INTRODUÇÃO
A bromidrose ou osmidrose é um problema que leva inúmeros pacientes a
procurar tratamento médico especializado. A remoção das
glândulas sudoríparas da região axilar por meio de
exérese e lipoaspiração complementar é um procedimento
de pequeno porte, tecnicamente simples e com poucas
complicações1.
A osmidrose axilar é causada pela secreção excessiva de
apócrina, o que causa um odor árido e um constrangimento social
extremo2.
A doença também está relacionada com o emocional do paciente,
levando alterações psíquicas que interferem na vida dessas
pessoas.
Bromidrose e sua interferência na autoestima
Segundo Oliveira (2019)3, a
autoestima consiste em um dos elementos que direcionam o comportamento humano,
possibilitando relações intra e interpessoais mais ou menos
saudáveis e funcionais.
O indivíduo que sofre com a doença bromidrose, tem um grande
impacto negativo em sua autoestima. Muitos por vergonha, medo, principalmente
insegurança, se afastam da família, dos amigos, saem do emprego,
se isolando socialmente.
Acabam vivendo somente em seu mundo, se tornam inseguros, devido à
opinião das pessoas, que os machucam muitas vezes com as palavras,
deboches e piadas, fazendo com que cada vez mais sua autoestima fique
destruída. Uma baixa autoestima pode desenvolver diversos transtornos
psicológicos.
Bromidrose e sua relação com a depressão
A depressão é classificada como um transtorno de humor, ela vem
reger as atitudes dos sujeitos, modificando a percepção de si
mesmos, passando a enxergar as suas problemáticas como grandes
catástrofes4.
No manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5),
nos transtornos depressivos, é a presença de humor triste, vazio
ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e
cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do
indivíduo. O que difere entre eles são aspectos de
duração, momento ou etiologia presumida5.
A falta de autoestima pode levar à depressão, a bromidrose causa um
grande sofrimento psíquico nas pessoas que tem essa doença.
Questionam a todo instante, se estão sendo punidos, ou se fizeram algo de
errado na vida para merecerem isso. Se sentem angustiados, amargurados, muitos
têm vontade de morrer para acabar com esse sofrimento, desencadeando uma
depressão por não saberem lidar com essa
situação.
OBJETIVO
O objetivo principal deste trabalho é avaliar como a bromidrose afeta
emocionalmente os pacientes que têm este diagnóstico e quais os
transtornos psíquicos apresentados nos mesmos.
MÉTODOS
O estudo foi composto por 34 pacientes com diagnostico de bromidrose, dos quais 27
eram mulheres (com idade variando entre 22 a 42 anos) e 7 são homens (com a
idade de 21 a 32 anos).
Todos os pacientes receberam no e-mail, uma folha de
aplicação/respostas do inventário de depressão de Beck
(BDI-II), que depois de serem respondidos e reenviados, foi feito uma análise
das respostas do inventário. Os pacientes que apresentaram o nível de
sintoma grave estão em acompanhamento psicológico.
Os seguintes procedimentos foram utilizados com o propósito de avaliar a
gravidade da depressão nos pacientes.
O inventário de depressão de Beck (BDI-II) é utilizado
mundialmente para detectar sintomas depressivos. É um instrumento que tem por
objetivo medir a intensidade de sintomas de depressão, tem alcançado
um papel de destaque no meio clinico e de pesquisa, por conseguirem avaliar
sentimentos subjetivos e de autopercepção, aspectos importantes para
auxiliar no diagnóstico formal da depressão e que são mais
difíceis de serem observados apenas pela avaliação
clínica, facilitando o encaminhamento dos casos de depressão para
tratamento adequado6.
O inventário de depressão de Beck-II (BDI-II) consiste em 21 grupos de
afirmações sobre os sintomas depressivos que poderiam ter ocorrido nos
últimos 15 dias. Os grupos são: tristeza, pessimismo, fracasso
passado, perda de prazer, sentimento de culpa, sentimento de punição,
autoestima, autocrítica, pensamentos ou desejos suicidas, choro,
agitação, perda de interesse, indecisão,
desvalorização, falta de energia, alterações no
padrão de sono, irritabilidade, alterações de apetite,
dificuldade de concentração, cansaço ou fadiga e perda de
interesse por sexo.
Cada questão do inventário possui pontuações crescentes
dispostas em uma escala tipo Likert, de 0 a 3, permitindo soma de
pontuações no intervalo entre 0 e 63. Em geral, a
aplicação leva em torno de 10 a 15 minutos e tem boa
aceitação por parte dos respondentes7.
Deve-se prestar especial atenção à pontuação
correta de alterações no padrão de sono (item 16) e
alterações de apetite (item 18). Cada um desses itens contém
sete opções com valores ordenados como 0, 1a, 1b, 2a, 2b, 3a e 3b,
para diferenciar o aumento e a diminuição do comportamento ou da
motivação. Se o respondente elege uma alternativa com
pontuação mais alta, tanto o aumento quanto a diminuição
em quaisquer desses sintomas devem ser considerados clinicamente para fins
diagnósticos.
Os instrumentos aplicados em sua ordem foram um termo de consentimento livre e
esclarecido e o inventário de depressão de Beck (BDI- II).
Os pacientes foram classificados em quatro grupos (levemente deprimido, moderadamente
deprimido, gravemente deprimido e sem depressão), seguindo os
critérios definidos pelo manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais. No inventario de depressão de Beck (BDI-II), quanto mais
intenso os sintomas, mais severa ou grave é a manifestação da
depressão.
De acordo com o manual diagnóstico e estatístico de transtornos
mentais8, o nível de
intensidade leve corresponde ao indivíduo que apresenta poucos sintomas ou
nenhum. Causam sofrimento, mas é manejável, e os sintomas resultam em
pouco prejuízo no funcionamento social ou profissional.
No nível moderado os sintomas já estão mais presentes, sua
intensidade ou prejuízo funcional estão entre aqueles especificados
para “leve” e “grave”.
Na intensidade grave o número de sintomas está substancialmente
além do requerido para fazer o diagnóstico, sua intensidade causa
grave sofrimento e não é manejável, e os sintomas interferem
acentuadamente no funcionamento social e profissional.
RESULTADOS
Dos 34 pacientes avaliados que tinham o diagnóstico da bromidrose, 23 foram
diagnosticados com depressão grave, 8 moderadamente deprimidos, 2 levemente
deprimidos e 1 sem depressão (Figura 1).
Conforme mostra o Figura 1, dos 34 pacientes
avaliados que têm o diagnóstico da bromidrose, 23 apresentaram
sintomas de depressão grave.
Figura 1 - Sintomas de depressão nos pacientes avaliados.
Figura 1 - Sintomas de depressão nos pacientes avaliados.
Pode-se observar na Quadro 1, as respostas dos
34 pacientes, relacionadas aos 21 grupos de sintomas. No inventário de Beck
quanto maior a escala que são os números (2 e 3), maior é o
sintoma de depressão.
No manual do inventario de Beck-II existe um alerta sugerindo observar em particular
os itens que avaliam o pessimismo e a ideação suicida que integram o
diagnóstico de depressão e podem ser preditivos de um potencial para o
suicídio.
Nos 21 grupos de sintomas apresentados no inventário de depressão de
Beck (BDI-II), verifica-se na Quadro 2, as
afirmações que mais prevaleceram sobre os sintomas depressivos .
Grande parte dos pacientes, no item pessimismo responderam que não tem
esperança relacionado ao futuro, com tendência de agravar. No item de
pensamentos ou desejos suicidas a maioria tem pensamentos de se matar, mas
não levariam isso adiante. Os pacientes se isolam socialmente devido à
bromidrose, por medo, não conseguem achar uma solução para o
problema, já tentaram de tudo, como medicamentos, dermocosméticos e
outros. Devido a esse pessimismo a maioria começa a ter pensamentos suicidas
para se libertarem dessa angústia.
Se sentem fracassados e punidos, perdendo o prazer de viver. Preocupam com
opiniões das pessoas, dos amigos, familiares e colegas de trabalho. Acabam se
criticando, tornando-se fragilizados, ansiosos, inseguros com a autoestima
destruída e vulnerável.
As hipóteses de diagnóstico dos pacientes que apresentam a
doença bromidrose, tendo como base os resultados do inventário de
depressão BDI-II respondidos, e o acompanhamento psicológico com os
mesmos são:
• Transtorno depressivo maior
Critérios de diagnóstico:
Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes no mesmo
período de duas semanas e representam uma mudança em
relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas
(1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer. Os sintomas dos
critérios para o transtorno depressivo maior devem estar presentes
quase todos os dias para serem considerados presentes, com
exceção de alteração de peso e
ideação suicida. Humor deprimido deve estar presente na maior
parte do dia, além de estar presente quase todos os dias [...].
Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias;
Acentuada diminuição do interesse ou prazer em
todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase
todos os dias;
Perda ou ganho de peso significativo de peso sem estar fazendo
dieta;
Insônia ou hipersonia quase todos os dias;
Agitação ou retardo psicomotor quase todos os
dias;
Fadiga ou perda de energia quase todos os dias;
Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou
inapropriada;
Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou
indecisão quase todos os dias;
Pensamento recorrentes de morte.
• Transtorno depressivo persistente (distimia)
A característica essencial do transtorno depressivo persistente (distimia)
é um humor depressivo que ocorre na maior parte do dia, na maioria dos
dias, por pelo menos dois anos.
“Eu tenho dificuldade de aceitar essa doença, mexe muito
com a minha cabeça.” (M.S., 32 anos).
Presença, enquanto deprimido, de duas (ou mais) das seguintes
características:
Apetite diminuído ou alimentação em excesso;
Insônia ou hipersonia;
Baixa energia ou fadiga;
Baixa autoestima;
Concentração pobre ou dificuldade em tomar
decisões;
Sentimentos de desesperança.
Quadro 1 - Pode-se observar no conjunto de resposta dos pacientes, que as
escalas 2 e 3 foram as mais marcadas. Quanto maior a escala maior o
sintoma de depressão.
SINTOMAS |
Afirmações sobre os sintomas depressivos |
1-Tristeza |
0 Não me
sinto triste. (3 pacientes) 1 Eu me sinto triste grande
parte do tempo. (27 pacientes) 2 Estou triste o tempo
todo. (2 pacientes) 3 Estou tão triste ou tão
infeliz que não consigo suportar. (2 pacientes)
|
2- Pessimismo |
0 Não estou desanimado(a) a respeito do meu
futuro. (10 pacientes) 1 Eu me sinto mais desanimado(a) a
respeito do meu futuro do que de costume. (8 pacientes). 2
Não espero que as coisas deem certo para mim. (5
pacientes) 3 Sinto que não há
esperança quanto ao meu futuro. Acho que só
vai piorar. (11 pacientes) |
3-Fracasso
passado
|
0 Não me
sinto um(a) fracassado(a). (6 pacientes) 1 Tenho fracassado mais
do que deveria. (7 pacientes) 2 Quando penso no passado
vejo muitos fracassos. (15 pacientes) 3 Sinto que
como pessoa sou um fracasso total. (6 pacientes)
|
4-Perda de Prazer |
0 Continuo sentindo o mesmo prazer que sentia com
as coisas de que eu gosto. (5 pacientes) 1 Não
sinto tanto prazer com as coisas como costumava sentir. (16
pacientes) 2 Tenho muito pouco prazer nas coisas que
eu costumava gostar. (10 pacientes) 3 Não tenho mais
nenhum prazer nas coisas que costumava gostar. (3
pacientes)
|
5-Sentimento de
culpa
|
0 Não me
sinto particularmente culpado(a). (7 pacientes) 1 Eu me
sinto culpado(a) a respeito de várias coisas que fiz
e/ou que deveria ter feito. (12 pacientes) 2 Eu me
sinto culpado(a) a maior parte do tempo. (11 pacientes) 3 Eu me
sinto culpado(a) o tempo todo. (4 pacientes)
|
6-Sentimento de punição |
0 Não sinto que estou sendo punido(a). (7
pacientes) 1 Sinto que posso ser punido(a). (8 pacientes) 2 Eu
acho que serei punido(a). (4 pacientes) 3 Sinto que estou
sendo punido(a). (15 pacientes) |
7-Autoestima |
0 Eu me sinto
como sempre me senti em relação a mim mesmo(a). (6
pacientes) 1 Perdi a confiança em mim mesmo(a). (11
pacientes) 2 Estou desapontado(a) comigo mesmo(a). (9
pacientes) 3 Não gosto de mim. (8 pacientes)
|
8-Autocritica |
0 Não me critico nem me culpo mais do que o
habitual. (7 pacientes) 1 Estou sendo mais crítico(a)
comigo mesmo(a) do que costumava ser. (5 pacientes) 2 Eu
me critico por todos os meus erros. (13 pacientes) 3
Eu me culpo por tudo de ruim que acontece. (9 pacientes)
|
9-Pensamentos ou
desejos suicidas
|
0 Não
tenho nenhum pensamento de me matar. (14 pacientes) 1
Tenho pensamentos de me matar, mas não levaria isso
adiante. (17 pacientes) 2 Gostaria de me matar. (1
paciente) 3 Eu me mataria se tivesse oportunidade. (5
pacientes)
|
10-Choro |
0 Não choro mais do que chorava antes. (5
pacientes) 1 Choro mais agora do que costumava chorar. (4
pacientes) 2 Choros por qualquer coisinha. (15
pacientes) 3 Sinto vontade de chorar, mas não
consigo. (10 pacientes)
|
11-Agitação |
0 Não me
sinto mais inquieto(a) ou agitado(a) do que me sentia antes. (5
pacientes) 1 Eu me sinto mais inquieto(a) ou agitado(a) do que
me sentia antes. (10 pacientes) 2 Eu me sinto tão
inquieto(a) ou agitado(a) que é difícil ficar
parado(a). (11 pacientes) 3 Estou tão
inquieto(a) ou agitado(a) que tenho que estar sempre me mexendo
ou fazendo alguma coisa. (6 pacientes)
|
12-Perda de interesse |
0 Não perdi o interesse por outras pessoas
ou por minhas atividades. (3 pacientes) 1 Estou menos
interessado pelas outras pessoas ou coisas do que costumava
estar. (7 pacientes) 2 Perdi quase todo o interesse por
outras pessoas ou coisas. (18 pacientes) 3 É
difícil me interessar por alguma coisa. (6
pacientes)
|
13-Indecisão |
0 Tomo minhas
decisões tão bem quanto antes. (4 pacientes) 1
Acho mais difícil tomar decisões agora do que
antes. (4 pacientes) 2 Tenho muito mais dificuldade em tomar
decisões agora do que antes. (3 pacientes) 3 Tenho
dificuldade para tomar qualquer decisão. (23
pacientes) |
14- Desvalorização |
0 Não me sinto sem valor. (7 pacientes) 1
Não me considero hoje tão útil ou
não me valorizo como antes. (4 pacientes) 2 Eu me
sinto com menos valor quando me comparo com outras pessoas.
(15 pacientes) 3 Eu me sinto completamente sem valor.
(8 pacientes)
|
15-Energia |
0 Tenho tanta
energia hoje como sempre tive. (4 pacientes) 1 Tenho menos
energia do que costumava ter. (10 pacientes) 2 Não
tenho energia suficiente para fazer muita coisa. (17
pacientes) 3 Não tenho energia suficiente para
nada. (3 pacientes)
|
16-Alteração no padrão de
sono
|
0 Não percebi nenhuma mudança no meu
sono. (5 pacientes) 1a Durmo um pouco mais do que o
habitual. (9 pacientes) 1b Durmo um pouco menos do
que o habitual. (2 pacientes) 2a Durmo muito mais do que o
habitual. (5 pacientes) 2b Durmo muito menos do que o
habitual. (9 pacientes) 3a Durmo a maior parte do
dia. (3 pacientes) 3b Acordo 1 ou 2 horas mais cedo e não
consigo voltar a dormir. (1 paciente)
|
17-Irritabilidade |
0 Não
estou mais irritado(a) do que o habitual. (5 pacientes) 1 Estou
mais irritado(a) do que o habitual. (3 pacientes) 2 Estou
muito mais irritado(a) do que o habitual. (14
pacientes) 3 Fico irritado(a) o tempo todo. (12
pacientes)
|
18-Alterações de apetite |
0 Não percebi nenhuma mudança no meu
apetite. (3 pacientes) 1a Meu apetite está um pouco menor
do que o habitual. (8 pacientes) 1b Meu apetite está um
pouco maior do que o habitual. (5 pacientes) 2a Meu apetite
está muito menor do que antes. (1 paciente) 2b Meu
apetite está muito maior do que antes. (7 pacientes)
3a Não tenho nenhum apetite. (9
pacientes) 3bQuero comer o tempo todo. (1
paciente)
|
19-Dificuldade de
concentração
|
0 Posso
concentrar tão bem quanto antes. (4 pacientes) 1
Não posso me concentrar tão bem como
habitualmente. (2 pacientes) 2 É muito
difícil manter a concentração em alguma
coisa por muito tempo. (27 pacientes) 3 Eu acho que
não consigo me concentrar em nada. (1 paciente)
|
20-Cansaço ou fadiga |
0 Não estou mais cansado(a) ou fatigado(a)
do que o habitual. (2 pacientes) 1 Fico cansado(a) ou
fatigado(a) mais facilmente do que o habitual. (11 pacientes) 2
Eu me sinto muito cansado(a) ou fatigado(a) para fazer muitas
das coisas que costumava fazer. (7 pacientes) 3 Eu me
sinto muito cansado(a) ou fatigado(a) para fazer a maioria
das coisas que costumava fazer. (14 pacientes) |
21-Perda de
interesse por sexo
|
0 Não notei
qualquer mudança recente no meu interesse por sexo. (6
pacientes) 1 Estou menos interessado(a) em sexo do que costumava
estar. (11 pacientes) 2 Estou muito menos interessado(a)
em sexo agora. (17 pacientes) 3 perdi completamente o
interesse por sexo.
|
Quadro 1 - Pode-se observar no conjunto de resposta dos pacientes, que as
escalas 2 e 3 foram as mais marcadas. Quanto maior a escala maior o
sintoma de depressão.
Quadro 2 - Respostas que mais prevaleceram no Inventário de
depressão BDI-II.
|
INVENTÁRIO
DE DEPRESSÃO BDI-II
|
SINTOMAS |
RESPOSTAS RELACIONADOS AOS SINTOMAS QUE MAIS PREVALECERAM |
Tristeza |
Eu me
sinto triste grande parte do tempo.
|
Dificuldade de
Concentração
|
É muito difícil manter a
concentração em alguma coisa por muito tempo.
|
Indecisão |
Tenho
dificuldade para tomar qualquer decisão.
|
Perda de interesse |
Perdi quase todo o interesse por
outras pessoas ou coisas.
|
Pensamentos ou desejos suicidas |
Tenho
pensamentos de me matar, mas não levaria isso a
diante.
|
Falta de energia |
Não tenho energia suficiente
para fazer muita coisa.
|
Perda
de interesse por sexo
|
Estou
muito menos interessado (a) em sexo agora.
|
Perda de prazer |
Não sinto tanto prazer com as
coisas como costumava sentir.
|
Fracasso passado |
Quando penso no passado vejo muitos fracassos. |
Choro |
Choro por qualquer coisinha. |
Desvalorização |
Eu me
sinto com menos valor quando me comparo com outras pessoas.
|
Sentimentos de
punição
|
Sinto que estou sendo punido (a). |
Irritabilidade |
Estou
muito mais irritado (a) do que o habitual.
|
Cansaço ou fadiga |
Eu me sinto muito cansado (a) ou
fatigado (a) para fazer a maioria das coisas que eu acostumava a
fazer.
|
Autocritica |
Eu me
critico por todos os meus erros.
|
Sentimento de Culpa |
Eu me sinto culpado (a) a respeito de
várias coisas que fiz e/ou que deveria ter feito.
|
Pessimismo |
Sinto
que não há esperança quanto a meu futuro.
Acho que só vai piorar.
|
Auto Estima |
Perdi a confiança em mim
mesmo.
|
Agitação |
Eu me
sinto tão inquieto(a) ou agitado(a) que é
difícil ficar parado.
|
Alteração no
padrão de sono
|
-Durmo um pouco mais do que o
habitual. -Durmo menos do que o habitual.
|
Alteração de apetite |
Não tenho nenhum apetite. |
Quadro 2 - Respostas que mais prevaleceram no Inventário de
depressão BDI-II.
Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida
do indivíduo.
• Transtornos de ansiedade
Os transtornos de ansiedade incluem transtornos que compartilham
características de medo e ansiedade excessivos e
perturbações comportamentais relacionados. Medo e resposta
emocional, e ameaça iminente real ou percebida, enquanto a ansiedade
é a antecipação de ameaça futura9.
“Eu fico muito ansioso por causa da bromidrose, às vezes
tenho pensamentos de cortar o meu pulso. Da vontade de chorar, mas
não consigo.” (R.S., 25 anos).
“Desde o primeiro ano de faculdade, meus colegas debochavam de
mim. Quanto mais nervosa eu ficava, maior o cheiro ficava.”
(A.G., 22 anos).
“A ansiedade é como se fosse um portal para a bromidrose
atacar.” (A.L., 30 anos).
“Quando começo a estudar, fico muito nervoso, o cheiro
aumenta, mas quando estou fazendo uma caminhada, ou jogando videogame o
cheiro desaparece.” (F.A., 31 anos).
• Transtorno de ansiedade generalizada
Segundo Zuardi (2017)10, a
preocupação persistente e excessiva é a
característica principal do transtorno de ansiedade generalizada (TAG),
porém essas preocupações são acompanhadas de
sintomas físicos relacionados à hiperatividade autonômica e
a tensão muscular. Entre esses sintomas são comuns a taquicardia,
sudorese, insônia, fadiga, dificuldade de relaxar e dores musculares,
podendo causar sofrimento e prejuízo no desempenho do
indivíduo.
• Transtorno de sintomas somáticos
Arenales et al. (2014)11 citam
no artigo a doença de sofrer de doença, que o manual de DSM-5
(manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais) utiliza
como núcleo de diagnóstico as queixas somáticas associadas
com sofrimento e perturbação para a vida diária do
paciente. Essas queixas podem ser específicas como a dor, ou não
tão específicas como a fadiga. O diagnóstico é feito
quando observamos excessivos pensamentos, sentimentos ou comportamentos
relacionados a sintomas somáticos ou associado a
preocupações com a saúde.
Critérios de diagnósticos
A. Um ou mais sintomas somáticos que causam aflição ou
resultam em perturbação significativa da vida
diária.
B. Pensamentos, sentimentos ou comportamentos excessivos relacionados aos
sintomas somáticos ou associados a preocupações com a
saúde manifestados por pelo menos um dos seguintes:
Pensamentos desproporcionais e persistentes acerca da gravidade
dos próprios sintomas.
Nível de ansiedade persistentemente elevado acerca da
saúde e dos sintomas.
Tempo e energia excessivos dedicados a esses sintomas ou a
preocupações a respeito da saúde.
“Eu estava assentado conversando com minha amiga, que sabe
sobre a bromidrose, estava tudo tranquilo.... chegou uma conhecida dela,
comecei a ficar tenso, senti um calor como se minha pressão
estivesse subindo e o odor começou aumentar demais, isso acabou
comigo.” (A.L., 30 anos).
• Transtorno de ansiedade social (fobia social)
Os indivíduos com transtorno de ansiedade social (TAS), manifestam um medo
excessivo e persistente de uma ou mais situações sociais ou de
desempenho. Eles temem serem vistos comportando-se de maneira humilhante ou
embaraçosa, e uma consequente desaprovação ou
rejeição pelos outros. Observa-se nesses pacientes um medo da
avaliação negativa pelas pessoas, gerando sentimentos de
constrangimento, humilhação e vergonha. Caracterizam-se
também por serem extremamente inibidos e autocríticos nas
situações sociais que lhes geram ansiedade, comportando-se de
maneira tensa e rígida, com dificuldades em articularem-se verbalmente,
ocasionando prejuízos no desempenho social12.
“Sofri bullying dos professores, falavam que eu estava fedendo.
Riam de mim. Acabei resolvendo trancar a faculdade.” (A.G.,
22 anos).
“Sempre fiquei isolada do meu grupo de amigas ou me distanciava
nas conversas por medo das pessoas sentirem o cheiro.”
(R.S., 33 anos).
• Transtorno obsessivo compulsivo
O transtorno obsessivo compulsivo é um transtorno caracterizado por ideias
obsessivas e/ou por comportamentos compulsivos recorrentes e tem sido
reconhecido por seu curso crônico e incapacitante. Tais ideias e
comportamentos perturbam muito e consomem tempo da vida do sujeito, interferindo
ocupacional e socialmente13.
“Eu tomo banho várias vezes por dia, chego a tomar cinco
banhos durante o dia. E sinto que o odor não sai. Quanto mais nervoso
eu fico, mais aumenta o cheiro, fico muito angustiado, saio do meu
controle.” (G.J., 30 anos).
“Perdi a conta de quantas embalagens de desodorante tenho em casa.
Trabalho praticamente para comprar produtos para tirar esse cheiro
horrível.” (M.E., 38 anos).
“Às vezes acho que estou ficando paranoico, começo a
observar as pessoas ao meu redor, e sinto que estão olhando para mim,
coçam o nariz e fazem cara ruim.” (A.L., 30
anos).
“Na sala de aula saio quase todo tempo para ir ao banheiro lavar
de baixo dos braços. Isso me deixa chateado as pessoas estão
olhando para mim a todo instante.” (G.J., 30 anos).
DISCUSSÃO
Os resultados mostram que os pacientes que tem o diagnóstico da bromidrose,
apresentam um sofrimento psíquico, que se manifesta através da
tristeza, vazio existencial, causando ansiedade, mudanças de humor e
isolamento social, levando o indivíduo a ter depressão e outros
transtornos psíquicos.
A bromidrose é uma doença que além do tratamento,
dermatológico e cirúrgico, é preciso ter um acompanhamento
específico desses pacientes. O acompanhamento psicológico é
necessário, considerando que as pessoas diagnosticadas com a doença se
sentem fragilizadas psicologicamente.
Esse acompanhamento visa trabalhar todas as questões emocionais e
comportamentais dos mesmos, objetivando minimizar as causas que provocam o
surgimento do odor próprio da bromidrose.
CONCLUSÃO
Por meio deste trabalho, concluímos que os pacientes que apresentam o
diagnóstico da bromidrose, são emocionalmente vulneráveis,
depressivos, impulsivos, apresentam uma baixa autoestima, o que provoca nos mesmos
um sofrimento psíquico muito grande.
O acompanhamento psicológico em todo processo cirúrgico vai ajudar o
paciente com bromidrose, a se sentir melhor, orientando-o a buscar alternativas para
amenizar o sentimento de tristeza, pessimismo e desânimo, e principalmente,
evitar uma futura obsessão por parte do paciente após a cirurgia da
bromidrose.
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Pires AJ, et al. Qualidade de vida no transtorno obsessivo-compulsivo: um estudo
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Saúde Colet. 2017;22(4):1353-60. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232017224.02062015
1. Hospital Ruben Berta, São Paulo, SP,
Brasil.
Autor correspondente: Alexandre
Kataoka, Rua Av. Paulista, nº 2494 cj 14, São Paulo,
SP, Brasil, CEP 01310-300, E-mail:
drkataoka@hotmail.com
Artigo submetido: 28/01/2021.
Artigo aceito: 14/07/2021.
Conflitos de interesse: não há.
Instituição: Hospital Ruben Berta, São Paulo, SP,
Brasil.