INTRODUÇÃO
A terapia de pressão negativa (TPN) é utilizada, há cerca de 20 anos, na síntese de
cicatrizes e nas deiscências de abdominoplastia. Fenn e Butler publicaram um artigo
com 8 casos de pacientes com deiscência de sutura abdominal. Os cirurgiões usavam
uma espuma dentro da ferida, fixada com suturas, cobertas por um adesivo
semipermeável junto ao sistema de pressão negativa. Nesse estudo, foi definido que
o
fechamento hermético do circuito era essencial para o bom funcionamento do sistema.
A espuma diminuía o espaço morto e proporcionava uma aderência uniforme do panículo
adiposo abdominal. Esse sistema proporcionava o aumento do fluxo sanguíneo e
diminuição do edema tissular, aumentava a angiogênese e tecido de granulação e
diminuía o nível bacteriano. Também foi observado aumento da taxa de sobrevivência
do retalho e fechamentos mais rápidos1. Wada
et al. usaram a TPN para fechamento em 29 pacientes com feridas
complexas, demonstrando um resultado de 85% de sucesso nas enxertias e 87,5% nos
retalhos locais. Não houve caso de recorrência. Concluindo que o curativo a vácuo
era seguro e eficiente, capaz de proporcionar melhora das condições locais da ferida
e uma granulação tissular mais saudável com controle sobre infecção local2. Singh et al. fizeram a
comparação custo-utilidade do TPN na incisão abdominal e observaram que ela seria
mais econômica que os curativos-padrão em pacientes com fechamento de incisão
abdominal de alto risco3. O uso de TPN se
demonstrou uma via mais econômica para pacientes de alto risco que foram submetidos
a incisões abdominais4. O uso de TPN na
incisão demonstrou uma diminuição de infecção de sítio cirúrgico na meta-análise de
Singh et al.5. O Avelle
® (ConvaTec) é um dispositivo portátil que usa a tecnologia
Hydrofiber® (propicia desbridamento autolítico e promove
controle da umidade do ambiente da ferida) em vez de gaze ou espuma para a TPN. É
um
dispositivo portátil, com bateria, que combina as tecnologias de TPN e Hydrofiber
®, e pode ser usado por até 30 dias6.
OBJETIVO
Demonstrar a importância do curativo a vácuo como ferramenta para aceleração na
cicatrização de deiscências pós-abdominoplastia.
RELATO DE CASO
Paciente do sexo feminino, 27 anos, foi submetida à abdominoplastia com lipoaspiração
+ lipoenxertia glútea no dia 4 de dez de 2018 (Figura 1). No décimo dia pós-operatório, apresentou eliminação de seroma pela
ferida abdominal em média quantidade. Foram realizadas trocas de curativos e
orientações necessárias. A paciente ficava extremamente ansiosa com o líquido. Nove
dias depois, o seroma continuava sendo eliminado. A paciente procurou uma unidade
de
saúde por receio de infecção SIC. A ferida foi explorada pelo cirurgião geral para
descartar abscesso abdominal. Nada foi encontrado. Com a exploração, ocorreu
deiscência da cicatriz abdominal à esquerda (Figura 2). Foi realizada a aproximação da ferida com náilon 2.0, porém, devido
ao edema e à tensão, o fechamento completo não foi possível (Figura 3). Na próxima semana foi realizada nova sutura e
utilizado o TPN Avelle® (Figura 4) para melhora da vascularização local e diminuição da tensão. O TPN foi
usado por 8 dias, com troca do curativo no terceiro dia (Figura 5). Após o uso, houve síntese total da ferida (Figura 6).
Figura 1 - Pré-operatório.
Figura 1 - Pré-operatório.
Figura 2 - Deiscencia pós exploração cirurgia geral.
Figura 2 - Deiscencia pós exploração cirurgia geral.
Figura 3 - Nova sutura de aproximação para início de TPN.
Figura 3 - Nova sutura de aproximação para início de TPN.
Figura 4 - Dispositivo TPN Avelle®.
Figura 4 - Dispositivo TPN Avelle®.
Figura 5 - Curativo de TPN.
Figura 5 - Curativo de TPN.
Figura 6 - Cicatriz abdominal pós TPN.
Figura 6 - Cicatriz abdominal pós TPN.
DISCUSSÃO
O uso de TPN na paciente relatada obteve a mesma conclusão do estudo de Wada
et al., proporcionando um fechamento em tempo mais curto. A
revisão de Singh et al. demonstrou que o uso de terapia de pressão
negativa causa redução da incidência de deiscência, seroma, hematoma e infecção,
corroborando com o presente estudo. O TPN otimizou o ambiente da ferida através da
remoção de fluidos, porém manteve uma umidade adequada, compatível com a revisão de
Anghel e Kim7.
CONCLUSÃO
O uso do curativo a vácuo Avelle® se mostrou eficaz para o
tratamento da deiscência da cicatriz da abdominoplastia. O tratamento diminuiu o
tempo de cicatrização, proporcionou maior conforto e diminuição da ansiedade da
paciente.
REFERÊNCIAS
1. Fenn CH, Butler PEM. Abdominoplasty wound-healing complications:
assisted closure using foam suction dressing. Brit J Plast Surg. 2001;
54:348-51.
2. Wada A, Ferreira MC, Tuma Junior P, Arrunátegui G. Experience with
local negative pressure (vacuum method) in the treatment of complex wounds. São
Paulo: Med J. 2006; 124(3).
3. Singh D, Lobach V, Holton T. Use of closed-incision
negative-pressure therapy in aesthetic surgery. Plast Reconstr Surg. 2019 Jan;
143:11S-14S.
4. Chopra K, et al. The Economic impact of closed-incision
negative-pressure therapy in high-risk abdominal incisions: a cost-utility
analysis. Plast Reconstr Surg. 2016; 137:1284.
5. Singh D, Gabriel A, Parvizi J, Gardner M, D'Agostino, Jr R.
Meta-analysis of comparative trials evaluating a single-use closed-incision
negative-pressure therapy system. Plast Reconstr Surg. 2019;
143:41S.
6. ConvaTec. The Avelle NPWT System-closed surgical incisions. J Wound
Care. 2018 mar; 27(3 Suppl):S14-6.
7. Anghel E, Kim P. Negative-pressure wound therapy: a comprehensive
review of the evidence. Plast Reconstr Surg. 2016; 138:129S.
1. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica,
Minas Gerais, MG, Brasil.
2. Universidade Federal de São Paulo, São Paulo,
SP, Brasil.
3. Clínica dr Hudson Lázaro, Pará de Minas, MG,
Brasil.
Endereço Autor: Hudson Alex Lázaro Rua
São Paulo, 1966/301 Lourdes, Belo Horizonte, MG, Brasil CEP 30170-135 E-mail:
drhudsonlazaro@gmail.com