INTRODUÇÃO
Os procedimentos estéticos não cirúrgicos, como a toxina botulínica e os
preenchedores, estão cada vez mais retardando a indicação do lifting facial,
sobretudo na região frontotemporal1. Neste
contexto, observamos uma carência de publicações na literatura que contemplem
a
padronização da técnica do mini lifting com cicatriz reduzida, como parte do arsenal
terapêutico para o tratamento dos terços médio e inferior da face.
Assim, utilizamos a padronização da técnica do facelift light, a
qual consiste em um descolamento moderado, demarcado no pré-operatório, bem como
sua
execução com pontos específicos para o descolamento, associado à plicatura do
sistema aponeurótico superficial (SMAS) e aos pontos de adesão (Figuras 1, 2, 3 e 4). A
marcação pré-operatória padronizada torna esta técnica reprodutível e com menor
curva de aprendizado, mas sem comprometer os resultados. A plicatura do SMAS
mostrou-se importante para o melhor tratamento e tração duradoura, associado a
uma
redução na tensão cutânea, com menor risco de necrose do retalho e uma melhor
qualidade da cicatriz.
Figura 1 - Marcação padronizada da área de descolamento, mostrando o local da
incisão. Setas indicam área a ser descolada, 4-6cm do lóbulo.
Figura 1 - Marcação padronizada da área de descolamento, mostrando o local da
incisão. Setas indicam área a ser descolada, 4-6cm do lóbulo.
Figura 2 - Linha vermelha representa a marcação de pele a ser retirada, com o
desenho do retalho do tragus. Linha lilás representa a incisão
pós-tragal e periauricular.
Figura 2 - Linha vermelha representa a marcação de pele a ser retirada, com o
desenho do retalho do tragus. Linha lilás representa a incisão
pós-tragal e periauricular.
Figura 3 - Pontos de plicatura do SMAS, com direção de tração. A ordem da sutura
começando pelo ângulo da mandíbula.
Figura 3 - Pontos de plicatura do SMAS, com direção de tração. A ordem da sutura
começando pelo ângulo da mandíbula.
Figura 4 - Pontos de adesão. Pontos com monocryl 4.0 (em branco) e mononylon
incolor 4.0 (em azul).
Figura 4 - Pontos de adesão. Pontos com monocryl 4.0 (em branco) e mononylon
incolor 4.0 (em azul).
OBJETIVO
Avaliar os resultados do facelift light como uma técnica padronizada
e reprodutível, descolamento moderado e plicatura do SMAS, com resultados naturais,
associado a menores taxas de complicações e retorno precoce às atividades.
MÉTODOS
Foram operados 284 pacientes submetidos à ritidoplastia pela técnica do
facelift light, no período de 2014 a 2020, dos quais 39 eram
homens. Pacientes com idade entre 31 e 84 anos (com a média de 56 anos). Todos
os
pacientes foram operados e observados pelo mesmo cirurgião e autor deste trabalho
(2014 - 24, 2015 - 35, 2016 - 33, 2017 - 42, 2018 - 51, 2019 - 80, 2020 - 19).
Técnica cirúrgica
Com o paciente em posição ortostática, é feita a marcação pré-operatória da
região onde será realizada a incisão, da região a ser descolada e da possível
pele a ser retirada (Figuras 1 e 2). Imaginando o local da inserção do lóbulo
da orelha como centro da circunferência, é feito um círculo que varia de 4 a
6
centímetros, conforme as alterações existentes no ramo da mandíbula
(“jowl” ou “bulldog”) e nas bandas
platismais do pescoço. Na região submentoniana já é feita a marcação da
lipoaspiração, caso necessário.
Todos os pacientes foram operados em centro cirúrgico de hospital sob anestesia
local associada à sedação. A infiltração local foi feita com solução de
lidocaína (40ml), soro fisiológico (120ml) e uma ampola de adrenalina.
A incisão é feita somente em área glabra, logo não é necessário corte de cabelo.
Inicia-se a incisão pela região justa capilar da costeleta (em torno de 1.5cm),
quebrando em ângulo de 90 graus na região pré-auricular, descendo retrotragal.
Contornando a orelha na sua região posterior até sua porção superior (Figura 2). O descolamento subcutâneo é feito,
inicialmente com o bisturi e depois com tesoura na área demarcada.
O segundo passo é a plicatura do sistema músculo-aponeurótico superficial (SMAS),
feita com nylon 4.0 incolor (Figura 3).
Iniciando a sutura pelo ramo da mandíbula, depois na região anterior e por
último na região posterior, deixando toda superfície lisa e sem flacidez. O
próximo passo é a sutura de adesão de todo retalho, feita com monocryl 4.0,
tracionando- se suavemente, mas sem marcar muito a pele (Figura 4). Os pontos de adesão seguem a mesma ordem do SMAS,
começando pelo ramo da mandíbula.
Após retira-se o excesso de pele, ajustando com o desenho feito anteriormente,
podendo haver a necessidade de retirar um pouco mais ou menos. A sutura da pele
é feita com monocryl 4.0 e, finalmente, com uma sutura intradérmica contínua
realizada com monocryl 5.0; não há necessidade de drenos. O último passo é a
lipoaspiração do submento, feita por pequena incisão mediana no submento. E o
curativo compressivo com gazes em torno de orelha, gazes acolchoadas e a faixa
elástica. O curativo é renovado com 24 horas, na alta do paciente (Figura 5).
Figura 5 - Marcação, descolamento, pontos de adesão, excesso de pele, sutura
e curativo.
Figura 5 - Marcação, descolamento, pontos de adesão, excesso de pele, sutura
e curativo.
RESULTADOS
Os resultados parciais são vistos logo nas primeiras semanas, principalmente após
a
drenagem linfática. Após um mês não se observa mais edema. A longo prazo, a cirurgia
pode ser refeita em torno de 5 a 7 anos, e como não altera a implantação pilosa,
ela
pode ser feita várias vezes ao longo dos anos sem deixar estigmas, como visto
em
pós-operatórios de 1 ano (Figuras 6 e 7). As complicações foram bem menores, onde os
raros hematomas se restringiram a pequenas regiões drenadas por punção transcutânea
com 7 dias (12 casos). A queixa principal é a persistência em idosos e pacientes
pós-bariátricos de alguma pele na região cervical central.
Figura 6 - Pós-operatório de 2 meses e 1 ano.
Figura 6 - Pós-operatório de 2 meses e 1 ano.
Figura 7 - Pós-operatório com detalhe na região retroauricular.
Figura 7 - Pós-operatório com detalhe na região retroauricular.
DISCUSSÃO
O rejuvenescimento facial deve englobar diversas formas complementares de tratamento
e atuar de maneira eficaz em todas as regiões faciais. O arsenal cosmiátrico em
ascensão, com os preenchedores somados à toxina botulínica estão colocando em
discussão o lifting coronal amplo, sobretudo em pacientes mais jovens. Em indivíduos
mais velhos, entender a interação entre essas mudanças anatômicas complexas é
fundamental na escolha de alguma estratégia cirúrgica, que pode variar desde o
tratamento periorbitário, passando pelo lifting frontal conservador, até liftings
radicais dessa região2.
O facelift light é abordado neste estudo como uma alternativa para o
tratamento dos terços médio e inferior da face, com uma marcação padronizada,
reprodutível; com uma cicatriz reduzida, descolamento moderado, plicatura do SMAS
e
pontos de adesão; bem como com resultados naturais, poucas complicações e retorno
precoce dos pacientes às atividades diárias.
A marcação pré-operatória padronizada facilita a reprodutibilidade da técnica com
um
aprendizado mais fácil e seguro, se comparado à ritidoplastia clássica ou com
descolamentos agressivos3. Uma vez que as
abordagens mais agressivas e profundas, ou grandes descolamentos trazem consigo
o
risco ainda maior de outras complicações, como lesões de ramos do nervo facial
e
sofrimento dos retalhos4.
Diversos autores relatam ter reduzido a amplitude dos descolamentos e perceberam que
os resultados são igualmente bons e muito semelhantes aos que obtinham com os
descolamentos mais amplos e generalizados de antes. Estes são, agora, reservados
para os casos de grande flacidez de pele e para os que necessitam de
desengorduramento cervical grande associado à plicatura de platisma5,6.
Outro ponto importante da ritidoplastia é o tratamento do sistema musculoaponeurótico
superficial (SMAS)5,7, pois este tornou-se imprescindível durante a
realização do lifting facial, uma vez que determina a elevação e tração dos planos
teciduais, com efeitos duradouros a longo prazo8, podendo ser empregadas técnicas que vão desde mobilização, plicatura
e reposicionamento, até ressecções subaponeuróticas. Neste contexto, o
facelift light é realizado com a plicatura padronizada do SMAS,
sem descolamento deste e sem ressecções profundas, visando diminuir riscos de
lesões
das estruturas subaponeuróticas.
O uso dos pontos de adesão aplicados nas regiões pré e retroauricular reduziu a zero
a incidência de grandes hematomas com necessidade de drenagem cirúrgica em caráter
de urgência9,10, fazendo com que o uso de drenos se tornasse desnecessário
com o uso dessa técnica.
Dessa forma, a cirurgia de rejuvenescimento dos terços médio e inferior da face vem
evoluindo para se realizar técnicas menos invasivas e menos agressivas, a fim
de
diminuir complicações e proporcionar retorno mais precoce às atividades habituais
dos pacientes8-12; sem, no entanto, comprometer a ocorrência de resultados naturais e
satisfatórios aos pacientes.
CONCLUSÃO
A técnica de facelift light foi considerada satisfatória pela
qualidade dos resultados obtidos nesta casuística, pelo baixo índice de complicações
e pelo retorno precoce dos pacientes às suas atividades.
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Set;51(3):236-42.
1. Clínica Isaac Furtado, Fortaleza, CE,
Brasil.
2. Hospital Geral de Fortaleza, Fortaleza, CE,
Brasil.
Autor correspondente: Isaac Rocha Furtado, Avenida Dom Luís,
1233, Sala 606, Fortaleza, CE, Brasil. CEP: 60160.230 E-mail:
dr.isaacfurtado@gmail.com
Artigo submetido: 10/06/2019.
Artigo aceito: 15/07/2020.
Conflitos de interesse: não há.