INTRODUÇÃO
A cirurgia abdominal estética precisa de uma abordagem global do contorno corporal;
portanto, é necessário avaliar as regiões e estruturas circunjacentes1,2. Por exemplo, obesidade, perda de peso significativa, gestações consecutivas, etc.,
são causas de deformação abdominal que afetam mais de uma região do corpo3,4. Também é importante determinar a presença de fatores predisponentes: flacidez de
pele, lipodistrofia localizada ou generalizada, flacidez músculo-aponeurótica e estrias,
que, juntamente com a determinação das áreas afetadas, nos ajudarão a escolher as
estratégias cirúrgicas adequadas para seu tratamento1,2,5,6.
A cirurgia plástica abdominal é um procedimento caracterizado pela ressecção total
da pele e gordura dentro da região infraumbilical, realizada sem considerar o reposicionamento
final dos tecidos. Este fato leva a uma alta cicatriz horizontal próxima ao neoumbigo,
gerando a aparência de um abdome curto ou amputado7. A abdominoplastia inclui os seguintes elementos: incisão transversa baixa no abdome,
dissecção medial até a margem costal, tratamento da diástase do músculo reto abdominal
através de plicatura, ressecção abundante do retalho abdominal com máxima transposição
umbilical da ressecção medial e fechamento da pele com flexão do tronco3,4,5.
Por essa razão, observamos resultados esteticamente insatisfatórios, gerando estigmas
como cicatrizes altas e retas. Como a maioria dos cirurgiões realiza uma ressecção
elíptica com maior largura no eixo medial, observamos o posicionamento final umbilical
muito próximo à cicatriz inferior transversa, o que gera o aspecto de abdome curto,
amputado e não estético2,7,8. Outros estigmas observados são flacidez residual dos flancos, depressão da cicatriz
suprapúbica com protuberâncias de tecido mole acima e abaixo da cicatriz incisional,
deslocamento superior da região suprapúbica com excessiva exposição e alargamento
da área dos pelos pubianos superiores e persistência da lipodistrofia púbica9,10,11 (Figura 1).
Figura 1 - Desde a sua proposição inicial, as abdominoplastias sempre priorizaram as maiores
ressecções na área mediana abdominal, gerando um aspecto inestético com encurtamento
abdominal e cicatriz alta e reta.
Figura 1 - Desde a sua proposição inicial, as abdominoplastias sempre priorizaram as maiores
ressecções na área mediana abdominal, gerando um aspecto inestético com encurtamento
abdominal e cicatriz alta e reta.
Inicialmente, devemos retornar à terminologia e conceituação de procedimentos envolvidos
na cirurgia plástica abdominal, tais como, abdominoplastia completa, miniabdominoplastia
e midiabdominoplastia. A primeira se refere à ressecção do segmento infra e/ou periumbilical;
sendo frequentemente indicado naqueles pacientes portadores de flacidez abdominal
acentuada supra e infraumbilical3,4,5. A miniabdominoplastia conceitua a ressecção abdominal discreta do segmento infraumbilical,
suprapúbico, em pacientes portadores de discreta a moderada flacidez cutânea infraumbilical,
sem flacidez supraumbilical; cuja ressecção não promova uma diminuição da distância
umbilicopubiana6. Em geral indicada naqueles pacientes portadores de umbigo alto ou elevado.
A chamada midiabdominoplastia ou mid-abdominoplastia, representa o procedimento proposto
para correção da flacidez cutânea supra e justaumbilical, cujo descolamento e tração
mediana do retalho abdominal resulta em reposicionamento inferior da pele periumbilical
com reabertura do umbigo em um nível cutâneo mais elevado. Sua cicatriz resultante
é geralmente menor e reduzida em relação à abdominoplastia completa7,8.
Propomos uma nova abordagem para o abdome, independentemente da quantidade de pele
a ser ressecada. O que importa é o posicionamento final da cicatriz, que deve ser
baixa. Para isto, é necessário que o segmento ressecado tenha menor altura na área
mediana, exigindo uma ressecção parcial do segmento infraumbilical12.
A midiabdominoplastia conhecida como abdominoplastia limitada foi proposta e publicada
pela primeira vez por Wilkinson e Swartz, em 198613. Essa técnica corrigiu a flacidez da pele com uma incisão mais curta, que deveria
ser colocada na raiz da coxa. Posteriormente, Ribeiro et al., em 19988, usaram o termo para descrever uma técnica com ressecção reduzida de pele em relação
à abdominoplastia clássica. No entanto, as cicatrizes finais continuavam retas por
causa da ressecção cuneiforme da pele.
A extensão da ressecção cutânea é definida pelo grau de flacidez ou lipodistrofia
presentes no segmento supra e infraumbilical1,2. Dependendo deles, podemos determinar o tratamento a seguir. Assim, acreditamos que
muitas das técnicas padronizadas na abdominoplastia, propõem uma ressecção maior da
pele medial, independentemente do levantamento da área púbica que ela possa causar
e o alto posicionamento da cicatriz transversal final. A extensão do retalho abdominal
e a área de maior flacidez ocorrem lateralmente e não centralmente, como nos usuais
designs de abdominoplastia padrão14,15.
Acreditamos também que a associação da abdominoplastia à lipoaspiração é um procedimento
inseparável. Deve ser feito de forma equilibrada e harmônica para promover um melhor
resultado e segurança, mesmo que a abordagem do contorno corporal deva ser feita em
vários momentos cirúrgicos15,16.
Em geral, a lipodistrofia infraumbilical discreta ou moderada responde muito bem à
lipoaspiração, acompanhada invariavelmente por uma adequada e efetiva contração cutânea,
na qual podemos observar uma melhora visível de suas propriedades elásticas e estruturais.
Por outro lado, a pele supraumbilical e o componente adiposo apresentam marcada insuficiência
de contração após a lipoaspiração. Essa incapacidade contrátil ou reduzida resposta
elástica deste segmento à lipoaspiração local impõe ou requer a adoção de métodos
de ressecção e tração cutânea para sua melhor adaptação10,11.
OBJETIVO
Descrever uma nova abordagem para abdominoplastia independentemente da quantidade
de pele a ser ressecada. A prioridade na cirurgia estética do abdome deve ser o posicionamento
final da cicatriz, baixa e côncava, mantendo a integridade estética do conjunto da
parede abdominal, e preservando a altura umbilical12.
MÉTODOS
Foram analisados de forma retrospectiva, 146 pacientes dos quais 143 pacientes do
sexo feminino e 3 pacientes do sexo masculino, entre janeiro de 1988 e março de 2019,
operados pelo autor sênior, no Hospital da Plástica, Rio de Janeiro, Brasil. Todos
os pacientes envolvidos foram orientados e receberam os esclarecimentos suficientes
de todos os benefícios, riscos e procedimentos realizados, tendo acolhido e considerado
todas as informações pertinentes à pesquisa, desta forma todos eles concordaram com
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que lhes foi fornecido; sempre promovendo
e salvaguardando a saúde dos pacientes pela Declaração de Helsinque. Este estudo obteve
previamente a aprovação da Comissão de Ética do Hospital da Plástica sob o número
09/2018.
A faixa etária mais frequente variou entre 30 e 50 anos, com predomínio entre 41 e
50 anos (40% das cirurgias).
Na avaliação do diagnóstico dos casos estudados, adotou-se a observação isolada de
cada um dos três elementos mais importantes na determinação direta ou indireta da
forma abdominal, bem como o contorno corporal. Esses elementos são: a pele, o panículo
adiposo subcutâneo e o complexo músculo-aponeurótico1,2,6,17,18. Para esse fim, as avaliações pré e pós-operatórias foram realizadas de acordo com
a classificação das deformidades abdominais, segundo Caldeira et al., em 19901,2 (Quadro 1).
Quadro 1 - Classificação das deformidades abdominais e suas correlações cirúrgicas.
Categoria |
Flacidez da pele |
Lipodistrofia |
Flacidez músculo- aponeurótica |
Tratamento |
Grupo I |
Flacidez não cutânea |
Leve a moderada |
Sem flacidez |
Lipoaspiração |
Grupo II |
Flacidez cutânea leve a moderada na região infraumbilical
|
Moderada |
Com ou sem flacidez |
Miniabdominoplastia com lipoaspiração
|
Grupo III |
Flacidez cutânea leve a moderada na região infra e supraumbilical
|
Moderada |
Flacidez moderada |
Midiabdominoplastia com lipoaspiração
|
Grupo IV |
Flacidez cutânea acentuada |
Moderada ou Acentuada
|
Flacidez moderada ou acentuada |
Lipoabdominoplastia |
Grupo V |
Presença de cicatriz vertical media com flacidez cutânea moderada ou acentuada
|
Moderada ou Acentuada
|
Flacidez acentuada |
Abdominoplastia vertical
|
Quadro 1 - Classificação das deformidades abdominais e suas correlações cirúrgicas.
Iniciamos a marcação da midiabdominoplastia e da lipoaspiração com o paciente em posição
supina. Identificamos a sínfise púbica e traçamos uma linha vertical em direção ao
umbigo, a uma altura de 5cm da comissura mediana. Em seguida realizamos uma linha
curva transversa de concavidade superior estendendo-a lateralmente em direção à prega
transversa inferior do abdome. Para preservar a integridade da região inguinal (Figuras 2A e 2B) nós definimos a posição da raiz da coxa e a linha traçada deve permanecer a 4cm
acima desta. Assim preservamos as zonas de forte aderência, descritas por Lockwood,
em 200619, (Figuras 3A e 3B).
Figura 2 - A: A marcação do retalho a ser ressecado deve ser reduzida na porção central e ser maior
nas porções laterais; o que define o posicionamento final da cicatriz abdominal, respeitando
a altura e a posição da cicatriz umbilical, definindo assim o padrão de ressecção
da midiabdominoplastia com lipoaspiração. A amplitude da ressecção vai depender da
necessidade de cada caso; B: Rotação dos retalhos laterais e do retalho parcial infraumbilical em direção inferomedial
para obtenção da cicatriz transversa de concavidade superior.
Figura 2 - A: A marcação do retalho a ser ressecado deve ser reduzida na porção central e ser maior
nas porções laterais; o que define o posicionamento final da cicatriz abdominal, respeitando
a altura e a posição da cicatriz umbilical, definindo assim o padrão de ressecção
da midiabdominoplastia com lipoaspiração. A amplitude da ressecção vai depender da
necessidade de cada caso; B: Rotação dos retalhos laterais e do retalho parcial infraumbilical em direção inferomedial
para obtenção da cicatriz transversa de concavidade superior.
Figura 3 - A: Zonas de forte aderência da parede abdominal inferior definidas por Lodhud, devem
ser preservadas; B: A borda inferior do retalho a ser ressecado deve representar uma forte concavidade
superior mantendo-se a 5cm da comissura mediana e a 4cm acima da raiz da coxa.
Figura 3 - A: Zonas de forte aderência da parede abdominal inferior definidas por Lodhud, devem
ser preservadas; B: A borda inferior do retalho a ser ressecado deve representar uma forte concavidade
superior mantendo-se a 5cm da comissura mediana e a 4cm acima da raiz da coxa.
Para a marcação do limite superior da ressecção cutânea, definimos a altura mediana
do retalho através de manobra bidigital que se estende lateralmente por um desenho
de convexidade superior, resultando em uma ressecção maior do tecido nas áreas laterais
do abdome. Essa marcação também é aplicável para casos com menos ressecção de pele,
como em uma miniabdominoplastia. A marcação respeita as zonas de forte aderência e
é realizado um desenho menor proporcional à quantidade de tecido a ser ressecado (Figura 4A). Nos casos com maior ressecção tecidual, as linhas curvas laterais se elevam um
pouco mais, permitindo que mais volume seja incluído, o formato do desenho é mantido
e a ressecção pode alcançar o umbigo (Figura 4B). Em outras palavras a abdominoplastia completa somente é realizada quando a ressecção
dos segmentos laterais é mais alta do que o umbigo. Tratamos a lipodistrofia com lipoaspiração
dos flancos e do abdome superior antes da dermolipectomia para melhor contorno da
silhueta. Continuamos com a plicatura do reto abdominal com sutura continua usando
Prolene 0 em um ou dois planos. E depois, o umbigo é fixado à aponeurose de acordo
com a técnica de Avelar, em 201620. Esta posição é definida em 14-16cm da cicatriz transversa12. Em seguida, o retalho é fixado à aponeurose com os pontos de Pollock, em 200421 e Baroudi, em 199822, e fechado em três planos anatômicos.
Figura 4 - A: Essa ressecção padrão da midiabdominoplastia foi transferida para ressecções menores,
como nas miniabdominoplastias; B: Nas abdominoplastias completas nós devemos manter o mesmo padrão de ressecção definido
nas midiabdominoplastias, mantendo uma altura mais elevada nas vertentes laterais
do retalho a ser ressecado.
Figura 4 - A: Essa ressecção padrão da midiabdominoplastia foi transferida para ressecções menores,
como nas miniabdominoplastias; B: Nas abdominoplastias completas nós devemos manter o mesmo padrão de ressecção definido
nas midiabdominoplastias, mantendo uma altura mais elevada nas vertentes laterais
do retalho a ser ressecado.
A profilaxia antibiótica é realizada com 2g de cefazolina ao início do procedimento
cirúrgico, segue o esquema padrão com uso continuado ambulatorialmente. Utilizamos
drenagem abdominal dos flancos e regiões dos lombares exteriorizados por contraincisão
pubiana e mantida por 5 a 7 dias. O curativo consiste no uso de gazes acolchoadas
envolvidas por bandagens elásticas por 12-24h. E a partir do primeiro dia de pós-operatório
é usada cinta modeladora de compressão leve a moderada e mantida por 30 dias junto
com placa rígida abdominal anterior. Meias compressivas também são utilizadas desde
o pré-operatório (mantidas por 7 dias) e massagens com um profissional treinado, a
partir da segunda semana após a cirurgia.
RESULTADOS
Durante nossa observação, tratamos 146 pacientes cuja média do IMC foi de 28,1, a
idade média foi entre 41 e 50 anos (40%), 143 (97,94%) eram do sexo feminino e 3 (2,05%)
do sexo masculino (Tabela 1).
Tabela 1 - Características dos pacientes.
|
n |
% |
Idade Media |
|
|
41 - 50 Anos |
58 |
39.72 |
Sexo |
|
|
Mulheres |
143 |
97.95 |
Homens |
3 |
2.05 |
IMC Media |
28.1 |
- |
Pacientes pós cirurgia bariatrica |
25 |
17.2 |
Procedimento |
|
|
Abdominoplastia |
15 |
10.27 |
Midiabdominoplastia |
130 |
89.04 |
Miniabdominoplastia |
1 |
0.68 |
Complicações |
12 |
8.21 |
Total |
146 |
100 |
Tabela 1 - Características dos pacientes.
Cento e trinta (89,04%) pacientes foram tratados com midiabdominoplastia. No início,
indicávamos a midiabdominoplastia nos pacientes com flacidez e lipodistrofia significativa
do abdome supraumbilical, obtendo bons resultados (Figuras 5 e 6). Posteriormente, estendemos a indicação para casos de abdome em pêndulo ou avental
que apresentavam flacidez e diástase do reto abdominal, como resultado da perda do
contorno corporal, obtendo resultados igualmente satisfatórios (Figuras 7, 8 e 9). Portanto, consideramos que os parâmetros da midiabdominoplastia são aplicáveis
na maioria dos casos (Figura 10).
Figura 5 - Paciente de 36 anos submetida à cirurgia do contorno corporal com lipomidiabdominoplastia
com desinserção da base umbilical, transposição e reposicionamento inferior do coto
do pedículo umbilical sobre a linha alba, sem cicatriz vertical mediana.
Figura 5 - Paciente de 36 anos submetida à cirurgia do contorno corporal com lipomidiabdominoplastia
com desinserção da base umbilical, transposição e reposicionamento inferior do coto
do pedículo umbilical sobre a linha alba, sem cicatriz vertical mediana.
Figura 6 - Paciente de 46 anos submetida à lipoescultura corporal com lipomidiabdominoplastia,
onfaloplastia e reposicionamento do retalho abdominal anterior, resultando em uma
pequena cicatriz infraumbilical vertical mediana.
Figura 6 - Paciente de 46 anos submetida à lipoescultura corporal com lipomidiabdominoplastia,
onfaloplastia e reposicionamento do retalho abdominal anterior, resultando em uma
pequena cicatriz infraumbilical vertical mediana.
Figura 7 - Paciente de 50 anos, submetida à lipoescultura do contorno corporal associada à lipomidiabdominoplastia,
com onfaloplastia reposicionamento do retalho abdominal anterior, resultando em uma
pequena cicatriz infraumbilical vertical mediana
Figura 7 - Paciente de 50 anos, submetida à lipoescultura do contorno corporal associada à lipomidiabdominoplastia,
com onfaloplastia reposicionamento do retalho abdominal anterior, resultando em uma
pequena cicatriz infraumbilical vertical mediana
Figura 8 - Paciente de 33 anos submetida à lipoescultura do contorno corporal e lipomidiabdominoplastia,
com ampla ressecção dermogordurosa da região infraumbilical.
Figura 8 - Paciente de 33 anos submetida à lipoescultura do contorno corporal e lipomidiabdominoplastia,
com ampla ressecção dermogordurosa da região infraumbilical.
Figura 9 - Paciente de 46 anos submetida à cirurgia do contorno corporal com lipoaspiração e
lipomidiabdominoplastia, associada à lipoenxertia mamária. Podemos observar uma expressiva
redução do volume das dimensões suprapúbicas com reconstituição e rejuvenescimento
desta área.
Figura 9 - Paciente de 46 anos submetida à cirurgia do contorno corporal com lipoaspiração e
lipomidiabdominoplastia, associada à lipoenxertia mamária. Podemos observar uma expressiva
redução do volume das dimensões suprapúbicas com reconstituição e rejuvenescimento
desta área.
Figura 10 - Paciente de 32 anos com história de perda ponderal maciça (40kg) após cirurgia bariátrica,
submetida a lipoescultura e midiabdominoplastia. Evoluindo com hiperpigmentação pós-inflamatória
temporária.
Figura 10 - Paciente de 32 anos com história de perda ponderal maciça (40kg) após cirurgia bariátrica,
submetida a lipoescultura e midiabdominoplastia. Evoluindo com hiperpigmentação pós-inflamatória
temporária.
Observamos também que o número de complicações foi baixo e dentro do esperado para
qualquer procedimento de abdominoplastia. Houve uma taxa de 5.47% de pequenos seromas
que foram resolvidos com drenagem sob punção em 2-3 sessões; deiscência em 2 casos
(1.36%), um de 1cm e outro de 3cm que foi resolvido com ressutura; e 2 casos de necrose
(1.36%), uma de 2x1,5cm e outra de 2.5x2cm que foi resolvido com curativos seriais
(Tabela 2).
Tabela 2 - Complicações.
Complicações |
Pacientes |
Porcentagem |
Seroma |
8 |
5.47 |
Necrose |
2 |
1.36 |
Deiscência |
2 |
1.36 |
Cicatriz hipertrófica |
0 |
0.00 |
Sem complicações |
134 |
91.78 |
Complicações totais |
12 |
8.21 |
DISCUSSÃO
Desde o início da abdominoplastia moderna, em 1960, novas modificações foram propostas
por diversos autores7,8,13,15,23,24. Entretanto, os estigmas cirúrgicos destas abordagens permaneceram constantes, como
cicatrizes altas e retas. É necessário, portanto, que haja uma mudança na visão das
abdominoplastias. Nós consideramos que a prioridade essencial seja colocada na posição
final da cicatriz mais do que na quantidade de pele que a ser removida. Por isso,
procuramos situar a cicatriz final baixa e, assim, não afetar e resguardar a estética
do abdome12 (Figura 11).
Figura 11 - Paciente de 33 anos portadora de acentuada flacidez músculo aponeurótica, tratada
com lipoabdominoplastia com marcação cutânea dentro dos princípios da midiabdominoplastia
e com plicatura tripla da parede abdominal anterior.
Figura 11 - Paciente de 33 anos portadora de acentuada flacidez músculo aponeurótica, tratada
com lipoabdominoplastia com marcação cutânea dentro dos princípios da midiabdominoplastia
e com plicatura tripla da parede abdominal anterior.
Para manter a cicatriz nessa posição e ter uma concavidade medial, a ressecção não
pode ser de todo o bloco infraumbilical. Se analisarmos a ressecção clássica, a limitação
medial do tecido produz uma redução na distância entre o umbigo e a cicatriz final,
o que gera uma cicatriz elevada de aspecto retilíneo.
Também propomos que as extremidades laterais da marcação sejam altas, permitindo assim
uma rotação dos retalhos lombares no sentido anterior em direção inferomedial. O objetivo
é alcançar uma cicatriz transversal com uma forte concavidade medial e as extremidades
mantendo os limites laterais que acompanham a prega transversal inferior do abdome.
Esta localização permite posicionar a cicatriz em uma posição anatômica paralela às
linhas de Langer, diminuindo a tensão e favorecendo a cicatrização da ferida (Figura 12).
Figura 12 - Paciente de 23 anos com perda ponderal maciça de 45kg, submetida à cirurgia do contorno
corporal e lipomidiabdominoplastia com marcação das vertentes laterais mais alta,
o que resulta na ressecção total do segmento infra e periumbilical.
Figura 12 - Paciente de 23 anos com perda ponderal maciça de 45kg, submetida à cirurgia do contorno
corporal e lipomidiabdominoplastia com marcação das vertentes laterais mais alta,
o que resulta na ressecção total do segmento infra e periumbilical.
Além disso, o ganho de peso na região abdominal se inicia acumulando-se nos flancos
e estendendo-se secundariamente ao hipogástrio. Por esta razão, a abdominoplastia
exige naturalmente uma maior ressecção dos segmentos laterais15,16. O resultado é uma cicatriz final anatomicamente posicionada, dando a forma de um
abdome longo e bem definido (Figura 13).
Figura 13 - Seguimos as linhas paralelas de Langer para obter uma posição anatômica e estética
final da cicatriz.
Figura 13 - Seguimos as linhas paralelas de Langer para obter uma posição anatômica e estética
final da cicatriz.
Inicialmente, a ressecção parcial ou subtotal do segmento infraumbilical mediano foi
indicada para tratar apenas os casos que apresentavam uma pequena quantidade de flacidez
central da pele supraumbilical do abdome. Posteriormente, percebemos que nossa abordagem
destacou um aspecto importante, em que a indicação de midiabdominoplastia primária
é apropriada mesmo em pacientes com grande perda de peso e grande flacidez abdominal.
Consideramos também que a avaliação do abdome deve diferenciar a resposta de contratilidade
da pele à lipoaspiração das regiões supraumbilical e infraumbilical, uma vez que a
qualidade e seu comportamento são diferentes.
Avaliamos nessas regiões se há predominância da lipodistrofia sob a flacidez da pele.
Nos casos em que há lipodistrofia infraumbilical acentuada, o tratamento que indicamos
é a lipoaspiração, pois há boa resposta gerando contração infraumbilical da pele.
Por outro lado, nos casos de lipodistrofia supraumbilical, onde a resposta à contractilidade
da pele é reduzida, não podemos indicar apenas uma lipoaspiração, porque existe o
risco de adicionar uma flacidez cutânea nesta região. Usamos uma classificação de
deformidades abdominais e o seu tratamento como uma tentativa de padronizar esses
tratamentos de acordo com o grau de deformidade, os elementos presentes e as estratégias
possíveis1,2 (Tabela 1). Outro ponto a ser levado em conta é o umbigo, que contribui muito na estética abdominal
e na percepção de um abdome longo7,25-27.
A aparência do umbigo tridimensional é influenciada pela altura, largura e forma da
incisão abdominal, comprimento do pedículo umbilical, diâmetro do disco, forma umbilical
e distribuição da gordura periumbilical. O umbigo pode ser encontrado em várias formas:
larga, estreito, superficial, herniada, virgem, já operado e ausente28. O tratamento dependerá do tipo encontrado e da técnica escolhida para esse fim.
Atualmente existem muitas propostas para posicionar o umbigo e todas elas são válidas
desde que haja harmonia. Isto é conseguido através da altura do umbigo em relação
à cicatriz transversal da abdominoplastia. É por isso que em nossos tratamentos, procuramos
colocar o umbigo a uma altura média de 14 a 16cm, desde que a posição original permita
e de acordo com o biótipo do paciente25,26,28. Em relação ao reposicionamento umbilical, ele é fixado na aponeurose 1 a 2cm acima
da sua posição original, com suturas nos pontos cardinais para diminuir a tensão da
pele no epigástrio12,29.
É importante lembrar que a localização muda com o gênero, uma vez que o umbigo masculino
é comumente mais baixo na parede abdominal do que o feminino.
O reposicionamento ideal do umbigo deve ser feito levando-se em conta a perfusão para
minimizar o risco de necrose pós-operatória e cicatrizes visíveis25. Quanto à vascularização do retalho dermogorduroso abdominal, considerando as zonas
de Huger, apenas a zona III das perfurantes laterais é preservada. Um estudo de Munhoz
et al., em 200630, provou que 80% dos perfurantes, vasos linfáticos e nervos poderiam ser preservados
por dissecção limitada. As perfurantes da artéria epigástrica superior profunda são
mais previsíveis.
A associação da lipoaspiração com a midiabdominoplastia, possibilita a redução do
tamanho da cicatriz, reestrutura e redefine a linha da silhueta e o contorno corporal12. Além disso, a lipoaspiração dos flancos libera o retalho lateral na direção anterior
e medial, produzindo uma maior rotação lateral e uma ascensão das suas extremidades.
Lipoaspiração e lipoenxertia complementam a gama de procedimentos. Utilizamos lipoaspiração
para acentuar as linhas Alba e de Spiegel31. Temos um cuidado especial para realizar a definição logo acima da nova posição do
umbigo em direção ao apêndice xifoide e preservar a porção inferior. A associação
de lipoaspiração de alta definição com abdominoplastia é realizada em casos específicos
para os quais achamos que o resultado será melhorado e não afetará a viabilidade do
retalho abdominal31.
CONCLUSÃO
Para obter um resultado mais harmonioso é necessário melhorar a posição da cicatriz
transversal, bem como posicionar adequadamente os elementos: umbigo, púbis e extremidades
laterais da cicatriz abdominal transversa. Uma análise adequada e a classificação
das deformidades abdominais são necessárias para estabelecer estratégias apropriadas
para o tratamento de cada caso.
COLABORAÇÕES
AMLC
|
Análise e/ou interpretação dos dados, Aprovação final do manuscrito, Conceitualização,
Concepção e desenho do estudo, Gerenciamento de Recursos, Gerenciamento do Projeto,
Investigação, Metodologia, Realização das operações e/ou experimentos, Redação - Preparação
do original, Redação - Revisão e Edição, Supervisão, Validação, Visualização
|
CD
|
Análise e/ou interpretação dos dados, Coleta de Dados, Investigação, Redação - Preparação
do original, Visualização
|
JCH
|
Análise e/ou interpretação dos dados, Coleta de Dados, Investigação, Redação - Revisão
e Edição, Visualização
|
REFERÊNCIAS
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um novo enfoque da cirurgia plástica do abdome – I Parte – Classificações das deformidades
abdominais e suas correlações cirúrgicas. Rev Bras Cir Plást. 1990;80(2):95-104.
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um novo enfoque da cirurgia plástica do abdome – II Parte. Rev Bras Cir Plást. 1990;80(3):169-86.
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cases. Plast Reconstr Surg. 1967;40(4):384-91.
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Técnica original [tese]. São Paulo (SP): Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo; 1965.
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8. Ribeiro L, Accorsi AJ, Buss A. Midiabdominoplasty: indications and technique. Aesthetic
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laxity with alloplastic mesh in aesthetic abdominoplasty. Aesthetic Plast Surg. 2018;42(4):1039-49.
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on abdominoplasty and further applications. Switzerland: Springer International Publishing;
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1. Hospital Evangélico, Instituto Avançado de Cirurgia Plástica, Rio de Janeiro, RJ,
Brasil.
2. Hospital Casa de Portugal, Universidade Santa Úrsula, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Autor correspondente: Alberto Magno Lott Caldeira Rua Visconde de Pirajá, 414, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CEP: 22410-002.
E-mail: lottcaldeira@gmail.com
Artigo submetido: 9/5/2019.
Artigo aceito: 22/2/2020.
Conflitos de interesse: não há.