INTRODUÇÃO
A doença pelo coronavírus 2019 (COVID-19), tem causado impacto mundial,
principalmente na área da saúde. Identificado pela primeira vez na
China em 31 de dezembro de 20191,
devido à sua alta taxa de transmissibilidade associada às
características do mundo globalizado, apresentou aumento exponencial no
número de pessoas e países afetados. Em 11 de março de 2020,
com mais de 118.000 casos reportados em 114 países e 4291 óbitos, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a COVID-19 como
pandemia2.
O primeiro caso da COVID-19 no Brasil foi confirmado em 26 de fevereiro de 2020, na
cidade de São Paulo/SP3. A
partir de então, devido ao acelerado crescimento das taxas no estado e em
todo o país, após 27 dias do caso índice, o governo do estado
de São Paulo decretou período de quarentena em todos os 645
municípios. Neste cenário, apenas os serviços essenciais nas
áreas de saúde pública, alimentação,
abastecimento, segurança e limpeza permaneceram funcionando, resguardando os
devidos cuidados e medidas de proteção4.
A partir de 24 de março, os índices de isolamento social na cidade e no
estado de São Paulo mantiveram-se elevados (variando entre 46-59%), quando
comparados aos níveis anteriores ao decreto de pandemia (25-28%)5. Estes índices comprovaram
relação direta com a diminuição do número de
acidentes de trânsito, conforme levantamento do programa Respeito à
Vida, do Governo do Estado de São Paulo6.
Os acidentes de trânsito são responsáveis por cerca de um em
cada quatro vítimas de trauma. Traumas em geral estão entre os
problemas de saúde pública mais importantes em todo o mundo, sendo a
principal causa de morte entre crianças e adultos jovens. Além disso,
podem ocasionar lesões não fatais, incapacitantes e com perda de
capacidade laboral7. Nesse
contexto, as feridas traumáticas têm significativa relevância
em atendimentos de emergência. Podem variar de pequenas abrasões a
extensos ferimentos com perda de tecido, podendo ou não estar associadas a
lesões em estruturas subjacentes, como ossos ou
órgãos8.
No Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (HC-FMUSP), o Grupo de Feridas Complexas, ligado ao Serviço
de Cirurgia Plástica, é responsável pelo atendimento conjunto
com a cirurgia do trauma de feridas traumáticas no pronto-socorro. São
atendidos, principalmente pacientes vítimas de feridas complexas, com perda
de cobertura cutânea, incluindo ferimentos descolantes. Estes são
geralmente caracterizados como lesões graves, resultantes de uma força
tangencial contra a superfície cutânea, que levam à
separação da pele e do tecido celular subcutâneo dos tecidos
profundos, como fáscia e músculo. A circulação vascular
geralmente está comprometida, visto que a pele e tecido celular
subcutâneo estão conectados de forma tênue9. Esses pacientes demandam desde
procedimentos simples, como desbridamentos e enxertos de pele, até mais
complexos, como retalhos locais e microcirúrgicos10.
OBJETIVO
O objetivo deste estudo é avaliar o impacto do isolamento social na cidade de
São Paulo durante a pandemia de COVID-19 nos atendimentos de pacientes com
ferimentos descolantes de membros inferiores tratados cirurgicamente pelo grupo de
feridas complexas da disciplina de cirurgia plástica do HC-FMUSP, no
período inicial de quarentena em 2020, e comparar com os atendimentos no
mesmo período do ano anterior.
MÉTODOS
Foi realizado um estudo observacional, retrospectivo e descritivo. Foram revisados
todos os prontuários de pacientes atendidos no pronto-socorro do HC- FMUSP,
pelo grupo de feridas complexas do serviço de cirurgia plástica, que
foram admitidos por ferimentos descolantes e submetidos a procedimento
cirúrgico, no período de abril a junho dos anos de 2019 e 2020.
As seguintes variáveis foram analisadas: dados epidemiológicos,
diagnóstico, antecedentes pessoais, etiologia do trauma, ferimento,
localização, área da ferida, índice MESS (mangled
extremity severity score), tratamento, tempo de hospitalização e
complicações. Os dados foram analisados através de
estatística descritiva.
As áreas dos ferimentos foram estimadas com base em registros
fotográficos com escala, utilizando o software ImageJ11. O índice MESS foi
utilizado para estratificar a gravidade das lesões de extremidades12.
O estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sob o
número de protocolo 35085020.8.0000.0068.
RESULTADOS
Foram incluídos 14 pacientes vítimas de ferimentos descolantes em
extremidades inferiores, atendidos no período de abril a junho de 2019, e 6
pacientes no mesmo período de 2020, representados no Figura 1. Os resultados estão sumarizados na Tabela 1.
Em relação ao período de 2019, foram atendidos 8 pacientes do
sexo masculino e 6 pacientes do sexo feminino, com idade média de 47 anos
(mínima 21, máxima de 88 anos). Em relação ao mecanismo
do trauma, 7 foram vítimas de acidente de trânsito, 5 de
atropelamento, 1 esmagamento e 1 queda da própria altura, sendo que 4
pacientes apresentaram trauma exclusivo do membro acometido e 9 com traumas
associados (politraumatismo). A localização do trauma foi a de membros
inferiores na totalidade da amostra. Os ferimentos apresentaram área
média de 260,756 cm2 (25,335-514,531cm2). O
índice MESS médio foi 5,36. Sobre o atendimento destes pacientes, em
todos os casos foi utilizada terapia por pressão negativa, seguida de
enxertia. Cobertura complementar com retalhos foi necessária em 42,86%. O
número médio de cirurgias para resolução da ferida foi
de 3,4 por paciente. No seguimento, 9 pacientes não apresentaram
complicações relacionadas ao ferimento, 1 apresentou perda parcial do
enxerto, 1 perda total do enxerto, 1 hematoma e 2 deiscência de ferida
operatória. Não houve registro de infecção de ferida
operatória. O período médio de internação
hospitalar foi de 30,86 dias (mínimo de 5 e máximo de 98 dias). Quatro
pacientes evoluíram para óbito por intercorrências
clínicas (2 por acidente vascular cerebral isquêmico, 1 por
broncoaspiração maciça e 1 por choque séptico de
corrente sanguínea).
Figura 1 - Número de atendimentos de pacientes com ferimentos descolantes nos
meses de abril a junho, em 2019 e 2020.
Figura 1 - Número de atendimentos de pacientes com ferimentos descolantes nos
meses de abril a junho, em 2019 e 2020.
Em 2020, durante a pandemia, foram atendidos 6 pacientes com ferimento descolante.
A
idade média foi de 36,16 anos (mínima de 23 e máxima de 60),
sendo 4 pacientes do sexo masculino e 2 do sexo feminino. Sobre o mecanismo do
trauma, 5 foram vítimas de acidentes com motocicleta e 1 de atropelamento.
Politraumatismos estavam presentes em 2 pacientes. Membros inferiores foram
acometidos em todos os casos. Os ferimentos apresentaram área média de
428,493cm2 (54,070-1.005,174cm2). O índice MESS
médio foi 5,8. Em relação ao tratamento, 5 utilizaram a terapia
por pressão negativa, 5 foram submetidos à enxertia de pele. Retalho
foi necessário em um caso. No seguimento, nenhum apresentou
complicações relacionadas à ferida operatória. O tempo
médio de internação foi de 18,33 dias (mínimo 3 e
máximo 33 dias), e nenhum paciente foi a óbito. Nenhum paciente
apresentou manifestação clínica da COVID-19, sendo que 5
coletaram swab (PCR) para coronavírus, todos negativos.
DISCUSSÃO
O Brasil é um dos países mais acometidos pela pandemia de COVID-19, e a
cidade de São Paulo é o centro com maior número de casos no
país3. Diante da
nova demanda de tratamento a pacientes com síndrome respiratória
aguda, é esperado que procedimentos cirúrgicos oncológicos e de
urgência sejam priorizados.
Durante a primeira onda de COVID-19, o HC-FMUSP foi adaptado para receber a alta
demanda de pacientes com síndrome respiratória aguda. Desse modo,
foram reduzidas as atividades ambulatoriais e procedimentos cirúrgicos
eletivos. O serviço de cirurgia plástica passou a atuar
majoritariamente em casos de urgência e emergência, como no
atendimento a trauma complexo de partes moles.
Os ferimentos descolantes apresentam alta prevalência dentre as feridas
traumáticas complexas atendidas em pronto-socorro. Em um trabalho publicado
anteriormente por nosso serviço, de um total de 178 pacientes atendidos entre
janeiro de 2010 e dezembro de 2011, 83 (46,6%) apresentaram ferimentos descolantes.
Esse tipo de lesão representa um desafio para manejo inicial e tratamento,
visto que geralmente são de grandes dimensões, com extensos defeitos
de cobertura cutânea, apresentam exposição de estruturas
profundas e estão frequentemente associados a traumas em outros
órgãos13.
O protocolo de atendimento dos ferimentos descolantes utilizado em nosso
serviço divide os pacientes inicialmente em dois grupos: instáveis e
estáveis. São incluídos no primeiro grupo pacientes com traumas
graves, múltiplos, que necessitaram transfusões múltiplas, ou
apresentam hipotermia e instabilidade hemodinâmica. Neste grupo, o tratamento
consiste em ressecção do tecido descolado e realização
de curativo oclusivo na extremidade (incluindo terapia por pressão negativa),
para que a equipe do trauma possa realizar os procedimentos necessários.
Paralelamente, é realizado, em mesa auxiliar, o preparo da peça
ressecada para adelgaçamento do tecido e armazenamento em banco de tecidos na
forma de enxerto de pele. Após estabilidade clínica (24-72 horas),
realiza-se a enxertia de pele autógena conservada no banco de tecidos por
até 14 dias. Em pacientes estáveis, avalia-se inicialmente o retalho
avulsionado. Se viável, após cuidados de limpeza com soro
fisiológico sob pressão e desbridamento do leito da ferida e dos
bordos do retalho, é reposicionado e suturado. Se inviável,
após limpeza, o tecido é ressecado e submetido à retirada do
enxerto, que será posicionado sobre o leito e aplicado a terapia por
pressão negativa14.
Tabela 1 - Resultados.
|
2019 |
2020 |
Sexo |
Número
de pacientes |
Porcentagem
(%) |
Número
de pacientes |
Porcentagem
(%) |
Masculino Feminino
|
8 6
|
57,14 42,86
|
4 2
|
66,67 33,33
|
Idade |
|
|
|
|
<20
anos 20 - 30 anos 30 - 40 anos 40 - 50
anos 40 - 50 anos >60 anos
|
0 4 2 2 2 4
|
- 28,56 14,29 14,29 14,29 28,56
|
0 3 1 1 1 0
|
- 50,00 16,67 16,67 16,67 -
|
|
Idade média |
47,2 anos |
Idade média |
36,2 anos |
Antecedentes
pessoais
|
|
|
|
|
Sem comorbidades 1 comorbidade 2
comorbidades 3 ou mais comorbidades Desconhecido
|
7 1 2 2 2
|
50,00 7,14 14,28 14,28 14,28
|
5 1 - - -
|
83,33 16,67 - - -
|
Etiologia |
|
|
|
|
Acidente automobilístico |
12 |
85,72 |
6 |
100 |
Moto x
anteparo Moto x automóvel Moto x
caminhão Atropelamento Queda de
moto Automóvel x
caminhão Esmagamento Queda da própria
altura
|
- 3 2 6 - 1 1 1
|
- 21,43 14,29 42,86 - 7,14 7,14 7,14
|
- 1 3 1 1 - - -
|
- 16,67 50,00 16,67 16,67 - - -
|
Politraumatismo |
|
|
|
|
Sim Não
|
9 5
|
64,29 35,71
|
2 4
|
33,33 66,67
|
Localização |
|
|
|
|
Membros
inferiores
|
14 |
100 |
6 |
100 |
Detalhes das cirurgias |
|
|
|
|
VAC Enxerto Retalho
|
13 14 6
|
92,86 100 42,86
|
4 4 1
|
100,00 100,00 25,00
|
Complicações |
|
|
|
|
Sim Perda
parcial do enxerto Perda total do
enxerto Deiscência Hematoma Outras Não Óbitos
|
5 1 1 1 2 0 9 4
|
35,71 7,14 7,14 7,14 14,29 0 64,29 28,67
|
1 0 0 0 0 1 3 0
|
16,67 0 0 0 0 16,67 83,34 0
|
COVID |
|
|
|
|
Positivo Negativo
|
- -
|
- -
|
0 6
|
0 100
|
Outras informações |
Mínima / Máxima |
Média |
Mínima / Máxima |
Média |
Número de
cirurgias Tempo de internação (dias)
|
2 / 6 5 /
98
|
3,14 30,86
|
2 / 2 3 /
33
|
2 16,5
|
Área (em cm2) |
25,335 / 514,531* |
260,756* |
54,070 / 1.005,174 |
428,493 |
Índice
MESS
|
2 / 9 |
5,36 |
2 / 6 |
5,8 |
O grupo de feridas complexas do serviço de cirurgia plástica do
HC-FMUSP possui considerável experiência com o atendimento de
lesões descolantes. Como citado anteriormente, foram atendidos mais de 80
casos nos anos de 2010 e 2011 em nosso serviço13. Acidentes automobilísticos e
atropelamentos são os principais mecanismos desse tipo de ferimento. Devido
à restrição na circulação de pessoas imposta pelo
Governo do Estado de São Paulo durante a quarentena, com consequente
redução no tráfego de veículos, espera-se
redução na incidência dos traumas complexos de partes
moles.
Comparando os períodos analisados, observou-se uma redução
numérica dos atendimentos durante a pandemia. Conforme dados do
“Infosiga SP”, sistema de dados do Governo do Estado de São
Paulo gerenciado pelo programa “Respeito à Vida”, o Estado
apresentou forte redução nos índices de acidentes e fatalidade
de trânsito. Em maio de 2020, foram registrados 387 óbitos, contra 487
em 2019 - redução de 20,5%15. Um levantamento do programa comprovou a
relação direta entre índices de isolamento social e o
número de acidentes de trânsito (Figura 2). As estatísticas de 104 cidades entre os dias 24 de
março de 2020, início da quarentena, e 30 de abril de 2020,
acompanhadas pelo “Sistema de Monitoramento Inteligente”, apresentaram
redução de 41% nas ocorrências em vias urbanas e rodovias. Isso
representou 6,8 mil acidentes a menos com vítimas feridas ou fatais. Essa
redução ajudou a aumentar a capacidade de atendimento na rede de
saúde à COVID-19, visto que acidentes de trânsito demandam
atendimentos de emergência e leitos hospitalares, tão
necessários na época de pandemia16.
Observou-se redução na idade média dos pacientes atendidos no
período da quarentena, quando comparados aos dados pré-pandemia (47
anos versus 36,1 anos). Em abril de 2020, os dados do “Infosiga SP”
chamaram atenção para a redução de vítimas fatais
no trânsito com mais de 60 anos e crianças e adolescentes com
até 17 anos de idade. Houve queda de 46,5% na fatalidade entre idosos (49
casos neste ano, contra 97 em 2019) e de 90% entre jovens (10
versus 19 vítimas)6. É provável que esta mudança esteja
relacionada à maior reclusão social entre indivíduos idosos,
visto que essa população está mais suscetível às
complicações da doença. Houve ainda discreta
redução na incidência de lesões complexas em membros em
mulheres, comparativamente aos homens (4 homens: 3 mulheres pré-pandemia; 4
homens: 2 mulheres pós-pandemia).
Não houve mudança na localização das lesões. Todos
os traumas ocorreram em membros inferiores, com elevada gravidade, quando se analisa
a área média dos ferimentos (>250 cm2) e o
índice MESS (5,36 em 2019 x 5,8 em 2020). Em 2019, 14,28% dos traumas
não foram associados a acidentes automobilísticos (1 lesão por
esmagamento; 1 queda da própria altura). Em 2020, por outro lado, todos os
casos foram resultantes de acidentes de trânsito. Ainda sobre a etiologia, em
2019, 42,85% dos traumas envolveram motociclistas. Comparativamente, em 2020, esse
número foi de 83,33%. Conforme a análise do programa já citado,
em maio de 2020 houve queda nas fatalidades em todos as categorias de meio de
transporte quando comparadas ao mesmo período do ano anterior (Figura 3), com exceção dos
motociclistas. Foram 179 acidentes fatais em 2020 em comparação a 167
em 2019 (aumento de 7,2%)15.
Devido ao fechamento de estabelecimentos físicos e interrupção
do atendimento presencial, observou-se um aumento significativo na demanda de
serviços de entrega. Outro fator associado foi a maior
circulação de motociclistas inexperientes, recém-contratados
para os serviços de entrega.
Os tratamentos dos ferimentos descolantes foram semelhantes em ambos os
períodos, conforme protocolo institucional. Em 100% dos pacientes atendidos
em 2020, e 92,86%, em 2019, a terapia por pressão negativa foi utilizada. A
totalidade dos pacientes também foi submetida à enxertia
cutânea no tratamento da ferida (isolada ou associada a outras
técnicas). Retalho foi necessário em 6 casos (42,86%) em 2019 e em 1
(25,0%) em 2020.
Diante do cenário de pandemia, recomendações para atendimentos
de pacientes cirúrgicos foram instituídas. Procedimentos eletivos
foram suspensos durante o período para priorizar os cuidados de pacientes com
a COVID-19. Entretanto, abordagens de emergência não podem ser
postergadas. Para adequado atendimento, protocolos de segurança devem ser
adotados. À admissão, recomenda-se máscaras faciais para todos
os pacientes. Equipamentos de proteção individual para
transmissão respiratória e por contato (gorro, óculos de
proteção, máscara N95 ou similar, “face
shield”, avental impermeável e luvas descartáveis)
devem ser utilizados por todos os profissionais17.
No bloco cirúrgico, precauções semelhantes devem ser mantidas,
considerando todo paciente como potencial infectado pelo coronavírus. A
equipe deve ser reduzida, mantendo em sala apenas os colaboradores essenciais, assim
como os materiais indispensáveis para o procedimento. A abordagem deve ser a
mais breve possível, minimizando o tempo de exposição dos
profissionais ao possível contato17. O ato anestésico também deve adotar novas
medidas de segurança18. Em
nossa casuística, o atendimento de todos os pacientes seguiu o protocolo
institucional, ainda que nenhum caso de COVID-19 tenha sido confirmado durante o
período de internação hospitalar.
Figura 2 - Índice de isolamento social e número de acidentes de
trânsito no Estado de São Paulo em março e abril de
2020. (Fonte: Programa Respeito à Vida, Governo do Estado de
São Paulo, 26 de maio de 2020).
Figura 2 - Índice de isolamento social e número de acidentes de
trânsito no Estado de São Paulo em março e abril de
2020. (Fonte: Programa Respeito à Vida, Governo do Estado de
São Paulo, 26 de maio de 2020).
Gráfico 3 - Acidentes de trânsito no Estado de São Paulo em
março e abril de 2019 e 2020. (Fonte: Programa Respeito à
Vida, Governo do Estado de São Paulo, 26 de maio de 2020).
Gráfico 3 - Acidentes de trânsito no Estado de São Paulo em
março e abril de 2019 e 2020. (Fonte: Programa Respeito à
Vida, Governo do Estado de São Paulo, 26 de maio de 2020).
Observou-se taxa global de complicações relacionadas ao ato
operatório de 35,71% em 2019 e 25% em 2020. No ano anterior, houve perda
parcial de enxerto em 1 paciente, perda total de enxerto em 1, deiscência da
ferida operatória em 1 e hematoma em 2. Em 2020, registrou-se 1
obstrução de enxerto vascular, resultando na inviabilidade e
amputação do membro acometido. Em nenhum dos períodos
analisados houve registro de infecção de ferida operatória. Os
desfechos dos atendimentos de 2019 foram 4 (28,57%) óbitos e 10 (71,43%)
altas hospitalares, com a média de tempo de internação de 30,84
dias. Já em 2020, 4 pacientes receberam alta após uma média de
16,5 dias de internação. Apesar da mobilização do
HC-FMUSP para o tratamento preferencial de COVID-19 durante a pandemia, traumas
graves continuaram sendo referenciados ao serviço para assistência
especializada, sem prejuízo ao atendimento de ferimentos descolantes.
CONCLUSÃO
Durante o isolamento social, decretado em consequência à pandemia da
COVID- 19, observou-se diminuição dos acidentes mobilísticos e
redução numérica na incidência de ferimentos
descolantes. Ainda assim, o atendimento de urgência e emergência por
grupo especializado no tratamento de feridas complexas segue relevante, sempre com
a
adoção das medidas de segurança recomendadas no cenário
atual.
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1. Hospital das Clínicas, Faculdade de
Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP,
Brasil.
Autor correspondente: Gustavo Moreira
Clivatti, Rua Avenida Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, nº
255, 8° andar, Cerqueira César, São Paulo, SP Brasil, CEP
05403-000, E-mail: clivatti@gmail.com
Artigo submetido: 26/02/2021.
Artigo aceito: 18/05/2021.
Conflitos de interesse: não há.
Instituição: Hospital das Clínicas, Faculdade de
Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP,
Brasil.