INTRODUÇÃO
Queimaduras são definidas como importantes lesões da pele ou tecido orgânico,
causadas por eletricidade, agentes químicos, radioativos, atrito ou fricção,
exposição ou contato com calor ou frio extremo. Podem ser classificadas, quanto
à
profundidade, como primeiro grau, quando as lesões atingem somente a camada
epidérmica; segundo grau, quando há comprometimento da epiderme e da camada
superficial ou profunda da derme; e, terceiro grau, quando existe lesões da todos
os
apêndices da pele1.
São considerados fatores associados à lesão por queimadura: a baixa renda, zona
urbana, ambiente domiciliar e a manipulação de líquidos quentes2. Entre crianças, a idade de um a três anos é mais prevalente
em acidentes, associada ao desenvolvimento neuropsicomotor e maior liberdade de
locomoção3. Já em pacientes idosos, além
de lesões ocorridas na cozinha, também acontecem no banheiro, relacionadas ao
banho
excessivamente quente4.
Diversas são as complicações que podem ocorrer em pacientes queimados, dentre elas
a
infecção da lesão, pneumonia, insuficiência renal aguda, choque e sepse5. Dos pacientes internados, 35,8% desenvolvem
infecções de pele e 24,4% infecções respiratórias, sendo os idosos os mais
acometidos6.
O tratamento aos pacientes vítimas de queimadura é oneroso para o estado e paciente.
A permanência média de grandes queimados em ambiente hospitalar é de 41,5 dias,
sendo a superfície corporal queimada diretamente relacionada com a gravidade,
causando um grande impacto econômico e emocional7. O custo médio final desse tipo de paciente pode chegar a R$26.386,22
somando enxertos, desbridamentos e gasto do tempo de internação no Sistema Único
de
Saúde (SUS)8.
Muitos são os desafios enfrentados pelos pacientes após a alta hospitalar, tais como
estigmas sociais da lesão, que diminuem a possibilidade do paciente voltar ao
seu
potencial econômico. Outra dificuldade é a mobilidade da área acometida, pois
a
superfície da área queimada pode ocasionar dificuldades de mobilidade na região
acometida com sequelas permanentes9.
Atualmente, observa-se no mundo a tendência de diminuição da incidência de casos de
queimadura, grau de mortalidade, tempo de internação e gravidade dos mesmos10. No Brasil, o perfil epidemiológico do
paciente adulto que sofre por queimaduras é predominantemente do sexo masculino,
com
média de idade de 25 a 26 anos, acidentados por produtos inflamáveis em seu próprio
domicílio. Destes, a maioria dos incidentes são nos membros superiores, e a maioria
de primeiro grau isolada ou primeiro e segundo grau combinadas. Em relação às
crianças, prevalecem queimaduras de segundo e terceiro grau, principalmente em
troncos e membros superiores, por escaldo11.
No Sul do Brasil, ocorreram pequenas variações nas taxas de internação de queimadura
nos últimos anos (13,11 a 14,6/100.000 habitantes), sendo maiores no
sexo masculino e na faixa etária de 0-19 anos (Favassa et al., em 2017)12. Destaca-se na região o estado do Paraná,
que apresenta maiores taxas em relação aos outros estados12. Já em Santa Catarina (SC), de 2006 até 2012, houve
diminuição significativa na taxa (de 15 para 10/100.000 habitantes). O
grupo mais acometido no estado é de um a quatro anos de idade, sendo a taxa de
internação inversamente proporcional à idade13.
A realização de um maior número de estudos técnicos científicos nacionais sobre a
epidemiologia de queimaduras torna-se necessário e desejado14. O fornecimento de novos dados, mesmo de conhecimento
público, mas por meio de pesquisa, é fundamental para que os órgãos responsáveis
possam desenvolver métodos de prevenção eficazes, baseados na população local
estudada15. Por isso, o objetivo do
presente estudo foi analisar a série temporal das taxas de internação por queimadura
no estado de SC, segundo sexo e faixa etária, com intuito de fornecer informações
peculiares relevantes para o delineamento de políticas públicas no âmbito da
promoção e proteção da saúde coletiva, em relação às lesões por queimaduras, as
quais constituem-se uma importante causa de morbimortalidade na população
brasileira.
OBJETIVO
Este estudo tem como objetivo geral analisar a tendência temporal de internação
hospitalar por queimadura em Santa Catarina no período de 2008 a 2018. Os objetivos
específicos são: identificar da taxa geral de internação hospitalar por queimadura
e
avaliar a tendência da série temporal segundo sexo e faixa etária por sexo.
MÉTODOS
Foi realizado um estudo ecológico de séries temporais, com dados obtidos no estado
de
Santa Catarina, utilizando o banco de dados de domínio público do Sistema de
Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS)16.
A população do estudo é composta por dados de internações hospitalares do SIH-SUS
por
queimaduras do estado de Santa Catarina, ocorridas no período de 2008 a 2018.
A
inclusão dos dados foi realizada pela Classificação Internacional da Doença CID-10,
no caso de queimaduras e corrosões: T20 à T32. Foram excluídos os dados de
internação com sexo ou idade ignorados. No período de estudo, a população estimada
de queimados foi de 4.480.073 de acordo com o SIH-SUS17.
A coleta de dados foi realizada a partir de informações na base de dados de domínio
público no site do DATASUS, do Sistema de Informações hospitalares do SUS (SIH-SUS),
disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sih/cnv/niuf.def. As
unidades hospitalares conveniadas ao SUS enviaram os dados das internações efetuadas
por meio da Autorização de Internação Hospitalar (AIH) para os gestores municipais
e
estaduais. Os dados foram exportados no formato Comma Separated
Values (CVC) e salvos em planilha Excel.
As informações demográficas populacionais foram retiradas do site do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), utilizando os censos de 2000 e 2010,
além de suas estimativas intercensitárias. As variáveis dependentes do estudo
se
referiram às taxas de acordo com o sexo masculino e feminino e faixa etária (0-4
anos, 5-9 anos, 10-19 anos, 20-39 anos, 40-59 anos, 60 anos ou mais) por sexo.
A
variável independente foi o ano de 2008 a 2018.
Para cada ano do período estudado, foram calculadas as taxas de internação por
queimadura, brutas e específicas, de acordo com as variáveis dependentes de
interesse: faixa etária e sexo, calculadas para cada 100.000 habitantes utilizando
o
número total de internações, divididos pela população geral do período (geral,
por
sexo e faixa etária por sexo). Para análise das tendências temporais de morbidade
por queimadura, foram utilizados os coeficientes de morbidade padronizados e o
método de regressão linear simples, por meio do programa Statistical Package
for the Scial Sciences (SPSS) versão 18.0. Neste método, as taxas de
internações padronizadas foram consideradas como variáveis dependentes, e os anos
do
calendário de estudo como variáveis independentes, obtendo-se assim o modelo
estimado de acordo com a fórmula Y = b0 + bI X, onde o y = coeficiente padronizado,
b0 = coeficiente médio do período, Bi = incremento anual médio e X = ano. Os
resultados foram apresentados em taxas, r = coeficiente de correlação, b =
coeficiente angular e valor de p. Sendo considerada significância estatística
o
valor de p<0,05.
RESULTADOS
No período analisado (2008-2018), ocorreram 9.158 internações por queimaduras
registradas nos hospitais públicos de Santa Catarina. A tendência da taxa geral
de
internação hospitalar por queimadura encontra-se na Figura 1. A taxa de internação hospitalar em 2008, no início do período,
foi de 12,06 internações por 100.000 habitantes; finalizando o período (2018),
com o
aumento da taxa para 17,07 internações por 100.000 habitantes.
Figura 1 - Tendência temporal da taxa geral de internação por queimaduras no
estado de Santa Catarina entre 2008 e 2018.
Figura 1 - Tendência temporal da taxa geral de internação por queimaduras no
estado de Santa Catarina entre 2008 e 2018.
Ao estratificar a taxa de internação por sexo, percebeu-se que no sexo masculino é
superior (Figura 2). A taxa de internação
hospitalar do sexo masculino iniciou com 14,52, finalizando a série histórica
com
22,51/100.000 habitantes. No sexo feminino, a taxa inicial foi de 9,52 internações
por 100.000 habitantes e, ao final do período, aumentou para 11,72 por 100.000
habitantes. Ocorreram mais variações de tendência no sexo masculino
no período, com aumento importante a partir do ano de 2013.
Figura 2 - Tendência temporal da taxa de internação por queimaduras no estado de
Santa Catarina entre 2008 e 2018, segundo o sexo.
Figura 2 - Tendência temporal da taxa de internação por queimaduras no estado de
Santa Catarina entre 2008 e 2018, segundo o sexo.
As Figuras 3 e 4 apresentam a tendência da série temporal segundo faixa etária por
sexo. Na Figura 3, a qual demonstra a tendência
temporal de internação por queimadura no sexo feminino, pode-se observar que o
grupo
mais acometido é o de 0-4 anos, com taxas de 28, 86 no início do período e 69,40
por
100.000 no final da série histórica. Além disso, há um aumento da taxa na faixa
etária de 5 a 9 anos no ano de 2016 de 11,44 para 26,01 por 100.000 habitantes.
Figura 3 - Tendência temporal da taxa de internação por queimaduras no estado de
Santa Catarina entre 2008 e 2018, segundo o sexo feminino por faixa
etária.
Figura 3 - Tendência temporal da taxa de internação por queimaduras no estado de
Santa Catarina entre 2008 e 2018, segundo o sexo feminino por faixa
etária.
Figura 4 - Tendência temporal da taxa de internação por queimaduras no estado de
Santa Catarina entre 2008 e 2018, segundo o sexo masculino por faixa
etária.
Figura 4 - Tendência temporal da taxa de internação por queimaduras no estado de
Santa Catarina entre 2008 e 2018, segundo o sexo masculino por faixa
etária.
A taxa de internação por queimaduras no sexo masculino por faixa etária está
demonstrada na Figura 4. Durante todo o
período, há aumento da faixa etária dos 0 a 4 anos, de 44,75(100.000 habitantes)
para 115,37(100.000 habitantes).
Na Tabela 1 são apresentadas a variação
percentual anual, coeficiente de determinação (R2), a variação média anual
(β), o valor de p e a tendência estratificado por sexo e faixa etária.
Tabela 1 - Tendência temporal de internação hospitalar por queimaduras no estado de
Santa Catarina entre 2008 e 2018, segundo sexo e faixa etária por
sexo.
|
Variação Percentual Anual (%) |
R2 |
Variação Média Anual (β) |
Valor de p |
Tendência |
Taxa de internação geral Taxa de internação por
sexo
|
29,34 |
0,735 |
0,499 |
0,001 |
Aumento |
Feminino |
17,91 |
0,44 |
0,248 |
0,026 |
Aumento |
Masculino |
35,49 |
0,794 |
0,756 |
0 |
Aumento |
Taxa de internação por faixa
etária |
Feminina |
|
|
|
|
|
0-4 anos |
58,41 |
0,902 |
4,112 |
0 |
Aumento |
5-9 anos |
71,22 |
0,447 |
1,201 |
0,024 |
Aumento |
10-19 anos |
28,12 |
0,089 |
0,103 |
0,373 |
Estável |
20-39 anos |
-97,71 |
0,346 |
-0,416 |
0,057 |
Estável |
40-59 anos |
-39,15 |
0,042 |
-0,072 |
0,546 |
Estável |
Mais de 60 anos |
55,53 |
0,785 |
0,542 |
0 |
Aumento |
Masculino |
|
|
|
|
|
0-4 anos |
61,21 |
0,858 |
6,788 |
0 |
Aumento |
5-9 anos |
70,38 |
0,311 |
1,795 |
0,074 |
Estável |
10-19 anos |
50,54 |
0,372 |
0,498 |
0,046 |
Aumento |
20-39 anos |
-15,64 |
0,007 |
-0,042 |
0,802 |
Estável |
40-59 anos |
1,01 |
0,093 |
0,202 |
0,362 |
Estável |
Mais de 60 anos |
42,5 |
0,526 |
0,737 |
0,012 |
Aumento |
Tabela 1 - Tendência temporal de internação hospitalar por queimaduras no estado de
Santa Catarina entre 2008 e 2018, segundo sexo e faixa etária por
sexo.
Houve um aumento de 29,34% na taxa geral de queimaduras ao longo do período estudado
(2008 a 2018). No que se refere ao sexo, observa-se uma tendência de aumento
significativo tanto para o sexo masculino quanto para feminino, com variação
percentual anual de 35,49% e 17,91%, respectivamente. Ao analisar por faixa etária,
constatou-se tendência de aumento nas idades entre 0-4, 5-9 e maiores de 60 anos
no
sexo feminino. Já no sexo masculino, foi evidenciado tendência de aumento nas
idades
entre 0-4, 10-19 e maiores de 60 anos.
DISCUSSÃO
As queimaduras representam importante causa de morbimortalidade no mundo e podem
levar a um grande impacto econômico e social7.
Estas lesões encontram-se em quarto lugar como o tipo de trauma mais prevalente
no
mundo, após acidentes de trânsito, quedas e violência interpessoal; e representam
um
dos maiores agravos na saúde pública global pelo impacto representado pela gravidade
de suas lesões18.
Os dados obtidos no presente estudo demonstraram uma tendência temporal de aumento
no
número de internações por queimadura no estado de Santa Catarina no período estudado
(2008-2018). Contudo, um estudo semelhante realizado no mesmo estado entre os
anos
de 1998 e 2012 apresentou uma diminuição do número de casos13. Quanto à taxa de morbidade demonstrada pelo número de
internações hospitalares no ano de 1998, apresentava-se próxima a 16 internações
por
100.000 habitantes, finalizando o período, em 2012, abaixo de 14 internações/100.00
habitantes. Outro estudo realizado na região Sul do Brasil, entre os anos de 2008
a
2016, constatou que a taxa de internação por queimadura no início do período foi
de
13,11 por 100.000 habitantes, finalizando, em 2016, com taxa de 14,60/100.000
habitantes e mantendo-se constante no mesmo período14. Analisando esses resultados, em relação ao atual estudo, percebeu-se
que ambos estão em concordância temporal já que as taxas de internação aumentaram
acentuadamente a partir do ano de 2015.
No Brasil no período de 2000 a 2014 a taxa geral de internação foi de 14,56 por
100.000 habitantes e, ao comparar as taxas de internação no Brasil por estados,
este
estudo longitudinal constatou que o estado de Goiás apresentou a maior taxa geral
de
hospitalizações por queimaduras, chegando a 28,8 por 100.000 habitantes, um número
significativamente maior que o observado nos estados do Sul do Brasil19. Essa diferença encontrada não foi explicada
pelo autor do trabalho. É importante ressaltar que este tipo de estudo
epidemiológico, ecológico, não apresenta muitas vezes informações suficiente para
justificar questões individuais.
Quanto ao sexo das vítimas de internação por queimaduras no Brasil, o presente estudo
observou que, houve aumento em ambos os sexos e a maior taxa de vítimas internadas
por queimaduras foram pacientes do sexo masculino. Estes dados concordam com
resultados obtidos em outros estudos internacionais, onde países como a Finlândia
e
Alemanha têm também o predomínio de internações do sexo masculino20,21. Mesmo em comparação com outros estudos realizados no território
nacional foi observado que há predominância do sexo masculino8,11.
O fator desencadeante para o predomínio do perfil masculino nas taxas de internações,
apesar de não explicitamente demonstrado, pode estar associada à forma como o
homem
se relaciona com o trabalho que exerce, pois epidemiologicamente, os homens são
ocupantes de profissões com maior periculosidade e que exigem maior esforço físico
e
os sujeitariam a maiores riscos de acidentes. A alta contratação de profissionais
do
sexo masculino em indústrias químicas e petrolíferas, em profissões que exigem
o
manuseio de equipamentos mecânicos e de solda, assim como profissões que exigem
contato com combustíveis inflamáveis seriam responsáveis pelo aumento dessas taxas.
Quanto ao sexo feminino, os acidentes por queimaduras estariam em maior parte
associados a acidentes domésticos, violência doméstica e autoprovocada, como nas
tentativas de suicídio22.
Destacou-se o grupo que compreende indivíduos de 0 a 4 anos como a faixa etária mais
acometida em ambos os sexos. Este achado vai ao encontro com outros países do
mundo,
como Portugal, que apresentou taxa de 54,6 por 100.000 habitantes nesta mesma
faixa
etária, onde foi caracterizado como maior causa de queimadura o escaldo em ambiente
domiciliar23. Por estarem ainda sem a
integridade cognitiva de discernimento sobre situações de risco, as crianças mais
jovens ficam mais expostas a acidentes, fato este intrinsecamente relacionado
ao
conhecimento dos pais sobre prevenção de queimaduras e primeiros socorros24.
As crianças, contidas na faixa etária dos 5 aos 9 anos, tiveram tendência ao aumento
de internações no sexo feminino e estabilidade no masculino. Esta predominância
pode
ser explicada pela possível realização de trabalhos domésticos como auxiliar na
cozinha, local mais comum de acidentes em escolares e pré-escolares3.
Na faixa etária dos 10-19 anos, demonstrou-se um aumento da tendência no sexo
masculino e estabilidade no sexo feminino. Observou-se na literatura uma escassez
de
estudos abrangendo adolescentes. Serra et al., em 201225, realizaram estudo com internações por queimadura na faixa
de 12 e 18 anos, no período de 2007 a 2011, e os autores verificaram que 33,33%
das
internações foram causadas por álcool e a idade mais prevalente foi 17 anos. Este
fato pode ser justificado pela ambivalência de interação com o mundo externo de
modo
mais autônomo sem, aparentemente, ter que assumir as responsabilidades da vida
adulta25. Além disso, o sexo masculino
nesta faixa etária, inicia o consumo de álcool e drogas, podendo levar a maiores
tentativas de suicídio e acidentes por queimaduras. Em relação a faixa etária
dos
adultos, neste estudo compreendidos entre os 20-59 anos, obtiveram tendência a
estabilidade.
Os idosos, contidos na faixa etária acima dos 60 anos, apresentaram aumento em ambos
os sexos durante o período, sugerindo relação com o aumento da longevidade nos
últimos anos. Este aumento de internações pode ser explicado pelas alterações
inerentes à idade, como funções sensoriais e cognitivas diminuídas, predispondo
um
déficit na capacidade de prever acidentes e aumentando assim a possibilidade de
traumas térmicos. Pode-se observar na literatura que os acidentes domésticos no
sexo
masculino são os mais prevalentes, sendo esta faixa etária relacionada a pior
evolução clínica, precária recuperação e maior número de dias de internação e
custo
hospitalar4,26,27.
Um estudo recente realizado no país demonstrou que profissionais da saúde apresentam
conhecimento insatisfatório em relação à primeira assistência ao indivíduo
queimado28, o que pode ocasionar um
número maior de complicações e um maior número de internações hospitalares por
negligência no primeiro atendimento. Além disso, o estado de Santa Catarina
apresenta um alto nível de notificação em relação ao resto do Brasil e um maior
número de notificações nos últimos anos.
Todos os estudos no meio científicos são passíveis de vieses e limitações. Como
limitações consta neste estudo o fato de que a fonte dos dados foi exclusivamente
o
banco de dados do DATASUS, excluindo-se assim dados de internações de pacientes
particulares ou financiados por convênios de saúde, por esta razão pode haver
subregistro das internações por causas externas29. Soma-se às limitações, a possibilidade que hospitais não
credenciados como de alta complexidade possam utilizar outros códigos que não
de
queimaduras na hora da emissão da internação, a fim de arrecadar mais recursos
ao
atendimento, diminuindo o número de dados desde estudo. Apesar disso, o DATASUS
ainda é considerado uma boa fonte pela OMS. Cabe salientar que mais estudos
regionalizados serão necessários para melhor observação dos fatores associados
às
queimaduras.
CONCLUSÃO
No período estudado, houve 9.158 internações por queimadura, correspondendo à taxa
de
14,52 internações por 100.000 habitantes no início do período e 22,51 internações
por 100.000 habitantes no final da série histórica.
Ao analisar a taxa de internação geral, evidencia-se um aumento de 29,34% no período.
Ambas as taxas de internação por queimadura tenderam ao aumento, sendo o sexo
masculino os mais elevados durante todo o período estudado.
Ao observar as diversas faixas etárias, destaca-se o grupo que compreende indivíduos
de 0 a 4 anos como o mais acometido no estado de Santa Catarina.
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1. Hospital Universitário, Florianópolis, SC,
Brasil.
2. Universidade do Sul de Santa Catarina, Palhoça,
SC, Brasil.
3. Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, SC, Brasil.
Autor correspondente: Felipe Oliveira Duarte Avenida Professor
Othon Gama D’Eça 900, Centro, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. CEP:
88015-240 E-mail: duarte.cirurgiaplastica@gmail.com
Artigo submetido: 29/02/2020.
Artigo aceito: 15/07/2020.
Conflitos de interesse: não há.