INTRODUÇÃO
Atualmente, com o aumento na realização das gastroplastias redutoras ou cirurgia bariátrica,
houve também um incremento no número de pacientes apresentando grandes perdas ponderais
que vão à procura da cirurgia plástica. Uma das características destes pacientes é
o excesso de tecido dermogorduroso, que representa um verdadeiro desafio para o cirurgião
plástico. Dentre as deformidades mais comuns, as que acometem os membros inferiores,
em especial a região trocantérica, representam um importante transtorno psicológico
ao paciente e trazem um alto grau de dificuldade técnica1,2,3.
Sendo assim, a correta indicação dos diferentes procedimentos, baseada em uma avaliação,
considerando tanto o aspecto orgânico como também o psicológico, é fundamental no
tratamento dessas deformidades3.
Em 1964, Pitanguy descreveu técnica com cicatrizes camufladas em sulcos naturais,
que quando compreendida e indicada corretamente, oferece resultados muito satisfatórios.
Com o advento da lipoaspiração, houve uma reformulação das possibilidades de tratamento
da lipodistrofia trocantérica, estabelecendo novos conceitos, porém não invalidando
os procedimentos já utilizados anteriormente4,5.
Portanto, o objetivo foi relatar caso de dermolipectomia trocantérica em paciente
pós-cirurgia bariátrica, onde a lipoaspiração por si só não resolveria a correção
da deformidade.
RELATO DE CASO
Paciente do sexo feminino, 55 anos, com histórico de gastroplastia redutora (cirurgia
bariátrica) em dezembro de 2013, IMC pré-cirurgia bariátrica era de 52,3kg/m2, apresentando grande perda ponderal (aproximadamente 52Kg em 5 anos). Relatou desconforto
importante com a lipodistrofia e extensa flacidez em região trocantérica bilateral
(Figura 1). Após avaliação pela equipe, optou-se por realizar dermolipectomia trocantérica
bilateral. Paciente foi submetida ao procedimento indicado em janeiro de 2019 no Serviço
de Cirurgia Plástica Osvaldo Saldanha, em Santos/SP.
Figura 1 - Pré-operatório.
Figura 1 - Pré-operatório.
Os critérios de indicação da cirurgia foram: grande perda ponderal pós cirurgia bariátrica
(aproximadamente 52Kg em 5 anos, IMC pré-cirurgia dermolipectomia trocantérica igual
a 31,8kg/m2), excesso de pele e tecido celular subcutâneo (TCSC) na região trocantérica bilateral
e desejo da paciente em realizar a correção da lipodistrofia da região citada.
Técnica cirúrgica
As áreas de excisão são demarcadas com o paciente em posição ortostática, previamente
à anestesia (Figura 2). Paciente sob anestesia geral, é posicionada em decúbito ventral na mesa cirúrgica.
Realizada assepsia, antissepsia e colocação de campos estéreis. Incisão em marcação
prévia. A incisão corresponde a aproximadamente aos sulcos formados pela deformidade
devido à lipodistrofia na região trocantérica, iniciando-se na junção desses dois
sulcos, seguindo em direção à crista ilíaca anterossuperior, mas não a atingindo.
Uma vez que a incisão cutânea é feita, ela é aprofundada até que o plano muscular
seja alcançado, fazendo um bisel na direção caudal. Os retalhos são ressecados até
o limite da área definida, sendo o seu peso total igual a 3kg e 200g. É utilizado
dreno de aspiração contínua em cada lado ressecado e fechamento por planos (Figura 3).
Figura 3 - Pós-operatório imediato.
Figura 3 - Pós-operatório imediato.
Paciente apresentou boa evolução no pós-operatório, sem apresentar complicações como
seroma, hematoma ou deiscência de sutura no pós-operatório (Figuras 4 e 5).
Figura 4 - Pré-operatório, 20 dias de pós-operatório, 1 mês e 20 dias de pósoperatório: visão
anterior e posterior.
Figura 4 - Pré-operatório, 20 dias de pós-operatório, 1 mês e 20 dias de pósoperatório: visão
anterior e posterior.
Figura 5 - Pré-operatório, 20 dias de pós-operatório, 1 mês e 20 dias de pós-operatório: visão
lateral bilateral.
Figura 5 - Pré-operatório, 20 dias de pós-operatório, 1 mês e 20 dias de pós-operatório: visão
lateral bilateral.
DISCUSSÃO
A lipodistrofia trocantérica é atribuída a diversos fatores, hormonais e, principalmente,
hereditários. Existe também a teoria adipocitária, que refere que existe no organismo
um número fixo de adipócitos contendo dois tipos de receptores sensíveis aos mesmos
mediadores químicos do sistema adrenérgico. Demonstrou-se que os adipócitos com receptores
alfa 2, na mulher, localizam-se principalmente na região trocantérica, por esse motivo
não apresenta uma melhoria da deformidade dessa região, apesar de grande perda ponderal,
sendo uma das queixas mais comuns dos pacientes, o depósito de gordura nesta região.
Esses pacientes têm o corpo ginecóide característico: a pelve é maior que o tronco,
as mamas são pequenas e os braços finos. Quando esses pacientes fazem dieta, exercícios
e tentam de outras formas reduzir as medidas corporais, eles apenas conseguem perder
peso, mas essa desproporção permanece e pode até ser acentuada3,4,5.
Portanto, devido a essas deformidades, esses pacientes procuram pela cirurgia plástica,
para que possam minimizá-las. Em se tratando da lipodistrofia trocantérica, nos casos
de deformidades moderadas e leves, a cicatriz resultante de uma dermolipectomia é,
sem dúvida, um dos pontos mais controversos da técnica clássica, em que a relação
entre o benefício e a deformidade resultante seria desfavorável. Em relação a deformidades
menos acentuadas, existe atualmente a opção de tratamento pela lipoaspiração, que
permite a correção sem cicatrizes visíveis, limitando consequentemente as indicações
da dermolipectomia clássica, com cicatrizes relativamente aparentes. Por outro lado,
a lipoaspiração utilizada em paciente com grandes deformidades, poderá agravá-las
ainda mais, resultando em sequelas cuja correção necessita ser realizada a técnica
de dermolipectomia trocantérica3,4,6.
A análise dos diferentes procedimentos realizados na década de 90 mostrou que a lipoaspiração
trouxe um benefício indiscutível nos casos de adiposidade localizada, limitando as
indicações da técnica de dermolipectomia, em especial na região trocantérica, sem,
contudo, invalidá-la para casos selecionados5,7,8.
Conclui-se, conforme o descrito neste relato de caso, devido à presença de grande
adiposidade e flacidez na região trocantérica da paciente, foi indicada a técnica
de dermolipectomia trocantérica, pois a lipoaspiração por si só não seria suficiente
para corrigir as queixas da paciente, podendo agravar ainda mais a deformidade da
região em questão.
REFERÊNCIAS
1. Regnault P, Baroudi R, Carvalho CGS. Correction of lower limb lipodystrophy. Aesthetic
Plast Surg. 1979 Dec;3:233-49.
2. Franco T. Aesthetic surgery of the upper and lower limbs. Aesthetic Plast Surg. 1980
Dec;4(1):245-56.
3. Mazzarone F, Pitanguy I, Gabriele J, Nunes D, Vargas A. Dermolipectomia crural com
prolongamento médio-anterior no paciente pós-obesidade. Rev Bras Cir Plást. 2005;20(3):142-7.
4. Pitanguy I, Correa WEM, Salgado F, Kauak L, Solinas R. Aspectos atuais da lipodistrofia
trocantérica e interfomoral. Rev Bras Cir. 1987;77(3):181-94.
5. Farina R, Baroudi R, Golcman B, Castro O. Riding-trousers-like type of pelvicrural
lipodystrophy (trochanteric lipomatosis). Br J Plast Surg. 1960;13:174-8.
6. Shaer WD. Gluteal and thigh reduction: reclassification, critical review, and improved
technique for primary correction. Aesthetic Plast Surg. 1984;8(3):165-72.
7. Pitanguy, I. Trochanteric lipodystrophy. Plast Reconstr Surg. 1964 Sep;34:280-6.
8. Pitanguy, I. Upper extremity: dermolipectomy. In: Pitanguy I, ed. Aesthetic surgery
of head and body. Berlin: Springer-Verlag; 1984. p. 153-8.
1. Hospital São Lucas, Serviço de Cirurgia Plástica Osvaldo Saldanha, Santos, SP,
Brasil.
Autor correspondente: Mariana Fernandes Avenida Osvaldo Reis, 3281, 13º andar, Salas 1310/1311, Praia Brava, Itajaí, SC,
Brasil. CEP: 88007-001 E-mail: dramarianacp@gmail.com
Artigo submetido: 18/03/2019.
Artigo aceito: 08/07/2019.
Conflitos de interesse: não há.