INTRODUÇÃO
As relações de consumo têm se modificado ao longo do tempo, assim como os meios
utilizados para se buscar por produtos e serviços. As formas mais eficientes de
promoção dos serviços de saúde tornaram-se as mídias on-line e off-line, ao passo
que as tecnologias web e as tecnologias móveis vêm influenciando cada vez mais
o
mercado de saúde nos últimos anos, com um impacto cada vez maior dos meios virtuais
e das mídias sociais na escolha dos profissionais da área médica1.
Recursos como o webinar, slideshare, e-books, YouTube, Facebook,
Instagram e Twitter são veículos cada vez mais
utilizados na promoção e publicidade dos serviços de saúde, sendo que as revisões
on-line, os comentários e as classificações são uma parte essencial do seu processo
de tomada de decisão2. Essa nova arquitetura
envolvendo os dados sobre a saúde suscitou a criação e o desenvolvimento de
estratégias de marketing voltadas exclusivamente para a área médica, gerando
conflitos éticos e interferindo na relação médico-paciente3.
Com isso surgiram dois posicionamentos antagônicos: o daqueles que veem a medicina
como um sacerdócio, com seus preceitos éticos invioláveis, e os que a enxergam
como
uma atividade profissional como todas as outras, livre para competir de acordo
com
as regras de mercado. A despeito dessa dualidade em relação ao posicionamento
dos
profissionais da área médica, uma mudança marcante vem acontecendo nos últimos
20
anos, com o aumento de mais de 450% nas despesas com publicidade dirigida
diretamente ao consumidor de serviços de saúde, o que significa aproximadamente
10
bilhões de dólares gastos anualmente em marketing médico4.
Em novembro de 2018, a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética5
(International Society of Aesthetic Plastic Surgery -
ISAPS) publicou dados de 2017, sobre o número de cirurgias
plásticas realizadas ao redor do mundo. Foram quase 11 milhões de cirurgias, das
quais os Estados Unidos detiveram 14,5%. Em segundo lugar está o Brasil, com
1.466.245 de cirurgias plásticas realizadas, o que corresponde a 13,6% do total,
seguido por Japão, México e Itália, somando esses cinco países 38,4% de todos
dos
procedimentos cirúrgicos realizados na especialidade em 2017. Acrescentando-se
ao
grupo Alemanha, Colômbia e Tailândia, temos 45,3% de todas as cirurgias plásticas
realizadas mundialmente sendo feitas nesses oito países.
Esse número expressivo de cirurgias realizadas em um mercado extremamente competitivo
suscita alguns questionamentos a respeito dos fatores envolvidos na escolha dos
cirurgiões e sobre o perfil desses pacientes. Sabe-se que as indicações pessoais
(“boca-a-boca”) e o renome do profissional são considerados critérios bastante
significativos na escolha do médico, e que este, preocupado com o mercado de
trabalho, tem buscado várias alternativas para se manter competitivo6, mas qual o verdadeiro impacto da era digital
nessa “nova” relação de consumo?
OBJETIVOS
O objetivo deste estudo foi descrever os critérios para a escolha do cirurgião
plástico e as características sociodemográficas e hábitos de vida dos pacientes
submetidos a cirurgias plásticas em um único hospital no município de Goiânia
-
Goiás.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo prospectivo e descritivo, realizado de junho a novembro de
2017, no Hospital Premium, um hospital privado na cidade de Goiânia - Goiás,
especializado na realização de cirurgias plásticas. Todos os procedimentos foram
executados exclusivamente por cirurgiões plásticos membros especialistas pela
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
Foram incluídos no presente estudo 501 pacientes submetidos a cirurgias plásticas
predominantemente estéticas. Os dados foram coletados por seis meses (junho a
novembro de 2017), por meio de entrevista dos pacientes com a enfermeira responsável
pela coleta de dados, após a sua admissão hospitalar para a realização do
procedimento programado.
Todos os cirurgiões plásticos que compõem seu corpo clínico foram convidados a
participar do estudo e, para que seus pacientes tivessem a possibilidade de serem
incluídos na amostra, ambos deveriam concordar previamente e assinar o termo de
consentimento livre e esclarecido (TCLE).
O projeto foi submetido para apreciação no comitê de ética em pesquisa (CEP) do
Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG), obedecendo
o
estabelecido na resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) 466/12 e na norma
operacional do Conselho Nacional de Saúde (CNS) 001/13, obtendo a sua aprovação
no
dia 20 de outubro de 2016 com número de parecer: 1.783.817 e certificado de
apresentação para apreciação ética (CAAE): 59601116.4.0000.5078.
Todos os dados coletados foram organizados na ordem numérica crescente de
identificação de seus questionários e armazenados em um banco de dados Excel
(Microsoft Excel 2010) para sua posterior transferência para o software SPSS-IBM
versão 22. Foram testados a hipótese estatística e os testes de associação.
Foi realizada a análise estatística descritiva das variáveis de natureza quantitativa
com valores mínimos e máximos, médias, medianas e desvio padrão (DP). Para as
variáveis de natureza qualitativa, foram apresentados seus valores percentuais
e as
frequências relativas e absolutas.
As associações das variáveis categóricas foram realizadas pelo teste do Qui- Quadrado
e todos os dados foram analisados com nível de significância (alfa) de 0,05
(p<0,05) e intervalo de confiança de 95%.
RESULTADOS
A amostra foi composta por 501 pacientes que formaram a base do banco de dados, os
quais foram obtidos pela enfermeira responsável pela sua coleta. Foram considerados
os percentuais válidos para cada variável analisada.
Critérios para a escolha do cirurgião plástico:
- O número de cirurgiões plásticos consultados apresentou a seguinte
variação (Tabela 1):
Tabela 1 - Distribuição quanto ao número de cirurgiões plásticos
consultados para a realização do procedimento.
Consultados |
n |
% |
Um |
236 |
56,3 |
Dois |
112 |
26,8 |
Três |
48 |
11,5 |
Quatro |
11 |
2,6 |
Cinco |
6 |
1,4 |
Seis |
3 |
0,7 |
Sete |
0 |
0 |
Oito |
3 |
0,7 |
Total |
419 |
100 |
Tabela 1 - Distribuição quanto ao número de cirurgiões plásticos
consultados para a realização do procedimento.
- A forma mais comum de se encontrar o cirurgião plástico atual segue
abaixo (Tabela 2):
Tabela 2 - Distribuição quanto ao meio pelo qual encontrou seu
cirurgião plástico atual.
Meio de encontro |
n |
% |
Já era paciente |
2 |
0,5 |
Outro médico indicou |
0 |
0 |
Amigo/familiar indicou |
396 |
96,4 |
Catálogo de convênio |
0 |
0 |
Revista (saúde/beleza) |
0 |
0 |
Pesquisa na internet |
9 |
2,2 |
Grupo de Facebook |
1 |
0,2 |
Grupo de WhatsApp |
2 |
0,5 |
Perfil do Instagram |
0 |
0 |
Outro |
1 |
0,2 |
Total |
411 |
100 |
Tabela 2 - Distribuição quanto ao meio pelo qual encontrou seu
cirurgião plástico atual.
- Dentre as cirurgias plásticas mais realizadas previamente ao
procedimento atual, temos (Tabela 3):
Tabela 3 - Distribuição das cirurgias plásticas mais realizadas
previamente ao procedimento atual.
Cirurgia |
n |
% |
Lipoaspiração |
19 |
12,7 |
Mamas |
101 |
67,3 |
Abdome |
19 |
12,7 |
Glúteos |
0 |
0 |
Transplante capilar |
0 |
0 |
Face |
1 |
0,7 |
Pálpebras |
2 |
1,3 |
Nariz |
7 |
4,6 |
Orelhas |
1 |
0,7 |
Outras |
0 |
0 |
Total |
150 |
100 |
Tabela 3 - Distribuição das cirurgias plásticas mais realizadas
previamente ao procedimento atual.
- Dentre as mamoplastias, a mais realizada foi a de aumento com a
inclusão de prótese de silicone (Tabela 4).
Tabela 4 - Distribuição das mamoplastias por tipo.
Mamoplastia |
n |
% |
Aumento |
114 |
75,9 |
Pexia |
25 |
16,8 |
Redução |
11 |
7,3 |
Total |
150 |
100 |
Tabela 4 - Distribuição das mamoplastias por tipo.
Enquanto 49,0% dos pacientes relataram que a realização do procedimento atual
acontecia com o mesmo cirurgião, 51,0% realizavam o procedimento com um cirurgião
diferente de seu cirurgião anterior (n=98).
Perfil sociodemográfico
As idades variaram de 15 a 77 anos, cuja média e mediana foram de 35,31 e 34
anos, respectivamente, com desvio padrão (DP) de 9,9 (n=501). Quanto ao sexo,
97,6% eram do sexo feminino e 2,4% do sexo masculino (n=501). Na variável cor
da
pele, 26,9% se declararam brancos, 8,1% amarelos, 64,7% pardos e 0,3% pretos
(n=356).
O nível de escolaridade obtido foi de 2,1% com ensino fundamental, 35,1% com
ensino médio e 62,8% com ensino superior, sendo que destes 2,2% tinham mestrado,
2,2% doutorado, 8,7% Master in Business Administration (MBA)
(n=433).
Em relação ao estado civil, 35,7% eram solteiros, 0,5% tinham união estável,
55,7% eram casados, 6,9% divorciados e 1,2% viúvos (n=420).
Em relação às gestações, 31,7% das pacientes nunca engravidaram e 68,3% já haviam
engravidado anteriormente (n=429). Das pacientes que engravidaram, 30,3% tiveram
uma única gestação, 51,0% duas gestações, 15,6% tiveram três gestações e 3,1%
tiveram quatro gestações (n=294), tendo a média de gestações sido de 1,69 e a
mediana de 2,00 (DP=0,47).
Nesta amostra, 86,2% das mulheres nunca sofreram um aborto, enquanto 13,8%
relataram ter vivido essa experiência, sendo a média de abortamentos para estas
pacientes de 1,14 e a mediana de 1,00 (DP=0,35) (n=420). O percentual de
pacientes que não amamentaram foi de 44,7% e, das 55,3% que amamentaram seus
bebês, 1,9% ainda estavam amamentando na ocasião da cirurgia (n=378). Em relação
a gestações futuras, 30,6% das pacientes que se submeteram à cirurgia plástica
desejavam uma nova gestação e 69,4% não desejavam uma gestação futuramente
(n=369).
A média da renda mensal familiar estimada (em reais) variou de R$1.000,00 a
R$50.000,00, com média de R$7.341,69 e mediana de R$6.000,00 (DP=5.871,20),
sendo que 83,7% dos pacientes tinham renda de até R$10.000,00 (dez mil reais),
14,9% de até R$20.000,00 (vinte mil reais), 0,7% de até R$30.000,00 (trinta mil
reais) e 0,7% de até R$50.000,00 (cinquenta mil reais) (n=307).
Antropométricos
A massa corporal (peso) variou de 42 a 120 quilos (Kg) (n=451), com média de
63,99Kg e mediana de 63Kg (DP=9,95), sendo que 43,5% dos pacientes não variou
o
peso nos 12 meses que antecederam à cirurgia, enquanto 29,6% perderam peso e
26,9% ganharam. As perdas variaram de um a 59Kg, com média de 7,82Kg e mediana
de 5,50Kg (DP=7,16), e os ganhos de um a 20Kg, com média de 5,33Kg e mediana
de
4,00Kg (DP=4,02).
Enquanto 49,0% dos pacientes pretendiam manter seu peso após a cirurgia, 45,3%
tinham a intenção de perder e apenas 5,7% tinham a intenção de ganhar peso. Essa
expectativa de perda em relação ao peso atual variou de um a 30Kg, com média
de
5,77Kg e mediana de 5,00Kg (DP=3,98), e a de ganho variou de dois a 6Kg, com
média de 3,78Kg e mediana de 4,00Kg (DP=1,56).
A média da altura foi de 162,93 centímetros (cm), com mediana de 163,00cm
(DP=7,06) (n=448). A associação do peso com a altura foi capaz de fornecer dados
sobre o índice de massa corporal (IMC), cuja média foi de 24,10 e a mediana
23,73 (DP=3,15). Em relação ao IMC, 7,6% dos pacientes foram classificados como
baixo peso, 56,7% como peso normal, 31,6% como sobrepeso e 4,1% como obesos
(n=446).
Hábitos de vida
Enquanto 44,3% dos pacientes revelaram não praticar qualquer atividade física e
3,7% referiram fazê-lo menos de uma vez por semana, 52,0% relataram a prática
de
exercícios físicos com regularidade maior que uma vez por semana. A média de
dias de treinamento foi de 2,08 e a mediana foi de 3,00 (DP=0,99) (n=427).
A porcentagem de pacientes que nunca fumaram foi 97,3%, sendo que 0,9% fumou no
passado, 1,4% era fumante passivo e 0,5% ainda fumava ativamente (n=437).
O hábito etílico foi registrado por 34,7% entrevistados, sendo que destes 23,5%
bebia menos de uma vez por semana, 10,1% uma a duas vezes por semana e 1,1% três
a quatro vezes por semana, enquanto 65,3% da amostra negou a ingestão de bebidas
alcoólicas (n=435).
Nenhum paciente afirmou ser usuário de qualquer droga, tóxico ou entorpecente,
sendo que 4,7% assumiram já terem experimentado sem se tornarem usuários,
enquanto 95,3% relataram nunca ter tido contato com qualquer uma dessas
substâncias (n=429).
Enquanto 92,6% dos pacientes negaram a utilização regular de medicamentos, 7,4%
relataram o seu uso, dentre os quais 2,0% referiram o consumo de fórmulas
naturais e 1,2% a ingestão de vitaminas (n=244).
DISCUSSÃO
O marketing médico aumentou substancialmente nas duas últimas décadas, cujos gastos
cresceram de 17,1 bilhões de dólares em 1997 para 29,9 bilhões de dólares em 2016.
O
aumento mais rápido foi na publicidade direta ao consumidor de medicamentos e
serviços, que aumentou de 2,1 bilhões de dólares para 9,6 bilhões de dólares de
1997
para 2016. Quando o assunto são exclusivamente os serviços de saúde, esse aumento
foi de 542 milhões de dólares para 2,9 bilhões de dólares nos últimos 20 anos,
sendo
que o incremento no número de anúncios foi de 14.100 para 255.300, representado
pelo
aumento na publicidade de mídias eletrônicas menos dispendiosas4.
Mesmo com esse incremento na publicidade virtual, ainda há pouca orientação para os
cirurgiões plásticos jovens que desejam usar as mídias sociais para fins
profissionais, causando uma série de dúvidas comportamentais envolvendo os membros
da especialidade. Isto tem feito com que muitos cirurgiões, de diferentes idades,
ainda resistam à utilização dessas mídias como uma ferramenta de marketing, por
receio de cometer um ilícito ético ou por entenderem que esta é uma forma radical
e
pouco profissional de interação com seus pacientes7.
Apesar da controvérsia, sites médicos e de prestadores de serviços de saúde estão
se
tornando cada vez mais orientados para o marketing8 e as mídias sociais têm sido cada vez mais valorizadas como
ferramentas de comunicação para interagir com os pacientes e educar a população.
Essa valorização baseia-se em estudos que mostram que 65 por cento dos americanos
e
90 por cento dos adultos jovens usam as mídias sociais7.
De acordo com os achados de nosso trabalho, as escolhas baseadas em informações
disponíveis na internet ou redes sociais foi de 2,9% apenas, metade do percentual
encontrado por Araújo et al., em 20139, ao
considerar internet, revista ou TV.
Apesar da ampla utilização das mídias eletrônicas demonstrada por Cho et al., em
20197, elas são uma ferramenta de busca
ainda pouco utilizada no que se refere à cirurgia plástica. Esses dados são
corroborados por Araújo et al. (2013)9, em que
foram predominantes as indicações pessoais (de médicos, amigos ou parentes próximos)
para a escolha do cirurgião plástico. Esse tipo de marketing, também conhecido
como
publicidade “boca-a-boca”, encontra respaldo na opinião dos médicos quanto à sua
eficiência, uma vez que 95,1% consideram a propaganda boca-a-boca como sendo a
melhor forma de divulgar seu consultório ou clínica10.
Os dados do nosso estudo revelaram ainda que mais de metade (50,5%) dos pacientes
consultaram apenas um cirurgião plástico para a realização de suas cirurgias
plásticas, concordando com Araújo et al. (2013)9, cujo trabalho revelou ainda que a primeira consulta foi considerada
como um dos elementos mais importantes na escolha do cirurgião plástico. Embora
as
pessoas estejam se tornando cada vez mais informadas11, isso demonstra o quanto elas ainda valorizam a empatia, a confiança
e a atenção do profissional durante a consulta na hora de escolher o seu
cirurgião12.
Isto nos remete ao fato de que, a despeito da velocidade de transmissão das
informações e do rápido desenvolvimento do marketing moderno na área da saúde,
os
papéis e as responsabilidades profissionais devem ser seriamente levados em
consideração, principalmente ao lidar com as mídias sociais no ramo da medicina.
Além disso, é imprescindível que os dados não sejam usados abusivamente,
resguardando sempre a privacidade e a confidencialidade dos pacientes, a fim de
que
a confiança no profissional não seja comprometida1.
Outro aspecto importante que deve ser ponderado é que, embora o marketing médico
esteja aumentando em âmbito e escala, o profissional deve primar pelo esclarecimento
das condições clínicas e opções de tratamento disponíveis. Os médicos precisam
ser
cautelosos para evitar comportamentos que maximizem o lucro em detrimento das
reais
necessidades dos pacientes e o conteúdo de seus anúncios deve ser claro e
informativo, respeitando os preceitos éticos da profissão e resguardando a relação
médico-paciente13, pois ao mesmo tempo em
que a publicidade e a promoção fazem parte da estratégia para manter o
relacionamento com o público-alvo, suas atividades são reguladas por regras éticas
estabelecidas para o mercado da saúde1.
Assim, é importante que as mensagens promocionais mostrem a verdade sem criar
expectativas irreais, com uma comunicação coerente e plausível, pois o público-alvo
desses anúncios são pessoas que nutrem o desejo de ficar bem. São seres vulneráveis
e que procuram comprar qualquer serviço que pareça estar em conformidade com o
seu
desejo de melhorar o seu estado de saúde, mesmo que esse serviço específico não
seja
bom ou adequado para o seu caso1, devendo ser
reprimidas as propagandas enganosas e com promessas de resultados, as quais levam
o
paciente à tomada de decisões equivocadas, pautadas em informações incompletas
ou
erradas e expectativas irreais13.
Considerando-se as características sociodemográficas dos pacientes, a média de idade
de 35,3 anos encontra respaldo na literatura9,14, assim como a
distribuição quanto ao sexo, com a predominância do feminino5,9,14. Os dados
relacionados ao estado civil também apresentaram algumas semelhanças com outros
estudos, com predominância dos casados, seguidos pelos solteiros nesse grupo de
pacientes9,14,15.
Em relação à escolaridade, mais da metade tinha nível superior completo, mais de um
terço nível médio e uma minoria apenas o nível fundamental, dados esses concordantes
com Araújo et al. (2013)9. Em ambos os
estudos, mais de três quartos da amostra tinha renda familiar média estimada de
até
10 mil reais, seguidos pelos que ganhavam de 10 a 30 mil reais e uma minoria que
com
renda maior do que 30 mil reais, sem ultrapassar os 50 mil reais.
Segundo a pesquisa das características étnico-raciais da população, do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 200816, ao ser indagada a cor ou raça a partir de uma pergunta aberta
(autoclassificação), 65% dos entrevistados utilizaram uma das cinco categorias
de
classificação do IBGE: branca (49,0%), preta (1,4%), parda (13,6%), amarela (1,5%)
e
indígena (0,4%), além dos termos “morena” (21,7%, incluindo variantes “morena
clara”
e “morena escura”) e “negra” (7,8%), sendo que encontramos na amostra atual uma
classificação diferente no que se refere à composição racial, quesito cor: 26,9%
se
declararam brancos, 8,1% amarelos, 64,7% pardos e 0,3% pretos.
Ainda em relação às características sociodemográficas da amostra, segundo os dados
do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2002-200317, na população com 20 ou mais anos de idade,
a prevalência do excesso de peso na região Centro-Oeste foi de 2,4% para homens
e
6,2% para mulheres, e de obesidade foi de 8,6% para homens e 10,6% para mulheres.
Os
dados de nossa amostra revelaram uma taxa de sobrepeso maior com menor número
de
obesos, corroborando os achados de Kaoutzanis et al., em 201818 e Gupta et al., em 201619.
Considerando-se os hábitos de vida da população estudada, mais da metade dos
pacientes (52%) relatou a prática regular de exercícios físicos, dois terços (65,3%)
negaram a ingestão de bebidas alcoólicas, a grande maioria negou a utilização
de
medicamentos (92,6%) e o tabagismo (97,3%), e a totalidade da amostra (100%) negou
ser usuária de drogas, tóxicos ou entorpecentes.
CONCLUSÃO
A condução deste estudo em um único centro, cujo escopo é a realização de cirurgias
plásticas, forneceu subsídios para uma melhor compreensão sobre os métodos de
escolha mais utilizados pelos pacientes na busca de um cirurgião plástico, os
quais
se basearam predominantemente na indicação de amigos e familiares. Produziu-se
também uma amostra confiável para a descrição das características sociodemográficas
dos pacientes, composta predominantemente por mulheres adultas jovens, casadas,
pardas, com nível superior de escolaridade e pertencentes à alta classe média,
fisicamente ativas e sem vícios, demonstrando que esse é o perfil mais comum em
relação à busca para a realização de cirurgias plásticas em nosso meio.
A velocidade da progressão do uso das redes sociais contrapõe-se à brandura de sua
regulamentação para uso médico. A primeira constitui-se em um fator limitante
quanto
à prospecção dos resultados para outras populações fora deste contexto temporal.
A
segunda destaca a importância da boa formação médica quanto ao uso do marketing
de
acordo com a legislação vigente, a fim de atenuar os danos potenciais ocasionados
aos pacientes, resultantes de uma publicidade antiética e sem regulamentação.
Este
distanciamento temporal suscita novos estudos para contemporizar o impacto da
internet, mídias eletrônicas e revisões on-line como critérios de escolha do
cirurgião plástico e determinar sua influência no processo de tomada de decisão.
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1. Hospital Premium, Cirurgia Plástica, Goiânia,
GO, Brasil.
2. Hospital das Clínicas da Universidade Federal
de Goiás, Mastologia, Goiânia, GO, Brasil.
3. Universidade Estadual de Ciências da Saúde e
Faculdade de Medicina CESMAC, Maceio, AL, Brasil.
Autor correspondente:
Sylverson Porto Rassi Avenida T 4, 1445, Setor Bueno, Goiânia, GO,
Brasil. CEP: 74230-035 E-mail: drrassi@gmail.com
Artigo submetido: 05/07/2020.
Artigo aceito: 10/01/2021.
Conflitos de interesse: não há.