INTRODUÇÃO
A correção de defeitos da parede abdominal é atividade recorrente na pratica do
cirurgião, como observamos nas correções de hérnias de parede abdominal, exéreses
de
neoplasias e lesões por trauma. O aumento da expertise profissional e a
disponibilidade de malhas e curativos especiais tem possibilitado atuação cirúrgica
em lesões mais complexas de parede abdominal. Na literatura, os trabalhos versam
principalmente sobre a correção de hérnias. Relatos sobre reconstruções ocasionadas
por neoplasias são escassos. Neste trabalho é relatado o caso de um paciente
abordado cirurgicamente para exérese de tumor recidivado de apêndice, que evoluiu
com comprometimento extenso da parede abdominal, operado no Hospital Universitário
Walter Cantídio.
OBJETIVO
Relatar caso de paciente com história de adenocarcinoma mucinoso recidivado
comprometendo extensamente a parede abdominal e a opção cirúrgica de reconstrução
empregada.
MÉTODO
Trata-se de trabalho retrospectivo, observacional e descritivo do tipo relato de
caso. Foram coletadas informações contidas em prontuário médico e imagens de arquivo
do Serviço de Cirurgia Plástica do HUWC.
RESULTADOS
Paciente masculino, 41 anos, natural de Fortaleza e procedente de Eusébio,
encaminhado ao serviço de cirurgia oncológica do HUWC - UFC devido recidiva de
adenocarcinoma mucinoso de apêndice com invasão e erosão da parede abdominal e
formando fístula entérica. Lesão de aproximadamente 19cm em seu maior diâmetro. O
paciente foi submetido a laparotomia exploradora e ressecção ampliada do tumor,
colectomia direita, ressecção de segmento de íleo e confecção de
ileotransversoanastomose, ligadura do funículo espermático direito, e retirada da
lesão da parede abdominal com margens macroscopicamente livres >3cm em monobloco
(Figura 1). No mesmo tempo cirúrgico foi
posicionada tela de polipropileno monofilamentar interposta por sutura de
polidioxanona, associada à camada mais profunda de celulose oxidada regenerada em
contato com as vísceras expostas (Figura 2).
Seguido a isto, foi feito retalho músculo cutâneo com reto femoral direito e retalho
fasciocutâneo da região tóracoepigástrica esquerda, e confecção de enxerto de pele
parcial para cobrir a área doadora deste (Figura 3).
Figura 1 - Pré-operatório da lesão e peça cirúrgica.
Figura 1 - Pré-operatório da lesão e peça cirúrgica.
Figura 2 - Tela sintética posicionada.
Figura 2 - Tela sintética posicionada.
Figura 3 - Pós-operatório imediato.
Figura 3 - Pós-operatório imediato.
No pós-operatório o paciente evoluiu com pequena deiscência da ferida na zona de
contato, entre os dois retalhos de aproximadamente 7cm, sendo decidido por
fechamento por segunda intenção após retirada de trecho da tela que estava
subjacente (Figura 4). O paciente evolui bem e
com resultado satisfatório em acompanhamento ambulatorial (Figura 5).
Figura 4 - Detalhe do tratamento da complicação da tela.
Figura 4 - Detalhe do tratamento da complicação da tela.
Figura 5 - Pós-operatório tardio.
Figura 5 - Pós-operatório tardio.
DISCUSSÃO
Lesões neoplásicas com acometimento extenso da parede abdominal em toda a sua
espessura são desafiadoras pelo acometimento de estruturas nobres intra-abdominais,
como grandes vasos e pela complexidade da reconstrução da parede abdominal com pouco
tecido viável1,2. Sabe-se que o uso de tela com componente
biológico ou parcialmente absorvível é essencial para auxiliar na sustentação dos
órgãos intra-abdominais3. Outras opções são o
uso de próteses expansores de tecido, transposição de fáscia lata, retalhos de reto
femoral ou de musculatura dorsal, retalhos microcirúrgicos e enxertos1,3.
A morbidade está relacionada com a doença de base e as complicações mais frequentes
são rejeição da tela, deiscência de ferida ou herniação1,4.
CONCLUSÃO
Casos complexos de reconstrução da parede abdominal por infiltração neoplásica são
beneficiados pela experiência das equipes multidisciplinares e uso de próteses
especiais presentes nos serviços terciários de saúde, favorecendo de forma
determinante a qualidade de vida desses pacientes.
REFERÊNCIAS
1. Yezhelyev MV, Deigni O, Losken A. Management of full-thickness
abdominal wall defects following tumor resection. Ann Plast Surg. 2012
Aug;69(2):186-91. PMID: 21629064 DOI:
https://doi.org/10.1097/SAP.0b013e31821d0715
2. Kovacevic P, et al. Reconstruction of full thickness abdominal wall
defect following tumor resection: a case report. Srp Arh Celok Lek. 2014
May/Jun;142(5-6):347-50. PMID: 25033593 DOI:
https://doi.org/10.2298/SARH1406347K
3. Singh NK, et al. Abdominal wall reconstruction. In: Neligan PC,
editor. Plastic Surgery. Rio de Janeiro: Elsevier-Saunders; 2013.
p.279-96.
4. Yang F. Radical tumor excision and immediate abdominal wall
reconstruction in patients with aggressive neoplasm compromised full-thickness
lower abdominal wall. Am J Surgery. 2013 Jan;205(1):15-21. DOI:
https://doi.org/10.1016/j.amjsurg.2012.04.007
1. Universidade Federal do Ceará, Benfica,
Fortaleza, CE, Brasil.
2. Hospital Universitário Walter Cantídio, Rodolfo
Teófilo, Fortaleza, CE, Brasil.
3. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica,
Brasil.
Endereço Autor: Lucas Machado Gomes de Pinho
Pessoa, Maria Tomásia 170, apto 1803 Aldeota, Fortaleza, CE, Brasil. CEP
60150-170.E-mail: lucaspessoa.md@gmail.com