INTRODUÇÃO
O poroma écrino é uma lesão benigna, geralmente solitária, que se apresenta como nódulo
séssil ou pediculado, da cor da pele e acomete mais frequentemente palma da mão ou
planta do pé. Deriva do componente intradérmico do ducto sudoríparo écrino1,2. Devido à sua raridade, a variante pigmentada pode facilmente ser confundida com
melanoma, além de outras lesões tumorais. Dessa forma, a dermatoscopia é uma importante
ferramenta para auxiliar no diagnóstico, porém apenas a histologia pode definir. Relata-se
caso clínico de poroma écrino pigmentado no couro cabeludo, localização considerada
atípica, simulando melanoma maligno.
RELATO DE CASO
Paciente do sexo masculino, 73 anos, fototipo IV na Escala de Fitzpatrick, com antecedentes
pessoais de hipertensão arterial, diabetes, arritmia, insuficiência renal crônica
não dialítica, gota, angioplastia coronariana prévia com colocação de 4 stents e acidente vascular cerebral há 10 anos. Referia aparecimento de lesão no couro cabeludo,
indolor, em crescimento nos últimos 6 meses, associada a sangramentos esporádicos
e dificuldade de cicatrização.
Procurou atendimento com dermatologista, tendo sido aventadas algumas hipóteses diagnósticas
de subtipos de lesão tumoral, sendo a principal melanoma nodular. Ao exame dermatológico,
a lesão apresentava-se como nódulo enegrecido com centro eritematoso, de consistência
firme, medindo aproximadamente 1,5cm de diâmetro (Figura 1). O exame dermatoscópico evidenciava um nódulo circunscrito com bordas enegrecidas
e centro com padrão vascular predominante em glóbulos (Figura 2).
Figura 1 - Nódulo enegrecido com centro eritematoso no couro cabeludo.
Figura 1 - Nódulo enegrecido com centro eritematoso no couro cabeludo.
Figura 2 - Dermatoscopia evidenciando nódulo circunscrito com bordas enegrecidas e centro com
padrão vascular predominante em glóbulos.
Figura 2 - Dermatoscopia evidenciando nódulo circunscrito com bordas enegrecidas e centro com
padrão vascular predominante em glóbulos.
Optou-se pela realização de exérese com margens mínimas. O material foi encaminhado
para estudo anatomopatológico, cujo laudo foi de poroma écrino parcialmente pigmentado
com margens cirúrgicas livres de neoplasia. A hipótese clínica de melanoma maligno
foi descartada e o paciente segue em acompanhamento ambulatorial, sem sinais de recidiva
até o momento.
DISCUSSÃO
Pinkus foi o primeiro a descrever o Poroma écrino, em 19562. Essa neoplasia benigna aparece como um nódulo firme, pediculado ou não, sendo mais
comum na região palmar ou plantar. Pode apresentar crescimento em semanas ou anos
e é mais frequente entre a quarta e sexta décadas de vida3,4. Não apresenta predileção por sexo ou raça, exceto a variante pigmentada, que acomete
ligeiramente mais negros5.
O termo poroma refere-se aos tumores anexais cutâneos raros, em que sua estrutura
apresenta células semelhantes às do acrossíringeo. As variantes clínicas incluem:
poromatose, poroma écrino linear e pigmentado6. Sua fisiopatologia é desconhecida, mas está relacionada a trauma, radiação ou cicatrizes7.
Devido à raridade desta lesão, há poucos trabalhos e casos publicados na literatura.
Frequentemente pode ser confundido clinicamente com queratose seborreica, granuloma
piogênico, carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular, angiofibroma ou melanoma.
Por essas razões, é considerado como um “grande simulador”, podendo ser utilizado
como auxílio diagnóstico outras ferramentas, como a dermatoscopia e a microscopia
confocal8,9, porém não há um consenso sobre os achados.
Minagawa e Koga, em 20106, descreveram 12 casos de poroma écrino pigmentados em que a dermatoscopia apresentava
alguns padrões estruturais, sendo o mais frequente o padrão vascular, com vasos polimórficos,
arboriformes e em grampos. Visto que o poroma écrino pode simular diversos tumores
benignos e malignos sobre os aspectos dermatoscópicos, os autores afirmam que é importante
considerar a possibilidade de poroma écrino pigmentado em casos de lesões pigmentadas
que apresentam padrões não melanocíticos na dermatoscopia.
O principal achado histopatológico do poroma é de uma proliferação circunscrita e
compacta de queratinócitos cuboidais que apresentam núcleos monomórficos e citoplasma
eosinofílico.
Neste caso clínico, após o exame dermatológico e avaliação dermatoscópica, a principal
hipótese diagnóstica era de melanoma maligno. Os poucos casos clínicos publicados
com estudo dermatoscópico apresentaram história semelhante e dúvida diagnóstica, tendo
sido esclarecido o diagnóstico somente após a avaliação histopatológica8,10.
A escolha de tratamento nesse caso foi a exérese cirúrgica, considerada padrão ouro.
Porém, há outras opções terapêuticas como alternativa, dentre elas shaving ou eletrocauterização. Por se tratar de uma lesão benigna, o poroma écrino possui
bom prognóstico, com taxa de recidiva muito baixa.
CONCLUSÃO
Conclui-se que é importante que a avaliação de lesões de pele pigmentadas seja feita
tanto clinicamente quanto com dermatoscopia, usada como ferramenta que corrobora com
o diagnóstico. Apesar do poroma écrino ser um tumor raro, deve ser considerado como
uma hipótese diagnóstica nos casos em que as lesões pigmentadas não tenham características
melanocíticas, sendo o diagnóstico confirmado apenas após avaliação histopatológica.
REFERÊNCIAS
1. Mélega JM. Cirurgia plástica fundamentos e arte. Rio de Janeiro: MEDSI; 2002.
2. Goldman P, Pinkus H, Rogin JR. Eccrine poroma; tumors exhibiting features of the epidermal
sweat duct unit. AMA Arch Derm. 1956 Nov;74(5):511-21.
3. Abenoza P, Ackerman AB. Ackerman's histologic diagnosis of neoplastic skin diseases.
Philadelphia: Lea and Febiger; 1990.
4. Rivera OL, Mora S, Gutiérrez RM, Novales J. Poroma ecrino simulando un melanoma maligno.
Reporte de un caso y revisión de la literatura. Rev Cent Dermatol Pascua. 1999;8(1):35-8.
5. Hu SCS, Chen GS, Wu CS, Chai CY, Chen WT, Lan CCE. Pigmented eccrine poromas: expression
of melanocyte-stimulating cytokines by tumor cells does not always result in melanocyte
colonization. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2008;22(3):303-10. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1468-3083.2007.02406.x
6. Minagawa A, Koga H. Dermoscopy of pigmented poromas. Dermatology. 2010;221:78-83.
DOI: https://doi.org/10.1159/000305435
7. Avilés-Izquierdo JA, Velàzquez-Tarjuelo D, Lecona-Echevarria M, et al. Dermoscopic
features of eccrine poroma. Acta Dermosifiliogr. 2009 Abr;100(2):133-6.
8. Bombonato C, Piana S, Moscarella E, Lallas A, Argenziano G, Longo C. Pigmented eccrine
poroma: dermoscopic and confocal features. Dermatol Pract Concept. 2016;6(3):12. DOI:
https://doi.org/10.5826/dpc.0603a12
9. Almeida FC, Cavalcanti SMM, Medeiros ACR, Teixeira MAG. Pigmented eccrine poroma:
report of an atypical case with the use of dermoscopy. An Bras Dermatol. 2013 Out;88(5):803-6.
10. Sano D, Yang J, Cristiano J, Pegas J. Poroma écrino pigmentado simulando melanoma
maligno. Surg Cosmet Dermatol. 2014;6(1):93-5.
1. Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Hospital São Paulo, São Paulo, SP,
Brasil.
Autor correspondente: Bruno de Oliveira Barbosa, Rua Américo Brasiliense, 508, Sala 508, Centro, Ribeirão Preto, SP, Brasil. CEP:
14015-050. E-mail: bobstz@gmail.com
Artigo submetido: 16/01/2020.
Artigo aceito: 15/07/2020.
Conflitos de interesse: não há.
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