de máscaras e álcool em gel. Contudo,
boa parte dos entrevistados não realiza qualquer tipo de testagem, sorológica ou via
RT-PCR, de seus pacientes no pré-operatório. Além disso, mais da metade não rastreia
a doença em suas equipes. Ainda assim, 4 em cada 5 médicos confirmaram a inclusão
de cláusulas sobre a COVID-19 no termo de consentimento cirúrgico para procedimentos
eletivos. Esse dado indica que o rigor da prevenção do novo coronavírus foi inferior
ao receio da judicialização dos atendimentos, processo cada vez mais corriqueiro dentro
da especialidade.
A pandemia impactou também a saúde física e mental dos médicos participantes do estudo.
Dos entrevistados, 70% relataram alguma forma de sobrecarga mental no período. Entre
as causas, pode-se destacar confinamento social, redução da renda mensal, incertezas
sobre o futuro da doença e menor prática de atividades físicas habituais. Um reflexo
foi o início do uso de medicações psiquiátricas nos últimos três meses, sobretudo
entre as mulheres.
CONCLUSÃO
A pandemia da COVID-19 trouxe mudanças no cenário pessoal e profissional do cirurgião
plástico brasileiro. Devido à importante redução no volume de trabalho, houve impacto
financeiro nos especialistas de todas as regiões do país. Adaptações foram necessárias
para manutenção dos atendimentos, como uso de EPIs, testagem de pacientes e equipe,
aplicação de termos de consentimento específicos, além de expansão da telemedicina.
Ainda que procedimentos eletivos tenham sofrido restrições, muitos cirurgiões plásticos
se adequaram à nova realidade, realizando cirurgias de urgência, rec onstruções ou
mesmo atuando na linha de frente. Os autores sugerem a realização de novos levantamentos
para o período de 2021, buscando a atualização dos dados apresentados e comparação
dos efeitos da primeira e segunda onda sobre os cirurgiões plásticos do Brasil.
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1. Universidade de São Paulo, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, São Paulo,
SP, Brasil
Autor correspondente: Renan Diego Américo Ribeiro, Avenida Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 255, serviço de Cirurgia Plástica, 8º andar,
São Paulo, SP, Brasil CEP: 05403-900, E-mail: renanamericor@gmail.com
Artigo submetido: 21/04/2021.
Artigo aceito: 18/05/2021.
Conflitos de interesse: não há.