INTRODUÇÃO
Desde o século XIX, o padrão corporal feminino é traduzido por mulheres magras, que
buscam incessantemente por um corpo belo e saudável, aceitando se submeter a modificações
para o mais próximo daquilo que se compreende como padrão de beleza atual1. Assim, o campo das cirurgias plásticas no Brasil cresce a cada ano. A International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS)2 demonstra que o Brasil se encontra no segundo lugar no ranking mundial de procedimentos
cirúrgicos estéticos. A abdominoplastia é um procedimento que vem apresentando grande
evolução no último século devido ao desenvolvimento de novas técnicas, além de uma
melhor compreensão da anatomia, fisiologia e estética da parede abdominal. Em 2018,
a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica3 demonstrou que a abdominoplastia é a terceira cirurgia estética mais realizada no
Brasil, representando cerca de 15.9% dos procedimentos cirúrgicos.
O aumento progressivo pela procura por cirurgias plásticas fez com que houvesse a
preocupação com os momentos pré, intra e pós-operatório. Assim, surgiu um novo conceito
de atendimento ao paciente da cirurgia plástica, o qual propõe que a obtenção de um
resultado final mais satisfatório de uma cirurgia plástica não depende exclusivamente
do planejamento cirúrgico e da experiência do médico cirurgião plástico, mas também
está diretamente relacionado com os cuidados pré, intra e pós-operatórios que são
oferecidos por diversos profissionais que atuam neste contexto4-8. No pré-operatório, os profissionais poderão avaliar possíveis alterações físicas,
motoras e sensitivas já existentes nas pacientes antes da realização da cirurgia oferecendo
ao paciente orientações adequadas para prevenir complicações pós-operatórias, principalmente
aqueles com fatores de risco9-11. O intraoperatório envolve a execução do planejamento cirúrgico visando o início
do programa de tratamento da queixa principal da paciente4. E, no pós-operatório, é essencial submeter o paciente aos cuidados necessários buscando
a melhora na recuperação após a cirurgia, bem como prevenir, controlar ou minimizar
possíveis complicações do pós-operatório, visando promover bem-estar e qualidade de
vida aos pacientes12-20.
A importância dessa pesquisa é discutir o manejo dos momentos que transcorrem à abdominoplastia,
relacionar os diversos profissionais que atuam neste contexto, entender como os pacientes
conhecem esses profissionais, determinar as orientações dadas aos pacientes, verificar
as técnicas que estão sendo utilizadas no tratamento da abdominoplastia e saber a
satisfação do paciente em relação à abdominoplastia. Além disso, discutir a atuação
dos profissionais conforme as competências legais de acordo com a categoria profissional
nos momentos pré, intra e pós-operatório, apresentando recursos e técnicas utilizadas.
Esse estudo irá promover aos profissionais uma reflexão sobre a atuação dos diversos
profissionais no acompanhamento e desfecho para obtenção do resultado estético e funcional
satisfatório.
OBJETIVO
O objetivo desse estudo foi analisar a percepção das pacientes sobre a atuação profissional
e os procedimentos realizados no pré, no intra e no pós-operatório de abdominoplastia.
MÉTODOS
Tipo de estudo
Este é um estudo transversal e observacional.
Considerações éticas
O estudo teve início após a aprovação do Comitê em Pesquisa da Universidade Paulista
(UNIP), em São Paulo/SP (número de protocolo: 13022019.8.0000.5512). Para realização
da pesquisa, todas as voluntárias assinaram e concordaram com os itens especificados
no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Amostra
A amostra foi constituída por indivíduos do gênero feminino, com idade entre 18 e
60 anos, submetidos à abdominoplastia de forma isolada ou associada a outro procedimento
cirúrgico nos últimos 12 meses.
Questionário digital
Um questionário digital autoaplicável foi elaborado pelos pesquisadores deste estudo
por meio do “Formulários Google”. O questionário foi dividido em 6 etapas, as quais
eram:
- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido: foi explicado o objetivo da pesquisa e a não divulgação dos dados pessoais da paciente,
ao responder “não aceita” no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido o questionário
automaticamente se encerrava, e ao responder “aceita”, a paciente prosseguia para
a segunda etapa do questionário;
- Gênero: as alternativas eram “feminino”, “masculino” e “prefiro não dizer”. A paciente só
prosseguia para a terceira etapa se assinalasse “feminino” como resposta, caso contrário,
o questionário era encerrado;
- Dados pessoais: foram coletadas informações, como nome, idade, raça, e-mail, número de celular,
estado civil, região do Brasil que reside, massa e estatura corporal, grau de escolaridade,
se já engravidou e quantas gestações teve, queixa principal para realização da abdominoplastia,
idade que realizou esse procedimento e se houve outro procedimento associado;
- Pré-operatório: se realizou procedimentos pré-operatórios, categoria profissional do responsável
pelo procedimento, se fez drenagem linfática manual (e quantas sessões), se realizou
fisioterapia respiratória e exercícios com o fisioterapeuta antes da cirurgia, se
recebeu orientações para o pós-operatório e qual profissional fez tais orientações;
- Intraoperatório: se tinha fisioterapeuta dentro do centro cirúrgico durante a cirurgia e se os procedimentos
realizados pelo fisioterapeuta neste período foram importantes para o pós-operatório;
- Pós-operatório: Tempo de pós-operatório atualmente, se realizou procedimentos pós-operatórios e
a categoria profissional do responsável pelo procedimento, quem recomendou o profissional,
quanto tempo depois da cirurgia iniciou o tratamento, quantas vezes na semana realizou
esse tratamento. Cada paciente respondeu sobre a dor e o edema que sentiu no pós-operatório
e quantificou essas queixas conforme a Escala Visual Numérica (EVN), que varia de
zero a dez (0-10), sendo zero sem queixa e dez maior nível da queixa. Além disso,
se teve alteração de sensibilidade, se houve complicações, se utilizou a malha compressiva
no pós-operatório imediato e por quanto tempo, se sentiu dificuldade para troca de
curativos e se realizou essa troca sozinha ou com algum auxílio, quais os equipamentos
e/ou técnicas manuais foram utilizadas pelo profissional que fez o tratamento pós-operatório,
se ela ficou satisfeita com o tratamento pós-operatório pontuando seu nível de satisfação
com o tratamento utilizando a EVN.
O endereço eletrônico do questionário digital foi disponibilizado na plataforma de
internet e encaminhado para as pacientes por meio de redes sociais e aplicativo de
troca de mensagens WhatsApp® no período de junho a dezembro de 2019.
Análise dos dados
Os dados foram tabulados em planilha de Excel®e feitas as análises descritivas com médias e porcentagens das respostas obtidas,
as quais demonstraram os valores mais relevantes conforme o item questionado.
RESULTADOS
Um total de 376 pacientes demonstrou interesse em participar da pesquisa. Destes,
354 pacientes responderam o questionário de forma completa, e 22 pacientes foram excluídos
pelos seguintes motivos: ser do gênero masculino (n=9) ou preferiu não dizer o gênero
(n=4), e não aceitou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (n=9). Portanto,
a amostra final foi composta por 354 pacientes que responderam o questionário digital.
Características demográficas
As características demográficas das pacientes estão descritas na Tabela 1, cujas variáveis analisadas estão expressas em valores absolutos e percentuais (%).
Tabela 1 - Características demográficas das pacientes submetidas à abdominoplastia.
Características demográficas |
Amostra (n=354) |
Idade |
|
18 a 25 anos |
24 (6.8%) |
26 a 35 anos |
143 (40.5%) |
36 a 45 anos |
144 (40.7%) |
46 a 55 anos |
35 (9.9%) |
56 a 60 anos |
5 (1.4%) |
61 a 71 anos |
3 (0.8%) |
Mais de 71 anos |
0 (0%) |
Massa corporal (Kg) |
|
Menos de 50 quilos |
2 (0.6%) |
Entre 50 e 60 quilos |
69 (19.5%) |
Entre 60 e 70 quilos |
148 (41.8%) |
Entre 70 e 80 quilos |
104 (29.5%) |
Mais de 80 quilos |
31 (8.8%) |
Estatura (cm) |
|
Até 150 cm |
15 (4.2%) |
Entre 151 e 160 cm |
136 (38.5%) |
Entre 161 e 170 cm |
172 (48.6%) |
Entre 171 e 180 cm |
30 (8.5%) |
Mais de 180 cm |
1 (0.3%) |
Etnia |
|
Branca |
221 (62.4%) |
Negra |
34 (9.6%) |
Parda |
93 (26.3%) |
Amarela |
5 (1.4%) |
Indígena |
1 (0.3%) |
Estado civil |
|
Solteira |
78 (22.1%) |
Casada |
246 (69.5%) |
Divorciada |
18 (5.1%) |
Separada |
10 (2.8%) |
Viúva |
2 (0.6%) |
Estado onde mora |
|
Acre |
1 (0.3%) |
Amazonas |
1 (0.3%) |
Bahia |
3 (0.8%) |
Distrito Federal |
3 (0.8%) |
Goiás |
9 (2.5%) |
Maranhão |
1 (0.3%) |
Mato Grosso |
2 (0.6%) |
Mato Grosso do Sul |
5 (1.4%) |
Minas Gerais |
29 (8.2%) |
Pará |
4 (1.1%) |
Paraná |
28 (7.9%) |
Pernambuco |
3 (0.8%) |
Rio de Janeiro |
44 (12.4%) |
Rio Grande do Sul |
13 (3.7%) |
Roraima |
1 (0.3%) |
Santa Catarina |
13 (3.7%) |
São Paulo |
194 (54.8%) |
Escolaridade |
|
Fundamental incompleto |
7 (2%) |
Fundamental completo |
8 (2.3%) |
Ensino médio incompleto |
13 (3.7%) |
Ensino médio completo |
78 (22%) |
Ensino superior incompleto |
79 (22.3%) |
Ensino superior completo |
89 (25.1%) |
Pós-graduação |
80 (22.6%) |
Tabela 1 - Características demográficas das pacientes submetidas à abdominoplastia.
Quanto às características obstétricas, observou-se que 89.5% (n=317) já engravidaram;
destas, 37.6% (n=133) tiveram duas gestações, 27.4% (n=97) uma, 18.4% (n=65) três
e 6.2% (n=22) mais de três. Quanto à motivação para realização da abdominoplastia,
63.5% (n=224) relataram flacidez de pele, 53.7% (n=190) por diástase abdominal, 45.5%
(n=161) por adiposidade localizada, 20.6% (n=73) por hérnias, 15.3% (n=54) após cirurgia
bariátrica, 11.3% (n=28) por distensão abdominal, 10.7% (n=47) por motivos diversos
e 7.9% (n=28) por múltiplas gestações. Apenas 24% das pacientes realizaram somente
a abdominoplastia, as demais associaram com lipoaspiração (53.3%, n=188), mastopexia
(20.4%, n=72), mamoplastia de aumento (15.6%, n=55), cirurgia nos glúteos (8.8%, n=31),
mamoplastia redutora (7.6%, n=27), e outras associações (5,3%, n=18).
Pré-operatório
A grande maioria das pacientes (61%, n=216) relatou que não realizou procedimentos
pré-operatórios. Entretanto, das que foram submetidas a procedimentos pré-operatórios
(39%, n=138), 32.2% (n=114) relataram ter feito com médico, 6.2% (n=22) com esteticista
e 5.4% (n=19) com fisioterapeuta, sendo que 18.9% (n=67) das pacientes foram submetidas
à realização da técnica de drenagem linfática manual por mais de 3 sessões (15.6%,
n=54). Quanto à realização da fisioterapia, 92.7% (n=328) e 93.8% (n=332) relataram
não ter feito fisioterapia respiratória e exercícios com o fisioterapeuta, respectivamente.
Praticamente todas as pacientes (97.7%, n=346) relataram que receberam orientações
pós-operatórias, dadas pelo médico (90.1%, n=317), pelo enfermeiro (21.6%, n=76),
pelo fisioterapeuta (19.3%, n=68) e pelo esteticista (8.5%, n=30).
Intraoperatório
Em relação ao intraoperatório, 59.9% (n=212) relataram não saber se havia fisioterapeuta
no centro cirúrgico, 32.8% (n=116) responderam “não” e 7.3% (n=26) responderam “sim”.
Quanto à importância do fisioterapeuta no centro cirúrgico, 18.3% (n=35) responderam
que os procedimentos realizados pelo fisioterapeuta foram importantes para a recuperação
pós-operatória.
Pós-operatório
As variáveis relacionadas ao pós-operatório estão descritas na Tabela 2, as quais estão expressas em valores absolutos e percentuais (%). O tempo de pós-operatório
no momento de responder o questionário foi entre 6 meses a 1 ano de pós-operatório
para 33.9% (n=120), entre 2 a 3 meses para 17.6% (n=62) e entre 1 e 2 meses para 15.3%
(n=54). A maior parte das pacientes relatou ter sido submetida a procedimentos pós-operatórios
(70.6%, n=250). Em relação ao profissional que realizou tais procedimentos, observou-se
que 37.4% (n=132) relataram ter feito com fisioterapeuta e 37.1% (n=131) com esteticista.
Quanto à recomendação deste profissional 31.8% (n=112) relataram ser indicação de
um conhecido, 30.7% (n=108) do médico e 22.2% (n=78) encontrou por conta própria.
Quanto ao tempo de início do tratamento pós-operatório, observou-se que 36.4% (n=119)
iniciaram entre 1 a 3 dias e 27.8% (n=91) entre 4 a 7 dias, sendo que 35.7% (n=115)
realizaram o tratamento 3 vezes na semana, 32.6% (n=105) 2 vezes na semana e 19.6%
(n=63) 4 ou mais vezes na semana (Tabela 2).
Tabela 2 - Desfechos das respostas relacionadas ao pós-operatório de abdominoplastia.
Desfechos |
Pós-operatório (n=354) |
Tempo de pós-operatório no momento do questionário |
Até 5 dias |
9 (2.5%) |
Entre 6 e 10 dias |
22 (6.2%) |
Entre 11 e 15 dias |
13 (3.7%) |
Entre 16 a 30 dias |
43 (12.1%) |
Entre 1 e 2 meses |
54 (15.3%) |
2 a 3 meses |
62 (17.5%) |
4 a 5 meses |
31 (8.8%) |
6 meses a 1 ano |
120 (33.9%) |
Realizou procedimentos pós-operatórios |
Sim |
250 (70.6%) |
Não |
104 (29.5%) |
Categoria do profissional que fez o tratamento pós-operatório |
Não realizei tratamentos pós-operatórios |
38 (10.7%) |
Médico |
39 (11%) |
Fisioterapeuta |
132 (37.4%) |
Esteticista |
131 (37.1%) |
Biomédico |
4 (1.1%) |
Enfermeiro |
6 (1.7%) |
Não sei a categoria profissional |
2 (0.6%) |
Nutricionista |
1 (0.3%) |
Recomendação do profissional que fez o tratamento pós-operatório |
Não realizei tratamentos pós-operatórios |
36 (10.3%) |
Ninguém. Encontrei por conta própria |
78 (22.2%) |
O médico que me operou que indicou |
108 (30.7%) |
Indicação de um conhecido |
112 (31.8%) |
Encontrei pela internet ou outros canais |
18 (5.1%) |
Tempo de pós-operatório que iniciou o tratamento |
1 a 3 dias |
119 (36.4%) |
4 a 7 dias |
91 (27.8%) |
8 a 9 dias |
36 (11%) |
10 a 15 dias |
44 (13.5%) |
15 dias ou mais |
37 (11.3%) |
Frequência do tratamento pós-operatório |
1 vez na semana |
39 (12.1%) |
2 vezes na semana |
105 (32.6%) |
3 vezes na semana |
115 (35.7%) |
4 ou mais vezes na semana |
63 (19.6%) |
Tabela 2 - Desfechos das respostas relacionadas ao pós-operatório de abdominoplastia.
Em relação a dor no pós-operatório, 56.2% (n=199) relataram ter sentido dor no pós-operatório,
destas 11.6% (n=41) pontuaram 3, 11.3% (n=40) 5, 10.2% (n=36) 8, 9% (n=32) 10, 8.2%
(n=29) 1, 8.2% (n=29) 2, 8.2% (n=29) 4, 5.4% (n=19) 7, 5.1% (n=18) 6 e 4% (n=14) 9
(Figura 1).
Figura 1 - Escala Visual Numérica (EVN) de dor no pós-operatório.
Figura 1 - Escala Visual Numérica (EVN) de dor no pós-operatório.
A maior parte das pacientes (96%, n=340) relatou ter sentido edema no pós-operatório;
destas, 22.9% (n=81) pontuaram 10, 20.6% (n=57) 8, 12.4% (n=44) 5, 10.5% (n=37) 9,
10.2% (n=36) 7, 6.8% (n=24) 6, 6.8% (n=24) 4, 4.4% (n=15) 2, 3.4% (n=12) 3 e 0.3%
(n=1) 1 (Figura 2).
Figura 2 - Escala Visual Numérica de edema no pós-operatório.
Figura 2 - Escala Visual Numérica de edema no pós-operatório.
Em relação à alteração de sensibilidade, 37% (n=131) das pacientes relataram sensibilidade
diminuída, 30.8% (n=109) sensibilidade ausente, 17.5% (n=62) sensibilidade normal
e 14.7% (n=52) sensibilidade aumentada.
Quanto às complicações pós-operatórias, 84.2% (n=298) relataram edema como complicação,
21.8% (n=77) hematoma, 19.8% (n=70) seroma, 15.8% (n=56) deiscência cicatricial e
11.9% (n=42) fibrose (Figura 3).
Figura 3 - Quantidade de pacientes que relatou complicações pós-operatórias.
Figura 3 - Quantidade de pacientes que relatou complicações pós-operatórias.
A grande parte das pacientes (95.5%, n=338) relatou o uso da malha compressiva no
pós-operatório imediato, sendo o uso recomendado por 3 meses para 33.1% (n=117), por
2 meses para 26.3% (n=93), por 4 meses ou mais para 14.4% (n=51) e apenas 12.7% das
pacientes (n=45) fez uso por 1 mês.
Em relação à troca dos curativos, 83.9% (n=297) relataram não ter sentido dificuldade.
Mais da metade das pacientes (52.5%, n=186) trocava com auxílio de parentes, 31.1%
(n=110) trocavam sozinhas e 16.4% (n=58) trocavam com auxílio profissional.
Quanto ao tratamento pós-operatório, em relação ao uso de equipamentos, apenas 16.5%
(n=54) relataram não terem sido submetidas a nenhum equipamento. Dentre os equipamentos
utilizados, observou-se que 51.7% (n=183) relataram uso do ultrassom terapêutico e
12.4% (n=44) o uso de radiofrequência. A maior parte das pacientes (83.1%, n=294)
relatou o uso de técnicas manuais, sendo a drenagem linfática manual utilizada em
87% (n=308) das pacientes e 14.7% (n=52) foram submetidas à massagem modeladora, as
demais técnicas manuais não obtiveram pontuação expressiva. Quanto à satisfação com
o tratamento pós-operatório, observou-se que 53,4% (n=166) relataram estar satisfeita
e 33,8% (n=105) relatou ainda estar em tratamento. Observou-se que 35,7% (n=111) pontuou
10, 16,1% (n=50) 8, 14,5% (n=45) 9, 10,6% (n=33) 7, 9,6% (n=30) 5, 1,6% (n=5) 3 e
1% (n=3) 2.
DISCUSSÃO
O Censo 2018 da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica3 aponta a região Sudeste com o maior número de cirurgias plásticas realizadas no Brasil
(51.1%), justificando a maior quantidade de respostas obtidas dos estados de São Paulo,
Rio de Janeiro e Minas Gerais (75.4%). A faixa etária dos pacientes que se submetem
às cirurgias plásticas foi 71% com 19 a 50 anos e, no presente estudo, 88% entre 18
e 45 anos. A principal motivação para realização de uma cirurgia plástica é estética
(60.3%), o que corrobora com as respostas das pacientes sobre a motivação para realização
da abdominoplastia, sendo flacidez de pele, diástase abdominal e adiposidade localizada.
A abdominoplastia é o procedimento mais realizado devido à procura para as correções
das deformidades da parede abdominal, por grande perda ponderal pós-tratamento da
obesidade, distensão abdominal, flacidez de pele, adiposidade localizada, hérnia,
ressecção de tumor, múltiplas gestações, cirurgias prévias e a diástase abdominal.
A queixa de adiposidade localizada para a realização da abdominoplastia pode justificar
o fato da lipoaspiração ser o procedimento frequentemente associado7.
A maioria das pacientes não realizou procedimentos pré-operatórios e as que fizeram
relataram ter feito com o médico. Sugere-se importante a realização de fisioterapia
respiratória no pré-operatório, pois a lipoabdominoplastia tem repercussões negativas
na mobilidade do tórax e na função pulmonar no pós-operatório recente9. A realização de um programa de exercícios respiratórios pode reduzir a pressão intra-abdominal
no intraoperatório10,12. A atuação fisioterapêutica no intraoperatório ainda é recente, visto que 92.7% das
pacientes não sabiam ou afirmaram não ter fisioterapeuta durante a cirurgia. A fisioterapia
feita a partir do pré-operatório reduz edema, formação de equimose e de fibrose no
pós-operatório, além de diminuir o número de sessões fisioterapêuticas e acelerar
a recuperação do paciente no pós-operatório das cirurgias abdominais, utilizando drenagem
linfática manual, recursos da eletrotermofototerapia e/ou aplicação de taping na área operada4.
Praticamente todas as pacientes relataram que receberam orientações pós-operatórias
dadas pelo médico, o que diminui o risco de complicações. A complicação pós-operatória
mais relatada foi o edema (84.2%) o que difere com achados da literatura12,16,21, supostamente por ser um evento esperado, em função da lesão tecidual causada, os
levantamentos não o incluem como uma complicação4,5,7,8,14. A complicação mais observada é o seroma, cerca de 15%12,13,21, estatisticamente mais frequente nas cirurgias combinadas com outros procedimentos12,16,21. A soma das respostas das pacientes no presente estudo obteve um índice de 19.8%,
estando próximo dos valores mencionados. A infecção ocorre em cerca de 1 a 3.8%12,2121 dos pacientes, já o questionário apontou 6.2%. Com incidência próxima a 2%, o hematoma
é a terceira complicação mais frequente em abdominoplastias12,21, porém a prevalência aqui demonstrada foi de 21.8%, possivelmente, tal discrepância
possa ser justificada em função das pacientes não saberem relatar a diferença entre
o hematoma e a equimose.
A maior parte das pacientes relatou ter sido submetida a procedimentos pós-operatórios
(70.6%), com fisioterapeuta (37.4%) e com esteticista (37.1%). A Sociedade Brasileira
de Cirurgia Plástica3 recomenda que o pós-operatório de cirurgias plásticas estéticas e reparadoras seja
realizado por fisioterapeutas. O profissional que atuou no pós-operatório foi por
indicação de um conhecido (31.8%), do médico (30.7%) ou encontrou por conta própria
(22.2%). É importante que o cirurgião recomende o profissional que irá atuar com o
paciente no pós-operatório. Tacani et al., em 200522, verificaram que 84.8% dos médicos indicavam seus pacientes para realizar o pós-operatório
com o fisioterapeuta e Flores et al., em 20115, verificaram que 63% disseram realizar encaminhamento especificamente para um fisioterapeuta
dermatofuncional. A fisioterapia possui uma especialidade reconhecida pelo Conselho23, a “Fisioterapia Dermatofuncional” (Resolução COFFITO nº 362/2009)24 que atua na prevenção, promoção e recuperação do sistema tegumentar, esta contempla
como área a atuação profissional no pré e pós-operatório de cirurgias plásticas e
estéticas.
Não há consenso quanto ao início ideal para os procedimentos pós-operatórios. As pacientes
iniciaram o tratamento pós-operatório entre 1 e 7 dias, considerando um início precoce.
Julga-se positivo, uma vez que, quanto mais tardiamente se inicia o tratamento para
fibrose tecidual, pior é o seu prognóstico, já tendo desorganização do colágeno, dificultando
ainda mais sua reorganização4,7,25. O tratamento foi feito com uma frequência de 3 vezes na semana (35.7%), corroborando
com a literatura4,14. Quanto aos procedimentos utilizados pelo profissional, destaca-se a indicação da
drenagem linfática manual foi utilizada (87%) e do ultrassom terapêutico (51.7%).
Acredita-se que ambos sejam recomendados para recuperação do tecido, para prevenção
e diminuição de edema, da fibrose e das aderências, prevenção da retração cicatricial
e eliminação da dor no pós-operatório4,5,14. A drenagem linfática manual é a técnica mais indicada pelos cirurgiões plásticos8,22.
É importante ressaltar que as perguntas do questionário foram elaboradas após um levantamento
bibliográfico, considerando as situações mais comuns relacionadas à abdominoplastia.
A amostra foi composta por pacientes de todas as regiões do Brasil, porém não houve
uma avaliação destas por um profissional de forma presencial, vale considerar que
o paciente pode não saber exatamente alguns dados, tais como a categoria do profissional
que a atendeu no pós-operatório. Apesar disso, é um estudo pioneiro na caracterização
do manejo do paciente submetido à abdominoplastia. Sugere-se que novos estudos sejam
desenvolvidos para avaliar a percepção das pacientes quanto ao que os profissionais
têm feito para o tratamento pré, intra e pós-operatório da abdominoplastia. Com base
nestes achados, sugere-se uma reflexão dos profissionais envolvidos no manejo do cuidado
deste paciente, assim como recomenda-se a realização de ensaios clínicos controlados
e randomizados para verificar a eficácia de cada um dos itens aqui discutidos.
CONCLUSÃO
A principal indicação para a abdominoplastia foi por flacidez de pele, sendo mais
frequentemente associada à lipoaspiração. A maior parte das pacientes não realizou
procedimentos pré-operatórios e realizou pós-operatório iniciado após 1 a 3 dias,
com fisioterapeuta, por indicação de um conhecido, com frequência de três vezes na
semana, pela queixa de edema, sendo que os procedimentos mais realizados foram a drenagem
linfática manual e o ultrassom terapêutico.
REFERÊNCIAS
1. Dourado CS, Fustinoni SM, Schirmer J, Brandão-Souza C. Body, culture and meaning.
J Hum Growth Dev. 2018;28(2):206-12.
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1. Universidade Paulista, São Paulo, SP, Brasil.
2. Universidade Cidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
Autor correspondente: Aline Fernanda Perez Machado, Rua Antônio de Macedo, nº505, São Paulo, SP, Brasil. CEP: 03087-040. E-mail: machado.lifpm@gmail.com
Artigo submetido: 11/12/2019.
Artigo aceito: 29/02/2020.
Conflitos de interesse: não há.