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Case Report - Year 2020 - Volume 35 - Issue 1
Linfoma anaplásico de células grandes associado a implante mamários: um desafio diagnóstico
Breast implant-associated anaplastic large cell lymphoma: a diagnostic challenge
RESUMO
O linfoma anaplásico de grandes células associado a implantes mamários (BI-ALCL) é uma entidade provisória com características morfológicas e imunofenotípicas indistinguíveis do linfoma anaplásico de grandes células ALK-negativo (ALCL), porém surge principalmente em associação com um implante mamário. A confirmação do diagnóstico pode ser difícil, e a associação da presença das células típicas na morfologia e anatomia patológica com exames de citometria de fluxo e imunohistoquímica pode auxiliar no diagnóstico. O objetivo deste estudo é descrever um caso de BI-ALCL em que a citologia e a análise da imunofenotipagem por citometria de fluxo sugeriram a presença de células grandes positivas para CD30 no fluido de efusão.
Palavras-chave: Linfoma anaplásico de células grandes, citometria de fluxo, implante mamário, citologia, ligante CD30
ABSTRACT
Breast implant-associated anaplastic large cell lymphoma (BIA-ALCL) is a provisional entity with morphological and immunophenotypic characteristics indistinguishable from ALK-negative anaplastic large cell lymphoma (ALCL). Unlike ALCL, BIA-ALCL arises mainly in association with breast implantation. Diagnostic confirmation of BIA-ALCL can be difficult and associating morphological and pathological hallmarks with flow cytometry and immunohistochemistry can assist in the diagnosis. The objective of this report is to describe a case of BIA-ALCL in which cytological and immunophenotypological analysis using flow cytometry suggested the presence of large CD30-positive cells in the effusion fluid.
Keywords: Anaplastic large cell lymphoma, Flow cytometry, Breast implant, Cytology, CD30 ligand.
INTRODUÇÃO
A Classificação de Tumores de Tecidos Hematopoiéticos e Linfóides lançado em 2016 pela Organização Mundial da Saúde (OMS)1 reconhece o linfoma anaplásico de células grandes associado a implante mamário (BIA-ALCL) como uma entidade provisória, com características morfológicas e imunofenotípicas indistinguíveis do linfoma anaplásico de células grandes (ALCL) ALK negativo. Diferentemente do ALCL, o BIA-ALCL surge principalmente em associação a implante mamário2.
BIA-ALCL é uma doença muito rara (1 caso por 1-3 milhões de mulheres com implantes), que pode estar localizada na cavidade do seroma ou pode envolver o tecido fibroso pericapsular. A maioria dos pacientes apresenta derrame peri-implantar e com menos frequência apresentam massa. O diagnóstico é realizado aspirando o derrame ao redor do implante e confirmando a positividade para CD30 das células na amostra. No entanto, confirmar o diagnóstico pode ser difícil. A associação da presença de células características com os resultados da citometria de fluxo e imuno-histoquímica pode auxiliar na obtenção de um diagnóstico preciso3-4.
A maioria dos pacientes tem um excelente prognóstico com a remoção completa da cápsula e o implante cirúrgico de uma prótese com margens negativas6.
OBJETIVO
Descrever um caso de BIA-ALCL no qual a análise citológica e citométrica de fluxo sugeriu a presença de células grandes CD30 positivas no líquido de derrame.
RELATO DE CASO
Uma mulher de 52 anos com histórico de câncer de mama apresentou inchaço na mama esquerda e dor local. Sete anos antes, ela havia sido submetida a uma mastectomia radical modificada da mama esquerda e, posteriormente, foi submetida a reconstrução imediata de mama com expansor de tecido. Ela então desenvolveu uma infecção cirúrgica e logo em seguida teve o expansor removido. Seis meses após o término da radioterapia, ela havia sido submetida a outra reconstrução mamária com retalho de grande dorsal e implante texturizado em forma anatômica. Após a apresentação, o exame de imagem revelou derrame peri-implantar. Aproximadamente 100 mL de líquido turvo e amarelo foram coletados e imediatamente enviados ao laboratório de citometria de fluxo. O exame citológico revelou numerosas células anaplásicas grandes com núcleos pleomórficos, nucléolos proeminentes e citoplasma basofílico moderado com vacúolos frequentes (Figura 1). A imunofenotipagem por citometria de fluxo multiparamétrica (MFC) revelou grandes células tumorais (aumento da dispersão FSC/SSC) com expressão brilhante de CD30, CD45, CD25 e HLA-DR, bem como a ausência de expressão de CD3 nas células da linhagem T e falta de antígenos das células B CD19 e CD20 (Figura 2). A paciente foi submetida a remoção bilateral do implante mamário e capsulectomia total. O exame patológico do seroma confirmou a presença de células linfoma grandes agrupadas que eram imuno-histoquimicamente positivas para CD30 e negativas para CD20 e CD3 (Figura 3). No entanto, cortes histológicos da cápsula da mama mostraram apenas fibrina misturada com histiócitos linfáticos reativos infiltrantes.
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MFC foi realizado usando um sistema de citometria Becton Dickinson FACS Canto II de 8 cores com o software FACS Diva 8 para aquisição de dados e Infinicyt™ para análise por citometria de fluxo. A população de células neoplásicas exibiu uma co-expressão brilhante de CD30, CD25 e HLA-DR, o que foi confirmado por imuno-histoquímica do líquido do seroma. Embora esse padrão de expressão brilhante possa não ser específico para ALCL, ele é facilmente identificável e, portanto, pode aumentar a sensibilidade da detecção de BI-ALCL.
É importante enfatizar que a amostra da citometria de fluxo foi enviada imediatamente ao laboratório, in natura e à temperatura ambiente, e foi processada imediatamente para evitar a destruição celular e a perda da força do antígeno.
CONCLUSÃO
O BI-ALCL CD30 positivo é um tipo raro de linfoma de células T que continua sendo um desafio diagnóstico. A natureza desafiadora do diagnóstico de BI-ALCL ressalta a importância de correlacionar análises imunofenotípicas precisas com avaliação morfológica e patologia clínica. A citometria de fluxo multiparamétricas pode auxiliar na avaliação diagnóstica de derrames ou de amostras de tecido em associação a implantes / próteses mamárias.
COLABORAÇÕES
APDA |
Análise e/ou interpretação dos dados, Aprovação final do manuscrito, Coleta de Dados, Conceitualização, Concepção e desenho do estudo, Gerenciamento de Recursos, Realização das operações e/ou experimentos, Redação - Preparação do original, Redação - Revisão e Edição |
AG |
Análise e/ou interpretação dos dados, Aprovação final do manuscrito, Coleta de Dados, Concepção e desenho do estudo, Redação - Revisão e Edição |
JJ |
Análise e/ou interpretação dos dados, Coleta de Dados, Redação - Revisão e Edição |
FG |
Análise e/ou interpretação dos dados, Aprovação final do manuscrito, Coleta de Dados |
SKN |
Análise e/ou interpretação dos dados, Aprovação final do manuscrito, Coleta de Dados, Gerenciamento de Recursos |
REFERÊNCIAS
1. Swerdlow SH, Campo E, Harris NL, Jaffe ES, Pileri SA, Stein H, et al. World Health Organization (WHO) - Classification of tumors of haematopoietic and lymphoid tissues. Geneva: WHO; 2016. v. 2.
2. Taylor CR, Siddiqi IN, Brody GS. Anaplastic large cell lymphoma occurring in association with breast implants: review of pathologic and immunohistochemical features in 103 cases. Appl Immunohistochem Mol Morphol. 2013;21(1):13-20.
3. Wu D, Allen C, Fromm JR. Flow cytometry of ALK-negative anaplastic large cell lymphoma of breast implant-associated effusion and capsular tissue. Cytometry Part B Clin Cytom 2015;88(1):58-63.
4. Montgomery-Goecker C, Fuda F, Krueger JE, Chen W. Immunophenotypic characteristics of breast implant-associated anaplastic large-cell lymphoma by flow cytometry. Cytometry Part Clin Cytom. 2015;88(5):291-3.
5. Miranda RN, Aladily TN, Prince HM, Kanagal-Sharmanna R, Jong D, Fayad LE, et al. Breast implant-associated anaplastic large cell lymphoma: long term follow-up of 60 patients. J Clin Oncol. 2014;32(2):114-20.
6. Kaartinen I, Sunela K, Alanko J, Hukkinen K, Karjalainen-Lindsberg ML, Svarvar C. Breast implant-associated anaplastic large cell lymphoma - From diagnosis to treatment. Eur J Surg Oncol. 2017;43(8):1385-92.
1. Hospital Nossa Senhora das Graças, Curitiba, PR, Brasil.
2. Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
3. Hospital Erasto Gaertner, Curitiba, PR, Brasil.
Autor correspondente: Anne Karoline Groth Rua Padre Anchieta, 2050, Sala 1512, Curitiba, PR, Brasil. CEP: 80730-000. E-mail: altinofn@hotmail.com
Artigo submetido: 5/12/2018.
Artigo aceito: 16/4/2019.
Conflitos de interesse: não há.