ISSN Online: 2177-1235 | ISSN Print: 1983-5175

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Original Article - Year2005 - Volume20 - Issue 3

ABSTRACT

Background: Many articles published in the last decades have shown the incidence of histological alterations in samples of tissues proceeding from reducing mammoplasty. However, in the literature, is extremely scarce studies that correlate age and histopathological findings by a detailed way. The authors had the purpose to show and to argue the histopathological findings in accordance with the age, of the samples from the patients submitted to the reducing mammoplasty. Method: The authors had evaluated the results of histopathological examination of 1018 surgical parts proceeding from reducing mammoplasty performed in the Plastic Surgery Service of a university hospital, that had been divided in two groups: findings of patients with age under 35 years old (Group 1) and findings of patients with age at or above 35 years old (Group 2). Results: Fibrosclerosis (42.24%) and greasy infiltration (34.87%) had been the most frequent alterations. Three cases of ductal epithelial hyperplasia and atypical lobular hyperplasia, considered pre-malignant alterations, had been found. Carcinoma in situ or invader carcinoma was not found. Conclusions: The authors had concluded that can be argued with the patient and/or with the family the request of the histopathological examination in surgical parts proceeding from reducing mammoplasty in women under 35 years old (with normal clinical examination, without familiar history of breast cancer). Otherwise, it is obligate the request of this exam in the surgical parts proceeding from women with age at or above 35 years old, because this study, in concense with other literature papers, show that, in this last age band, there is a higher incidence of breast pre-malignant alterations (p< 0.05).

Keywords: Breast, pathology, surgery. Breast disease, diagnosis. Breast neoplasms

RESUMO

Introdução: Vários trabalhos nas últimas décadas têm demonstrado a incidência de alterações histológicas nos espécimes cirúrgicos provenientes de mamaplastia redutora. Todavia, é extremamente escasso na literatura estudo que correlacione idade e achados histopatológicos de maneira detalhada. Os autores objetivaram mostrar e discutir os achados histopatológicos, de acordo com a faixa etária, dos espécimes cirúrgicos de pacientes submetidas à mamaplastia redutora. Método: Os autores avaliaram os resultados de exames histopatológicos de 1018 peças cirúrgicas provenientes de mamaplastias redutoras realizadas no Serviço de Cirurgia Plástica de um hospital universitário, que foram divididos em dois grupos: achados de pacientes com idade inferior a 35 anos (Grupo 1) e achados de pacientes com idade igual ou superior a 35 anos (Grupo 2). Resultados: As alterações mais freqüentes foram fibroesclerose (42,24%) e infiltração gordurosa (34,87%). Houve três casos de hiperplasia epitelial ductal e lobular atípica, lesões consideradas pré-malignas, e nenhum achado de carcinoma in situ ou invasor foi diagnosticado. Conclusões: Os autores concluíram que pode ser discutida com a paciente e/ou com seus familiares a solicitação do exame histopatológico em peças cirúrgicas provenientes de mamaplastias redutoras em mulheres abaixo dos 35 anos (com exame clínico normal, sem história familiar de câncer de mama). Por outro lado, é obrigatória a solicitação deste exame nas peças cirúrgicas provenientes de mulheres com idade igual ou superior a 35 anos, uma vez que o presente estudo, em consenso com outros trabalhos da literatura, mostrou que, nesta última faixa etária, há uma incidência maior de alterações pré-malignas da mama (p< 0,05).

Palavras-chave: Mama, patologia, cirurgia. Doenças mamárias, diagnóstico. Neoplasias mamárias


INTRODUÇÃO

As mamaplastias redutoras há muito vêm sendo amplamente praticadas pelos cirurgiões plásticos. Além dos problemas gerados pela hipertrofia mamária, como dores nas costas, ombros e alterações degenerativas da coluna vertebral, somam-se as necessidades estéticas das pacientes1,2.

Vários trabalhos, nas últimas décadas, têm demonstrado a incidência de alterações histológicas nos espécimes cirúrgicos provenientes de mamaplastia redutora. Também tem sido discutida, dentro da relação custo-benefício, a real importância do detalhamento macro e microscópico das amostras colhidas3-5. Entretanto, é extremamente escasso na literatura estudo que correlacione idade e achados histopatológicos de maneira detalhada6,7.

O presente trabalho tem por objetivo mostrar e discutir os achados histopatológicos, de acordo com a faixa etária, dos espécimes cirúrgicos de pacientes submetidas à mamaplastia de redução no Serviço de Cirurgia Plástica de um hospital universitário.


MÉTODO

A) Amostra: foi feito estudo de achados histopatológicos de 1018 peças cirúrgicas de 506 mamaplastias redutoras bilaterais e 6 unilaterais, totalizando 512 pacientes. As mamaplastias foram realizadas no Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, no período de 1989 a 1999.

B) Procedimento: realizou-se estudo retrospectivo, no qual os achados histopatológicos dos 512 casos de mamaplastia redutora foram distribuídos em dois grupos:

  • Grupo 1: pacientes com idade inferior a 35 anos;
  • Grupo 2: pacientes com idade igual ou superior a 35 anos.


  • Tal distribuição foi baseada em consenso na literatura como idade limítrofe para menor ou maior incidência de câncer de mama8.

    Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás.


    RESULTADOS

    A maioria dos casos de mamaplastia redutora (86,32%) ocorreu em pacientes com idade inferior a 40 anos, com predominância na 3a e 4a décadas de vida.

    Alterações histopatológicas ocorreram em praticamente todas as peças cirúrgicas (98,63%). As mais freqüentes foram no estroma mamário, como fibroesclerose e infiltração gordurosa. Fibroesclerose ocorreu em 42,24% dos casos, sendo 30,65% em pacientes do Grupo 1 e 11,59% do Grupo 2. Infiltração gordurosa foi observada em 34,87% dos casos, sendo 25,24% em pacientes do Grupo 1 e 9,63% no Grupo 2.

    Houve três achados, no total, de hiperplasia epitelial ductal atípica e de hiperplasia lobular atípica, consideradas alterações pré-malignas, pois, nas mulheres que as apresentam, há aumento do risco de desenvolvimento de câncer de mama em 4 a 5 vezes, em relação à população geral9. Encontraram-se alterações pré-malignas da mama (APMM) em uma paciente com idade inferior a 35 anos (Grupo 1) e em duas pacientes com idade igual ou superior a 35 anos (Grupo 2). No Grupo 1, o único achado histopatológico de APMM representou 0,25% de um total de 406 pacientes que compunham aquele grupo. No Grupo 2, os achados de APMM representaram 1,89% (2 casos) de um total de 106 pacientes que o compunham. Estes resultados demonstraram significância estatística (p< 0,05). Nenhum achado de carcinoma in situ ou invasor foi encontrado (Tabela 1).




    DISCUSSÃO

    Os resultados mostram concordância com a literatura3-5, ou seja, predomínio dos casos de mamaplastia redutora em pacientes com idade inferior a 40 anos, predomínio de alterações do estroma mamário e incidência de hiperplasia lobular atípica em até 3 % dos casos (0,294% em nosso estudo). Na literatura, carcinoma não diagnosticado clinicamente está presente em 0,1 a 1 % (0 % em nosso estudo) das peças cirúrgicas de pacientes submetidas a mamaplastia redutora que são estudadas microscopicamente3,10- 15. Resultado discordante foi encontrado apenas em um estudo sueco, que observou a presença de carcinoma in situ em 8 % das peças provenientes de mamaplastia redutora em pacientes com idade superior a 40 anos6.

    Como comentado anteriormente, as alterações pré-malignas da mama (como hiperplasia lobular e hiperplasia epitelial ductal atípicas) merecem maior atenção e cautela, pois, nas mulheres que as apresentam, há aumento do risco de desenvolvimento de câncer de mama em 4 a 5 vezes em relação à população geral9.

    A baixa incidência de lesões pré-malignas e malignas que este e outros estudos evidenciam3-5 pode ser justificada pelo predomínio de casos de mamaplastia redutora em pacientes com idade inferior a 35 anos e pela avaliação pré-operatória a que estas pacientes foram submetidas.

    Cumpre ressaltar que no presente trabalho não foi levada em conta a avaliação pré-operatória, mas apenas os achados histopatológicos e a idade das pacientes. Subentende-se que a baixa incidência de alterações malignas e pré-malignas, encontradas em nosso estudo e na literatura em geral, deva ser creditada à seleção cuidadosa das pacientes antes de submetêlas à cirurgia.

    Solicitar obrigatoriamente avaliação histopatológica das peças cirúrgicas de mamaplastia redutora de mulheres com idade inferior a 35 anos, a nosso ver, parece discutível. Não encontramos consenso na literatura com relação a tal obrigatoriedade. Cumpre ressaltar que, devido à baixa prevalência do câncer de mama em pacientes com idade inferior a 35 anos, seria necessária uma casuística muito maior do que a apresentada neste trabalho para que pudéssemos afirmar, de maneira categórica, que o exame histopatológico não é necessário, em que pese o número expressivo de peças cirúrgicas nele avaliadas. Nas pacientes com idade igual ou superior a 35 anos, o presente trabalho conseguiu evidenciar a importância da solicitação do exame histopatológico, situação inversa da citada anteriormente, pela maior prevalência da doença nesta faixa etária.

    Sabemos que atualmente existem outros motivos que também podem levar o cirurgião a solicitar o estudo histopatológico em pacientes com idade inferior a 35 anos, tais como exigência dos planos de saúde ou postura defensiva com relação aos aspectos médico-legais6. Nosso trabalho pretendeu considerar apenas os motivos de natureza médica.


    CONCLUSÕES

    Concluímos que a decisão de solicitar o exame histopatológico das peças cirúrgicas provenientes das mamaplastias redutoras de pacientes com idade inferior a 35 anos poderá ser discutida com as mesmas e/ou com seus responsáveis e familiares, após detalhamento minucioso dos riscos de não se pedir o exame (através do termo de consentimento informado). Nas pacientes com idade igual ou superior a 35 anos, entendemos ser indiscutível a solicitação do estudo histopatológico das peças cirúrgicas em questão, uma vez que nessa faixa etária a incidência de alterações pré-malignas da mama, as quais aumentam em 4 a 5 vezes o risco de aparecimento de malignidade, mostrou-se maior, com significância estatística (p< 0,05).


    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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    I. Médico-Assistente do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG). Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
    II. Acadêmicos da Faculdade de Medicina - UFG.
    III. Chefe do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas da UFG. Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

    Correspondência para:
    Luiz Humberto Garcia de Souza
    Rua 1126, 57, Qd. 232, Lt. 1, Setor Marista
    Goiânia, GO, Brasil - CEP: 74175-050
    Tel/fax: 0xx62 242-2832
    E-mail: drlhumbert@goiasnet.com

    Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás.

    Artigo recebido: 16/05/2005
    Artigo aprovado: 31/08/2005

     

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