INTRODUÇÃO
A cirurgia plástica estética é uma área da medicina em crescente expansão. Segundo
dados da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica Estética, desde o ano de 1997 até
2016, houve um aumento de 730% no número de procedimentos estéticos realizados por
cirurgiões plásticos nos Estados Unidos da América, representando uma quantia de 15
bilhões de dólares gastos em 13 milhões de procedimentos realizados somente em 20161. Ao redor do mundo, esses números podem ultrapassar 33 milhões de procedimentos estéticos
feitos por cirurgiões plásticos em 20162.
A cirurgia de aumento de mama com implante passou para o primeiro lugar entre as operações
mais frequentes. Isso representa um crescimento de 6,1% em comparação com o ano de
2017 e 27,6% em comparação com 20143.
O Brasil subiu para o primeiro lugar no mundo em procedimentos de cirurgia estética
com um total de 1.498.327 cirurgias plásticas estéticas realizadas, à frente dos Estados
Unidos da América com 1.492.383. O procedimento cirúrgico mais popular para as mulheres
foi a cirurgia de aumento de mama, com 1.841.098 procedimentos realizados no mundo.
O procedimento cirúrgico mais popular para os homens foi a correção da ginecomastia,
com 269.720 procedimentos3.
A anestesia regional para as cirurgias estéticas ou reconstrutivas das mamas é desafiadora
para os anestesiologistas, não só pela natureza complexa da inervação da parede torácica
e a variedade de técnicas descritas possíveis de serem executadas, mas também pela
preocupação constante em proporcionar mínima dor pós-operatória.
Os bloqueios regionais diminuem o surgimento de dores crônicas pós- cirúrgicas e diminui
o consumo de opioides e seus efeitos colaterais conhecidos. Possibilitando rápida
recuperação e alta precoce, esse tipo de anestesia pode proporcionar uma experiência
positiva aos pacientes com redução dos custos hospitalares4.
As técnicas de anestesia regional fazem parte de uma estratégia de analgesia multimodal.
A popularidade crescente dos bloqueios regionais guiados por ultrassom vem impactando
a prática anestésica de maneira profunda, aprimorando algumas técnicas já consagradas
e introduzindo novas, à medida que mais estudos vêm sendo realizados5. Na prática diária do cirurgião plástico, os bloqueios anestésicos ainda não são
realidade.
A revisão dos bloqueios regionais guiados por ultrassom para anestesia de cirurgias
mamárias estéticas mostra-se atual e relevante, tendo em vista o cenário crescente
desse tipo de cirurgia, bem como dos custos hospitalares. Alternativas anestésicas
que permitam redução de permanência hospitalar, de custos, redução do uso de medicações
analgésicas que causem constipação, náuseas, vômitos, retenção urinária, entre outras
complicações, podem garantir maior segurança e melhorar a experiência do paciente
no processo transoperatório.
OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é revisar e comparar as técnicas de anestesia regional guiadas
por ultrassom mais utilizadas para anestesia e analgesia perioperatória nas cirurgias
plásticas estéticas das mamas.
MÉTODOS
Desenho da pesquisa
O estudo proposto é do tipo secundário e estabelece relação com artigos já publicados
através da revisão de estudos clínicos que investigaram a associação dos bloqueios
anestésicos regionais guiados por ultrassom com cirurgias plásticas estéticas das
mamas.
Preceitos ético-legais
Este trabalho não possui quaisquer violações dos preceitos ético-legais estabelecidos
pelo comitê de ética em pesquisa da Universidade Federal de São Paulo, por se tratar
de projeto observacional de revisão da literatura já publicada.
Captação de fomento
O projeto apresentado foi desenvolvido com recursos próprios dos pesquisadores responsáveis.
Casuística
Para realização deste trabalho foram levantados artigos já publicados nas bases de
dados MEDLINE, utilizando-se como ferramenta de busca o portal PubMed até a data de
20 de dezembro de 2019.
A pesquisa combinou termos para cirurgias estéticas das mamas, anestesia regional
guiada por ultrassom, anestesia perioperatória e dor pós-operatória. Os termos pesquisados
na base de dados MEDLINE/PubMed foram: “regional anaesthesia”, “breast augmentation”, “regional anaesthesia”, “aesthetic plastic surgery”, “serratus plane block”, “erector spinae plane block”, “paravertebral block”, “pecs block” e “post operative pain”.
Os filtros adicionados nessa base de dados foram: artigos publicados nos últimos 5
anos, artigos de revisão, artigos em inglês e artigos similares. Os critérios de inclusão,
não inclusão e exclusão dos artigos encontrados estão listados na Quadro 1.
Quadro 1 - Critérios de seleção dos estudos.
Critérios de inclusão
|
Critérios de exclusão
|
Critérios de não- inclusão
|
Publicados nos últimos 5 anos
|
Estudos de áreas não relacionadas a cirurgias estéticas das mamas
|
Ausência de relação cirurgia das mamas - bloqueio regional
|
Artigos de revisão |
|
Duplicidade de estudos
|
Artigos em inglês |
|
Ensaios clínicos |
Quadro 1 - Critérios de seleção dos estudos.
RESULTADOS
Na base de dados MEDLINE/PubMed, a pesquisa dos termos “regional anaesthesia” AND “breast augmentation” resultou em 27 artigos. Aplicados os filtros e os critérios e seleção dos estudos,
apenas 1 artigo foi selecionado para análise.
A busca dos termos “regional anaesthesia” AND “aesthetic plastic surgery” não resultou em nenhum artigo.
Pesquisados em combinação os termos “regional anaesthesia” AND “aesthetic plastic surgery” AND “breast augmentation”, um total de 0 artigos foram encontrados na base de dados MEDLINE/PubMed.
Pesquisando-se os termos “serratus plane block” AND “breast augmentation” e aplicando-se os critérios de seleção dos estudos, um total de 7 artigos foram selecionados
para análise.
Buscando-se os termos “erector spinae plane block” AND “breast augmentation” e aplicando-se os critérios de seleção dos estudos, nenhum artigo preencheu os critérios
de elegibilidade.
A combinação dos termos “paravertebral block” AND “breast augmentation” resultou em um total de 5 artigos ao aplicarmos os filtros e critérios de seleção.
Os termos “pecs block” AND “breast augmentation” quando pesquisados e aplicando-se os critérios de seleção dos estudos, originaram
um total de 4 artigos que foram selecionados para análise.
A pesquisa dos termos “post operative pain” AND “aesthetic plastic surgery”, resultou em 0 artigos.
Na pesquisa da combinação dos termos “post operative pain” AND “aesthetic plastic surgery”, um total de 0 artigos foram encontrados na base de dados MEDLINE/PubMed.
Finalizando a pesquisa, os termos buscados “post operative pain” AND “breast augmentation”, não resultou em nenhum artigo.
Na base de dados MEDLINE, utilizando-se do portal de buscas PubMed, portanto, foram
encontrados ao todo 16 artigos com os critérios descritos. Destes, 2 artigos estavam
em duplicidade, resultando em 14 artigos que preenchiam os critérios de inclusão,
exclusão e não-inclusão estabelecidos na metodologia.
Dos estudos analisados, as técnicas de anestesia regional guiada por ultrassom mais
utilizadas foram 5: o bloqueio paravertebral (BPV) e bloqueios interfasciais (PECS
1 e PECS 2), bloqueio do plano do serrátil (BPS) e bloqueio intercostal (BI).
As revisões dos estudos analisando a analgesia proporcionada pelo bloqueio paravertebral
para pacientes submetidos a cirurgias de mama, concluíram que os pacientes apresentaram
melhor estabilidade hemodinâmica e alívio de dor equivalente, comparados à anestesia
peridural torácica6. Estudos comparando seu efeito imediato e a longo prazo, demonstraram seu efeito
analgésico superior em ambos os momentos, em relação aos pacientes que receberam apenas
analgesia sistêmica, ao mesmo tempo em que, houve diminuição no consumo de opioides
e seus efeitos adversos típicos, como náuseas e vômitos, por exemplo4,7.
Entretanto, ao estudar pacientes com até 12 meses de pós-operatório, a análise sequencial
dos ensaios mais recentes não encontrou evidências suficientes de que o bloqueio paravertebral
seria capaz de evitar dor crônica a longo prazo, em contraste com outras metanálises
com poucos estudos previamente apresentados8. Os estudos demonstraram seu efeito na redução da intensidade da dor cônica e não
seu potencial em evitá-la8,9.
Embora fora do escopo do presente trabalho, é importante mencionar o papel deste bloqueio
em cirurgias reconstrutivas. O bloqueio paravertebral demonstrou benefícios clinicamente
significativos pós-operatórios para pacientes submetidas a cirurgias mamárias reconstrutivas
relacionadas ao câncer de mama. Esse tipo de bloqueio feito de forma contínua com
uso de cateter demonstrou mais benefícios para utilização em cirurgias torácicas e
mamárias reconstrutivas extensas, com grande potencial de cronificação da dor. Porém,
o uso de cateter não demonstrou ser superior às técnicas de injeção única em um único
ou vários níveis4,10. As complicações relatadas com o uso do BPV foram punção pleural com pneumotórax,
dispersão de anestésico local para o espaço peridural, hipotensão intraoperatória
significativa e punção inadvertida de vasos.
Estudos comparando o PECS 2 com o bloqueio paraverbtebral (BPV) em injeção única a
nível de T4 para cirurgias mamárias, observaram que os pacientes do grupo PECS 2 apresentaram
menor consumo de opioides intraoperatório e melhor controle da dor pós-operatória
nas primeiras 12h. Também apresentaram melhor cobertura analgésica da região axilar
e menos náuseas6. Porém, quando avaliados os escores de dor (escala visual analógica-EVA) após as
primeiras 12 horas de pós-operatório, os pacientes do grupo BPV apresentavam menos
dor. O tempo para solicitar uso de morfina foi maior no grupo PECS 2 e o consumo geral
de opioides também foi menor neste grupo5,10.
Um estudo recente avaliou a combinação do PECS 1 e o BPV comparando-o com o BPV associado
à sedação em 60 pacientes submetidas a cirurgias mamárias, com colocação de implantes
subpeitorais. Esta combinação foi feita com o objetivo de proporcionar mais conforto
perioperatório. Os níveis de dor (EVA) foram significativamente menores no grupo tratado
com a associação dos bloqueios PECS 1 e BPV nas primeiras 8h, mas não após 24h. Além
disso, foi observado necessidade reduzida de sedação intraoperatória, sem diferenças
estatisticamente significativas em relação a náuseas e vômitos pós-operatórios11-13.
Quando comparado apenas à analgesia sistêmica, o PECS 2 apresentou uma redução na
necessidade de opioides nas primeiras 24h em 13,6mg de morfina via oral, prolongou
a primeira solicitação de analgésicos em 301 minutos e reduziu a pontuação no escore
de dor (escala visual analógica) em 0,9 a 1,9 pontos, em média12. Além disso, teve impacto na diminuição da incidência de náuseas e vômitos, proporcionou
menor sedação pós-operatória, com menor tempo de permanência na recuperação pós-anestésica
e de internação hospitalar10. Nenhuma complicação na execução desta técnica foi reportada14.
O PECS 2 também foi utilizado como técnica anestésica associado à sedação com dexmedetomidina,
sem anestesia geral. Após 15 minutos de bloqueio com 10ml entre os músculos peitoral
maior e menor, e 20ml entre o peitoral menor e o músculo serrátil anterior, com bupivacaína
a 0,25%, já se obteve analgesia suficiente para início do procedimento cirúrgico,
mantendo apenas a dexmedetomidina contínua. Seu efeito permaneceu por aproximadamente
8 horas e analgésicos não foram solicitados por 1 dia14.
Estudos comparativos avaliaram o bloqueio do plano do serrátil (BPS) superficial e
o BPV em cirurgias estéticas de mama. Relatou-se menor consumo de opioides intraoperatório,
porém o tempo para a primeira solicitação de analgésicos foi mais longo no grupo que
recebeu o BPV12.
Avaliando-se os bloqueios intercostais (BI) nas cirurgias de colocação de prótese
de mama subpeitoral, estudos mostraram que não houve diferença nos scores de dor (EVA)
com 1, 3, 6, 24, 48 ou 72 horas entre os pacientes submetidos ao BI e os que não receberam
BI. Conclui-se também que não houve diferença no consumo de opioides no pós-operatório
entre os pacientes submetidos ao BI e aos que não foram submetidos ao bloqueio10.
Nos artigos selecionados não foram encontrados estudos relacionando cirurgias mamárias
estéticas ao bloqueio do plano do eretor da espinha que estivessem de acordo com os
critérios de seleção.
DISCUSSÃO
Os diversos tipos de cirurgias plásticas mamárias envolvem manipulação de diferentes
tecidos e incisões cirúrgicas. O conhecimento anatômico das diversas estruturas envolvidas
em cada uma das técnicas é de extrema importância no planejamento analgésico perioperatório10.
A mamoplastia de aumento primário com inclusão de prótese de silicone tem sido a cirurgia
mamária estética mais realizada no mundo, nos EUA e no Brasil3,15, com frequente tendência crescente nos últimos anos. Essa expressiva importância
do procedimento dentro da cirurgia plástica contrasta com a relativa escassez de estudos
encontrada no presente trabalho. Considerando-se o desenvolvimento recente dos aparelhos
de ultrassom portáteis e aplicando-se os critérios de seleção descritos, o total de
14 estudos encontrados para análise final demonstra a necessidade de maior atenção
ao tema.
A correlação entre os diferentes bloqueios anestésicos regionais e as diversas vias
de acesso (inframamária, periareolar, transaxilar e até umbilical), planos de inserção
de próteses e os variados tipos de cirurgias mamárias representa um extenso campo
de pesquisa ainda pouco explorado. Bloqueios considerados agressivos na literatura
pesquisada e desaconselhados na cirurgia estética (como o BPV) podem ser indicados
na abordagem transaxilar, na qual a lesão cirúrgica do nervo intercostobraquial pode
resultar em dor axilar aguda e crônica10; da mesma forma, a dissecção cirúrgica para inserção do implante entre os músculos
peitoral maior e peitoral menor envolve o estiramento das fibras musculares, com o
descolamento de suas porções anexas aos anéis cartilaginosos das costelas adjacentes,
gerando grande potencial de dor miofascial pós-operatória e indicando a necessidade
de um bloqueio mais abrangente. De fato, um dos estudos verificou que 9,5% dos pacientes
submetidos à mamoplastia com inserção submuscular dos implantes desenvolveram dor
pós-operatória persistente, de moderada à grave e 38% preencheram critérios para diagnóstico
de dor neuropática10.
Outras modalidades de cirurgias mamárias estéticas realizadas, como a mastopexia,
a mamoplastia redutora e a correção de ginecomastia, em que apenas o excesso de pele
e tecido glandular é removido e os músculos peitorais são poupados, possuem menor
potencial álgico do ponto de vista analgésico perioperatório10.
No presente estudo, os 5 bloqueios regionais comumente associados às cirurgias estéticas
mamárias representam ampla gama de alternativas às técnicas anestésicas tradicionalmente
utilizadas, como a peridural e a anestesia geral. Desde a introdução pioneira do BPV
descrito por Hugo Sellheim, em 190516, a incorporação da ultrassonografia na realização dos bloqueios regionais representou
o maior aprimoramento das técnicas, permitindo visualização direta da agulha, da injeção
do anestésico e das estruturas anatômicas envolvidas5. Porém, apesar do conhecimento anatômico preciso e da ampla incorporação do ultrassom,
mais estudos padronizando técnicas e protocolos específicos do BPV sobre visão direta
ainda se fazem necessários. Diferentes abordagens para execução do bloqueio foram
propostas, porém estudos que considerem desfechos das várias abordagens buscando uma
técnica “padrão ouro” são infrequentes. A heterogeneidade de seleção dos pacientes,
diferentes tipos de cirurgias, técnicas, anestésicos locais e adjuvantes utilizados
para os bloqueios dificultaram a comparação entre as técnicas17.
Além disso, embora seja tentador dizer que os bloqueios guiados por ultrassom oferecem
menor risco de complicações pela visualização em tempo real da agulha e da dispersão
do anestésico local, não há dados na literatura suficientes para embasar essa afirmação
até este momento. Desta forma, não são infrequentes relatos na literatura de punções
pleurais, pneumotórax, colocação de cateteres intratorácicos, punção intratecal inadvertida
e casos de hipotensão intraoperatória significativa em BPV guiados por ultrassom7. Dessa forma, o uso do BPV para cirurgias estéticas não tem sido recomendado como
primeira opção. Cirurgias mamárias estéticas devem ser conduzidas com outras técnicas
de analgesia multimodal associadas a bloqueios regionais menos invasivos na maioria
dos pacientes, com o bloqueio paravertebral reservado como técnica de resgate analgésico
ou para pacientes com alto risco de dor crônica ou dor pós-operatória excessiva4.
Além do BPV, os bloqueios PECS 1, PECS 2 e BPS foram as modalidades de anestesia regional
mais frequentemente relatadas na literatura pesquisada, estabelecendo-se como alternativas
efetivas e menos invasivas do que o BPV17.
As principais vantagens relatadas em relação aos PECS e o bloqueio do plano serrátil
são a relativa facilidade de visualização e execução da técnica guiada por ultrassom.
A superficialidade das estruturas anatômicas relacionadas, seu mínimo potencial de
complicações comparado ao bloqueio peridural e paravertebral torácico, com bloqueio
sensitivo e sem risco de bloqueio simpático são vantagens frequentemente elencadas.
Ambos PECS e o bloqueio do serrátil apresentam boa cobertura da região anterolateral
do tórax, inclusive para cirurgias ambulatoriais, também passível de serem executadas
em pacientes recebendo terapia de anticoagulação. Porém, cabe lembrar que, mesmo infrequentes,
pneumotórax e hematoma por punção acidental da artéria toracodorsal são possíveis
complicações a serem consideradas nesta modalidade de bloqueio14,18.
Comparados aos demais bloqueios, o PECS 2 apresentou evidentes vantagens. Os estudos
mostram menor consumo de opioides no intra e pós-operatório, prolongamento na primeira
solicitação de analgesia no pós-operatório, redução na pontuação na EVA, menor incidência
de náuseas e vômitos, menos sedação intraoperatória com pouco tempo de permanência
na recuperação pós- anestésica e redução do período de internação5,6,10,14. Feito isoladamente como única técnica de bloqueio regional, o PECS 2 consta na literatura
como a alternativa mais segura e eficaz para analgesia em cirurgias plásticas estéticas
das mamas, inclusive podendo ser a única técnica analgésica que pode ser associada
apenas à sedação. Há que se considerar, no entanto, que o PECS 2 bloqueia de maneira
eficaz a porção anterior do tórax e das mamas, podendo falhar nas porções laterais
das mamas. Daí a ideia de associar as diferentes modalidades de bloqueios.
A associação do BPV ao PECS 2 como um bloqueio anestésico, mostrou- se uma alternativa
eficaz para realização de cirurgias mamárias sem o uso de anestesia geral5,18.
Os bloqueios interfasciais quando comparados à anestesia geral somente, se mostraram
úteis na redução das necessidades analgésicas intra e pós-operatórias. Tanto o PECS
2 quanto a associação entre o PECS 1 e o bloqueio do plano serrátil mostraram-se boas
estratégias analgésicas para cirurgias envolvendo a região anterolateral do tórax5,18.
Contudo, por se tratarem de uma modalidade de bloqueios em que sua eficácia está relacionada
ao volume de anestésico injetado e sua dispersão entre os planos, o maior risco associado
aos bloqueios interfasciais é a intoxicação por anestésico local. Além disso, apresentam
como limitação, assim como outras técnicas de injeção única, restrita duração do tempo
de ação. Ainda não está claro se o uso de adjuvantes como a clonidina, dexametasona
ou a dexmedetomidina, por exemplo, tem a capacidade de prolongar o efeito dos bloqueios
interfasciais assim como fazem nos outros tipos de bloqueios nervosos12.
Nos estudos avaliados os bloqueios intercostais demonstraram ter eficácia analgésica
equivalente à infiltração com anestésico local na incisão, feita no intraoperatório
pela equipe cirúrgica12.
Apesar de os bloqueios torácicos serem amplamente relatados na literatura, observou-se
que muitos artigos relatavam o uso das técnicas de anestesia regional em cirurgias
reconstrutivas de mama e cirurgias torácicas. Uma das principais limitações encontradas
no presente estudo de revisão foi a escassez de estudos correlacionando os bloqueios
exclusivamente à cirurgia plástica estética da mama, além da grande heterogeneidade
entre os estudos. Dificultou-se, assim, comparações quantitativas, deixando ainda
lacunas a respeito da eficácia e superioridade/inferioridade de cada um dos tipos
de bloqueios nessa modalidade específica de cirurgia mamária17.
A maioria das evidências produzidas em relação aos bloqueios para cirurgias estéticas
de mama existem na forma de relatos ou séries de casos, se fazendo necessários mais
ensaios clínicos randomizados, bem estruturados, em grupos homogêneos, para avaliar
cada uma dessas técnicas. As diferentes associações de bloqueios encontradas foram
conduzidas sem critérios ou diretrizes a respeito dos bloqueios a serem utilizados
para cada tipo de cirurgia, especificamente. A necessidade de padronização de uma
determinada técnica que demonstre máxima eficácia, ficou evidenciada após a constatação
da escassez de estudos, frente ao universo robusto da cirurgia plástica estética17.
Esta revisão observou que nenhum bloqueio cobre efetivamente toda a mama e a região
axilar. Portanto, uma combinação de bloqueios deve ser usada dependendo do local da
incisão e via de acesso para colocação da prótese mamária. Atualmente, com a escassez
de grandes estudos clínicos randomizados bem conduzidos, é difícil determinar a superioridade
de uma técnica sobre a outra14.
CONCLUSÃO
A descrição dos diferentes tipos de bloqueios regionais para analgesia em cirurgias
plásticas mamárias tem sido frequentemente relatada na literatura. Isoladamente, os
bloqueios interfasciais (PECS 1 e PECS 2) se mostram mais promissores, seguros e de
fácil execução nas cirurgias plásticas estéticas das mamas do que as outras modalidades
de bloqueios. Promovem diminuição do uso de opioides e seus efeitos colaterais, redução
no tempo de internação e na recuperação no pós-operatório. A associação de bloqueios
regionais pode diminuir o uso de anestesia geral e bloqueios do neuroeixo e suas complicações,
permitindo cirurgias apenas com sedação e bloqueios regionais. Apesar das perspectivas
animadoras, ensaios clínicos e estudos prospectivos com níveis mais elevados de evidência
científica se fazem necessários.
REFERÊNCIAS
1. American Society for Aesthetic Plastic Surgery (ASAPS). Cosmetic surgery national
data bank statistics. Aesthet Surg J. 2017;37(Supl 2):1-29.
2. Heidekrueger PI, Juran S, Ehrl D, Aung T, Tanna N, Broer PN. Global aesthetic surgery
statistics: a closer look. J Plast Surg Hand Surg. 2017 Ago;51(4):270-4.
3. International Society of Plastic Surgery Surgery (ISAPS). ISAPS Global statistics
- Global survey results 2018 [Internet]. West Lebanon: ISAPS; 2018. Disponível em:
https://www.isaps.org/medical-professionals/isaps-global-statistics/
4. Jones MR, Hadley GR, Kaye AD, Lirk P, Urman RD. Paravertebral blocks for same-day
breast surgery. Curr Pain Headache Rep. 2017 Ago;21(8):35.
5. Go R, Huang YY, Weyker PD, Webb CA. Truncal blocks for perioperative pain management:
a review of the literature and evolving techniques. Pain Manag. 2016Out;6(5):455-68.
6. Abrahams M, Derby R, Horn JL. Update on ultrasound for truncal blocks: a review of
the evidence. Reg Anesth Pain Med. 2016 Mar/Abr;41(2):275-88.
7. Terkawi AS, Tsang S, Sessler DI, Terkawi RS, Nunemaker MS, Durieux ME, et al. Improving
analgesic efficacy and safety of thoracic paravertebral block for breast surgery:
a mixed-effects meta-analysis. Pain Physician. 2015 Set/Out;18(5):E757-80.
8. Heesen M, Klimek M, Rossaint R, Imberger G, Straube S. Paravertebral block and persistent
postoperative pain after breast surgery: meta-analysis and trial sequential analysis.
Anaesthesia. 2016 Dez;71(12):1471-81.
9. FitzGerald S, Odor PM, Barron A, Pawa A. Breast surgery and regional anaesthesia.
Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2019 Mar;33(1):95-110.
10. Woodworth GE, Ivie RMJ, Nelson SM, Walker CM, Maniker RB. Perioperative breast analgesia:
a qualitative review of anatomy and regional techniques. Reg Anesth Pain Med. 2017
Set/Out;42(5):609-31.
11. Cassi LC, Biffoli F, Francesconi D, Petrella G, Buonomo O. Anesthesia and analgesia
in breast surgery: the benefits of peripheral nerve block. Eur Rev Med Pharmacol Sci.
2017 Mar;21(6):1341-5.
12. Chin KJ. Thoracic wall blocks: from paravertebral to retrolaminar to serratus to erector
spinae and back again - a review of evidence. Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2019
Mar;33(1):67-77.
13. Singh PM, Borle A, Kaur M, Trikha A, Sinha A. Opioid-sparing effects of the thoracic
interfascial plane blocks: a meta-analysis of randomized controlled trials. Saudi
J Anaesth. 2018 Jan/Mar;12(1):103-11.
14. Chakraborty A, Khemka R, Datta T. Ultrasound-guided truncal blocks: a new frontier
in regional anaesthesia. Indian J Anaesth. 2016 Out;60(10):703-11.
15. International Society of Plastic Surgery Surgery (ISAPS). The international study
on aesthetic/cosmetic procedures performed in 2016 [Internet]. West Lebanon: ISAPS;
2017. Disponível em: https://www.isaps.org/wp-content/uploads/2017/10/GlobalStatistics2016-1.pdf
16. Karmakar MK. Thoracic Paravertebral Block. Anesthesiology 2001 Sep;95(3):771-780.
DOI: https://doi.org/10.1097/00000542-200109000-00033
17. Garg R, Bhan S, Vig S. Newer regional analgesia interventions (fascial plane blocks)
for breast surgeries: review of literature. Indian J Anaesth. 2018 Abr;62(4):254-62.
18. Chin KJ, Pawa A, Forero M, Adhikary S. Ultrasound-guided fascial plane blocks of the
thorax: pectoral I and II, serratus anterior plane, and erector spinae plane blocks.
Adv Anesth. 2019 Dez;37:187-205.
1. Human Clinic, Cirurgia Plástica, São Paulo, SP, Brasil.
Autor correspondente: Leandro Dário Faustino Rua Diogo Jacome, nº 50 - Vila Nova Conceição, São Paulo, SP, Brasil CEP 04512-000
E-mail: doutorleandrofaustino@gmail.com
Artigo submetido: 18/12/2020.
Artigo aceito: 19/04/2021.
Conflitos de interesse: não há.