INTRODUÇÃO
O Brasil é um dos líderes mundiais em número de procedimentos de cirurgia plástica
realizados anualmente; considerando sua área e população (207 milhões de habitantes)
é o quinto maior país do mundo. Em uma pesquisa recente, a Sociedade Internacional
de Cirurgia Estética (ISAPS) mostrou que, em 2017, foram realizadas 2.524.115
cirurgias plásticas no Brasil, com fins estéticos1.
A cirurgia para aumento das mamas tem sido um dos procedimentos mais comumente
realizados, totalizando mais de 200.000 cirurgias em 2016. Dois fatores principais
contribuíram para esse cenário: o grande número de cirurgiões plásticos no Brasil
(6.200 membros ativos da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica - SBCP) e a
disponibilidade de várias marcas de implantes, incluindo fabricantes nacionais, como
Silimed® e LifeSil®, além de diferentes
marcas internacionais, como Allergan®, Mentor®,
Polytech®, Motiva®, dentre outras.
Por outro lado, muitos estudos clínicos foram conduzidos para compreender o efeito
do
implante de silicone no tecido mamário, bem como abordagens para resolver
complicações ou outras ocorrências inesperadas2-9. Existem diferentes
critérios e métodos que podem ser aplicados para a seleção de um implante ideal, em
termos de design, forma e volume, entre elas, incisões, contorno da
mama, anatomia do complexo areolopapilar (CAP)10-12.
Uma análise meticulosa das características da mama e a cooperação do paciente durante
o planejamento cirúrgico são a chave para alcançar um resultado agradável. Tebbetts
& Adams13 estabeleceram um protocolo
importante, adotando cinco medidas anatômicas da parede torácica e da mama para
orientar o planejamento da cirurgia de aumento mamário. Entretanto, não há consenso
entre os cirurgiões plásticos sobre o aumento das mamas, como por exemplo, a melhor
abordagem para ondulação (“rippling”) e contratura capsular,
desenho ideal do implante e outras questões controversas. Em um estudo recente,
Hidalgo & Sinno14 analisaram o perfil dos
cirurgiões plásticos norte-americanos em relação ao aumento mamário e mostraram
algumas tendências atuais nessa cirurgia nos EUA.
Apesar de cirurgiões e pacientes apresentarem grande interesse em realizar o aumento
mamário, algumas questões ainda permanecem indefinidas, como a técnica “ideal”, o
tipo de implante, incluindo a determinação da melhor marca comercial, incisões, uso
de matriz dérmica acelular (ADM), entre outras.
OBJETIVO
O objetivo deste estudo é avaliar as práticas e tendências atuais na cirurgia de
aumento mamário no Brasil.
MÉTODOS
Um questionário de 31 itens foi elaborado e enviado para todos os membros associados
e titulares da SBCP. A pesquisa abordou tendências atuais e práticas controversas,
considerando cinco áreas: controvérsias atuais, novas tecnologias, implantes
mamários, considerações técnicas em procedimentos secundários e aspectos
demográficos.
O questionário foi preparado para delinear os conhecimentos do cirurgião plástico,
suas práticas, procedimentos e crenças quanto ao uso de implantes mamários no
Brasil. As perguntas foram de múltipla escolha com variáveis extraídas do
questionário Hidalgo & Sinno14 para
posterior comparação de dados. A pesquisa foi enviada por e-mail, por aplicativo
WhatsApp e plataforma Facebook de maio a junho de 2017. A pesquisa foi realizada
usando o site www.junkmonkey.com (SurveyMonkey. Microsoft Corporation. EUA).
RESULTADOS
Um total de 505 respostas foi coletado (representando uma taxa de resposta de
aproximadamente 8%). Os resultados foram distribuídos em 5 tabelas de acordo com as
áreas de interesse principal. A Tabela 1, que
expressa controvérsias atuais, mostrou que 50% dos entrevistados não usam nenhum
protocolo de diretrizes, baseando seus procedimentos simplesmente em sua própria
experiência. Em especial, não usam implantes anatômicos e as razões para esse fato
foram principalmente: não comprovada superioridade estética da prótese anatômica
quando comparada aos implantes redondos, possibilidade de rotação e maior custo.
Tabela 1 - Controvérsias atuais.
Preocupação com a prática e perícia |
Total de respostas (%) |
O cirurgião segue sua própria experiência |
48,01 |
Existem diferentes abordagens para o mesmo
problema.
|
20,72 |
Não há protocolo elaborado pela SBCP |
3,57 |
Há algum protocolo pela SBCP |
5,78 |
Não sabe informar |
4,58 |
Uso de implantes anatômicos |
|
Nunca usou |
46,52 |
Usa < 50% dos casos |
47,32 |
Usa em 50% dos casos |
1,79 |
Usa em > 50% dos casos |
358 |
Sempre |
0,80 |
Preocupações sobre implantes anatômicos |
|
Resultado estético não é superior aos implantes
redondos
|
55,49 |
Potencial de rotação |
34,93 |
Não há limitações |
11,38 |
Alto custo |
23,95 |
Incisões maiores |
3,99 |
Problemas com a texturização (seroma tardio, ALCL) |
2,00 |
Opções limitadas de incisão |
1,80 |
Outros |
17,56 |
Uso de gordura autóloga no procedimento primário de
aumento
|
|
Nunca |
98,92 |
< 50% dos casos |
29,08 |
Usa em 50% dos casos |
1,20 |
> 50% dos casos |
0,60 |
Sempre |
0,20 |
Preocupações sobre uso de enxerto de gordura no
procedimento primário
|
|
Potencial limitado de aumento |
43,17 |
Pode requerer múltiplos procedimentos |
43,80 |
Potential de interferir nos exames de imagem |
27,31 |
Sem preocupações |
26,91 |
Custo |
1165 |
Complexidade do procedimento |
5,02 |
Outros |
10,04 |
Uso de gordura autóloga como técnica suplementar |
|
< 50% dos casos |
54,91 |
Nunca |
35,67 |
> 50% dos casos |
7,01 |
Sempre |
2,4 |
Apresentou caso de ALCL em sua prática |
|
Não |
99,20 |
Sim |
0,80 |
Uso implantes mamários na sua prática atual |
|
Aumento mamário primário |
78,13 |
Mastopexia |
18,29 |
Cirurgia de reconstrução mamária |
3,58 |
Não usa implantes mamários |
0,00 |
Tabela 1 - Controvérsias atuais.
Os implantes mamários foram utilizados para o aumento primário em 78,13%, associados
à mastopexia em 18,29% e à reconstrução mamária em 3,58%.
A lipoenxertia autóloga foi realizada por 29,08% dos cirurgiões entrevistados,
enquanto 68,92% nunca a utilizaram para esse fim. A técnica de lipoenxertia, como
procedimento complementar, foi empregada por 54,9%. As principais preocupações em
relação à lipotransferência na região das mamas como procedimento de aumento
primário foram (em ordem de importância): a possível necessidade de múltiplas
sessões de enxertia, potencial limitado de aumento e interferência no rastreamento
de um câncer de mama (análise de exames de imagem).
Alguns cirurgiões relataram casos de linfoma anaplásico de grandes células (ALCL),
representando uma taxa de incidência extremamente baixa entre os cirurgiões
plásticos brasileiros (0,08%).
A tecnologia de mídia atualmente usada como suporte durante o planejamento cirúrgico,
para fins educacionais e de marketing, não considera o estudo de imagem
tridimensional das mamas um método adequado para atingir esses objetivos (Tabela 2). A grande maioria dos cirurgiões não
usa matriz dérmica acelular (ADM), tão pouco dispositivo plástico em funil na
colocação do implante. Película plástica adesiva, como protetor de pele, não é usada
rotineiramente. No entanto, houve relatos de indicações de matrizes para o
tratamento de contratura capsular, deformidades de contorno e ondulações.
Tabela 2 - Novas Tecnologias.
Uso de tecnologia tridimensional |
Total de respostas (%) |
Não |
96,41 |
Sim |
3,59 |
Avalie o papel da imagiologia tridimensional na sua
prática
|
|
Não provou que vale a pena o custo e o esforço |
61,11 |
É uma ferramenta de marketing eficaz |
11,73 |
Tornou o processo de consulta excessivamente
complexo
|
11,73 |
É uma ferramenta de dimensionamento eficaz |
11,10 |
É uma ferramenta educacional eficaz |
6,79 |
Outras |
7,90 |
Uso de ADM em casos secundários |
|
Não |
98,40 |
Sim |
1,60 |
Se sim, usa ADM, para que fim se propõe |
|
Ondulações ou tecidos finos |
24,44 |
Deformidades de contorno |
17,78 |
Contratura capsular |
15,56 |
Pós-capsulotomia |
6,67 |
Outras |
48,89 |
Uso de funil para a colocação do implante |
|
Nunca |
90,64 |
< 50% dos casos |
5,38 |
Somente para incisões pequenas/implantes grandes |
1,20 |
50% dos casos |
0,40 |
> 50% dos casos |
0,80 |
Sempre |
1,59 |
Por que não usar o funil? |
|
Não é necessário |
76,43 |
Custo extra |
34,14 |
Adiciona tempo extra |
6,17 |
Uso de adesivos plásticos para proteção da pele antes
da inserção do implante
|
|
Não uso |
90,60 |
Sim, sobre o complexo mamilo-aréola |
6,60 |
Sim, sobre a incisão |
1,80 |
Sim, sobre o complexo aréolo-mamilo e incisão |
1,00 |
Tabela 2 - Novas Tecnologias.
Os resultados obtidos demonstram que implantes de silicone redondos são os
prevalentes. Noventa e oito por cento utilizam implantes preenchidos com 100% de
silicone. De acordo com a superfície de cobertura do implante: mais da metade dos
cirurgiões (52,51%) preferiu implantes microtexturados e 26,46% usaram implantes de
poliuretano quando os implantes foram colocados no plano subpeitoral. Por outro
lado, quando o plano foi subglandular, os implantes microtexturados foram os mais
usados (45,36%), seguidos por macrotextura (25,64%) e poliuretano (23,33%). A faixa
de volume mais usada foi entre 275-325ml (39,17%) e 250-300ml (31,41%).
As marcas de implantes de silicone mais usadas foram, na sequência:
Silimed® (54,69%), Mentor® (44,71%),
Allergan® (31,74%), Polytech® (23,95%),
LifeSil® (11,78%) e outras (20,16%) (Tabela 3).
Tabela 3 - Protocolo do Implante.
Método para seleção do implante |
Total de respostas (%) |
Dimensionamento com moldes de silicone |
47,40 |
Dimensionamento com implantes de silicone redondos |
31,80 |
"High-five" ou outro sistema de
avaliação dos tecidos
|
13,20 |
"Rice bags" ou outro "sizers"
pré-operatório
|
4,60 |
Tecnologia de Imagem |
2,60 |
Nenhum |
9,80 |
Tipo de preenchimento do Implante |
|
100% Silicone |
98,60 |
Maioria de silicone/alguma solução salina |
1,40 |
Quantidades iguais |
0,00 |
Maioria de solução salina/algum silicone |
0,00 |
100% Solução Salina |
0,00 |
Cobertura do Implante submuscular |
|
Microtextura |
52,51 |
Cobertura de poliuretano |
26,46 |
Macrotextura |
19,64 |
Espuma |
1,00 |
Lisa |
0,40 |
Cobertura do Implante subglandular |
|
Microtextura |
45,36 |
Cobertura de poliuretano |
23,33 |
Macrotextura |
25,64 |
Espuma |
0,00 |
Lisa |
0,66 |
Tamanho Usual do implante |
|
< 250ml |
3,18 |
250 - 300ml |
31,41 |
275 - 325ml |
39,17 |
300 - 350ml |
24,06 |
> 350ml |
2,19 |
Fabricante do Implante |
|
Silimed |
54,69 |
Mentor |
44,71 |
Allergan |
31,74 |
PolyTech |
23,95 |
LifeSil |
11,78 |
Motiva |
2,00 |
Outros |
20,16 |
Local da Incisão |
|
Inframamário |
89,66 |
Periareolar |
8,75 |
Axilar |
1,59 |
Periumbilical |
0,00 |
Localização da loja |
|
Subglandular |
54,78 |
Subfascial |
26,49 |
Parcial submuscular |
14,14 |
Completa submuscular |
4,58 |
Antibioticoprofilaxia |
|
Intravenosa na indução anestésica |
94,22 |
Antibioticos orais Pós-operatórios |
65,74 |
Irrigação Dupla-antibiótica |
38,25 |
Irrigação Povidone-iodine (somente) |
0,60 |
Povidone-iodine/bacitracina ou neomicina |
1,59 |
Irrigação clássica tripla-antibiótica |
3,19 |
Outro tipo de irrigação |
8,17 |
Nunca usa antibioticoprofilaxia |
0,80 |
Drenos aspirativos pós-operatórios |
|
Não |
81,47 |
Sim |
18,53 |
Período de drenagem |
|
Menos de 24 hrs |
31,58 |
1 dia |
30,08 |
2 dias |
18,80 |
3-5 dias |
18,05 |
> 5 dias |
1,50 |
Agentes Farmacológicos para contratura capsular |
|
Sim, profilaticamente em todos os casos |
3,79 |
Sim, somente no primeiro sinal de começo |
33,93 |
Sim, como primeira opção no estabelecimento da
contratura
|
9,38 |
Nunca |
52,89 |
Estes agentes efetivamente reduziram a contratura
capsular?
|
|
Sim |
10,39 |
Somente se iniciados precocemente |
17,39 |
Não tenho certeza |
57,00 |
Não |
15,22 |
Métodos não cirúrgicos no tratamento da contratura
capsular
|
|
Inibidores de Leucotrienos |
42,07 |
Massagem |
32,77 |
Ultarssom Externo |
11,42 |
Capsulotomia Fechada |
6,55 |
Inibidores da Cox-2 |
5,92 |
Terapia eletromagnética Pulsada |
1,27 |
Papaverina |
0,42 |
Nenhuma |
35,94 |
Outra |
4,65 |
Tabela 3 - Protocolo do Implante.
A incisão inframamária foi apontada como a favorita pela grande maioria dos
cirurgiões (89,66) e a loja subglandular (54,78%) foi a abordagem mais usual para
a
colocação de implantes. A irrigação da bolsa com solução antibiótica dupla foi
utilizada por 38,25% dos cirurgiões e mais da metade utilizou antibioticoprofilaxia
endovenosa (94,22%) e oral (65,74%). Os drenos foram utilizados por 18,53%.
Considerando a abordagem da contratura capsular, mais da metade dos cirurgiões
(52,89%) nunca utilizou nenhum agente farmacológico para prevenir ou tratar essa
complicação. Em 33,93% dos casos, os moduladores imunológicos foram utilizados nos
primeiros sinais de contratura capsular.
As causas mais frequentes para a cirurgia secundária foram: contratura capsular
(49,80%) e mudança de tamanho do implante (35,14%) (Tabela 4). Contratura capsular primária foi mais comumente tratada com
capsulectomia total (39,88%), capsulotomia (22,65%) e capsulectomia anterior
(18,64%). Contratura recorrente na loja subpeitoral foi tratada por meio de troca
de
loja (47,15%) e capsulectomia anterior (15,86%).
Tabela 4 - Mamoplastia Secundária.
Razões mais comuns reoperação tardia |
Total de respostas (%) |
Contratura Capsular |
49,80 |
Mudança do tamanho |
35,14 |
Malposição |
7.83 |
Ruptura do Implante |
1,00 |
Seroma |
2,81 |
Ondulações ("Rippling")
|
3.41 |
Técnica cirúrgica mais comumente usada na contratura
capsular
|
|
Capsulectomia Total |
39,88 |
Capsulotomia |
22,65 |
Capsulectomia Anterior |
18,64 |
Mudança de loja |
18,64 |
Matriz Dérmica Acelular (ADM) |
0,20 |
Técnica para tratamento de contratura capsular
recorrente em implantes subglandulares
|
|
Mudança de loja |
51,56 |
Total Capsulectomia |
29,46 |
Anterior Capsulectomia |
8,48 |
Sem troca e considerar a retirada dos implantes |
2,68 |
Capsulotomia Aberta |
0,67 |
Capsulectomia+ Matriz Dérmica Acelular (ADM) |
1,69 |
Não tratamento cirúrgico se a contratura for bilateral
e simétrica
|
0,22 |
Técnica para tratamento de contratura capsular
recorrente em implantes submusculares
|
|
Mudança de loja |
47,15 |
Total Capsulectomia |
17,1 |
Anterior Capsulectomia |
15,86 |
Capsulotomia aberta |
7,40 |
Capsulectomia+ Matriz Dérmica Acelular (ADM) |
1,69 |
Não tratamento cirúrgico se a contratura for bilateral
e simétrica
|
1,06 |
Sem troca e considerar a retirada dos implantes |
9,73 |
Tratamento mais comum para deformidade em "dupla-bolha"
("double-bubble deformity")
|
|
Mudança de loja |
54,04 |
Recolocação de implante na mesma loja já existente |
22,13 |
Sutura Percutânea ou suporte externo para um
aparecimento precoce
|
16,60 |
Capsulorrafia somente |
5,32 |
Capsulorrafia e suporte com ADM |
0,85 |
Remoção dos implantes |
1,06 |
Tabela 4 - Mamoplastia Secundária.
Contratura recorrente na loja subglandular foi tratada com a mudança dos implantes
para loja subpeitoral (51,56%) e capsulectomia total (29,46%). O tratamento mais
comum para a deformidade de “dupla-bolha” (“double-bubble”) é a
troca de loja (54,04%), a troca do implante usando a mesma bolsa (22,13%) e a troca
de implante e redimensionamento da loja com sutura inframamária para criar um novo
sulco (16,60%) (Tabela 4).
Três questões foram elaboradas para analisar aspectos demográficos gerais.
Considerando a experiência do cirurgião, foi demostrado que 26,24% apresentam 0-5
anos de tempo de prática em cirurgia plástica (Tabela 5), sendo que a maioria dos entrevistados relata que apresenta
uma prática na área estética. A média de mamoplastias de aumento executadas
anualmente oscilou entre 11-30 casos (34,26%) e 31-60 (31,27%) (Tabela 5).
Tabela 5 - Aspectos Demográficos Gerais.
Anos de prática |
Total de respostas (%) |
0-5 |
26,24 |
6-10 |
19,48 |
11-15 |
15,11 |
16-20 |
12,72 |
21-25 |
8,15 |
>25 |
18,29 |
Natureza da prática |
|
25% estética, 75% reconstrutora |
0,20 |
50% estética, 50% reconstrutora |
5,79 |
75% estética, 25% reconstrutora |
16,77 |
100% estética |
50,70 |
100% estética |
26,55 |
Número anual de cirurgia primária de aumento das
mamas
|
|
1 - 10 |
11,35 |
11 - 30 |
34,26 |
31 - 60 |
31,27 |
61-100 |
15,34 |
> 100 |
7,77 |
Tabela 5 - Aspectos Demográficos Gerais.
DISCUSSÃO
O cenário mundial de mamoplastia de aumento apresenta grande diversidade em suas
práticas e tendências em diferentes países. É extremamente importante avaliar essas
diferenças e padronizar as mais aceitas pela maioria dos cirurgiões, aumentando,
assim, o nível de segurança da cirurgia e a qualidade dos resultados. O presente
estudo tem como objetivo analisar a prática atual dos cirurgiões plásticos
brasileiros, em relação à cirurgia de aumento de mama, representando em última
instância a prática dos cirurgiões plásticos brasileiros.
Quase metade dos cirurgiões plásticos consultados (48%) segue a própria experiência
como diretrizes, descartando qualquer protocolo da SBCP. A maioria utilizou
implantes mamários para aumento primário (78,13%) e mastopexia (18,29%),
representando um consenso internacional.
A maioria dos cirurgiões não utiliza implantes anatômicos, pois considera seu
resultado estético equivalente ao implante redondo, porém, com maior taxa de mau
posicionamento e maior custo dos anatômicos, o que influenciou na escolha do
implante redondo. Entretanto, a escolha também foi baseada em uma expertise pessoal
e não em dados clínicos.
O fato é que um estudo prospectivo ainda não foi divulgado aludindo a esse assunto.
O
consenso observado é que não há um implante ideal que atenda às necessidades de
todos os pacientes. Cirurgiões experientes sugerem que tanto implantes redondos
quanto anatômicos podem trazer resultados bem sucedidos, independentemente da forma
do implante15.
Há pouca diferença no resultado final entre implantes anatômicos e redondos em
algumas condições, como em pacientes com boa cobertura e espessura tecidual.
Considerando a inclinação e o volume do polo superior, os implantes redondos e
anatômicos podem produzir um polo superior excessivamente cheio ou vazio se forem
colocados muito altos ou muito baixos, respectivamente.
Algumas condições, como mamas tuberosas, em que se observa uma deficiência de tecido
glandular e cutâneo no polo inferior, o risco de deformidades de contorno, como a
silhueta em “bolha-dupla”, é maior com implantes redondos; em tais casos, implantes
anatômicos são uma alternativa adequada16. Um
algoritmo para selecionar implantes anatômicos ou redondos, baseado em dados
clínicos aplicados por cirurgiões plásticos americanos por muitos anos, relatam
baixas taxas de contratura capsular e outras complicações, além de altas taxas de
satisfação do paciente15-17.
Os resultados da pesquisa em relação ao uso da lipotransferência no aumento primário
da mama mostraram que a maioria dos cirurgiões plásticos nunca a utilizou (68,92%),
devido ao baixo potencial de aumento com a necessidade de múltiplas sessões.
A incidência de ALCL associada ao implante entre os cirurgiões apresentou um baixo
índice (0,80%), provavelmente devido à falta de protocolo de diagnóstico adequado
e
ao uso de implantes revestidos de poliuretano no Brasil. Essa entidade parece ser
uma novidade de causa multifatorial e relacionada à textura dos implantes, sendo
mais frequente do que se acreditava anteriormente. Se a texturização provar ser um
fator que contribui ou que especificamente causa o ALCL, o uso continuado de
implantes de textura aumentaria logicamente o grupo de pacientes com risco de
desenvolver este tumor19-25.
Anualmente surgem novas tecnologias, com implantes de nova geração e novos
protocolos. Em relação ao uso do estudo com imagem tridimensional para avaliação da
mama, 96,41% dos entrevistados não utilizam tal ferramenta por acharem que o alto
custo e o tempo gasto não justificam o investimento (61,11%). Muitos atribuem o uso
desse dispositivo como uma ferramenta de marketing, com valor agregado limitado à
avaliação pré- operatória. Esta última crença é corroborada por estudos recentes que
mostram que sua utilização permanece controversa26.
Os métodos baseados na avaliação dos tecidos locais fornecem informações críticas
sobre as restrições de tamanho impostas pela anatomia individual13. O papel dos métodos baseados nos tecidos
locais pode ser mais adequado como um complemento aos métodos de dimensionamento,
pelos quais a preferência de tamanho do paciente é modificada com base nas
limitações anatômicas reveladas através da análise baseada nos tecidos27.
As características do implante mamário são analisadas neste questionário.
A maioria dos cirurgiões plásticos preferiu os implantes de gel de silicone (98,60%).
Quanto à superfície do invólucro do implante, os implantes de microtextura
representam uma preferência de mais de 50%, seguidos pelo revestimento com
poliuretano e macrotextura no caso de implantes subglandulares. Superfícies lisas
são frequentemente indicadas na técnica subpeitoral ou submuscular.
O Brasil possui duas fábricas que abastecem o mercado interno, difundindo o uso de
implantes de poliuretano (Silimed®) e implantes de espuma
(LifeSil®). Existem muitas marcas de implantes disponíveis com
boas características para uma prática segura. A classificação da marca usada mostrou
a seguinte ordem decrescente: Silimed® (54,69%); Mentor® (44,71%);
Allergan® (31,74%); Polytech® (23,95%); LifeSil® (11,78%),
Motiva® (2,0%) e outros (20,16%). O volume de implantes mais comumente usado
estava na faixa de 275-325ml.
O uso de implantes redondos de silicone microtexturados ou revestidos com poliuretano
inseridos no plano submuscular (52,51% e 26,46%, respectivamente) (Tabela 3) representa a maioria neste
estudo22. No entanto, os revestimentos
microtexturados foram preferidos em uma proporção de 45,36%, seguidos por
macrotextura (25,64%) e poliuretano (23,33%) no plano subglandular.
Diversos estudos comparativos revelam o baixo índice de contratura capsular quando
são utilizados implantes de poliuretano e texturizados, o que justificaria essa
prática, independentemente dos benefícios proclamados pelos usuários de implantes
lisos23,24. Por outro lado, a pesquisa de Hidalgo & Sinno14 sugere que atualmente pode-se observar uma
preferência americana por implantes de silicone liso inseridos no plano submuscular,
provavelmente devido à prevalência de ALCL entre as próteses macrotexturadas.
Considerando-se os tipos de incisão para colocação dos implantes, a grande maioria
optou pela incisão inframamária (IMF) (89,66%), confirmando uma preferência
histórica que atualmente é incentivada com base nos riscos de infecção quando a
técnica periareolar é empregada. Em relação à cavidade do implante, no aumento
mamário primário, 54,78% dos cirurgiões declararam sua preferência pelo espaço
subglandular, seguido por espaços subfasciais (26,49%) e parcialmente submusculares
(“dual plane”) (14,14%), sendo este perfil observado em outros
estudos24-27. Entretanto, Singh et al.22 apresentaram um cenário diferente, apontando
para uma predileção significativa (58,9%) para as lojas “dual
plane” e subglandular (11,2%). Namnoum et al.25 mostraram uma incidência de 83% e 14% para os planos
“dual plane” e subglandular, respectivamente26.
O uso da drenagem aspirativa ainda é um tema controverso e seu benefício permanece
indefinido. Na amostra analisada, mais de 80% não usam drenos. Aqueles que
utilizaram drenos de sucção (18,53%), a maioria deles não os mantêm por mais de 48
horas (61,66%). Esses cirurgiões justificam o uso rotineiro dos drenos por seus
baixos índices de hematoma/seroma (menor resposta inflamatória, menores taxas de
infecção e menor presença de fístulas cutâneas, levando à exposição do implante e,
virtualmente, contratura capsular). A grande maioria (94,22%) utiliza antibióticos
profiláticos intravenosos na indução anestésica, continuando por via oral no período
pós-operatório (65,74%)28.
Além disso, 38,25% dos entrevistados são favoráveis à irrigação da loja da prótese
com soro fisiológico adicionado ao esquema de dupla antibioticoterapia
(aminoglicosídeo e cefalosporina). A bacitracina líquida não está disponível no
Brasil, mas é amplamente utilizada no esquema de tripla antibioticoterapia em outros
países. Uma pesquisa recente da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos mostrou
o mesmo protocolo, exceto a irrigação com tripla antibioticoterapia na loja do
implante14.
O uso de antibióticos intravenosos perioperatórios e irrigação antibiótica no
intraoperatório é predominantemente prescrito, mas a utilização de antibióticos
orais no pós-operatório é defendida por apenas metade dos cirurgiões americanos14,29. A irrigação da loja do implante tem sido amplamente estudada e
recomendada há muitos anos, mas nunca foi investigada em uma pesquisa
randomizada.
Além disso, as especificações dessa técnica ainda precisam ser definidas31. Muitas das soluções de irrigação utilizadas
pelos cirurgiões mostraram-se inadequadas para reduzir significativamente a
contratura capsular. A investigação in vitro da eficácia das
irrigações da loja, incluindo povidoneiodine, dupla solução de antibióticos
(polimixina B e gentamicina), cefazolina e bacitracina, determinou que todas essas
irrigações forneceram cobertura inadequada contra bactérias envolvidas no processo
infeccioso subclínico, produzindo biofilme e contratura capsular30,31.
Infelizmente, os cirurgiões plásticos tendem a usar antibióticos profiláticos
inapropriadamente. Embora existam diretrizes baseadas em evidências para a seleção
apropriada de agente antibiótico profilático, tempo e duração da administração,
muitos cirurgiões plásticos as ignoram32,33.
Geralmente, o uso de antibióticos profiláticos é muito frequente e muito prolongado.
Nas últimas décadas, o uso de antibióticos profiláticos em cirurgia plástica,
especialmente para procedimentos estéticos, aumentou dramaticamente, apesar da
ausência de evidências clínicas que demonstrem uma redução drástica das taxas de
infecção ou uma eficácia antibiótica34.
As taxas de contratura capsular após implantes mamários variam de 1,3 a 17%35-38. Vários estudos demonstraram que a contratura capsular tem uma causa
multifatorial e não completamente caracterizada36. Estudos mostraram que a contratura capsular é uma das principais
causas de substituição do implante de mama37,
demonstrando taxas diversas com variáveis de 1,9%, 5,3%, 19,1%, 52,6% e 58%38-42.
Essas taxas são inconsistentes, uma vez que os estudos são extremamente heterogêneos
e o acompanhamento é altamente inconstante. Quando esses estudos são comparados,
notamos uma falta de padronização das técnicas cirúrgicas envolvendo vários tipos
de
implantes e incisões, favorecendo a heterogeneidade de resultados. Em recente
investigação britânica feita por Headon et al.39, os autores analisaram vários estudos abrangendo 3716 pacientes e
demonstraram uma média de contratura capsular de 10%.
Fatores associados a taxas reduzidas de contratura capsular são relacionados ao
manuseio dos implantes durante a cirurgia43,
à irrigação da loja com soluções de tripla antibioticoterapia durante a
cirurgia29, ao uso de implantes
recobertos com poliuretano44, à irrigação com
esteroides e vitamina E ao redor do implante3,45, ao uso de
antagonistas sistêmicos de leucotrienos46,47, posicionamento
de adesivos anti-inflamatórios localmente ativos48, aplicação tópica de 5-fluorouracil49 e tratamento fotoquímico dos tecidos50.
Agentes farmacológicos para prevenção de contratura capsular não são muito populares
no Brasil, uma vez que 52,89% dos entrevistados nunca os utilizaram devido a
evidências pouco claras de comprovação de sua efetividade51. Métodos não cirúrgicos para abordagem da contratura
capsular foram investigados, revelando que 35,94% não usam quaisquer métodos
clínicos (exemplos: massagens, capsulotomia fechada, uso de leucotrienos, etc).
Os antagonistas de leucotrieno (42,7%), massagem (32,77%) e ultrassonografia externa
(11,42%) foram utilizados por parte dos entrevistados. Muitos cirurgiões plásticos
acreditam que os agentes farmacológicos são mais propensos a trabalhar no início do
processo de contratura e os inibidores de leucotrieno sejam os melhores agentes52.
As principais causas de substituição tardia do implante mamário neste estudo foram
a
contratura capsular e a troca de tamanho do implante, representando índices de
49,80% e 35,14%, respectivamente. Essa alta incidência de cirurgias de troca de
volume de implantes observada na pesquisa parece passível de melhora com um manejo
pré-operatório mais adequado. Por outro lado, a atrofia do tecido mamário
relacionada à pressão contínua produzida pelo implante contra a glândula deve ser
considerada53.
Quanto à abordagem cirúrgica da contratura capsular primária, o método mais utilizado
foi a capsulectomia total (39,88%), seguida de capsulotomia (22,65%), capsulectomia
anterior/troca de sítio (18,6%) e uso de matriz dérmica acelular (ADM) (Tabela 4). Não há consenso se a capsulectomia
anterior isoladamente é um tratamento adequado para a contratura capsular primária,
ao invés da capsulectomia total.
Uma revisão sistemática foi realizada por Wan & Rohrich37 atestando evidências clínicas limitadas a respeito do
tratamento cirúrgico da contratura capsular. A troca de local e a substituição do
implante foram associadas a taxas reduzidas de recorrência de contratura e
provavelmente desempenharam um papel benéfico no tratamento da contratura capsular.
Os dados da capsulectomia foram menos conclusivos. A matriz dérmica acelular foi
considerada útil, mas ainda requer dados de longo prazo54.
Quanto à abordagem cirúrgica da contratura capsular recorrente, nos casos de implante
subpeitoral ou subglandular a preferência foi pela troca da loja do implante (47,15%
e 51,56%), capsulectomia total (17,1% e 29,46%), seguida de capsulectomia anterior
(15,86% e 8,48%), respectivamente (Tabela 4).
Entre os cirurgiões plásticos americanos, o uso de ADMs isoladamente ou combinada
com as técnicas discutidas acima está ganhando cada vez mais popularidade54-58.
Como mostrado anteriormente nesta pesquisa, a maioria dos cirurgiões plásticos
brasileiros não opta pela loja subpeitoral na cirurgia primária e capsulectomia mais
sítio, e a troca de implantes é referida por muitos como o tratamento padrão-ouro
para contratura capsular clinicamente significativa59-61.
O padrão demográfico encontrado nesta pesquisa demonstrou uma visão ampla ao
considerar a experiência do cirurgião, com uma distribuição homogênea entre 1 a 25
anos de prática, atribuindo equilíbrio e credibilidade a este questionário. O perfil
encontrado foi distribuído em diferentes grupos, e os procedimentos estéticos são
os
mais frequentes entre cirurgiões plásticos no Brasil.
CONCLUSÕES
A pesquisa apontou que os cirurgiões plásticos brasileiros têm uma notável
preferência por implantes de silicone com microtexturas e com camada de poliuretano,
em procedimentos primários. O uso da loja subglandular e incisão no sulco
inframamário também representam a maioria. O dimensionamento com moldes redondos
também foi o preferido como medida importante no pré-operatório. Antibióticos são
recomendados, por via intravenosa no perioperatório e por via oral no
pós-operatório.
Durante a cirurgia, a irrigação da loja com solução antibiótica dupla faz parte da
rotina. Tamanhos de implantes geralmente usados são abaixo de 325ml. Drenagem não
foi considerada uma ferramenta eficaz pela maioria. Por fim, não houve consenso
quando questionados sobre lipotransferência nas mamas, manejo da contratura capsular
e deformidade da dupla-bolha (“double bubble deformity”).
AGRADECIMENTOS
À empresa LifeSil, que patrocinou e disponibilizou o aplicativo utilizado nesta
pesquisa.
COLABORAÇÕES
LCS
|
Coleta de dados, concepção e desenho do estudo, gerenciamento do projeto,
metodologia, realização das operações e/ ou experimentos.
|
NFGA
|
Análise e/ou interpretação dos dados, conceitualização, redação - revisão
e edição.
|
JPA
|
Coleta de dados, investigação.
|
PRL
|
Aprovação final do manuscrito, redação - revisão e edição, supervisão,
validação.
|
REFERÊNCIAS
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Autor correspondente: Luiz Charles-de-Sá, Rua Visconde Pirajá, 351,
Sls 1211-1212, Ipanema, Rio de Janeiro, Brasil.CEP: 22410-003. E-mail:
clinicaperforma@uol.com.br
Artigo submetido: 28/06/2018.
Artigo aceito: 21/04/2019.
Conflitos de interesse: não há.