ISSN Online: 2177-1235 | ISSN Print: 1983-5175

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Case Reports - Year1998 - Volume13 - Issue 1

RESUMO

Relato de um caso de esteatocistoma múltiplo em paciente do sexo feminino, adulta, de localização rara, deformante, em região frontal em que, após vários tratamentos alternativos com insucesso, optou-se pela ressecção em bloco com enxertia no mesmo tempo cirúrgico. Com o tratamento, obtivemos resultado estético satisfatório.

Palavras-chave: esteatocistoma múltiplo; esteatocistoma multiplex; sebocistoma

ABSTRACT

Case report of steatocystoma in a female adult patient, of rare location, in the frontal region, in which after several unsucceful alternative treatments was decided the excision, with grafting in the same surgical time. Satisfactory aesthetic result was achieved with this treatment.

Keywords: multiple steatocystoma; steatocystoma multiplex; sebocystoma.


INTRODUÇÃO

A esteatocistomatose múltipla é uma doença que se caracteriza pela formação de numerosos cistos dérmicos, com características hereditárias de transmissão autossômica dominante, porém descritos vários casos não familiares. Sua etiopatogenia permanece obscura(2). Há divergências de autores que estabelecem teorias como sendo cistos sebáceos de retenção, natureza nevóide ou hamartomas e variedade de cisto dermóide, teoria esta preconizada por KLIGMAN e KIRSCHBAUM(2,4,8).

Na esteatocistomatose múltipla os cistos aparecem durante a adolescência ou no início da idade adulta. Em homens, os cistos são encontrados simetricamente distribuídos numa área em forma de diamante (diamond shaped) entre o processo xifóide e o umbigo e, em alguns casos, no dorso ou na escápula. Nas mulheres, os cistos são encontrados na axila, regiões inguinais, vulva e região central do tórax, sendo raro, em ambos os sexos, seu aparecimento na face e no couro cabeludo (5,9).

Histologicamente apresentam-se como tumorações de paredes císticas, com camadas de células vacuolizadas, presença de glândulas sebáceas e folículos pilosos atrofiados. Macroscopicamente, observa-se conteúdo queratinoso e lipídico, de odor fétido, aparecendo em número elevado, com tamanho oscilando de 1 mm a 20 mm de diâmetro.

O número de casos descritos não ultrapassa uma centena e o diagnóstico diferencial deve ser feito principalmente com a acne conglobata ou nódulo-cística, hidroadenite supurativa, cistodermóide, milia, cisto piloso, cisto mixóide e pseudofoliculite barbaec (4,11,12).

O objetivo deste trabalho é descrever o tratamento realizado em um caso de esteatocistoma múltiplo da região frontal.


MATERIAL E MÉTODO: RELATO DE CASO

M.D.A., 36 anos, branca, foi encaminhada à Cirurgia Plástica pelo Serviço de Dermatologia do HUEC, apresentando lesões císticas na face, couro cabeludo, membros superiores e inferiores, dorso e genitais, diagnosticado histopatologicamente como esteatocistoma múltiplo e tendo como queixas principais a formação de abscessos de repetição nos cistos localizados na região frontal e principalmente o aspecto inestético destas lesões.

A história pregressa revelou que esta patologia apareceu na 1ª- infância. Foram encontradas características hereditárias ascendentes e descendentes indiretas em ambos os sexos, do lado materno.

Os exames laboratoriais como hemograma, glicemia, colesterol, HDL, LDL e triglicérides apresentavam-se normais.

No tratamento, optou-se pela ressecção cirúrgica de toda pele e tela subcutânea da região frontal até o plano da fáscia muscular. No mesmo tempo cirúrgico, foi realizado enxerto dermo-epidérmico de espessura parcial obtido na região da coxa. A paciente recebeu alta hospitalar e foi encaminhada para acompanhamento ambulatorial.


DISCUSSÃO

O esteatocistoma múltiplo é uma condição patológica de difícil manuseio, cuja complicação mais freqüente é a infecção dos cistos tratada agudamente utilizando-se princípios cirúrgicos. Porém, a longo prazo, permanece como um problema insolúvel.

Talvez o maior problema apresentado seja o dano psico-social resultante da desfiguração facial e corporal do paciente, para o qual ainda não apresenta resultado satisfatório.

A literatura relata poucas opções de tratamento para o esteatocistoma múltiplo. HOLMES e BLACK (1980) relataram um caso de tratamento cirúrgico do esteatocistoma múltiplo em região frontal com sucesso, através da eversão do retalho frontal através de uma incisão bi-coronal. FEINSTEIN et cols(1)(1983) relataram como tratamento ressecção cirúrgica de toda a pele da região frontal com posterior enxertia de pele parcial(1). KRAHEMBUHL et cols(6) (1991) relataram bons resultados com terapia a laser de CO2 (6).

O tratamento clínico, isoladamente, tem pouco a favorecer, embora, a longo prazo, baixas doses de antibióticos possam ajudar a prevenir a recidiva de lesões inflamatórias. Segundo os autores, a isotretinoína oral tem sido relatada como sendo útil quando os antibióticos apresentam falha terapêuticas (5,7,10)

A paciente em questão apresentou-se como um caso raro de esteatocistoma múltiplo, com localização predominante em face e couro cabeludo. O diagnóstico foi confirmado através de histopatologia após biópsia de uma das lesões. Devido ao aspecto inestético destas lesões (Figs. 1 e 2), à formação freqüente de abcessos na região frontal e após falha terapêutica realizada pelo Serviço de Dermatologia (entre os quais drenagem, ressecção isolada dos cistos e dermoabrasão química), optou-se pela ressecção em bloco de toda a pele da região frontal com limites superior e inferior na linha do cabelo e supercílios, respectivamente. Foram retirados, com este tratamento, todos os cistos.


Fig. 1 - Vista frontal da paciente no pré-operatório.


Fig. 2 - Vista lateral da paciente no pós-operatório.



Observou-se, no sétimo dia após a retirada do curativo, uma integração total do enxerto (Fig. 3). Havia um desnivelamento em relação ao plano da ressecção (Fig. 4) e redução da mímica da região frontal, que apresentaram melhora satisfatória na revisão dos seis meses (Figs. 5 e 6).


Fig. 3 - Vista frontal da paciente no 7º dia pós-operatário.


Fig. 4 - Vista lateral da paciente no 7º dia pós-operatório.


Fig. 5 - Vista frontal da paciente 6 meses após a cirurgia.


Fig. 6 - Vista lateral da paciente 6 meses após a cirurqia.



Observou-se, ainda, uma discromia da área enxertada em relação a toda a face, provavelmente por ser a área doadora de região anatômica distante da área receptora.

Nas demais lesões da face, optou-se pela retirada isolada dos cistos.


CONCLUSÃO

Devido ao número exagerado de cistos na região frontal e à dificuldade de se encontrar uma terapia mais adequada na literatura, optou-se pela ressecção em bloco de toda a pele e tela subcutânea da região frontal, satisfatória do ponto de vista da. paciente e do cirurgião.


BIBLIOGRAFIA

1. FEINSTEIN A, TRAU H, MOVHOVITZ M et cols. Steatocystoma Multiplex. Cútis. 1983;31(6) :425-427.

2. FERRANDIS C, PEYRI J. Esteatocistoma Multiple. Med. Cut. I. L. A. 1984;12:173-176.

3. FRIEDMAN SI. Treatment of Steatocystoma Multiplex and Pseudofolliculitis Barbae with Isotretinoin. Cútis. 1987;506-507.

4. KLAUS R, LAVEYEB. Steatocystoma Multiplex: a Case Report. Ann. Plast. Surg. 1984;13(3):230- 233.

5. KEEF M et cols. Successful Treatment of Steatocystoma Multiplex by Simple Surgery. British Journal of Dermatology. 1992;127:41-44.

6. KRAHEMBUHL A et cals. CO2 Laser Therapy for Steatocystoma Multiplex, Dermatológica 1991;183:294-296.

7. MORITZ DL et cals. Steatocystoma Multiplex Teated with Isotretinoin: A Delayed Response. Cútis. 1988;42(5):437-439.

8. OHTAKE N et cols. Relationship Between Steatocystoma Multiplex and Eruptive Vellus Hair Cysts. I. Am. Acad. Dermatol. 1992;26:876-878.

9. PLEWIG G, WOLFF HH, BRAUN-FALCO O. Steatocystoma Mutiplex: Anatomic Reevaluation, Eléctron Microscapy, and Autoradiography. Arch. Dermatol. Res. 1982:272(3-4):363-380

10. ROSEN BL, BRODKIN RH. Isotretinoin in the Treatment of Steatocystoma Multiplex: a Possible Adverse Reaction. Cútis. 1986;37(2): 115-120.

11. SANCHEZ YE. Eruptive Vellus Hair Cyst and Steatocystoma Multiplex: Two Related Conditions? J.Cutan. Pathol. 1988;15:40-42.

12. Atlas de Dermatologia Clínica, Viver, A; 2a edição: 1995.










I - Médico Residente (R-3) do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba
II - Membro Titular da SBCP; Cirurgião Plástico do Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba
III - Médica residente (R-2) do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba

Endereço para Correspondência:
R. Coronel Dulcídio, 2200
Curitiba - PR 80250-100
Fone: (041) 242.8537
Fax: (041) 242.6913

Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba

 

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