INTRODUÇÃO
O termo “siringoma” vem da palavra grega syrinx, que significa tubo. São tumores anexais
benignos decorrentes dos ductos écrinos, segundo as suas caraterísticas histopatológicas.
A proliferação de células no lúmen do ducto resulta no desenvolvimento de estruturas
em espiral nas quais o suor não pode mais se mover livremente ou sair para a superfície
da pele1. Clinicamente, eles compreendem pápulas pequenas e firmes, amareladas ou cor de pele,
de 1 a 3 mm, que são comumente encontradas na região periorbitária inferior, causando
problemas cosméticos.
Embora a variedade localizada nas pálpebras em mulheres de meia-idade seja a mais
frequente, muitas outras variantes clínicas que diferem na idade de início, localização
e aspecto clínico foram relatadas na literatura2,3. Friedman & Butler4 propuseram uma classificação para os siringomas com quatro variantes: localizada,
familiar, generalizada, e associada à trissomia 21. Em 2013, Lau & Haber5 publicaram uma nova proposta de classificação baseada em padrão hereditário e apresentação
clínica.
Conforme o relatado por Cho et al.6 e Kang et al.7, a profundidade dos siringomas periorbitários varia, em média, 1.06±0.34 mm, e 0.70±0.20
mm, respectivamente, confirmando que eles estão localizados na derme, mas bastante
profundos, e, por isso, são um desafio que envolve a pele.
O tratamento deve ser seletivo e deve evitar a lesão dos tecidos adjacentes, e o objetivo
é melhorar a aparência cosmética através da destruição completa do tumor usando métodos
que podem incluir uso de tretinoína e atropina tópicos, peelings químicos, excisão cirúrgica, eletrodissecção, eletrocirurgia, criocirurgia, laserterapia,
uso de toxina botulínica e terapias combinadas.
Na literatura existem múltiplas opções de tratamento com vários graus de sucesso,
porém pouco se conhece sobre a eficácia das diferentes propostas. Em 2016, Williams
& Shinkail2 fizeram uma revisão sistemática da literatura na qual descreveram as características
clínicas, associações sistêmicas e estratégias de tratamentos efetivos para os siringomas.
De 826 casos, foram achados 215 que reportaram o tratamento, incluindo métodos destrutivos
convencionais, destrutivos como laser, peelings, e eletrodissecção, e métodos cirúrgicos. Uma série de 18 casos foi tratada com eletrocoagulação
de baixa voltagem8. Eletrodissecção intralesional9 foi descrita em 12 casos, com completa resolução e sem relato de recorrência.
Seo et al.10 reportaram uma série retrospectiva de 92 casos de pacientes com siringomas periorbitários,
na qual trataram um grupo com laser CO2 e o outro associando a aplicação de toxina botulínica. Barzegar et al.11 publicaram um caso tratado com eletrodissecção. Outros tipos de tratamentos com Laser
Erbium Yttrium Aluminum Garnet (YAG)12 e Neodymium-Doped Yttrium Aluminum Garnet (ND-YAG)13 já foram descritos.
No ano 2019 foram publicadas duas pesquisas baseadas no tratamento dos siringomas:
Ahn et al.14 reportaram uma série retrospectiva de pacientes tratados com eletrocoagulação intralesional
com microagulha isolada; e Bae et al.15 reportaram um caso de siringomas no pescoço, tratando um lado com laser CO2 e o outro com radiofrequência com agulha microisolada.
Conforme o anterior, os siringomas periorbitários continuam sendo um desafio terapêutico,
pois, embora sejam tumores benignos que causem queixas somente cosméticas, enfrentamos
um cenário clínico em que a remoção completa geralmente não é bem sucedida. Efeitos
colaterais têm sido descritos, como eritema prolongado, cicatrizes e mudanças no pigmento
da pele tratada, e a recorrência é frequente.
Como especialistas, nossa responsabilidade é conhecer e entender melhor as várias
opções terapêuticas, levando em consideração os resultados e as complicações relatadas
na literatura, para evitar o maior número de sequelas.
OBJETIVO
O objetivo deste trabalho foi revisar a produção científica nacional e internacional
que aborde o tratamento dos siringomas periorbitários, e secundariamente comparar
as várias técnicas de tratamento propostas durante os últimos cinco anos.
MÉTODOS
Trata-se de uma revisão narrativa de literatura sobre publicações em periódicos. Foi
realizada uma busca bibliográfica por meio das fontes de busca constituídas pelos
recursos eletrônicos nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do
Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Health Information from the National Library of Medicine (Medline), e na biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library On-line (SciELO), publicados no período de 2014 a 2019.
Os descritores utilizados foram: Siringoma/Siringoma/Syringoma, Pálpebras/párpados/eyelids, Glândulas ecrinas/Glândulas ecrinas/Eccrine glands e Neoplasias cutâneas/Neoplasias cutâneas/Skin neoplasias. Salienta-se que os descritores supracitados encontram-se nos Descritores
em Ciências da Saúde (DeCS).
A coleta dos dados foi realizada pelo autor identificando os artigos no idioma português,
inglês e espanhol, que foram publicados nos últimos cinco anos, assim como artigos
adicionaisw identificados durante a revisão manual das referências que inicialmente
tinham sido captadas na revisão primária. Os artigos foram analisados e incluídos
no presente estudo.
RESULTADOS
A busca primária na literatura deu um retorno total de 45 artigos, dos quais foram
excluídos pela revisão do resumo 32 artigos. As referências dos 13 artigos identificados
na busca primária foram revisadas, totalizando 33 artigos que incluíam múltiplos tratamentos
de siringomas periorbitários publicados na literatura ao longo do tempo.
Após a revisão completa desses 33 artigos, foram selecionados os publicados nos últimos
cinco anos que tiveram registro de número de pacientes, descrição de tratamento realizado,
escalas de avaliação dos resultados e acompanhamento, totalizando seis artigos.
Do número total de seis artigos, foram encontrados: uma revisão sistemática, e cinco
estudos retrospectivos, sendo um comparativo. Foi designado um número para cada artigo
analisado, e coletados o número de pacientes incluídos no estudo, tratamento realizado,
escalas de avaliação e resultados, complicações e conclusões.
Os resultados estão descritos nas Tabelas 1, 2 e 3.
Tabela 1 - Artigos selecionados.
No. artigo |
Autores |
Ano |
Título |
Tipo de estudo |
1 |
Lee SJ et al |
2015 |
Tratamento de siringomas periorbitários com o método de pinhole usando Laser CO2 em 29 pacientes asiáticas15 |
Análise retrospectiva |
2 |
Seo HM, |
2015 |
Laser CO2 combinado com Toxina Botulínica A para pacientes com siringomas periorbitários9 |
Análise retrospectiva comparativa |
3 |
Williams K, |
2016 |
Avaliação e manejo de pacientes com múltiplos siringomas: Uma revisão sistemática
da literatura2 |
Revisão sistemática |
4 |
Kitano Y |
2016 |
Tratamento de siringomas periorbitários com Laser Erbium YAG usando o método de ablação múltipla de forma ovoide11 |
Análise retrospectiva |
5 |
Kim JY, Lee JW, Chung KY |
2017 |
Siringomas periorbitários tratados com Laser ND-YAG 1,444nm12 |
Análise retrospectiva |
6 |
Ahn GR et al |
2019 |
Eletrocoagulação intralesional com microagulha isolada para o tratamento de siringomas
periorbitários: Uma analise retrospectiva13 |
Análise retrospectiva |
Tabela 1 - Artigos selecionados.
Tabela 2 - Dados coletados por artigo.
No. artigo |
n |
Tratamento |
Resultados |
Complicações |
1 |
29 |
Laser CO2 ultrapulso, modo char-free
|
10 (34.5%) melhora 51-75% |
Eritema leve: 5 ptes |
Parâmetros: 200µs, 50Hz, tempo de 0.04 e repouso 0.01
|
8 (27.6%) melhora 26-50% |
Eritema prolongado: 2 ptes (Tratados com Laser 595nm) |
Realizadas 2 sessões com intervalos de 2 meses |
7 (24.1%) melhora >75% |
HPI: 1 pte (Tratado com ND-YAG) |
|
4 (13.8%) melhora 0-25% |
|
No. artigo |
n |
Tratamento |
Resultados |
Complicações |
2 |
92 |
44 casos: Laser CO2 com múltiplos furos (4-5w, 80mm)
|
Melhora clínica |
HPI: 5 ptes (11.4%) |
Média de tratamentos 3.89 |
12 (27.3%) Excelente |
Recorrência: 50% |
|
19 (43.2%) Bom |
(2 anos) |
|
12 (27.3%) Moderado |
|
|
1 (2.3%) Pobre |
|
|
-Redução de lesões |
|
|
10 (22.7%) Excelente |
|
|
16 (36.4%) Bom |
|
|
17 (38.6%) Moderado |
|
|
1 (2.3%) Pobre |
|
48 casos: Laser CO2 com múltiplos furos (4-5w, 80mm) e Toxina Botulínica A (100UI diluídas em 2.5ml e
usadas de 5 a 10UI por lado)
|
Melhora clínica |
HPI: 3 ptes (6.3%) |
Média de tratamentos 3.4 |
15 (31.3%) Excelente |
Recorrência: 59% |
|
27 (56.3%) Bom |
(2 anos) |
|
6 (12.5%) moderado |
|
|
-Redução de lesões |
|
|
14 (29.2%) Excelente |
|
|
23 (47.9%) Bom |
|
|
11(22.9%) |
|
3 |
215 |
-169 casos (78.6%): Laser CO2 sozinho ou combinado
|
71 (33%) Resolução moderada |
Eritema resolvido entre 3 e 6 meses |
|
51 (23.7%) Resolução total |
Hipo ou Hiperpigmentação resolvidas entre 3 e 9 meses |
|
31 (14.4%) Próximo da resolução total |
|
|
16 (7.4%) Pobre resposta |
|
-18 casos (8.4%): Eletrocoagulação de baixo voltagem |
11 (5.1%) Melhoria acentuada |
Vermelhidão, dor, inchaço e HPI resolvido em 2 semanas |
|
7 (3.3%) Melhora moderada |
|
-12 casos (5.6%): Eletrodissecção intralesional |
12 (5.6%) Resolução completa |
HPI resolvida em 3 meses |
-02 casos (1%): Excisão cirúrgica |
02 (1%) Resultados cosmeticamente aceitáveis |
NR |
-02 casos (1%): Agulha intralesional |
02 (1%) Alto grau de satisfação. |
NR |
-02 casos (1%): Isotretinoina oral |
01 (0.5%) Redução discreta das lesões |
NR |
|
01 (0.5%) Sem resposta |
|
-02 casos: Fotodermolise fraccional |
02 (1%) Resultados clínicos positivos |
NR |
-01 caso: Dermoabrasão |
01 (0.5%) Redução moderada do tamanho das lesões |
NR |
-01 caso: Laser argon |
01 (0.5%) Redução discreta das lesões |
Bolhas com cicatrização dentro de 1 semana |
-01 caso: Atropina tópica |
01 (0.5%) Redução discreta das lesões |
NR |
-01 caso (0.5%): Tretinoina tópica |
01 (0.5%) Redução do tamanho das lesões |
NR |
-03 caso (1.5%): Tranilast |
01 (0.5%) Melhora discreta das lesões |
Bexiga irritada |
|
02 (1%) Boa melhoria |
|
No. artigo |
n |
Tratamento |
Resultados |
Complicações |
4 |
49 |
Parâmetros: Diâmetro de irradiação 1mm, 9J/cm2 e 250sec |
Média de 3.77 tratamentos em siringomas disseminados e 4.23 nos conglomerados |
Eritema leve: 1 pte |
O tecido removido em forma ovoide (2-4mm) |
43 (87.7%) melhora >75% |
HPI: 1 pte |
Intervalo de tratamento: 2 meses |
1 (2%) Melhora entre 0-24% |
Depressão no local: 1 pte |
Máximo de tratamento: 10 lesões |
5 (10.2%) Não voltaram |
Melhora aos 7 meses |
Curativo hidrocoloide fechado por 2 semanas |
|
|
5 |
19 |
Parâmetros: Distância da lesão de 0,5cm, 160mJ, 1,6w, 10Hz. |
13 (68.4%) melhora na primeira sessão |
Eritema: 12 ptes após 1ª sessão |
Fluência por ponto 1J, e 4 a 6 disparos por ponto. |
19 (100%) melhora > 50% na segunda sessão |
HPI 1 pte |
2 sessões a cada 2 meses |
-Escala de satisfação dos pacientes |
Recorrência: 1 pte |
|
12 (63.2%) muito satisfeitos após a primeira sessão |
|
|
17 (89%) muito satisfeitos após a segunda sessão |
|
6 |
55 |
Usado um dispositivo de radiofrequência monopolar de 1MHz, a microagulha foi inserida
e a corrente foi passada 2 a 3 vezes.
|
2 (3.6%) Desaparição >75% |
Edema, eritema e aparição de crostas temporárias |
Parâmetros: 4w e 100mseg. |
26 (47.3%) Melhoria 55-75% |
HPI: 1 pte melhorou espontaneamente |
Mínima de 3 tratamentos |
15 (27.3%) Melhoria 25-55% |
|
|
7 (12.7%) Melhoria 0-25% |
|
|
5 (9.1%) Piora |
|
|
O índice de severidade dos siringomas periorbitários diminuiu apos do 1 tratamento
(média 3.2) e 2 tratamento (media 1.7)
|
|
Tabela 2 - Dados coletados por artigo.
Tabela 3 - Conclusões dos artigos
No artigo |
Conclusão |
1 |
A aplicação do método pinhole usando Laser CO2 exerce efeitos terapêuticos positivos em pacientes asiáticos com siringomas periorbitários.
|
2 |
O tratamento de terapia combinada de Laser CO2 e toxina botulínica A teve melhores resultados que o realizado com Laser CO2. São necessários estudos de Toxina Botulínica A como monoterapia.
|
3 |
O tratamento dos siringomas continua sendo um desafio, embora métodos destrutivos
- especificamente Laser de CO2 e possivelmente eletrocoagulação intralesional - possam representar as melhores opções
atuais para o manejo cirúrgico.
|
4 |
O tratamento de siringomas periorbitários com Laser Erbium YAG usando o método de
ablação múltipla de forma ovoide fornece bons resultados mesmo nos tipos mais difíceis
de siringomas.
|
5 |
O tratamento de siringomas periorbitários com Laser ND-YAG 1,444nm é eficaz, seguro
e fácil de realizar, e resulta em boa satisfação do paciente, efeitos colaterais mínimos
e baixas taxas de recorrência.
|
6 |
A eletrocoagulação intralesional com microagulha isolada é um tratamento eficaz e
seguro para o tratamento de siringomas periorbitários
|
Tabela 3 - Conclusões dos artigos
DISCUSSÃO
Os siringomas são tumores anexais benignos com características histopatológicas que
demonstram serem decorrentes da porção intradérmica dos ductos ecrinos1, e estão localizados frequentemente na região orbitária, mas podem ser achados em
vulva, pênis, couro cabeludo e axilas2,3 em forma de pápulas pequenas amareladas ou
da cor da pele, com tamanho entre 1 e 3 mm, que causam problemas cosméticos e, em
alguns casos, prurido. A classificação mais usada até o momento é a proposta por Friedman
& Butler4, com quatro variantes: localizada, familiar, generalizada, e associada à trissomia
21. Existe uma predominância no sexo feminino, e as lesões começam aparecer na adolescência
ou no início da idade adulta.
O objetivo do tratamento dos siringomas periorbitários é a melhora da aparência cosmética,
uma vez que estas lesões são consideradas benignas, não progressivas e tipicamente
assintomáticas.
Wheeland et al.16 descreveram a vaporização com laser CO2 em um paciente sem evidência de cicatriz ou recorrência durante 2 anos. Castro et
al.17 descreveram o uso do laser CO2 super-pulsado de baixa potência, salientando a redução da deposição de energia térmica
com esta modalidade, e tiveram bons resultados.
Gomez et al.18 fizeram tratamento com tretinoína tópica em um caso de siringomas eruptivos e o paciente
teve melhora moderada devido ao aplanamento das lesões, porém apresentou recorrência
em áreas não tratadas. O uso de atropina tópica19 mostrou eficácia moderada, porém existem poucos casos relatados.
Karam & Benedetto20 apresentaram um relato de caso usando eletrodissecção intralesional, com desaparecimento
total dos siringomas, e hiperpigmentação que foi resolvida aos 3 meses pós-tratamento,
e em 1997 reportaram a eficácia moderada numa outra série de 20 casos tratados com
a mesma técnica, e tiveram dois casos de hiperpigmentação pós-inflamatória em pacientes
fototipo Fitzpatrick IV, que melhorou aos 3 meses9. Em ambas as publicações, não foi relatada recorrência.
Kang et al.7 avaliaram a histopatologia e eficácia da colocação de ácido tricloroacético (ATA)
50% nas lesões, após de fazer três a quatro furos com laser CO2 com parâmetros baixos em 20 pacientes, e demostraram a remoção de siringomas profundos,
reduzindo os efeitos adversos. Os resultados poderiam estar explicados na presença
de colágeno dérmico necrosado para a regeneração dos tecidos e o estímulo do ATA para
produzir colágeno tipo I. O ATA intralesional causou uma necrose extra nas lesões,
porém foi usado um protocolo fixo de laser CO2 que não projetou a diferença de tamanhos e isto poderia trazer um resultado inconsistente
quando aplicado em mais pacientes. Os benefícios do laser seriam justamente poder
adequar a ablação controlada de tecidos de diferentes profundidades. O protocolo fixo,
sob nossa ótica, acaba por comprometer o resultado.
O laser CO2 tem sido usado em diferentes modalidades: Wang & Roenigk21 relataram o uso de laser CO2 de alta energia em 10 pacientes fototipo Fitzpatrick III e IV sem sequelas; Sajben
& Ross22 mostraram eficiência do laser CO2 pulsado de alta energia usando uma peça de mão de 1 mm no tratamento de 4 pacientes;
Frazier et al.23 combinaram ATA 35% (peeling médio) e laser CO2 com baixa energia numa paciente afro-americana, e conseguiram melhoria cosmética,
mesmo que os siringomas não tenham sido totalmente retirados.
Park et al.24, após de realizar vaporização dos siringomas periorbitários com Laser CO2 em 6 pacientes, introduziram tinta preta na derme e posteriormente usaram Laser Q-Switched
para remover as lesões, sem evidência de recorrências em 8 semanas de acompanhamento;
e Park et al.25 trataram 11 pacientes usando laser CO2 com método de perfuração múltipla, e observaram bons resultados sem complicações,
quando realizado o tratamento repetidamente. O modo fracionado poderia ser uma opção
considerada.
Bagatin et al.26 relataram a experiência no tratamento cirúrgico de 38 pacientes mediante a excisão
com tesoura de Castroviejo e cicatrização por segunda intenção. Foram descritos 36
casos com resultados ótimos e bons, porém 12 casos tiveram hipocromia, 1 caso cicatriz
deprimida e 1 caso cicatriz hipertrófica. Mesmo que este método tenha demonstrado
bons resultados, seria importante avaliar o fototipo de pele Fitzpatrick devido ao
risco de hiperpigmentação no processo de cicatrização por segunda intenção, que pode
aparecer em fototipos maiores. Alguns protocolos dermatológicos preventivos poderiam
ser associados para evitar estas intercorrências.
Al Aradi8 realizou um estudo piloto da eficácia da eletrocoagulação de baixa voltagem em 20
pacientes fototipo IV e V, colocando o eletrodo superficialmente em cada siringoma,
com melhora clínica moderada após a terceira sessão. No entanto, 40% dos casos desenvolveram
hiperpigmentação pós-inflamatória e 10% hipopigmentação.
Protocolo de laser fracionado foi realizado por Akita et al.27, usando laser Erbium 1550 nm em duas pacientes japonesas. Cho et al.6 trataram 35 pacientes e Meesters et al.28 trataram uma paciente com laser CO2 10,600 nm, com bons resultados cosméticos, o qual seria um método menos invasivo
e com boa resposta de neocolagênese, porém, seriam necessários vários tratamentos
para obter resolução total ou quase total.
Hong et al.29 apresentaram 2 casos tratados com eletrocoagulação intralesional com agulha fina,
com ótimos resultados e sem complicações nem recorrência, devido que ao fato de que
introduzir a agulha na lesão permite seletividade na destruição de lesões dérmicas
sem danificar a epiderme. É necessário realizar este tratamento com um número maior
de pacientes e acompanhamento ao longo do tempo.
Lee et al.30 relataram uma serie de 29 casos tratados com laser CO2 no método pinhole. Após a segunda sessão, observaram melhora clínica quase total
em 58,6% dos pacientes, eritema prolongado em 5 pacientes e um caso de hiperpigmentação
pós-inflamatória. Através deste método, o laser CO2 pode ser direcionado sobre a lesão e fornecer uma alta energia para sua destruição,
estimulando concomitantemente a neocolagênese e remodelação da matriz dérmica, o que
pode resultar em melhora clínica da textura da pele. Este método demostrou ser efetivo,
porém é operador-dependente, requer de um tempo de procedimento mais longo conforme
o número de lesões, e o tratamento de lesões invisíveis não pode ser realizado. É
necessário realizar mais estudos prospectivos.
Seo et al.10 fizeram uma análise retrospectiva de uma série de 92 casos comparando a terapia de
laser CO2 com múltiplas perfurações e a combinação com toxina botulínica A. Em estudo anterior
realizado pelos autores, descreveram a eficácia da remoção profunda dos tumores com
o uso de laser CO2 com múltiplas perfurações, e nesta nova proposta os autores decidiram combinar toxina
botulínica A. A taxa de melhora foi significativamente mais alta na terapia combinada,
porém a recorrência foi semelhante nos dois grupos. A hiperpigmentação pós-inflamatória
foi descrita em 3 casos de terapia combinada e 5 casos de terapia com laser CO2; outros efeitos adversos não foram reportados.
Os hidrocistomas écrinos têm sido tratados com toxina botulínica A31-33, com bons resultados. Os resultados deste estudo poderiam ser explicados devido à
origem semelhante dos siringomas e à ação da toxina botulínica, que bloqueia os terminais
colinérgicos do nervo autonômico que regulam a secreção das glândulas sudoríparas
écrinas34, porém, estudos com monoterapia transdérmica ou intralesional são necessários.
Na revisão sistemática da literatura realizada por Williams & Shinkail2 foram analisados 215 casos tratados em diferentes modalidades médicas e cirúrgicas,
como tratamento com isotretinoína e atropina tópicos, peelings, dermoabrasão, crioterapia, eletrodissecção, eletrocoagulação intralesional, laserterapia
e combinações de tratamento com laser. Os autores observaram que as terapias com laser
CO2 e eletrocoagulação intralesional podem apresentar as melhores opções de tratamento.
O laser CO2 tem mostrado eficácia moderada e melhoria cosmética na maioria dos casos relatados
e, mesmo não oferecendo uma resolução completa das lesões, a maioria dos efeitos adversos
melhora com o tempo e com boa tolerância por parte dos pacientes. A eletrocoagulação
intralesional diminuiu o tamanho e número de lesões, enquanto poupa danos epidérmicos
como cicatrizes e hiperpigmentação, e os casos com hiperpigmentação pós-inflamatória
mostraram melhora espontânea em 2 a 3 meses.
Kitano12 descreveu o tratamento de siringomas periorbitários com laser Erbium YAG usando o
método de ablação múltipla de forma ovoide de 2 a 4 mm em 49 pacientes com siringomas
periorbitários disseminados e/ou acumulados, com média de 3,77 e 4,23 sessões, respectivamente.
As sessões foram realizadas a cada 2 meses, e as lesões desapareceram em mais de 75%
em 43 pacientes. Foi usado um curativo hidrocoloide por 2 semanas.
O laser Erbium YAG 2490 nm tem um coeficiente de absorção para água aproximadamente
13 vezes maior do que o laser CO2, causando menor dano térmico aos tecidos subjacentes e uma camada muito fina de coagulação.
Ele tem sido usado para remoção de lesões, nevos, xantomas e tatuagens. No caso dos
siringomas, eles não infiltram os tecidos adjacentes, e poderiam ser removidos de
forma precisa, preservando os tecidos profundos, uma vez que o dano térmico é confinado
a uma camada extremadamente fina. Os resultados foram bons, porém, foi um estudo retrospectivo
com metas variáveis conforme o tipo de lesões de cada paciente, o que limita a avaliação
da eficácia dos mesmos.
Kim et al.13 trataram 19 pacientes com fototipo de pele Fitzpatrick IV com laser ND-YAG 1,444
nm com fibra ótica com parâmetros baixos. Todos os pacientes mostraram melhora de
mais de 50% de satisfação na primeira sessão e de 89,5% após a segunda sessão. Eritema
foi observado em 63,2% dos pacientes, e hiperpigmentação pós-inflamatória em 1 caso.
Reportaram piora em 2 pacientes após a primeira sessão, e em 1 paciente após a segunda
sessão.
A longitude de onda do ND YAG 1,444 nm é bem absorvida na água, tornando-se uma opção
terapêutica para o tratamento de lesões císticas como hidrocistomas écrinos quando
usada a fibra ótica subdermicamente através de uma cânula 11 ou 12. Devido a sua efetividade
para lipólise e à baixa difusão de calor dos tecidos adjacentes, é usada para tratar
doenças cutâneas relacionadas com o tecido adiposo. No caso dos siringomas acredita-se
que os picos de absorção para água e lipídios tenham como alvo o lúmen e a membrana
lipídica, que rodeiam os siringomas, e desta forma possam ser efetivos, sem causar
lesão nos tecidos adjacentes. O laser ND YAG 1,444 nm é considerado uma boa opção
de tratamento, quando usada com parâmetros baixos, porém, é necessário realizar estudos
prospectivos com um número maior de pacientes e em outros fototipos de pele.
Ahn et al.14 realizaram uma análise retrospectiva de uma série de casos com 55 pacientes submetidos
a 3 sessões de eletrocoagulação intralesional, usando radiofrequência monopolar com
agulha isolada. Os avaliadores, médicos dermatologistas, não sabiam o número de tratamentos
realizados. Foi usada uma escala criada pelos autores, denominada Índice de Severidade
do Siringoma Periorbitário, que avaliava número, tamanho, envolvimento e densidade.
A metade dos pacientes teve melhora marcada maior que 50% após a primeira sessão,
e a severidade da lesão diminuiu com as demais sessões. O eritema melhorou até o quarto
dia, e houve um caso de hiperpigmentação pós- inflamatória que melhorou com o tempo.
Com este método se induz uma zona coagulativa térmica dentro da estrutura ductal através
da microagulha, e a diferença na impedância elétrica entre a epiderme (alta) e a derme
(baixa) permite que a energia da radiofrequência flua no tecido dérmico alvo. O tratamento
descrito é um tratamento seguro e eficaz para os siringomas periorbitários, e a escala
de avaliação representa uma forma objetiva de descrição do acometimento, porém, é
necessário realizar estudos prospectivos, comparativos, e com diferentes fototipos
de pele.
Bae et al.15 reportaram um caso de siringomas no pescoço, tratando um lado com laser CO2 e o outro com radiofrequência com agulha microisolada, encontrando melhores resultados
do lado da radiofrequência. As lesões desapareceram após 3 sessões, e não houve registro
de recorrência desse lado. Foi necessário usar corticoide do lado do laser CO2 devido à presença de cicatrizes hipertróficas. Este estudo é um relato de caso de
outra localização, mas vale a pena nomear, pois é o único que compara estas formas
de tratamento no mesmo paciente.
CONCLUSÕES
Os siringomas periorbitários continuam sendo um desafio terapêutico, e até agora nenhum
tratamento demostrou ser consistentemente eficaz. O laser CO2 é considerado a primeira escolha de tratamento dos siringomas devido ao poder de
penetração e o sucesso demonstrado: quando faz uma ablação profunda, pode realizar
remoção completa das lesões e daquelas que estão ocultas, mas cuidados pós-procedimento
devem ser levados em conta, principalmente em fototipos IV, V e VI, devido ao alto
risco de efeitos colaterais como hiperpigmentação pós-inflamatória e cicatrização
inadequada; quando é realizado na modalidade fraccionado ou técnica de múltiplos furos
e/ou método pinhole, com parâmetros baixos, a energia de pulso é fornecida com mais
segurança, porém, a resolução é parcial e são necessários vários tratamentos.
A eletrocoagulação intralesional representa uma segunda alternativa com resultados
moderados e menor risco de complicações, porém, tem um número pequeno de casos relatados
na literatura, e é necessário realizar estudos com um número maior de casos, estabelecer
parâmetros de tratamento e que sejam realizados em diferentes fototipos de pele.
Novos tratamentos como laser Erbium YAG e ND YAG, e monoterapia com toxina botulínica
A poderiam ser boas alternativas de tratamento e com menor risco de sequelas, porém,
é necessário realizar mais estudos para demonstrar a eficácia.
Estudos prospetivos, comparativos e com vários fototipos de pele são necessários para
avaliar a eficácia e determinar a melhor opção.
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1. Hospital Albert Einstein Israelita, Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa, São
Paulo, SP, Brasil
Autor correspondente: Karols Tatiana, Vila-Claro Irmão Norberto Francisco Rauch 755 1418B - Jardim Carvalho, Porto Alegre,
RS, Brasil, CEP 91450-147, E-mail: dratatianavila@gmail.com
Artigo submetido: 04/01/2021.
Artigo aceito: 15/10/2021.
Conflitos de interesse: não há.