INTRODUÇÃO
Com o crescente aumento da busca por procedimentos antienvelhecimento, os
procedimentos estéticos não cirúrgicos (ancilares) estão entre os mais procurados
pelos pacientes no consultório do cirurgião plástico. Segundo o Censo de 2016,
realizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o número de
procedimentos estéticos não cirúrgicos aumentou 390% em 2 anos nestes
consultórios.
Dados apresentados pela pesquisa online encomendada pela SBCP - Regional de São Paulo
(SP) em 2016-2017, entre 1.500 entrevistados, 11% já haviam realizado alguma
cirurgia plástica, destes 30% submeteram-se a mais de um procedimento. De todos os
entrevistados, 13% já realizaram algum procedimento estético facial não cirúrgico,
como toxina botulínica, preenchimentos, peeling ou outros, sendo
que outros 44% tinham interesse em fazer algum procedimento ancilar1.
Foi determinado pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), no uso das
atribuições que lhe conferem a Lei nº 6.932 de 07 de julho de 1981, o Decreto nº
7.562, de 15 de setembro de 2011, e o Decreto 8.516, de 10 de setembro de 2015 e
aprimorado pela resolução Nº 7, de 08 de abril de 2019, que é competência dos
serviços e residências de cirurgia plástica capacitar seus residentes para atuarem
em todas as áreas da cirurgia plástica. Portanto, ao fim dos 3 anos de
especialização da residência médica, o cirurgião plástico deve dominar, entre
outras, as técnicas de procedimentos ancilares: preenchimentos, toxina botulínica,
laser e dermoabrasão (resurfacing)2. Parte da grade curricular da residência médica em cirurgia plástica
deve ser dedicada ao ensino da cosmiatria, para formar o cirurgião plástico
brasileiro de forma completa3.
Existe atualmente no Nordeste brasileiro 8 serviços credenciados pela SBCP e pelo
Ministério de Educação (MEC), 7 destes com atividades desenvolvidas em hospitais
pela rede do Sistema Único de Saúde (SUS). Com o aumento da demanda de procedimentos
estéticos de cosmiatria a procura pelo aperfeiçoamento na área é crescente entre os
residentes da cirurgia plástica.
OBJETIVO
Avaliar como se dá o ensino de cosmiatria nas residências médicas de cirurgia
plástica na região Nordeste e como os residentes tem avaliado seus conhecimentos
nessa área.
MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo de pesquisa quantitativa e qualitativa, transversal
com questionário aplicado no mês de maio e junho de 2019, através de questionário
eletrônico enviado via e-mail, contendo 12 perguntas (algumas com subitens) aos
residentes em treinamento de cirurgia plástica dos serviços credenciados dos estados
do Ceará, Pernambuco e Bahia, os únicos estados do Norte e Nordeste brasileiro com
serviços credenciados pela SBCP e MEC. Foi utilizado como critério de exclusão a
participação no atual trabalho e análise dos dados, portanto sendo excluídos 3
residentes, um de cada estado participante.
Os questionários foram respondidos de forma anônima. As respostas foram enviadas
através do programa Google Forms, sendo a análise estatística
através deste.
As perguntas apresentaram-se em sua maioria de múltipla escolha e algumas em escala
com notas de 0 a 10, foi considerado 0 a nota mais baixa e 10 a nota mais alta.
O questionário aborda, dentre outros aspectos, a existência ou não de ensino de
cosmiatria nas suas residências e como esse é realizado, qual a percepção de
importância e interesse do residente por essa área, fazendo também os residentes uma
autoavaliação dos seus conhecimentos.
RESULTADOS
Atualmente, no Nordeste brasileiro, existem 54 residentes inscritos nos programas
de
residência médica de cirurgia plástica credenciados pela SBCP e MEC.
O questionário foi respondido em 87% dos residentes matriculados (47 dos 54
residentes), sendo excluídos os 3 participantes do atual trabalho, atingindo um
índice de participação de 92,15% dos residentes elegíveis (47 dos 51
residentes).
Quando questionados sobre qual é a importância do ensino da cosmiatria na sua
formação, 97,8% dos participantes classificaram com notas acima de 7 (Figura 1); e, sobre o interesse desses nessa
área, 91,5% quantificaram seu interesse com notas acima de 7 (Figura 2).
Figura 1 - Resultado da pergunta número 2.
Figura 1 - Resultado da pergunta número 2.
Figura 2 - Resultado da pergunta número 3.
Figura 2 - Resultado da pergunta número 3.
Apenas 17% dos residentes afirmaram haver ensino de cosmiatria durante a residência
e
todos afirmam ser possível melhorar o ensino (Figura 3). E, 62,5% desses responderam que o ensino se deu apenas na forma de
aplicação de aulas sobre o tema.
Figura 3 - Resultado da pergunta número 4.
Figura 3 - Resultado da pergunta número 4.
Dos residentes que relataram não haver ensino de cosmiatria na sua residência médica,
95,3% afirmaram ser possível desenvolver esse ensino nos seus hospitais (Figura 4).
Figura 4 - Resultado da pergunta número 4.4.
Figura 4 - Resultado da pergunta número 4.4.
53,2% dos participantes relataram já ter realizado algum curso de cosmiatria, no
entanto desses apenas 18,5% referiram ter realizado o curso no estado da sua
residência médica. Apenas 31,9% referiram conhecer algum curso, workshop e/ou
pós-graduação dessa área no seu estado.
Quando questionados sobre a nota com a qual o residente se autoavaliava, sobre seu
conhecimento geral de cosmiatria, 6,4% classificaram seu conhecimento com nota 8 ou
superior, sendo que 68,1% dos residentes consideram seu conhecimento nota 5 ou
inferior (Figura 5). Esse padrão de
autoavaliação se mostrou de forma semelhante quando perguntados especificamente
sobre o conhecimento em aplicação de toxina botulínica, preenchedores dérmicos,
peelings químicos e uso de laser.
Figura 5 - Resultado da pergunta número 8.
Figura 5 - Resultado da pergunta número 8.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
A pesquisa encomendada pela SBCP - Regional SP, em 2016/2017, sobre “a impressão do
brasileiro sobre a cirurgia plástica”, mostrou que 69%, dos procedimentos estéticos
faciais foram realizados com um médico, sendo 72% com um dermatologista e, apenas,
6% com um cirurgião plástico, sendo o procedimento estético não cirúrgico mais
comumente utilizado a toxina botulínica, perfazendo 96,4% do total1. Esses dados
levantam questionamentos sobre o porquê de os dermatologistas serem os mais
procurados para a realização de procedimentos ancilares.
O estudo realizado com os residentes do Nordeste brasileiro mostra de maneira local
como está se desenvolvendo o ensino da cosmiatria na região. Sendo identificado que
o ensino da cosmiatria nas residências nordestinas encontra-se em caráter
inexistente ou inicial e, quando realizado, dá-se na maioria das vezes de forma
teórica, sem abordagens práticas do assunto, podendo ser questionado se esse ensino
é satisfatório para o domínio dessa área de forma satisfatória. Visto que aliado a
uma boa carga teórica é bastante importante a prática para se sedimentar e adquirir
confiança, além de domínio nos procedimentos, sejam eles cirúrgicos ou não3,4,5.
Quando questionados sobre o domínio do assunto, a grande maioria dos residentes
julgou que seus conhecimentos na área são insuficientes, o que se deve à falta ou
baixa abordagem de um assunto tão importante na sua formação6,7.
A partir desses dados, nota-se uma discrepância entre o crescente uso da cosmiatria
no campo da medicina e o julgamento dos residentes de cirurgia plástica do Nordeste
sobre os seus conhecimentos na área, estando os residentes terminando a sua
especialização na residência médica sem segurança na aplicação correta da
cosmiatria.
Os residentes apontaram um ensino baixo da área da cosmiatria nas suas residências
médicas, a grande maioria relatou não ter atividades práticas ou ter realizado
cursos no estado de suas residências médicas, atividades fundamentais para o domínio
desses procedimentos não-cirúrgicos.
Todos os residentes referiram ser possível melhorar o ensino de cosmiatria e a grande
maioria se autoavaliou com baixo conhecimento nessa área.
REFERÊNCIAS
1. Steffen N. Panorama atual da prática estética no país. II Encontro
Nacional dos Con-selhos de Medicina - SBCP; 2018. Disponível em:
http://portal.cfm.org.br/images/PDF/2018_encm_niveo_steffen.pdf
2. Ministério da Educação (BR). Secretaria de Educação Superior.
Resolução nº 7, de 8 de abril de 2019. Dispõe sobre a matriz de competências dos
Programas de Residência Médica em Cirurgia Plástica no Brasil. Diário Oficial da
União, Brasília (DF), 11 abr 2019: Edição 70: Seção 1: 199.
3. Ruiz RO, et al. Metodologia do ensino para o treinamento do
tratamento não cirúrgi-co da área de sulco nasogeniano e região peribucal para
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2007;22(2):67-75.
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Padroniza-ção técnica no treinamento em microcirurgia do serviço de cirurgia
plástica e microci-rurgia reconstrutiva do hospital universitário Walter
Cantídio da Universidade Federal do Ceará (HUWC/UFC). Rev Bras Cir Plást.
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formação atual do residente frente à demanda crescente. Rev Bras Cir Plást.
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6. Wong M, Jones S, Sheikh H, James N. The effect of the new deal on
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Surg. 2006;59(3):311-2. PMID: 16673549 DOI:
https://doi.org/10.1016/j.bjps.2005.09.009
7. Batista KT, Pacheco LMS, Silva LM. Avaliação dos programas de
residência médica em Cirurgia Plástica no Distrito Federal. Rev Bras Cir Plást.
2013 Mar;28(1):20-8. DOI:
https://doi.org/10.1590/S1983-51752013000100005
1. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica,
Brasil.
2. Instituto Doutor José Frota, Fortaleza, CE,
Brasil.
3. Hospital Universitário Professor Edgard Santos,
Salvador, BA, Brasil.
4. Instituto de Medicina Integral Professor
Fernando Figueira, Recife, PE, Brasil.
Endereço Autor: Flávius Vinícius Cabral Soares, Rua
Barão do Rio Branco, 1816, Centro, Fortaleza, CE, Brasil. CEP: 60025-061.
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