INTRODUÇÃO
Queimaduras são lesões traumáticas na pele, as quais podem ser causadas por agentes
químicos, térmicos, elétricos e radioativos. Além disso, essas lesões podem afetar
órgãos adjacentes, sendo a maior prevalência das queimaduras em cozinhas residenciais.
Essas lesões podem ocorrer de formas simples ou graves e são classificadas a partir
de aspectos como: profundidade, extensão e localização1.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, estima-se que 180.000 mortes por ano
são causadas por queimaduras, cuja a maioria ocorre em países de média e baixa renda2. Nesse contexto, segundo o Ministério da Saúde, calcula-se que ocorram aproximadamente
1 milhão de acidentes com queimadura no Brasil por ano, independentemente de quaisquer
características como sexo, idade, procedência ou classe social. Dessas vítimas, cerca
de 100.000 buscam atendimento hospitalar e em torno de 2.500 evoluem a óbito em função
de suas lesões3. O prognóstico das queimaduras depende, principalmente, da abordagem inicial e de
tratamentos adequados, que podem contribuir com a redução da mortalidade, complicações,
sequelas cicatriciais e possíveis necessidades de reconstrução em cirurgias futuras.
O melhor prognóstico está associado ao surgimento de centros especializados, melhora
nos protocolos de ressuscitação, individualização nos tratamentos intensivos, cobertura
mais precoce das feridas e o progresso no tratamento de infecções, lesões inalatórias
e do hipermetabolismo. A morbidade e a mortalidade dos pacientes vítimas de queimaduras
sofreram impactos por esses avanços4.
A porcentagem de superfície corporal queimada (SCQ) e a presença de lesão inalatória
são associadas ao pior prognóstico e à maior gravidade. Estudos recentes mostram que
a extensão da SCQ, em adultos, está ligada a um aumento do risco de mortalidade, especialmente,
quando a SCQ é maior que 60% e não mais os 40% como estabeleciam em estudos passados4.
No Brasil, dentre as principais causas externas de morte registradas, as queimaduras
ficam atrás, apenas, de outras causas violentas, tais como acidentes de transporte
e homicídios. A queimadura é considerada uma lesão agressiva na vida dos seres humanos,
além da alta incidência e mortalidade, possui grande capacidade de deixar sequelas
funcionais, estéticas e psicológicas5.
Os acidentes causadores de queimaduras, em nosso país, tornam-se um grande problema
de saúde, atingindo diversas faixas etárias e ambos os sexos. Tais acidentes, além
de deixarem sequelas, podem exigir vários dias de internação e, após a alta hospitalar,
necessitar de acompanhamento terapêutico, inclusive psicológico. A epidemiologia e
o estudo dos dados estatísticos sobre essas lesões ainda são insuficientes6. O conhecimento desses dados é de grande relevância científica, visto a necessidade
de prover informações para o planejamento em saúde pública ou pesquisas para fomentar
ações que favoreçam a orientação e a conscientização, como importantes instrumentos
para a prevenção desse tipo de acidente e para a promoção de saúde da população.
OBJETIVO
Este estudo se propõe a traçar o perfil epidemiológico de casos de queimaduras atendidos
no Pronto Socorro e na Unidade de Queimados do Hospital de Clínicas da Universidade
Federal de Uberlândia (HC-UFU), Minas Gerais (MG), Brasil, no período de cinco anos
considerados de 2015 a 2019.
MÉTODOS
Este estudo é uma análise quantitativa com abordagem retrospectiva e descritiva. Após
autorização da instituição e concordância do Conselho de Ética e Pesquisa (CEP-UFU)
para utilização de seus documentos, no parecer de número CAAE: 33395220.3.0000.5152,
foram analisados os prontuários dos pacientes admitidos com queimaduras, independente
da extensão e da profundidade, no Pronto Socorro e Unidade de Queimados do HC-UFU
do período de 01 de janeiro de 2015 a 31 de dezembro de 2019. Tal unidade é caracterizada
como um hospital de referência regional para atendimento de média e alta complexidade.
A partir dos laudos de alta hospitalar do setor de estatística do HC-UFU, criou-se
um banco de dados com uma amostra de 305 pacientes admitidos no hospital em 308 eventos
de queimadura. A fim de evitar os riscos de identificação dos participantes, foi feita
a sistematização pela substituição do número de referência dos prontuários por números
aleatórios de cinco dígitos.
As seguintes escalas nominais foram analisadas: tempo de internação, agente etiológico,
sexo, etnia, idade, porcentagem de superfície corporal queimada, profundidade da queimadura
e locais acometidos. É importante salientar que nem todos os prontuários estavam com
as escalas nominais completamente preenchidas, mas foram consideradas integralmente
as informações contidas.
RESULTADOS
O estudo contou com a participação de 305 pacientes admitidos com queixa de queimaduras,
independente da extensão e da profundidade, no pronto socorro e na unidade de queimados
do HC-UFU, do total de pessoas do estudo, 183 (59,02%) são do sexo masculino e 124
(40,66%) do sexo feminino.
Dos pacientes, 74 (24,03%) tinham entre 0 e 9 anos de idade e 47 (15,26%) tinham entre
40 e 49 anos de idade (Tabela 1), parcela que representa a maior parte dos pacientes admitidos no hospital. Dentre
os pacientes de 0 a 9 anos, 35 (11,36% do total de internados) tinham entre 0 e 2
anos de idade.
Tabela 1 - Número de casos de queimaduras registrados por faixa etária no HC-UFU de 2015 a 2019.
Faixa etária |
Queimaduras por ano |
Total de Queimaduras |
Total % |
2015 |
2016 |
2017 |
2018 |
2019 |
0 a 9 anos |
13 |
5 |
17 |
18 |
21 |
74 |
24,03 |
10 a 19 anos |
4 |
2 |
7 |
7 |
7 |
27 |
8,77 |
20 a 29 anos |
6 |
5 |
7 |
11 |
9 |
38 |
12,34 |
30 a 39 anos |
8 |
9 |
14 |
14 |
16 |
61 |
19,81 |
40 a 49 anos |
5 |
6 |
6 |
20 |
10 |
47 |
15,26 |
50 a 59 anos |
6 |
5 |
7 |
8 |
10 |
36 |
11,69 |
60 a 69 anos |
2 |
1 |
2 |
6 |
8 |
19 |
6,17 |
Acima de 70 anos |
1 |
0 |
1 |
2 |
2 |
6 |
1,95 |
Tabela 1 - Número de casos de queimaduras registrados por faixa etária no HC-UFU de 2015 a 2019.
Em relação à etnia dos pacientes, 149 (48,38%) se declararam como pardos, 131 (42,53%)
brancos, 22 (7,14%) pretos, 2 (0,65%) amarelos e 4 pacientes (1,30%) se manifestaram
ser de outra etnia não especificada.
No que se refere ao período de internação, 127 (41%) queimados permaneceram hospitalizados
na unidade no período de 0 a 10 dias, o intervalo de 11 a 21 dias teve uma frequência
de 26% (79 de pacientes), 29 (9%) permaneceram internados entre 22 a 31 dias e 73
(24%) permaneceram por um período superior a 32 dias. O tempo de internação médio
total foi de 26,61 dias (Tabela 2).
Tabela 2 - Distribuição de internações por queimaduras por período e por ano de 2015 a 2019 no
HC-UFU.
|
Queimaduras por ano |
Total de casos |
|
2015 |
2016 |
2017 |
2018 |
2019 |
Período de internação |
0 a 10 dias |
12 |
12 |
27 |
40 |
36 |
127 |
41,23 |
11 a 21 dias |
17 |
8 |
16 |
20 |
18 |
79 |
25,65 |
22 a 31 dias |
4 |
1 |
7 |
9 |
8 |
29 |
9,42 |
32 ou mais dias |
12 |
12 |
12 |
17 |
20 |
73 |
23,70 |
Total de eventos |
|
45 |
33 |
62 |
86 |
82 |
308 |
100,00 |
Total de dias dos internados |
|
1476 |
1207 |
1195 |
1700 |
2021 |
7599 |
- |
Media de dias internados |
|
32,80 |
36,58 |
19,27 |
19,77 |
24,65 |
26,61 |
- |
Tabela 2 - Distribuição de internações por queimaduras por período e por ano de 2015 a 2019 no
HC-UFU.
Quanto ao agente etiológico das queimaduras, apenas em 264 eventos dos 308 possuíam
informações nos prontuários a respeito do agente que lesou o hospitalizado. Constatou-se
que a maior incidência foi com agentes explosivos ou com a combustão de substâncias
inflamáveis, que acometeram, em conjunto, 134 (43,51%) pacientes. Desses, 94 (30,51%)
estavam associados ao álcool líquido, agente etiológico mais frequente. Em seguida,
84 (27,27%) pacientes queimados por líquidos superaquecidos, tais como água fervente,
gordura e óleo de uso culinário. Logo depois, 21 (6,82%) foram queimados por eletricidade
e corrente elétrica, ao passo que 16 (5,19%) queimaram-se em contato com chama direta
de fogo e 5 (1,62%) em contato com materiais quentes, como aparelhos domésticos superaquecidos,
motores, máquinas e ferramentas.
Neste estudo, houve 88 pacientes pediátricos, que representam 28,57% do total de 308
casos. Dessas 88 crianças, tivemos 56 (63,64%) com queimaduras por líquidos superaquecidos
e contato com materiais quentes, 52 e 4 eventos, respectivamente. Eletricidade, chama
direta e substâncias inflamáveis, somados, foram etiologia de 23 (26,14%) queimaduras
em crianças.
Dos 308 eventos, 11 (3,57%) foram de pessoas que tentaram autoextermínio. Nesses 11
pacientes, o agente etiológico foi a chama direta. Todos tiveram queimaduras de segundo
grau e apenas 2 tiveram queimaduras de terceiro grau. A porcentagem de superfície
corporal queimada nesses registros variou entre 10% e 60%. O tempo de internação médio
entre esse grupo foi de 50,43 dias e a idade média de 35,91 anos, dado que os pacientes
possuíam idade entre 19 e 50 anos.
A respeito da porcentagem de superfície corporal queimada, somente, 285 eventos apresentaram
tais registros nos prontuários. Em 108 (35,06%) deles, os pacientes tiveram queimaduras
que acometeram entre 10% e 20% de superfície corporal. Ao mesmo tempo, 78 (25,32%)
foram acometidos por queimaduras em menos de 10% de superfície corporal. 99 (32,14%)
registros conformaram queimaduras que ultrapassaram o número de 20% de superfície
queimada.
Quanto a região do corpo queimada, dos 308 eventos, 223 tinham informações sobre esse
dado. O local mais acometido foi o tronco, com 72 (23,38%) pacientes queimados nesse
local (Figura 1). Logo após, temos 44 (14,29%) lesionados na cabeça e pescoço. Em seguida, tivemos
35 (11,36%) pacientes queimados em ombros e membros superiores, sem considerar punho
e mão. Também foi encontrado 35 (11,36%) pacientes queimados em quadril e membro inferior,
sem considerar tornozelo e pé. Foram 19 (6,17%) os pacientes com queimaduras em punho
e mão, e aqueles feridos em tornozelo e pé somaram 18 (5,84%). Essas informações sobre
a região estavam ausentes em 84 (27,27%) registros.
Figura 1 - Percentual por área do corpo queimada dos pacientes internados no setor de queimados
no Hospital de Clínicas de Uberlândia (HC-UFU). MMSS: Membros superiores; MMII: Membros
inferiores.
Figura 1 - Percentual por área do corpo queimada dos pacientes internados no setor de queimados
no Hospital de Clínicas de Uberlândia (HC-UFU). MMSS: Membros superiores; MMII: Membros
inferiores.
DISCUSSÃO
As queimaduras podem produzir sequelas físicas e psicológicas, assim a forma de abordagem
e conduta desse trauma pode levar a melhora da qualidade de vida do paciente7. Nesse sentido, devemos considerar o quão graves são os danos das queimaduras para
a saúde física e psicossocial da pessoa acometida. O conhecimento da epidemiologia
é importante para orientar as condutas de pacientes queimados e realizar atividades
de prevenção mais eficazes.
A prevalência das queimaduras no sexo masculino (59,02%), evidenciada neste estudo,
está de acordo com os resultados citados por Bessa et al., em 20098, com 63,8% pacientes queimados pertencentes ao sexo masculino, no Hospital Regional
de Campina Grande (Paraíba-Brasil). Resultados semelhantes também foram encontrados
por Leão et al., em 20119, com 62,5% das internações por queimaduras pertencentes ao sexo masculino. Macedo
et al., em 201210, encontrou 66% em seus estudos.
Este estudo traz 74 pacientes (24,03%) com menos de 9 anos de idade como a faixa etária
mais acometida, seguida por aqueles com idade entre 30 e 39 anos, o que representa
61 (19,81%) eventos. Cruvinel et al., em 200511, em estudo similar realizado no município de Uberlândia/MG e no mesmo hospital deste
estudo, também alcançaram números semelhantes. Em seu artigo, 29,85% dos indivíduos
eram menores de 16 anos, seguido de 24,46% adultos entre 31 e 40 anos. Isto mostrou
que, apesar da diferença de tempo, as populações mais acometidas continuam as mesmas.
Ademais, Bessa et al. (2009)8 mantiveram-se em concordância com a majoritariedade de crianças e adultos jovens,
apesar de um maior número para crianças, 61,4% pacientes na faixa etária entre 0 a
20 anos e 23,9% para aqueles entre 20 e 40 anos. Leão et al. (2011)9, por sua vez, obtiveram 37,6% para pacientes entre 31 e 60 anos, o principal grupo
etário do estudo.
A etnia predominante neste estudo é a parda, visto que 48,38% dos pacientes declararam-se
pardos. De forma contrária, os dados levantados por Correa, em 199812, no setor de queimados do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo, prevaleceram queimaduras em indivíduos da etnia branca (71,74%)12.
A respeito do período de internação dos pacientes deste artigo, a maior parte dos
queimados (41%) permaneceu hospitalizada na unidade por um período de 0 a 10 dias
e o tempo de internação médio total foi de 26,61 dias. Leão et al. (2011)9 observaram em seus estudos, no Hospital João XXIII, em Belo Horizonte/MG, um tempo
médio de internação de 23,5 dias. Este dado é próximo ao número encontrado no HC-UFU.
Em relação ao agente etiológico, os resultados deste estudo estão de acordo com a
literatura. Os dois agentes de maior incidência foram álcool (30,51%) e líquidos superaquecidos
(27,27%). Leão et al. (2011)9 obtiveram 34,4% e 28,1% para o álcool e líquidos superaquecidos, respectivamente.
Bessa et al. (2009)8 apresentaram, também, números próximos, com 38% para álcool e 32,5% para e líquidos
superaquecidos. Apesar de dados ligeiramente maiores, Macedo et al. (2012)10, demonstraram, também, queimaduras por álcool e líquidos superaquecidos, como os
principais agentes causadores, com 42% e 40% dos pacientes, respectivamente. Ainda,
Cruvinel et al. (2005)11, nesse mesmo contexto, apresentaram em seus estudos, 25,54% para álcool e 21,22%
para líquidos superaquecidos. Isso corrobora que as principais etiologias se mantiveram
nos dois períodos de pesquisa no mesmo hospital.
Pacientes queimados que tentaram autoextermínio constituem um agravo complexo, uma
vez que, envolvem aspectos sociais e psicológicos dessas pessoas¹³. No presente estudo,
11 (3,57%) eventos foram tentativas de autoextermínio. Destes, 5 pacientes eram do
sexo masculino e 6 do sexo feminino. Leão et al. (2011)9 obtiveram dados diferentes, apresentaram 12% dos pacientes internados devido tentativa
de suicídio, 33% do sexo masculino e 66% do sexo feminino. Gimenes et al., em 200913, em seus estudos, encontraram uma taxa de 7,5% de tentativas de autoextermínio do
total de casos internados com queimaduras. Além disso, tanto nesse trabalho quanto
no de Gimenes et al. (2009)13, a etiologia desse agravo foi o contato com a chama direta. O fato de este estudo
não ter sido realizado por meio da avaliação de prontuários físicos, e sim, a partir
dos laudos de alta hospitalar liberados pelo setor de estatística do HC- UFU, possivelmente,
pode justificar as discrepâncias de dados, especialmente, no agravo de tentativas
de autoextermínio em relação as demais bibliografias analisadas.
Ainda, em relação aos pacientes que tentaram suicídio, observou-se porcentagem de
superfície corporal total queimada, variando entre 10 e 60%. Os 11 pacientes apresentaram
queimaduras de 2º grau e, inclusive, dois deles tiveram, também, lesões de 3º grau.
A idade média das pessoas acometidas é de 35,91 anos. Ocorreu 1 óbito apenas.
Também a respeito das tentativas de autoextermínio, Leão et al. (2011)9 obtiveram média de 40% de superfície corporal total queimada, idade média de 39 anos
e 51% de óbitos. No estudo de Calixto Filho e Zerbini, em 20167, sobre a epidemiologia de suicídios no Brasil, os dados obtidos corroboraram com
os achados no presente estudo e com os apresentados por Leão et al. (2011)9. A maior incidência foi nas faixas etárias entre os 20 e 59 anos de idade7.
No grupo etário de 0 a 18 anos, 59,09% dos eventos apresentaram queimaduras por líquidos
superaquecidos, isso coincide com dados da literatura, que consideram esses agentes
etiológicos como os mais frequentes em crianças e adolescentes. Bessa et al. (2009)8 observaram escaldaduras em 46,4% de pacientes menores que 20 anos. Os mesmos agentes
foram observados como os mais frequentes por Leão et al. (2011)9.
Nesse contexto, segundo Rivera, em 200114, a maioria das queimaduras nessa faixa etária ocorreram, principalmente, em casa
com os líquidos superaquecidos durante a preparação de alimentos ou ao servi-los.
Dentre os fatores predisponentes a surgir queimaduras em crianças, podemos citar por
exemplo, uma criança com um copo de líquido superaquecido que o deixa cair em seus
braços ao servir, o uso de ferro de passar roupas, aquecedores de ambiente, o derramamento
do conteúdo de panelas em fogões para o cozer de alimentos, e lembra-se, também, que
crianças podem queimar a palma de mãos ao colocá-las na tampa de fornos superaquecidos.
Os pais, muitas vezes, não têm noção de que os utensílios de fogão podem ser eventualmente
manipulados por uma criança pequena, quando não possui sistema de fixação ou contrapeso.
A prevenção deve se concentrar especialmente nesses mecanismos¹4.
Quanto à porcentagem de superfície corporal total queimada, os resultados deste estudo
mostraram-se diferentes de alguns outros. Neste, foi observado que 35,06% pacientes
apresentaram lesões com extensão entre 10% e 20% do corpo (média extensão), 25,32%
abaixo de 10% (pequena extensão) e 32,14% acima de 20% (grande extensão) de superfície
corporal. Bessa et al. (2009)8 encontraram para média, grande e pequena extensão queimadas 63,2%, 18,4% e 18,4%,
respectivamente. Macedo et al. (2012)10 notaram 45% dos pacientes para média extensão queimada, 31% para pequena extensão
queimada e 24% para grande extensão queimada. Gimenes et al. (2009)13 por sua vez, relataram 57%, 22% e 21% de pacientes com superfície corporal total
queimada pequena, média e grande, exatamente nessa ordem.
A respeito das regiões anatômicas mais acometidas, este estudo notou, em primeiro
lugar, as lesões de tronco que acometeram 23,38% dos pacientes, e, em segundo lugar,
cabeça e pescoço, presentes em 14,29% dos internados. Houve considerável discrepância
com as referências, a saber que Cruvinel et al. (2005)11 obtiveram, para o mesmo hospital deste estudo, preponderância para membros superiores
com 19,7% e 17,82% para cabeça e pescoço. Por sua vez, Leão et al. (2011)9 encontraram maior incidência em face anterior de tórax em 60,2% dos pacientes, membros
superiores em 53,8% e cabeça com 51%. Bessa et al. (2009)8, em seu estudo, observou que as queimaduras acometeram principalmente membros superiores,
seguido pelo tórax. Já no estudo de Gimenes et al. (2009)13, encontraram maior incidência em tronco com 62,7% e membros superiores em 60,4% dos
pacientes analisados.
CONCLUSÃO
Constatou-se que acidentes associados à combustão de substância inflamável acometeram
43,51% dos pacientes e, desses eventos, 94 estiveram associados ao álcool líquido
como agente etiológico causador mais frequente de queimaduras. De acordo com a Resolução
n° 46, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em fevereiro de 2002,
tornou-se proibido a fabricação e a venda do álcool etílico na forma líquida15. Nesse contexto, faz-se necessário o fomento em ações preventivas e a fiscalização
do comércio de produtos inflamáveis a fim de diminuir a morbidade e mortalidade.
Ademais, nos estudos realizados no HC-UFU citados, mais de 25% do total de pacientes
queimados atendidos, nos períodos de 2000 a 2001 e de 2015 a 2019, pertencem a faixa
etária pediátrica até 18 anos. Assim, é possível dizer que, há uma tendência dos pacientes
pediátricos se apresentarem como as principais vítimas de queimaduras. Das 88 crianças
consideradas neste estudo, 63,64% tiveram queimaduras por escaldaduras e contato com
materiais quentes. Logo, nota-se a importância da divulgação dessas informações sobre
traumas pediátricos e da realização de campanhas socioeducativas, continuadamente,
com o intuito de prevenir tais acidentes, para assim, diminuir internações e mortalidade.
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1. Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Medicina, Uberlândia, MG, Brasil.
Autor correspondente: Douglas Ravel Neto Diniz Ribeiro, Avenida João Pinheiro, 4604, Apt. 12, Umuarama, Uberlândia, MG, Brasil. CEP: 38405-307
E-mail: douglasdinizribeiro@hotmail.com
Artigo submetido: 25/08/2020.
Artigo aceito: 10/01/2021.
Conflitos de interesse: não há.
COLABORAÇÕES
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Concepção e desenho do estudo, Gerenciamento do Projeto, Investigação, Metodologia,
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HCOV Conceitualização, Concepção e desenho do estudo, Investigação, Metodologia, Redação
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