INTRODUÇÃO
Os procedimentos estéticos na região glútea têm ganhado evidência nas últimas décadas,
nos Estados Unidos da América, observou-se um incremento de 86% nos anos de 2013 para
2014, atingindo no ano de 2014 o número de 21446 procedimentos de gluteoplastia1, no Brasil, no período de 2008 a 2011, segundo dados da sociedade brasileira de Cirurgia
Plástica houve um aumento de 20% no número de procedimentos2.
Esse aumento da procura pelo procedimento somado ao desenvolvimento de novas técnicas
e maior facilidade de acesso aos métodos de imagem, tornam-se cada vez mais frequentes
os exames de imagem nos pacientes submetidos à gluteoplastia, com destaque atualmente
para a avaliação por ressonância magnética desta região. Dessa forma, a imagem entra
cada vez mais na prática clínica diária do cirurgião plástico, requerendo do mesmo
conhecimento sobre conceitos básicos em relação à solicitação e interpretação dos
exames.
Neste artigo, revisamos aspectos de imagem por ressonância magnética de procedimentos
estéticos da região glútea, bem como suas complicações.
OBJETIVO
Ilustrar através de estudos de ressonância magnética os achados habituais nos procedimentos
de gluteoplastia, bem como algumas de suas complicações, além de propor um protocolo
de sequências de ressonância magnética a serem realizadas para melhor avaliação da
região, considerando as particularidades de cada suspeita do médico solicitante e
de cada procedimento realizado.
MÉTODOS
Foram selecionados casos ilustrativos de pacientes que se submeteram a procedimentos
de gluteoplastia, sejam eles aprovados, off-label ou mesmo ilícitos3, e que fizeram estudo de ressonância magnética dentro dos laboratórios do grupo Fleury
(marca Fleury, Amais e no serviço de imagem do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, localizados
na cidade de São Paulo) no período compreendido de 2016 a 2019, não sendo a totalidade
dos casos observados, mais sim os casos mais representativos em relação aos achados
de imagem.
Os pacientes realizaram os exames de ressonância magnética em equipamentos de fabricantes
diferentes, sendo todos com 1,5 Tesla e o protocolo realizado para aquisição de imagem
foi o que propomos a ser realizado (Figura 1), compreendendo para cada suspeita e tipo de implante adições de sequências ao protocolo
padrão usualmente realizado para os casos. O tipo de procedimento que o paciente foi
submetido foi adquirido através do preenchimento de questionário dirigido realizado
anteriormente a realização do exame e através das informações contidas no pedido médico,
quando necessário foi realizado contato com o médico solicitante para complementar
as informações necessárias.
Figura 1 - protocolo proposto para a realização do estudo de ressonância magnética com as sequências
a serem adicionadas ao protolo padrão para a suspeita clínica do médico solicitante
e para o procedimento realizado.
Figura 1 - protocolo proposto para a realização do estudo de ressonância magnética com as sequências
a serem adicionadas ao protolo padrão para a suspeita clínica do médico solicitante
e para o procedimento realizado.
Os exames dos pacientes foram avaliados por pelo menos dois radiologistas com subespecialidade
em radiologia de musculoesquelético, com experiência de 5 e 15 anos dentro da subespecialidade
e titulados pelo colégio brasileiro de radiologia.
DISCUSSÃO
O implante de silicone, a lipoenxertia e os denominados local flaps são métodos cirúrgicos reconhecidos na literatura com o intuito de aumentar a projeção
da região glútea. Métodos minimamente invasivos com a utilização de materiais de preenchimento,
por sua vez, vêm ganhando espaço nos últimos anos, fazendo parte da prática clínica
de muitos profissionais. Já o uso de silicone líquido injetável aplicado por indivíduos
não médicos, ou mesmo a aplicação de materiais de preenchimento por profissionais
sem especialização adequada, infelizmente ainda são uma realidade brasileira, resultando
em complicações muitas vezes graves4.
Independentemente do tipo de procedimento realizado, todos estão sujeitos a complicações,
sendo as mais comuns: formação de seroma ou hematoma, infeção, migração do material,
reação inflamatória/corpo estranho, compressão do feixe vasculonervoso, dentre outros.
No caso específico dos implantes de silicone podemos ter ainda rotura, deslocamento
e contratura capsular5.
Para análise pelo método de ressonância magnética (RM), temos basicamente as sequências
na ponderação T1, na qual a gordura aparece com alto sinal (“branca”) e demonstra
de forma mais conspícua a anatomia, e as sequências ponderadas em T2 com supressão
da gordura, na qual a gordura aparece com baixo sinal (“escura”), sendo que as áreas
que contém líquido ou edema brilham (sequências sensíveis a líquido). Outras sequências
adicionais são empregadas a depender de cada caso em particular, sendo elas as sequências
específicas para silicone, as sequências pós-contraste e as volumétricas, para esse
tipo de avaliação mais específico, sugerimos seguir o protocolo conforme colocado
na Figura 1.
Vale destacar que tal protocolo consiste somente em uma sugestão baseada na prática
de diagnósticos por imagem realizados em nosso serviço, não tendo sido realizado nenhuma
validação do presente protocolo, correspondendo a uma limitação relevante do estudo.
Implante de silicone:
Estruturalmente, os implantes de silicone são compostos por um invólucro de elastômero
de silicone sólido contendo um gel de silicone no seu interior6. Nos Estados Unidos, diferentemente do Brasil e de outros países, apenas o implante
de elastômero de silicone sólido é aprovado para as gluteoplastias7, em detrimento do gel de silicone e o implante com salina.
Nas imagens de tomografia computadorizada (TC), os implantes são discretamente hiperdensos
em comparação com o músculo6,8, e demonstram intensidade de sinal intermediária nas imagens de RM ponderadas em
T1 e T29.
A ressonância magnética é a modalidade de imagem mais precisa para avaliação não invasiva
da integridade do implante9.
Na Figura 2, apresentamos um esquema do posicionamento habitual a ser visto nos cortes axiais
de ressonância magnética para os dois tipos mais comuns de localização dos implantes
glúteos, nos espaços intramuscular ou subfascial. Na Figura 3 trazemos a apresentação habitual no corte axial de uma paciente com implante intramuscular,
nas sequências ponderadas em T1 e em T2.
Figura 2 - Esquema ilustrativo de cortes axiais com implantes glúteos intramusculares (a) e subfasciais
(b). Glúteo máximo em vermelho, fáscia muscular em azul e implantes de silicone em
branco.
Figura 2 - Esquema ilustrativo de cortes axiais com implantes glúteos intramusculares (a) e subfasciais
(b). Glúteo máximo em vermelho, fáscia muscular em azul e implantes de silicone em
branco.
Figura 3 - Aparência normal de ressonância magnética de implantes intramusculares. (a) Axial
T2 com saturação de gordura; (b) Axial T1. Sinal intermediário do silicone em ambas
as sequências.
Figura 3 - Aparência normal de ressonância magnética de implantes intramusculares. (a) Axial
T2 com saturação de gordura; (b) Axial T1. Sinal intermediário do silicone em ambas
as sequências.
Na Figura 4 demonstramos de modo esquemático, como são vistos os implantes intramusculares nas
sequências ponderadas em T1, no plano axial e também no plano sagital.
Figura 4 - Esquema ilustrativo e aparência normal dos implantes intramusculares em cortes axial
(a) e sagittal (b) ponderados em T1. Glúteo máximo em Vermelho e implantes de silicone
em branco.
Figura 4 - Esquema ilustrativo e aparência normal dos implantes intramusculares em cortes axial
(a) e sagittal (b) ponderados em T1. Glúteo máximo em Vermelho e implantes de silicone
em branco.
Os protocolos de ressonância magnética para avaliação do implante glúteo incluem sequencias
semelhantes às utilizadas para avaliação do implante de mamas, com sequencias tanto
para supressão do sinal do silicone, quanto para acentuação do seu sinal6,9.
As seqüências seletivas para silicone incluem a supressão do sinal de água e gordura,
o que aumenta o contraste entre o silicone e os tecidos circundantes. Da mesma forma,
uma sequência que suprime o sinal de silicone fornece um meio suplementar útil para
confirmar se o silicone extracapsular está presente, por exemplo9.
A profundidade do posicionamento dos implantes de silicone varia por localização anatômica
e tem implicações com relação aos tipos de complicações observadas após a cirurgia.
Podem ser inseridos mais comumente nos espaços intramuscular ou subfascial10,11 (Figura 2).
A colocação intramuscular do implante, em um plano criado dentro das fibras do músculo
glúteo, é a mais popular atualmente, pois proporciona resultados estéticos satisfatórios
e menor prevalência de complicações10,11 .
Uma revisão sistemática da literatura relatou taxas de complicações para diferentes
locais de colocação das próteses: 55% para subfascial, 18% para intramusculares, 18%
para métodos submusculares e 13% para métodos com a técnica intramuscular XYZ11.
Oranges et al10 por sua vez, fizeram revisão da literatura que evidenciou uma taxa global de complicações
de 30,5% para cirurgias estéticas de implante glúteo, sendo as mais prevalentes: deiscência
da ferida operatória (8,1%), seroma (4,4%), infecção (3,2%) (Figura 5) e revisão do implante (3,1%). Outras complicações relatadas, porém, menos frequentes,
são: rotura da prótese (Figura 6), deslocamento (Figura 7) e contratura (Figura 8).
Figura 5 - (a) Axial T1 com saturação de gordura e de silicone, pós contraste; (b) Sagital T2
com supressão de gordura e silicone. Paciente de 32 anos com preenchimento subcutâneo
local prévio com gel de poliacrilamida, submetida à gluteoplastia com implantes de
silicone, desenvolvendo infecção pós-operatória. Imagens mostram implantes de silicone
bilaterais com realce periférico (setas) e efusão peri-implante (seta pontilhada).
Observe ainda as coleções no subcutâneo dos quadris (cabeças de setas), representando
o gel de poliacrilamida infectado.
Figura 5 - (a) Axial T1 com saturação de gordura e de silicone, pós contraste; (b) Sagital T2
com supressão de gordura e silicone. Paciente de 32 anos com preenchimento subcutâneo
local prévio com gel de poliacrilamida, submetida à gluteoplastia com implantes de
silicone, desenvolvendo infecção pós-operatória. Imagens mostram implantes de silicone
bilaterais com realce periférico (setas) e efusão peri-implante (seta pontilhada).
Observe ainda as coleções no subcutâneo dos quadris (cabeças de setas), representando
o gel de poliacrilamida infectado.
Figura 6 - (a) Axial T2 com saturação de gordura; (b) Axial T1; (c) Axial T2 com supressão de
gordura e de silicone do quadril direito. Paciente de 42 anos com implante de silicone
bilateral intramuscular. Aparência lobulada e redundante do involucro do implante
direito (seta). Rotação do implante direito; observe que o marcador está posicionado
posteriormente, diferentemente do lado contralateral (cabeças de setas). A supressão
completa do conteúdo intra e peri-involucro na seqüência de supressão de silicone
confirma a ruptura intracapsular (seta pontilhada).
Figura 6 - (a) Axial T2 com saturação de gordura; (b) Axial T1; (c) Axial T2 com supressão de
gordura e de silicone do quadril direito. Paciente de 42 anos com implante de silicone
bilateral intramuscular. Aparência lobulada e redundante do involucro do implante
direito (seta). Rotação do implante direito; observe que o marcador está posicionado
posteriormente, diferentemente do lado contralateral (cabeças de setas). A supressão
completa do conteúdo intra e peri-involucro na seqüência de supressão de silicone
confirma a ruptura intracapsular (seta pontilhada).
Figura 7 - (a) Coronal T1; (b) e (c) Sagital T1. Paciente de 59 anos. Cinco anos pós-cirúrgico
de implante de silicone bilateral. Dor recente e abaulamento na região glútea esquerda.
Imagens mostram deslocamento superior do implante esquerdo. Note que a região superior
do implante esquerdo é coberta por uma fina camada de músculo (seta em B). Compare
com a camada mais espessa no lado contralateral (ponta de seta em C).
Figura 7 - (a) Coronal T1; (b) e (c) Sagital T1. Paciente de 59 anos. Cinco anos pós-cirúrgico
de implante de silicone bilateral. Dor recente e abaulamento na região glútea esquerda.
Imagens mostram deslocamento superior do implante esquerdo. Note que a região superior
do implante esquerdo é coberta por uma fina camada de músculo (seta em B). Compare
com a camada mais espessa no lado contralateral (ponta de seta em C).
Figura 8 - (a) Axial T2 sem supressão da gordura; (b) e (c) Sagital T2 com supressão de gordura
e silicone. Implante de silicone bilateral intramuscular. Suspeita clínica de contratura
do implante. Sem dor local. Observe os contornos irregulares / lobulados do implante
direito (seta), representando a contratura capsular. Compare com os contornos regulares
no lado contralateral (ponta de seta).
Figura 8 - (a) Axial T2 sem supressão da gordura; (b) e (c) Sagital T2 com supressão de gordura
e silicone. Implante de silicone bilateral intramuscular. Suspeita clínica de contratura
do implante. Sem dor local. Observe os contornos irregulares / lobulados do implante
direito (seta), representando a contratura capsular. Compare com os contornos regulares
no lado contralateral (ponta de seta).
Possivelmente por apresentar um percentual de complicações ainda considerado alto,
um pós-operatório mais limitante com afastamento das atividades habituais por mais
tempo em relação a outras técnicas, além de cicatrizes grandes, o número de procedimentos
vem caindo nos últimos dois anos nos Estados Unidos. O número de procedimentos reduziu
em 56% de 2016 a 2017, e 28% de 2017 a 2018, com menos de mil procedimentos sendo
realizados neste último ano12.
Lipoenxertia autóloga:
A lipoenxertia autóloga caracteriza-se por um procedimento de coleta de gordura de
local onde a remoção é esteticamente desejada, como o abdome ou coxas, e transferência
para outras áreas para aumento no mesmo paciente, comumente nas nádegas. No mercado
americano, o método é conhecido como “Brazilian buttock lift”13.
O número de procedimentos aumentou, nos Estados Unidos, em 10% de 2016 a 2017, e 19%
de 2017 a 2018, com mais de 24 mil procedimentos sendo realizados neste último ano,
de acordo com a Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos12.
Melhores resultados estéticos são obtidos através da combinação de injeções subcutâneas,
subdérmicas e intramusculares para gluteoplastia de aumento14,15.
Nas imagens de TC ou RM (Figura 9), a gordura enxertada no subcutâneo é de difícil caracterização, devido às características
semelhantes com o tecido celular subcutâneo. Ao contrário, a gordura injetada na região
intramuscular é facilmente identificada pelos dois métodos, como focos lobulares de
gordura macroscópica, com densidade característica baixa na tomografia (valores de
- 150 a -50 unidades Hounsfield), de permeio às fibras musculares, e com sinal alto
nas sequências convencionais ponderadas em T1, na ressonância magnética. A natureza
adiposa é confirmada com as sequências de supressão de gordura na RM, apresentando
sinal baixo, tanto na ponderação T1 como na T26.
Figura 9 - (a) Axial T1 (b) Coronal T1. Aspecto normal da lipoenxertia glútea na ressonância
magnética, apresentando faixas de gordura permeando as fibras mais superficiais dos
glúteos máximos bilaterais, não sendo possível a diferenciação no subcutâneo entre
o material enxertado e a gordura natural.
Figura 9 - (a) Axial T1 (b) Coronal T1. Aspecto normal da lipoenxertia glútea na ressonância
magnética, apresentando faixas de gordura permeando as fibras mais superficiais dos
glúteos máximos bilaterais, não sendo possível a diferenciação no subcutâneo entre
o material enxertado e a gordura natural.
A ressonância magnética (RM) pode ser usada para documentar a integração do enxerto
de gordura e variações volumétricas produzidas nas nádegas após a lipoenxertia10.
Na literatura10 observa-se uma taxa global de complicações em pacientes com lipoenxertia autóloga
de 10,5%, sendo o seroma do sítio doador relatado como a complicação mais comum (3,1%).
Outras complicações relatadas foram: liponecrose (0,7%) (Figura 10), celulite (0,5%), assimetria (0,4%), infecção (0,3 %) e embolismo gorduroso (0,2%).
Figura 10 - (a) Coronal T1; (b) Axial T1; (c) Sagital T2 com saturação de gordura. Paciente de
30 anos. Procedimento anterior de lipoescultura. Paciente com nódulo palpável ao exame
físico. Observe o aspecto usual da lipoescultura representada por faixas alongadas
com sinal semelhante ao da gordura no interior do músculo glúteo máximo (setas). Imagens
nodulares dentro dessas áreas de gordura apresentam um sinal levemente alto na ponderação
T1, com halo de baixo sinal de tecido fibrótico periférico, sem edema local, representando
esteatonecrose crônica (cabeças de setas).
Figura 10 - (a) Coronal T1; (b) Axial T1; (c) Sagital T2 com saturação de gordura. Paciente de
30 anos. Procedimento anterior de lipoescultura. Paciente com nódulo palpável ao exame
físico. Observe o aspecto usual da lipoescultura representada por faixas alongadas
com sinal semelhante ao da gordura no interior do músculo glúteo máximo (setas). Imagens
nodulares dentro dessas áreas de gordura apresentam um sinal levemente alto na ponderação
T1, com halo de baixo sinal de tecido fibrótico periférico, sem edema local, representando
esteatonecrose crônica (cabeças de setas).
Quando comparada aos implantes de silicone, a lipoenxertia tem as vantagens de ser
mais direcionada e permitir conformação concomitante das regiões do quadril e da cintura,
o que afeta a aparência estética global do glúteo16,17, com aparência mais natural; possibilitar maior grau de aumento e cicatrizes menos
evidentes7. Além disso, a taxa de complicações é menor em relação aos implantes6.
Materiais de Preenchimento:
O uso de materiais de preenchimento dérmico tem crescido de forma acentuada nos últimos
anos, totalizando mais de 2,6 milhões de procedimentos em 2018 nos Estados Unidos,
mais que o triplo do número de procedimento realizados no ano de 200012.
Conforme as indicações e o número de procedimentos realizados aumentam, o número de
complicações provavelmente tende a aumentar18.
Em relação à classificação podem ser divididos em absorvíveis/temporários (ácido hialurônico,
colágeno, gel de poliacrilamida, ácido poli-L-láctico, hidroxiapatita de cálcio) e
não-absorvíveis/permanentes (polimetilmetacrilato).
Apesar de alguns trabalhos relatarem as características de imagem desses materiais
na ressonância magnética6, os dados na literatura ainda são escassos, de modo que o padrão de sinal ainda é
considerado no geral inespecífico. Dessa forma, a ressonância magnética é mais utilizada
para avaliar possíveis complicações, além de determinar a localização, quantidade
e extensão do material aplicado.
A ressonância magnética pode detectar quantidades tão pequenas quanto 2 mm de diâmetro
de materiais de preenchimento, além de complicações como abscessos e granulomas que
não foram detectados clinicamente19.
O uso em pequenas quantidades e em regiões específicas, como na face e dorso das mãos,
está bem consolidado no campo da cirurgia plástica. Porém, o uso de volumes maiores
e em outros locais do corpo, como na região glútea, ainda é questão controversa.
Alguns autores europeus publicaram estudos com o uso de ácido hialurônico aplicado
no subcutâneo da região glútea20,21, com volumes de até 400 ml por paciente, com resultados satisfatórios. Ressaltam
em seus trabalhos que os métodos tradicionais de gluteoplastia são todos procedimentos
cirúrgicos importantes, que geralmente requerem anestesia geral e/ou produzem cicatrizes.
Consequentemente, muitas pessoas estão procurando por procedimentos minimamente invasivos.
O ácido hialurônico foi escolhido por ser de fácil uso, biocompatível, não tóxico
e facilmente removível, se necessário20. A degradação do material resulta em redução de volume com o tempo, que pode ser
avaliada por ressonância magnética20. A taxa geral de complicações com o uso de ácido hialurônico nesses dois trabalhos
foi igual a 39,1%, sendo que nenhuma das complicações avaliadas foi grave. Entre as
complicações mais frequentes relatadas destacam-se: inchaço (7,2 %), prurido (7,2
%), dor no local da injeção (5,8 %), hematoma (5,8 %), deslocamento do material (4,3
%)10.
Outros autores22,23 relataram em seus artigos o uso de ácido poli-L-láctico (PLLA) para preenchimento
na região glútea, com aplicação do material no subcutâneo, utilizando volumes de até
48 ml por nádega, por sessão. Não relataram complicações graves. Ao contrário de outros
materiais de preenchimento temporários e que basicamente atuam ocupando espaço, como
produtos à base de colágeno e ácido hialurônico, o ácido poli-L-láctico (PLLA) tem
o intuito de promover gradativamente a deposição de colágeno através de uma resposta
bioestimulatória, com efeitos terapêuticos que duram aproximadamente dois anos24.
Uma publicação recente25 traz um consenso sobre recomendações em relação ao uso do polimetilmetacrilato (PMMA)
no Brasil para procedimentos estéticos faciais e corporais. De acordo com a publicação,
planos mais profundos devem ser escolhidos sempre que possível para tratamento corporal
com PMMA. Os planos subcutâneo, intramuscular e submuscular podem ser usados com base
nas necessidades de cada paciente. De acordo com as recomendações dos especialistas,
o volume aplicado na região glútea pode chegar a 150 ml em uma única aplicação.
A Figura 11 ilustra um caso de gluteoplastia com polimetilmetacrilato na ressonância magnética
em paciente assintomática, e a Figura 12 ilustra caso de complicação tardia, com processo inflamatório local, porém neste
caso foi associado silicone líquido.
Figura 11 - (a) Axial e (b) Coronal T2 com saturação de gordura (c) Axial T1. Paciente de 31 anos,
assintomática. Procedimento bilateral de preenchimento glúteo com polimetilmetacrilato
(PMMA) há três anos. Material amorfo com alto sinal em T2 de permeio às fibras dos
glúteos máximos e na tela subcutânea adjacente (setas). O material tem sinal semelhante
ao músculo nas imagens ponderadas em T1 (seta pontilhada).
Figura 11 - (a) Axial e (b) Coronal T2 com saturação de gordura (c) Axial T1. Paciente de 31 anos,
assintomática. Procedimento bilateral de preenchimento glúteo com polimetilmetacrilato
(PMMA) há três anos. Material amorfo com alto sinal em T2 de permeio às fibras dos
glúteos máximos e na tela subcutânea adjacente (setas). O material tem sinal semelhante
ao músculo nas imagens ponderadas em T1 (seta pontilhada).
Figura 12 - (a) Axial e (b) coronal T1; (c) Sagital T2 com saturação de gordura e de silicone.
Paciente de 34 anos apresentando dor, calor, inchaço e nódulos na região lateral dos
quadris, 6 meses após a aplicação de metacrilato e silicone líquido na região glútea.
Heterogeneidade difusa do sinal da tela subcutânea, relacionada à infiltração difusa
de material de aspecto lobulado e amorfo.
Figura 12 - (a) Axial e (b) coronal T1; (c) Sagital T2 com saturação de gordura e de silicone.
Paciente de 34 anos apresentando dor, calor, inchaço e nódulos na região lateral dos
quadris, 6 meses após a aplicação de metacrilato e silicone líquido na região glútea.
Heterogeneidade difusa do sinal da tela subcutânea, relacionada à infiltração difusa
de material de aspecto lobulado e amorfo.
Não encontramos na literatura relatos de uso de gel de poliacrilamida (PAAG) na região
glútea. Temos um caso com o uso deste material em paciente assintomática (Figura 13), e outro com migração do material (Figura 14).
Figura 13 - (a) Axial e (b) Coronal T2 com saturação de gordura; (c) Axial T1. Paciente de 29
anos. Procedimento de preenchimento local com PAAG 2 meses atrás. Conglomerados de
imagens arredondadas com alto sinal na ponderação T2 no subcutâneo das regiões glúteas
(setas). Alteração semelhante difusa de sinal nos ventres musculares do glúteo máximo
é observada (pontas de seta). O material tem sinal semelhante ao músculo nas imagens
ponderadas em T1 (seta pontilhada).
Figura 13 - (a) Axial e (b) Coronal T2 com saturação de gordura; (c) Axial T1. Paciente de 29
anos. Procedimento de preenchimento local com PAAG 2 meses atrás. Conglomerados de
imagens arredondadas com alto sinal na ponderação T2 no subcutâneo das regiões glúteas
(setas). Alteração semelhante difusa de sinal nos ventres musculares do glúteo máximo
é observada (pontas de seta). O material tem sinal semelhante ao músculo nas imagens
ponderadas em T1 (seta pontilhada).
Figura 14 - (a) Axial (b) Coronal e (c) Sagital T2 com saturação de gordura. Paciente de 34 anos,
apresentando desconforto ao sentar há uma semana. Aplicação de gel de poliacrilamida
(PAAG) nas nádegas há cinco anos. As imagens mostram material confluente, com alto
sinal em T2, localizado na gordura subcutânea das regiões da prega infraglútea e parcialmente
insinuando-se na gordura isquioanal bilateral, representando o material de preenchimento
(setas). Observe a posição inferior do material em relação à região esperada, provavelmente
devido ao efeito de gravidade.
Figura 14 - (a) Axial (b) Coronal e (c) Sagital T2 com saturação de gordura. Paciente de 34 anos,
apresentando desconforto ao sentar há uma semana. Aplicação de gel de poliacrilamida
(PAAG) nas nádegas há cinco anos. As imagens mostram material confluente, com alto
sinal em T2, localizado na gordura subcutânea das regiões da prega infraglútea e parcialmente
insinuando-se na gordura isquioanal bilateral, representando o material de preenchimento
(setas). Observe a posição inferior do material em relação à região esperada, provavelmente
devido ao efeito de gravidade.
É importante manter um alto índice de suspeita clínica de infecção quando agentes
de preenchimento são identificados em exames de imagem, porque os abscessos podem
ser difíceis de diferenciar de certos materiais que possuem características de imagem
de TC e RM próximas às da água, como o ácido hialurônico5. No entanto, os abcessos tendem a exibir um maior grau de realce ao redor pelo contraste
endovenoso26.
Silicone
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe o uso de silicone industrial
para procedimentos estéticos. A aplicação ilegal do silicone industrial no corpo humano
é considerada crime contra a saúde pública previsto no Código Penal. Evidentemente,
a injeção de silicone para aumento cosmético também não é aprovada pela Food and Drug
Administration (FDA) dos EUA.
Apesar disso, esta prática ainda é presente, possivelmente em função dos baixos custos,
se comparados aos procedimentos cirúrgicos aprovados, e falta de informação sobre
os riscos associados. A região glútea é um dos sítios mais comuns de aplicação do
material5.
O silicone líquido é tão denso quanto ou ligeiramente mais denso que as partes moles
na tomografia. Na RM, tende a demonstrar intensidade de sinal intermediária ou discretamente
maior que o sinal da água nas imagens ponderadas em T1, e intensidade variável em
imagens ponderadas em T2, possivelmente em razão de diferentes viscosidades, sendo
o silicone de alta viscosidade geralmente mais hipointenso em T2 6,7,8,16,27,28.
Na sequência específica para silicone, com supressão do sinal da água e da gordura,
apresenta sinal alto19.
Como o silicone reside permanentemente nos tecidos, a remoção cirúrgica pode ser a
única maneira de tratar os problemas crônicos. Porém, a remoção cirúrgica do silicone
pode ser muito difícil para o cirurgião e desfigurante para o paciente. A RM pré-operatória
com sequências específicas para silicone pode ser útil na definição e localização
do material antes de qualquer tentativa cirúrgica, para localizar o silicone e facilitar
a identificação e a remoção pelo cirurgião8.
A resposta tecidual do hospedeiro após a injeção de silicone resulta na formação de
granulomas6 (Figura 15). Reações granulomatosas podem ocorrer semanas a décadas após a injeção7.
Figura 15 - (a) T2 axial com saturação de gordura e silicone (b) T1 coronal e (c) Sagital T2 com
saturação de gordura e silicone. História de injeção de silicone líquido na região
glútea. Múltiplos nódulos de baixa intensidade de sinal no tecido subcutâneo da nádega
direita e quadril (setas), representando aspecto típico do silicone subcutâneo.
Figura 15 - (a) T2 axial com saturação de gordura e silicone (b) T1 coronal e (c) Sagital T2 com
saturação de gordura e silicone. História de injeção de silicone líquido na região
glútea. Múltiplos nódulos de baixa intensidade de sinal no tecido subcutâneo da nádega
direita e quadril (setas), representando aspecto típico do silicone subcutâneo.
Pequenas complicações incluem reação no local da injeção, eritema, edema e cicatrizes12. Devido às impurezas no silicone e às condições não estéreis sob as quais as injeções
frequentemente ocorrem, esses procedimentos podem ser complicados por celulite crônica,
abscessos e miosite. Outras complicações locais da injeção de silicone incluem migração,
hiperpigmentação e fibrose da pele, necrose, ulceração, fístula, desfiguração6.
CONCLUSÃO
Apresentamos os achados usuais na ressonância magnética dos procedimentos de gluteoplastia,
juntamente com o espectro de imagens de algumas de suas possíveis complicações, além
de organograma com protocolo de ressonância magnética sugerido.
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1. Fleury, Radiologia, São Paulo, SP, Brasil.
Autor correspondente:
Flavio Donaire Cônsolo Rua Pernambuco, Higienópolis, 210, Apart. 61B, São Paulo, SP, Brasil. CEP: 01240-020
E-mail: fconsolo@me.com
Artigo submetido: 06/02/2020.
Artigo aceito: 10/01/2021.
Conflitos de interesse: não há.