INTRODUÇÃO
Por definição, úlcera por pressão são lesões que acometem a pele e seus anexos
subjacentes, por pressão crônica sobre alguma projeção óssea1. As úlceras de pressão são comuns nos pacientes restritos ao
leito e representam um desafio, não só para o cirurgião plástico, mas para toda
equipe de assistência. Uma vez que este tipo de ferida acarreta aumento da morbidade
nos pacientes assim como aumento dos custos para o hospital e cuidadores2. O tratamento das úlceras de pressão deve ser
personalizado para cada paciente, levando em consideração o local da lesão, a
condição clínica do paciente e os recursos disponíveis na instituição. O manejo
consiste em cuidados como mudança de decúbito, limpeza da ferida, desbridamento,
curativos e fechamento cirúrgico definitivo das feridas mais extensas. Uma das
opções cirúrgica para cobertura de escaras sacrais é a utilização do retalho glúteo
fasciocutâneo com pedículo látero-inferior3. O
sucesso do tratamento depende não só de adequada técnica operatória, mas também
de
cuidados multidisciplinares3.
OBJETIVO
Apresentar uma boa opção com resultado satisfatório para a cobertura de úlcera
sacral, utilizando retalho V-Y bilateral. Informações baseadas em revisão de
prontuário e registro intraoperatório.
MÉTODO
Paciente do sexo masculino, 70 anos, ex-tabagista, portador de adenocarcinoma de
pulmão, internado no Hospital São Lucas da PUCRS para cuidados paliativos,
apresentou úlcera de pressão em região sacral (Figura 1). Avaliado pela equipe de cirurgia plástica, primeiramente optou-se por
desbridamento seguido de curativo a vácuo, que foi mantido por 28 dias com melhora
parcial da ferida (Figura 2). Então optou-se
por realizar cobertura da ferida com 2 retalhos fasciocutâneos de aproximação
(Figura 3). Devido ao risco anestésico do paciente
e pela dificuldade em posicioná-lo em decúbito lateral, optou-se pela anestesia
local com sedação.
Figura 1 - Registro pré-operatório da úlcera de pressão em região sacral.
Figura 1 - Registro pré-operatório da úlcera de pressão em região sacral.
Figura 2 - Intraoperatório.
Figura 2 - Intraoperatório.
Figura 3 - Pós-operatório imediato.
Figura 3 - Pós-operatório imediato.
RESULTADOS
Na cirurgia, foi realizado desbridamento de tecidos desvitalizados em escara sacral
e
aproximação de dois retalhos fasciocutâneos bilateralmente(Figura 4). O tempo cirúrgico foi de 3 horas e meia. Após, foi
colocado curativo de poliamida de prata e curativo a vácuo da Hartmann com pressão
de 125mmHg. A ferida operatória evoluiu com fechamento completo, sem a necessidade
de nova intervenção.
Figura 4 - Desenho esquemático dos retalhos realizados.
Figura 4 - Desenho esquemático dos retalhos realizados.
A indicação de cirurgia reconstrutiva, por mais que faltem dados que comprovem
clinicamente e até a relação custo/benefício, está ligada à experiência do cirurgião
do serviço, rotinas da equipe e preferências do paciente e do hospital5. As ações relacionadas ao período cirúrgico
que trazem maior benefício ao doente são: otimizar fatores físicos que podem
interferir na cicatrização, como diabetes e infecções; avaliar os fatores
psicossociais do doente; e, proporcionar uma boa distribuição do peso no
pós-operatório, reduzindo o cisalhamento1.
DISCUSSÃO
A diversificação das técnicas de manutenção à vida, juntamente com o aumento da
expectativa de vida, resulta em um maior número de pacientes que desenvolvem úlceras
de pressão. Para definição do tratamento apropriado é importante primeiramente
classificar corretamente a lesão. A escala mais utilizada hoje em dia é a do
National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP). Nas úlceras de
pressão em Estágio I, se observa uma mudança de cor, com alteração de temperatura
e
de densidade do tecido se comparado às áreas adjacentes, porém a pele se mantém
íntegra. Já no Estágio II, observamos uma lesão mais grave na derme, que se
apresenta como uma úlcera rasa de cor rosa avermelhado, podendo estar úmida ou
seca.
No estágio III, temos a perda total da pele, tendo a exposição da camada adiposa.
E
no estágio IV, no qual o nosso relato se encontra, temos uma úlcera que se estende
até deixar expostas estruturas mais internas, como músculos e tendões1.
Diante de um paciente com úlcera de pressão, deve-se primeiramente procurar
solucionar os fatores causadores e, posteriormente, agir na ferida local. Dentre
as
estratégias não cirúrgicas, pode-se destacar as de conforto físico para o paciente,
como colchões especiais; quanto de quesito nutricional, melhorando o seu perfil
metabólico. Em último caso, podemos lançar mão de terapias invasivas para corrigir
problemas de forma definitiva.
A instalação de colchão piramidal, apesar de amplamente utilizada nas enfermarias,
não foi vista com diferença significativa entre tipos de tecidos e de colchões
para
prevenir o aparecimento de úlceras por pressão4. Foi encontrada uma evidência fraca de que suplementos nutricionais,
principalmente proteicos, melhoram a cicatrização em pacientes institucionalizados.
Porém, não se sabe o perfil nutricional prévio dos pacientes beneficiados,
dificultando a distinção do grupo que se beneficiaria4.
Já a estratégia cirúrgica geralmente é indicada nos estágios III e IV da escala
NPUAP, quando outros métodos já falharam, com o objetivo de retirar o tecido
necrosado e preencher o novo tecido vascularizado com cobertura adequada de pele.
Faltam estudos randomizados controlados que demonstrem a real efetividade da prática
cirúrgica nesse caso, por mais que seja uma conduta utilizada em escaras resistentes
às outras terapias5.
CONCLUSÃO
No caso apresentado, uma úlcera de pressão estágio IV de NPUAP, primeiramente
optou-se por curativo a vácuo, que foi mantido por 28 dias, sem melhora
significativa da área afetada. Por se tratar de uma lesão crônica de grande
abrangência e profundidade, optou-se então por intervenção cirúrgica para
proporcionar ao paciente uma chance de cicatrização da ferida. O cirurgião
responsável deve levar em conta todos os aspectos que cercam o seu paciente,
individualizando o caso, e realizando as orientações pré e pós-procedimento para
otimizar as vantagens terapêuticas da cirurgia.
REFERÊNCIAS
1. National Pressure Ulcer Advisory Panel, European Pressure Ulcer
Advisory Panel and Pan Pacific Pressure Injury Alliance. Prevention and
Treatment of Pressure Ulcers: Clinical Practice Guideline. Emily Haesler,
editor. Cambridge Media: Osborne Park, Australia; 2014.
2. Ricci JA, Bayer LR, Orgill DP. Evidence-based medicine: the
evaluation and treatment of pressure injuries. Plastic and Reconstructive
Surgery. 2017 Jan;139(1):275e-86e. DOI:
https://doi.org/10.1097/PRS.0000000000002850
3. Wettstein R, Tremp M, Baumberger M, Schaefer DJ, Kalbermatten DF.
Local flap therapy for the treatment of pressure sore wounds. Int Wound J. 2015
Oct;12(5):572-6. DOI: https://doi.org/10.1111/iwj.12166
4. Reddy M, Gill SS, Kalkar SR, Wu W, Anderson PJ, Rochon PA. Treatment
of pressure ulcers: a systematic review. JAMA. 2008 Dec;300(22):2647-62. PMID:
19066385 DOI: https://doi.org/10.1001/jama.2008.778
5. Wong JKF, Amin K, Dumville JC. Reconstructive surgery for treating
pressure ulcers (Review). Cochrane Database Syst Rev. 2016 Dec;(12):CD012032.
DOI: https://doi.org/10.1002/14651858.CD012032.pub2
6. Dumville JC, Land L, Evans D, Peinemann F. Negative pressure wound
therapy for treating leg ulcers. Cochrane Database Syst Rev. 2015
Jul;(7):CD011354. PMID: 26171910 DOI:
https://doi.org/10.1002/14651858.CD011354.pub2
1. Hospital São Lucas da Pontifícia, Universidade
Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, Brasil.
2. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica,
Brasil.
Endereço Autor: Marcelo Lopes Dias
Kolling, Avenida Alberto Bins, no 456, Centro Histórico, Porto
Alegre, RS, Brasil. CEP 90030-140. E-mail: marcelokolling91@gmail.com