INTRODUÇÃO
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, o câncer de mama é o segundo tipo mais
comum de câncer registrado entre mulheres no Brasil e no mundo - atrás apenas do
câncer de pele não melanoma. Para o Brasil, estimam-se 59.700 casos novos de câncer
de mama, para cada ano do biênio 2018-2019, com um risco estimado de 56,33 casos a
cada 100 mil mulheres. A doença responde por cerca de 25,2% dos novos casos de
câncer registrados no mundo1.
Múltiplos fatores estão envolvidos na etiologia do câncer de mama: idade da primeira
menstruação menor do que 12 anos; menopausa após os 55 anos; mulheres que nunca
engravidaram ou nunca tiveram filhos (nuliparidade); primeira gravidez após os 30
anos; uso de alguns anticoncepcionais e terapia de reposição hormonal (TRH) na
menopausa, especialmente se por tempo prolongado; exposição à radiação ionizante;
consumo de bebidas alcoólicas; dietas hipercalóricas; sedentarismo; e predisposição
genética (pelas mutações em determinados genes transmitidos na herança genética
familiar - principalmente por dois genes de alto risco, BRCA1 e BRCA2)1.
Em razão da sua elevada incidência, tal neoplasia torna-se uma das grandes
preocupações, sobretudo pelos impactos psicológicos e sociais que acarretam para a
saúde da mulher. Na tentativa de reduzir os sentimentos negativos desencadeados pela
doença e pela mastectomia, melhorar a autoestima e suprir a falta da mama, muitas
mulheres optam pela reconstrução cirúrgica. Trata-se de um procedimento seguro, que
não aumenta o risco de recorrência nem interfere na detecção da doença, além de não
levar ao atraso para terapias adjuvantes. Existem vários procedimentos cirúrgicos
descritos para sua realização, com técnicas conservadoras, retalhos de vizinhança,
materiais aloplásticos, retalhos miocutâneos pediculados e microcirúrgicos2,3.
Com o surgimento dos testes genéticos para BRCA1 e BRCA2 para estratificação de
risco, a frequência de mastectomia profilática contralateral está aumentando
consideravelmente em pacientes submetidas a mastectomia por câncer unilateral. Além
dos testes genéticos, outros fatores podem contribuir para a realização da
mastectomia profilática: alterações mamográficas múltiplas, lesões precursoras
multicêntricas, dificuldade no rastreamento por apresentarem mamas densas, e a
grande ansiedade das pacientes4.
OBJETIVO
O objetivo deste estudo foi analisar os casos de reconstrução mamária pós-mastectomia
por câncer de mama, realizados em um período de 16 anos, na clínica privada do autor
principal, identificando idade das pacientes, tipos de cirurgia realizados (técnica
utilizada e bilateralidade), complicações, presença de fatores de risco para
complicações, e evolução dos procedimentos ao longo do tempo.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo observacional longitudinal retrospectivo por meio da revisão
de
prontuários das pacientes submetidas à reconstrução mamária pós-mastectomia por
câncer de mama, no período de janeiro de 2002 a dezembro de 2017. Foram coletados
os
seguintes dados: idade, tipo de reconstrução mamária realizada (técnica utilizada
e
se unilateral ou bilateral) e complicações pós-operatórias. Nos prontuários das
pacientes operadas a partir de outubro de 2007, também foram coletados dados
referentes à presença de fatores de risco para complicações (comorbidades,
tabagismo, obesidade e radioterapia).
Todas as cirurgias foram realizadas pelo mesmo cirurgião plástico em 5 hospitais
localizados na cidade de Brasília (DF).
Este projeto de pesquisa seguiu os trâmites legais determinados pela Resolução 196/96
do Conselho Nacional de Saúde no que se refere à pesquisa envolvendo seres humanos
e
de acordo com os princípios da Declaração de Helsinque.
RESULTADOS
No período de janeiro de 2002 a dezembro de 2017, 586 pacientes mastectomizadas por
câncer de mama foram submetidas à reconstrução mamária. A média de idade das
pacientes foi de 54,37 anos, variando de 27 anos a 80 anos. Quanto ao tipo de
reconstrução, em 160 pacientes a reconstrução mamária foi realizada com retalho
miocutâneo do músculo reto abdominal (TRAM), 107 com técnicas conservadoras
(retalhos locais e de vizinhança), 156 com retalho miocutâneo do músculo grande
dorsal (RGD), 113 com próteses (sendo 16 com retalho de músculo peitoral maior
estendido com retalho dermogorduroso de pedículo inferior e 41 com retalho
retropeitoral superior e subcutâneo misto inferior cobrindo o implante) e 50
secundárias (aquelas que necessitaram de nova reconstrução em decorrência de falha
do primeiro procedimento) (Figuras 1 a 8).
Figura 1 - Número de pacientes submetidas à reconstrução mamária realizadas no
período de janeiro de 2002 a dezembro de 2017, de acordo com a técnica.
RGD=retalho miocutâneo do músculo grande dorsal; TRAM=retalho miocutâneo
do músculo reto abdominal.
Figura 1 - Número de pacientes submetidas à reconstrução mamária realizadas no
período de janeiro de 2002 a dezembro de 2017, de acordo com a técnica.
RGD=retalho miocutâneo do músculo grande dorsal; TRAM=retalho miocutâneo
do músculo reto abdominal.
Figura 2 - Reconstrução mamária com retalho miocutâneo do músculo reto abdominal
unilateral. A, B e C: aspecto pré-operatório;
D, E e F: aspecto pós-operatório.
Figura 2 - Reconstrução mamária com retalho miocutâneo do músculo reto abdominal
unilateral. A, B e C: aspecto pré-operatório;
D, E e F: aspecto pós-operatório.
Figura 3 - Reconstrução mamária com retalho miocutâneo do músculo reto abdominal
bilateral. A, B e C: aspecto pré-operatório;
D, E e F: aspecto pós-operatório.
Figura 3 - Reconstrução mamária com retalho miocutâneo do músculo reto abdominal
bilateral. A, B e C: aspecto pré-operatório;
D, E e F: aspecto pós-operatório.
Figura 4 - Reconstrução mamária com retalho miocutâneo do músculo grande dorsal
unilateral. A: aspecto pré-operatório; B:
aspecto pós-operatório; C: marcação para reconstrução do
complexo areolopapilar; D: aspecto pós-operatório final;
E: marcação pré-operatória região dorsal doadora;
F: aspecto pós-operatório da região dorsal doadora.
Figura 4 - Reconstrução mamária com retalho miocutâneo do músculo grande dorsal
unilateral. A: aspecto pré-operatório; B:
aspecto pós-operatório; C: marcação para reconstrução do
complexo areolopapilar; D: aspecto pós-operatório final;
E: marcação pré-operatória região dorsal doadora;
F: aspecto pós-operatório da região dorsal doadora.
Figura 5 - Reconstrução mamária com retalho miocutâneo do músculo grande dorsal
bilateral. A: aspecto pré-operatório; B:
aspecto pós-operatório; C: marcação para reconstrução CAP;
D: aspecto pós-operatório final; E:
marcação pré-operatória região dorsal doadora; F: aspecto
pós-operatório da região dorsal doadora.
Figura 5 - Reconstrução mamária com retalho miocutâneo do músculo grande dorsal
bilateral. A: aspecto pré-operatório; B:
aspecto pós-operatório; C: marcação para reconstrução CAP;
D: aspecto pós-operatório final; E:
marcação pré-operatória região dorsal doadora; F: aspecto
pós-operatório da região dorsal doadora.
Figura 6 - Reconstrução mamária com prótese. A: aspecto
pré-operatório. B: marcação pré-operatória; C
e D: aspecto intraoperatório de retalho de músculo peitoral
maior superior e subcutâneo misto inferior cobrindo o implante;
E: aspecto pós-operatório imediato; F:
aspecto pós-operatório tardio.
Figura 6 - Reconstrução mamária com prótese. A: aspecto
pré-operatório. B: marcação pré-operatória; C
e D: aspecto intraoperatório de retalho de músculo peitoral
maior superior e subcutâneo misto inferior cobrindo o implante;
E: aspecto pós-operatório imediato; F:
aspecto pós-operatório tardio.
Figura 7 - Reconstrução mamária com prótese. A: aspecto
pré-operatório; B: marcação pré-operatória; C
e D: aspecto intraoperatório de retalho de músculo peitoral
maior estendido com retalho dermogorduroso de pedículo inferior cobrindo
o implante; E: mama montada intraoperatório imediato;
F: aspecto pós-operatório.
Figura 7 - Reconstrução mamária com prótese. A: aspecto
pré-operatório; B: marcação pré-operatória; C
e D: aspecto intraoperatório de retalho de músculo peitoral
maior estendido com retalho dermogorduroso de pedículo inferior cobrindo
o implante; E: mama montada intraoperatório imediato;
F: aspecto pós-operatório.
Figura 8 - Reconstrução mamária com prótese. A: aspecto
pré-operatório; B: marcação pré-operatória; C
e D: aspecto pós-operatório com contratura capsular;
E e F: aspecto pós-operatório segundo
tempo para correção da contratura capsular.
Figura 8 - Reconstrução mamária com prótese. A: aspecto
pré-operatório; B: marcação pré-operatória; C
e D: aspecto pós-operatório com contratura capsular;
E e F: aspecto pós-operatório segundo
tempo para correção da contratura capsular.
Dentre os procedimentos de TRAM realizados, em 72 pacientes foram unilaterais (43
imediatos e 29 tardios) e em 88 pacientes foram bilaterais (74 imediatos, 5 tardios,
9 imediatos de um lado e tardios de outro). Dentre os procedimentos de RGD
realizados, em 40 pacientes foram unilaterais (30 imediatos e 10 tardios) e em 116
pacientes foram bilaterais (106 imediatos, 6 tardios, 4 imediatos de um lado e
tardios de outro) (Figura 9).
Figura 9 - Tipos de reconstrução mamária realizados no período de janeiro de
2002 a dezembro de 2017. RGD=retalho miocutâneo do músculo grande
dorsal; TRAM=retalho miocutâneo do músculo reto abdominal.
Figura 9 - Tipos de reconstrução mamária realizados no período de janeiro de
2002 a dezembro de 2017. RGD=retalho miocutâneo do músculo grande
dorsal; TRAM=retalho miocutâneo do músculo reto abdominal.
Previamente a outubro de 2007, a porcentagem de pacientes submetidos a cirurgias
bilaterais, somando-se TRAM e RGD, era de 30%, e a partir desse período a
porcentagem passou para 83,3% (Figura 10). De
2002 a 2006, em 32% dos pacientes, as reconstruções foram realizadas com TRAM e 12%
com RGD; de 2007 a 2011, 25,73% com TRAM e 25,14% com RGD; e de 2012 a 2017, 16,45%
com TRAM e 43,67% com RGD. No período total desse estudo, 64,55% dos pacientes
submetidos à reconstrução com TRAM e com RGD foram bilaterais e 35,44%,
unilaterais.
Figura 10 - Análise do tipo de TRAM e RGD realizado (se unilateral ou bilateral),
de acordo com o período. RGD=retalho miocutâneo do músculo grande
dorsal; TRAM=retalho miocutâneo do músculo reto abdominal.
Figura 10 - Análise do tipo de TRAM e RGD realizado (se unilateral ou bilateral),
de acordo com o período. RGD=retalho miocutâneo do músculo grande
dorsal; TRAM=retalho miocutâneo do músculo reto abdominal.
Houve algum tipo de complicação ou intercorrência em 203 (34,64%) pacientes operadas,
totalizando de 335 complicações (Tabela 1),
com uma paciente podendo apresentar mais de um tipo de intercorrência. A grande
maioria apresentou intercorrências que tratadas ambulatorialmente sem necessidade
de
reabordagem cirúrgica. Analisando-se os fatores de risco nas últimas 293 pacientes
operadas (a partir de outubro de 2007 até dezembro de 2017), 35 eram obesas (índice
de massa corporal - IMC > 30kg/m2), 29 eram
tabagistas, 32 haviam sido submetidas à radioterapia e 111 apresentavam comorbidades
(diabetes, hipertensão arterial e hipotireoidismo). Nesse grupo, 116 (39,59%)
pacientes apresentaram alguma complicação, das quais 80 (68,9%) possuíam pelo menos
um fator de risco (Figura 11). Das 29
pacientes tabagistas, 58,62% apresentaram complicações.
Tabela 1 - Complicações e intercorrências.
Complicações |
n |
% |
Seroma |
84 |
25,07 |
Necrose de pele remanescente da mama |
47 |
14,0 |
Liponecrose |
37 |
11,0 |
Deiscência |
33 |
9,85 |
Necrose parcial do retalho |
31 |
9,25 |
Hematoma |
20 |
5,97 |
Infecção |
19 |
5,67 |
Contratura capsular (incluindo radioterapia
pós-operatória)
|
18 |
5,40 |
Necrose parcial do complexo areolopapilar (CAP) |
9 |
2,70 |
Necrose de umbigo |
8 |
2,40 |
Abaulamento abdominal |
8 |
2,40 |
Síndrome de Mondor |
7 |
2,09 |
Atelectasia |
5 |
1,50 |
Tromboembolismo pulmonar |
3 |
0,90 |
Assimetria |
2 |
0,60 |
Trombose venosa profunda |
1 |
0,30 |
Insuficiência renal aguda |
1 |
0,30 |
Abdome agudo obstrutivo |
1 |
0,30 |
Pneumonite |
1 |
0,30 |
Total |
335 |
100 |
Tabela 1 - Complicações e intercorrências.
Figura 11 - Número de complicações nas últimas 293 pacientes operadas, de acordo
com a presença ou não de fatores de risco.
Figura 11 - Número de complicações nas últimas 293 pacientes operadas, de acordo
com a presença ou não de fatores de risco.
DISCUSSÃO
A reconstrução mamária é parte integral do tratamento do câncer de mama. Inúmeras
técnicas estão disponíveis para reconstrução mamária e a seleção da melhor técnica
é
influenciada por diversos fatores relacionados ao tratamento oncológico como: o
estadiamento, a necessidade de radioterapia, o tipo de mastectomia, a lateralidade
(se unilateral ou bilateral); relacionados à paciente: IMC, comorbidades, presença
de áreas doadoras para reconstrução autóloga, preferência, expectativa em relação
ao
resultado e estilo de vida5. A seleção da
técnica a ser utilizada deve ser específica para a paciente em questão e de acordo
com a experiência do cirurgião plástico.
Nos últimos 10 anos do período analisado, observou-se aumento da incidência de
cirurgias bilaterais, apesar de a doença ser unilateral, em decorrência do interesse
das pacientes em realizar cirurgia profilática contralateral. Com o surgimento dos
testes genéticos para estratificação de risco, a frequência de mastectomia
profilática contralateral vem aumentando de forma exponencial.
Além dos testes genéticos, outros fatores podem contribuir para a realização da
mastectomia profilática: alterações mamográficas múltiplas, lesões precursoras
multicêntricas, dificuldade no rastreamento por apresentarem mamas densas e a grande
ansiedade das pacientes6.
No presente estudo, no período de 2002 a setembro de 2007, 30% dos TRAM e RGD foram
bilaterais, e de outubro de 2007 até dezembro de 2017 essa taxa atingiu 83,33%.
Estima-se que, a partir do momento do tratamento do câncer primário, mais de 10% das
mulheres tratadas desenvolverão, subsequentemente, neoplasia na mama contralateral,
podendo surgir até 30 anos após o tratamento inicial7.
A eficácia da mastectomia profilática depende da habilidade em remover a maior parte
do tecido mamário, deixando o retalho com a espessura mínima viável. O
desenvolvimento de câncer no tecido residual é relatado na literatura com incidência
variando de 1% a 9%8. A eficácia da
mastectomia profilática contralateral em pacientes tratadas de câncer de mama é
estimada em 96%9. No estudo de Hartmann et
al.6, a redução do risco de desenvolver
câncer de mama, em pacientes submetidas à mastectomia profilática, foi próxima a
90%.
A reconstrução secundária, ou de resgate, definida como uma revisão completa de uma
reconstrução prévia em caso de resultado insatisfatório ou falha da primeira
cirurgia10, foi realizada em 50
pacientes. Chama atenção o fato de que em 88% desses casos foram utilizados os
retalhos miocutâneos, TRAM e RGD, o que demonstra que esses retalhos são bem
indicados nesses casos, por fornecerem tecido sadio e bem vascularizado a uma área
manipulada previamente. Além disso, de acordo com números mostrados, com o passar
dos anos, o RGD vem aumentando seu uso nas reconstruções em comparação ao TRAM.
O tratamento do câncer de mama era mutilante, com cirurgias amplas que retiravam
grande quantidade de pele e até músculos, com isso, vem a importância da utilização
do TRAM nas reconstruções que necessitam de um volume de tecido considerável para
cobrir o defeito da mastectomia; desde que tenha tecido adiposo abdominal
suficiente9.
Com o surgimento da mastectomia poupadora de pele, com o aumento de reconstruções
imediatas, além da melhoria da qualidade dos implantes de silicone, vem diminuindo
a
incidência de reconstrução mamária com TRAM, que é uma cirurgia de maior morbidade
e
com desvantagens como hérnias e abaulamentos abdominais, e vêm aumentando as
reconstruções com o GD e implantes diretos9.
Das 586 pacientes submetidas à reconstrução mamária, em 16 (2,73%) delas foi
utilizado o retalho de músculo peitoral maior estendido com retalho dermogorduroso
de pedículo inferior cobrindo o implante de silicone. Este retalho é utilizado com
o
objetivo de alongar a loja submuscular. Este retalho só pode ser usado após análise
conjunta com o mastologista, pois mantém uma pequena quantidade de tecido mamário
dos quadrantes inferiores, e, tendo-se a concordância dele quanto à manutenção desse
tecido, deve-se analisar a localização do tumor, a existência de microcalcificações
ou outras afecções nessa região, bem como a viabilidade nutricional desse
retalho.
A técnica descrita por Cosac et al.4 oferece
uma adequada loja para a colocação do implante, sem tensão excessiva, com amenização
da projeção nos polos superior e inferior, e menor tendência à migração cefálica do
implante. Além disso, apresenta mínimo risco de extrusão da prótese, em casos de
necrose ou deiscência, devido à interposição de tecido entre o implante e a pele.
Além de excelente resultado estético, o retalho proposto não acarreta morbidade ao
sítio doador, recuperação prolongada, fraqueza muscular nem o uso de enxertos, sendo
uma alternativa em pacientes selecionadas4.
Em 41 (6,99%) pacientes submetidas à reconstrução mamária foi realizada uma loja para
prótese com retalho retropeitoral superior e subcutâneo misto inferior. Esta
técnica, descrita por Cosac et al.9, consiste
na realização de uma incisão arqueada na mama, estendendo da extremidade lateral até
a parte medial do sulco submamário. Toda a base inferior da pele da mama é mantida
íntegra e o retalho dermogorduroso deve ter uma espessura mínima de 1,5 a 2cm. Após
mastectomia, o cirurgião plástico confecciona o retalho do músculo peitoral maior,
sendo que o implante, após sua inclusão, fica coberto por esse músculo em seus 2/3
superiores, e pelo retalho dermogorduroso em seu 1/3 inferior.
Esta técnica resulta em uma única cicatriz arqueada, levando a um aspecto menos
estigmatizante. A recuperação das pacientes é rápida, com menor percepção de dor
pós-operatória. Uma das grandes vantagens desta técnica é a presença de um retalho
mais fino, sem tecido glandular, o que favorece uma maior segurança oncológica9.
A taxa de complicações verificada no presente estudo (34,64%) encontra-se de acordo
com o reportado na literatura11. As
complicações variam de 15% a 45%, de acordo com o tipo de cirurgia realizado, e
aumentam com os fatores de risco (obesidade, tabagismo, comorbidades e
radioterapia)4, fato observado neste
estudo. Importante salientar que nem todas as complicações comprometem o resultado
final ou exigem novas intervenções, como o seroma, responsável por 25,07% das
complicações, que tem tratamento ambulatorial ou expectante, raramente implicando
alguma complicação permanente.
A presença de tabagismo está associada ao aumento significativo das taxas de necrose
dos retalhos, além de outras complicações11.
No grupo das últimas 293 reconstruções estudadas, a taxa de complicações nas
pacientes tabagistas foi de 58,62%, bem acima da taxa global de complicações de
33,41%.
CONCLUSÃO
A individualização do paciente é a chave para o sucesso da reconstrução mamária. Cada
técnica reconstrutora tem suas indicações, vantagens e limitações, que devem ser
amplamente discutidas como paciente visando o melhor resultado possível. A escolha
da técnica também depende da experiência do cirurgião e de seu relacionamento com
a
equipe de mastologia. Ressaltamos a necessidade de uma equipe cirúrgica
multidisciplinar, sintonizada, bem treinada e capacitada, cada qual em sua área de
atuação, mas trabalhando de forma sinérgica para conseguir o melhor resultado
cirúrgico possível.
Neste estudo, foi observada elevação da incidência de cirurgias bilaterais nos
últimos anos, fato atribuído ao aumento das mastectomias profiláticas na mama
contralateral, o que pode reduzir o risco da neoplasia e facilitar a simetrização
mamária, implicando resultados mais harmônicos. Além disso, observamos nos últimos
anos aumento do número de reconstruções utilizando o retalho miocutâneo do músculo
grande dorsal em comparação com o retalho miocutâneo do músculo reto abdominal, bem
como o aumento significativo das reconstruções com implante de silicone.
As técnicas empregadas na reconstrução mamária se mostram eficazes, são alternativas
seguras, com taxas de complicação aceitáveis. A presença de fatores de risco, como
obesidade, tabagismo, comorbidades e radioterapia, resultou em maior taxa de
complicações, devendo o cirurgião estar atento a todos os detalhes, incluindo
pré-operatório bem feito, indicação cirúrgica correta e acompanhamento
pós-operatório rigoroso.
COLABORAÇÕES
OMC
|
Análise e/ou interpretação dos dados, aprovação final do manuscrito,
realização das operações e/ou experimentos.
|
ACC
|
Análise e/ou interpretação dos dados, coleta de dados, concepção e
desenho do estudo, redação - revisão e edição.
|
RCSD
|
Análise e/ou interpretação dos dados.
|
RSCC
|
Análise e/ou interpretação dos dados.
|
SVS
|
Análise e/ou interpretação dos dados.
|
AAD
|
Análise e/ou interpretação dos dados.
|
JPPCF
|
Análise e/ou interpretação dos dados.
|
JCD
|
Aprovação final do manuscrito.
|
REFERÊNCIAS
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Alencar Gomes da Silva (INCA). Estimativa 2018: incidência de câncer no Brasil /
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1. Hospital das Forças Armadas, Brasília, DF,
Brasil.
2. Hospital Daher Lago Sul, Brasília, DF,
Brasil.
Autor correspondente: Ognev Meireles Cosac, SMDB
Conjunto, 32, Lote 02, Casa A. Lago Sul, Brasilia, DF, Brasil. CEP 71680-320.
E-mail: ognev@terra.com.br
Artigo submetido: 21/01/2019.
Artigo aceito: 10/02/2019.
Conflitos de interesse: não há.