INTRODUÇÃO
O mento desempenha um papel primordial no contorno do terço inferior da face, sua
falta ou excesso causam uma ruptura estética e uma quebra na harmonia facial. A morfologia
do mento é determinada pelo componente ósseo e pelos tecidos moles, que variam com
sexo e idade. A maior parte das alterações estéticas do mento se evidencia principalmente
no componente ósseo local1.
Geralmente, a maioria das queixas encontradas no consultório enfatizam o descontentamento
com a região cervical, sem, no entanto, identificar as desproporções do mento no contexto
local, cabendo ao médico a interpretação correta, sugerindo a melhor conduta para
cada paciente.
OBJETIVOS
Descrever uma nova técnica para o aumento do mento com a utilização de um retalho
cervical associado à ritidoplastia.
MÉTODOS
Trata-se de uma avaliação prospectiva em 11 pacientes do sexo feminino, com idade
entre 40 a 65 anos submetidos ao aumento mentoniano com retalho cervical, operados
no período de janeiro de 2017 a janeiro de 2018 pelo autor, em serviço privado (Ferreira
Segantini Cirurgia Plástica - Hospital dia).
A análise foi feita com o auxílio de documentação fotográfica dos pacientes operados.
Critérios de inclusão
Foram incluídos somente pacientes que almejavam um aumento mentoniano, sem utilização
de próteses, preenchimentos ou abordagem óssea, e que seriam submetidos à ritidoplastia.
Técnica cirúrgica
Todas as cirurgias foram realizadas sob anestesia local com sedação, com paciente
em decúbito dorsal. A confecção do retalho cervical precede a ritidoplastia e, em
alguns casos, pode ser realizada a lipoaspiração prévia da região cervical.
O retalho proposto nesta técnica está localizado na linha média cervical e é composto
por segmentos do músculo platisma e tecido gorduroso do submento. A base do retalho
mede aproximadamente 2,5cm e se inicia na região submentoniana superior, se estendendo
inferiormente por 4 a 6cm (Figuras 1 e 2).
Figura 1 - Posicionamento do retalho.
Figura 1 - Posicionamento do retalho.
Figura 2 - Confecção do retalho.
Figura 2 - Confecção do retalho.
Após o descolamento da pele cervical e confecção do retalho, se inicia a dissecção
póstero-superior ao retalho em região subperiosteal mediana da mandíbula, por 1,5
a 2,0cm acima da protuberância mentual2. Em seguida, faz-se uma avaliação do tamanho da loja e do volume oferecido pelo retalho,
sendo possível fazer ajustes caso sejam necessários (Figura 3).
Figura 3 - Avaliação da loja, projeção e volume do retalho
Figura 3 - Avaliação da loja, projeção e volume do retalho
Com o retalho e loja confeccionados, realiza-se a rotação do mesmo em sentido póstero-superior,
sendo então fixado com o uso de uma agulha passa fio transcutânea (ex: de Reverdin)
na linha média superior da loja (Figura 4). A sutura é feita com mononylon 4,0 usando somente um pequeno orifício para sepultar
o nó da sutura.
Figura 4 - Fixação do retalho com agulha de Reverdin trancutânea.
Figura 4 - Fixação do retalho com agulha de Reverdin trancutânea.
Com retalho fixado à loja, faz-se a sutura da base do retalho ao periósteo da transição
mento ao submento, e o fechamento das bandas platismais na linha média, cujo encontro
à base do retalho forma uma sutura em T (Figura 5), dando a seguir andamento ao tratamento dos terços médio e superior da face (Figura 6).
Figura 5 - Suturas das bandas platismais e da base do retalho.
Figura 5 - Suturas das bandas platismais e da base do retalho.
Figura 6 - Tratamento dos terços médios e superiores realizados.
Figura 6 - Tratamento dos terços médios e superiores realizados.
Os cuidados no pós-operatório foram semelhantes aos da ritidoplastia convencional
associado ao implante mentoniano.
RESULTADOS
Todos os casos foram submetidos à análise cefalométrica que, por sua vez, assume um
papel preponderante para avaliar a relação do mento com outras estruturas ósseas e
tecidos moles da face.
Para tal estudo levou-se em conta as linhas imaginárias criadas por Frankfurt (horizontal)
e Gonzales - Ulloa (vertical, tangente ao Nasiun) (Figura 7).
Figura 7 - Avaliação Cefalométrica, linha horizontal de Frankfort e vertical de Gonzales-Ulloa
Figura 7 - Avaliação Cefalométrica, linha horizontal de Frankfort e vertical de Gonzales-Ulloa
Todos os pacientes tiveram boa evolução e não desenvolveram nenhuma complicação no
pós-operatório imediato ou tardio.
Em todos os casos houve melhora da projeção mentoniana, variando de 32,5% a 60% em
relação à linha de Gozales - Ulloa e do contorno cervical (Figuras 8, 9 e 10).
Figura 8 - Paciente 57 anos,pré e pós-operatório de 21 dias, 6 meses e 1 ano.
Figura 8 - Paciente 57 anos,pré e pós-operatório de 21 dias, 6 meses e 1 ano.
Figura 9 - Paciente 40 anos, pré e pós-operatório de 03 meses e 6 meses.
Figura 9 - Paciente 40 anos, pré e pós-operatório de 03 meses e 6 meses.
Figura 10 - Paciente 58 anos, pré e pós-operatório de 21 dias e 6 meses.
Figura 10 - Paciente 58 anos, pré e pós-operatório de 21 dias e 6 meses.
DISCUSSÃO
São muitos os procedimentos utilizados para melhora estética do terço inferior da
face que produzem resultados eficazes e com aumento efetivo da projeção do mento.
O implante de silicone tem sido o mais utilizado, pois apresenta eficácia no resultado
e é de fácil manipulação, entretanto cerca de 50% dos pacientes apresentam erosão
óssea3 pela compressão local da prótese. As complicações mais frequentes são: escolha errada
do tamanho do implante, deslocamento da prótese, infecção, extrusão do implante, alterações
sensitivas do lábio inferior e comprometimento da função do músculo mentual, tendo
o acesso intraoral4 como o responsável pela maioria das complicações.
A osteotomia basilar5 em casos bem selecionados, onde não há problemas de oclusão, apresentam ótimos resultados.
Apesar da baixa incidência de complicações6, geralmente não são bem aceitos pelos pacientes devido ao receio à manipulação óssea.
O uso dos preenchimentos como ácido hialurônico, apesar de fácil aplicação, apresenta
resultados temporários e, em alguns casos, pode causar eritemas intensos e às vezes
prolongados, acne polimorfo papulopustulosa, edema intenso, nódulos dérmicos7 e necrose8. Já os preenchimentos realizados com lipoenxertia7, apesar da baixa incidência de complicações e fácil tratamento das mesmas, podem
apresentar reabsorções parciais ou totais e assimetrias, sendo necessário em alguns
casos várias sessões para obtenção de um bom resultado.
Dentre as formas de melhora do contorno mentoniano com tecidos autólogos temos a proposta
por Viterbo e Brock, em 20139, a “Mentoplastia por Deslizamento”, com acesso intraoral, fácil execução, podendo
ser realizada isoladamente sem uma maior abordagem da face, mas nos casos onde há
necessidade de aumento volumétrico pode ser insuficiente.
O aumento do queixo com a utilização do retalho cervical comparado aos demais procedimentos,
têm se mostrado efetivo com ganhos reais na projeção anterior, durabilidade e excelente
aceitação por parte dos pacientes. Além disso, até o momento não foram evidenciadas
complicações.
CONCLUSÕES
Apesar da confecção do retalho exigir um pouco mais de experiência e tempo cirúrgico,
seus resultados e sua aceitação são animadores. Com a eliminação do uso de materiais
sintéticos, redução de custos, segurança e durabilidade, estamos alcançando um contorno
mandibular mais refinado e uma projeção mentoniana mais natural.
COLABORAÇÃO
MMFC
|
Análise e/ou interpretação dos dados, Análise estatística, Coleta de Dados, Gerenciamento
do Projeto, Metodologia, Realização das operações e/ou experimentos, Redação - Revisão
e Edição
|
REFERÊNCIAS
1. Reiff ABM, Góes CHFS, Barbosa TA, Mélega JM. Cirurgia estética do perfil e do contorno
facila. In: Mélega JM, Baroudi R, ed. Cirurgia plástica fundamento e arte. Cirurgia
estética. Rio de Janeiro (RJ): MEDSI; 2003. p. 407-32.
2. Rohen JW, Yokochi C, Lutjen-Drecoll E. Cabeça e pescoço. In: Rohen JW, Yokochi C,
Lutjen- Drecoll E, eds. Anatomia humana. Barueri (SP): Manole; 2006. p. 19-23.
3. Fridland JA, Coccaro PJ, Converse JM. Retrospective chefalometric analysis of mandibular
bone absorption under silicone rubber chin implants. Plast Reconstr Surg. 1976;57(2):144-51.
4. Zide BM, Longaker MT. Chin surgery: II. Submental osteoctomy and soft-tissue excision.
Plast Reconstr Surg. 1999;104(6):1854-62.
5. Sofia OB, Telles PAS, Dolci JEL. Mentoplastia no tratamento das deformidades do queixo.
Rev Bras Cir Craniomaxilofac. 2009;12(4):169-73.
6. Ramalho GC, Miranda SL, Moreno R, Silva HCL, Miranda MVF. Reabsorção óssea associada
ao implante de silicone em mentoplastia: relato de caso clínico. Rev Bras Cir Plást.
2017;32(2):291-4.
7. Reiff ABM, Góes CHFS, Barbosa TA, Mélega JM. Rejuvenescimento facial: métodos auxiliares-procedimentos
de preenchimento. In: Mélega JM, Baroudi R, eds. Cirurgia plástica fundamento e arte.
Cirurgia estética. Rio de Janeiro (RJ): MEDSI; 2003. p. 215-49.
8. Wang Q, Zhao Y, Li H, Li P, Wang J. Vascular complications after chin augmentation
using hyaluronic acid. Aesthetic Plast Surg. 2018;42(2):553-9. DOI: https://doi.org/10.1007/s00266-017-1036-3
9. Viterbo F, Brock RS. Gliding mentoplasty: a new technique. Aesthetic Plast Surg. 2013;37(6):1120-7.
1. Ferreira Segantini Cirurgia Plástica, Uberlândia, MG, Brasil.
Autor correspondente: Márcio Manoel Ferreira da Cunha Avenida Presidente Médici, Morada da Colina, Uberlândia, MG, Brasil. CEP: 38411-012.
E-mail: atendimento@ferreirasegantini.com.br
Artigo submetido: 14/8/2019.
Artigo aceito: 22/2/2020.
Conflitos de interesse: não há.