INTRODUÇÃO
Os sarcomas de partes moles são neoplasias originadas de células-tronco mesenquimais.
São considerados tumores raros; correspondem a menos de 1% das neoplasias em
adultos1. No Brasil, observa-se uma
incidência de menos de 3.500 novos casos anuais2. Os sarcomas de partes moles são subdivididos em diversos tipos de
neoplasias, sendo o lipossarcoma o mais comum entre eles2. Os lipossarcomas são classificados histologicamente em
lipossarcomas de células bem diferenciadas e de células desdiferenciadas, de células
mixoides e/ou células redondas, e de células pleomórficas3. Os lipossarcomas de células bem diferenciadas caracterizam-se
por apresentarem grandes massas multilobuladas, bem delimitadas, representam 40% dos
lipossarcomas e acometem, via de regra, o retroperitônio em 30% dos casos e os
membros superiores e inferiores em 50%4. Os
classificados como desdiferenciados são considerados uma variedade dos bem
diferenciados, ocorrem em 10% dos casos, com probabilidade de recidiva local e
metástases4,5. Os mixoides, ou redondos, têm incidência de
30% relativa aos demais. Caracterizam-se pela aparência gelatinosa e
multilobulada4,5. À análise microscópica, são identificados
lipoblastos imersos em matriz mixoide e mucopolissacarídica, e são ricos em ácido
hialurônico4,5. Nos casos dos lipossarcomas de células
redondas, estas são arredondadas e com núcleo vesicular, com frequentes mitoses. Nos
casos dos lipossarcomas mixoides e/ou redondos, observam-se associação de células
redondas e células remanescentes do lipossarcoma mixoide. Os lipossarcomas
pleomórficos são considerados os mais agressivos. Apresentam-se em mais de 50% dos
pacientes portadores de lesões metastáticas; neles estão presentes alterações
cromossômicas complexas em 90% dos casos4,5. De todos os
lipossarcomas, este é o mais raro, abrangendo 5% de todos os casos4-7. As metástases incidem mais nos pulmões2. O diagnóstico por imagem (ressonância nuclear magnética) tem
importante papel nos lipossarcomas bem diferenciados e nos desdiferenciados. A
margem de segurança preconizada nos lipossarcomas bem diferenciados é de 0,5 cm,
para os desdiferenciados é de 1,0 cm6. A
biópsia está indicada nos casos de lipossarcoma mixoide e/ou de células redondas.
Nos casos em que a lesão estende-se às articulações, a radioterapia prévia é
importante para a redução do tumor, como facilitadora para sua ressecção. Os
lipossarcomas pleomórficos, por serem agressivos, apresentam alto grau de
mortalidade5,6. Nestes três últimos, não há consenso quanto a
margem de segurança indicada.
OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é apresentar revisão literária dos lipossarcomas e alertar
para a importância de um diagnóstico precoce. São exemplificados dois casos de
recidivas de lipossarcomas advindos de outros serviços e operados pela equipe de
Cirurgia Plástica do Hospital Belo Horizonte.
MÉTODO
De acordo com a literatura médica, os lipossarcomas, caso não tratados de modo
sistematizado, podem apresentar recidiva local e metástases. Nos últimos três anos,
o serviço de cirurgia plástica do Hospital Belo Horizonte abordou dois casos de
lipossarcomas recidivados.
Primeiro caso: Paciente T.V.M., 50 anos de idade,
leucoderma, apresentou-se com extensa lesão lipomatosa recidivada na
região glútea esquerda, com um ano e meio de evolução. Programada a
cirurgia após ressonância nuclear magnética, observou-se que a lesão
localizava-se submuscular, estendendo-se à articulação coxofemoral. A
peça enviada à anatomia patológica revelou tratar-se de lipossarcoma
mixoide. Evolução cirúrgica transcorreu-se dentro dos padrões da
normalidade. A paciente foi encaminhada à oncologia após dois meses de
operada.
Segundo caso: Paciente M.T., 79 anos de idade,
melanodérmica. Foi encaminhada ao serviço de Cirurgia Plástica do
Hospital Belo Horizonte, em 2016, com histórico de lesão tumoral
recidivada na face interna da coxa direita, após dez anos da primeira
intervenção de ressecção em outro serviço. Informa que lhe disseram
tratar-se de lipoma e a peça não foi encaminhada para exame histológico.
Nesse ínterim, foi acometida por quadro neurológico e retorna para o
tratamento cirúrgico em setembro de 2018, após ser liberada por seu
neurologista. A ressonância nuclear magnética solicitada revelou “sinal
predominante de gordura, medindo cerca de 17,7 × 13,8 ×
11,3 cm (L × T × AP), com septações grosseiras e
rechaçando a musculatura local, com impressão diagnóstica de volumosa
lesão heterogênea em coxa direita de linhagem adipocítica”. Encaminhada
para cirurgia, esta foi realizada em outubro de 2018; a peça excisada
pesou 1,3 kg. A peça enviada à anatomia patológica revelou “lesão
lipomatosa não podendo afastar malignidade”. Encaminhada à
imuno-histoquímica, esta firmou o diagnóstico de “lipossarcoma bem
diferenciado”. O pós-operatório transcorreu satisfatoriamente. A
paciente foi encaminhada à oncologia após 45 dias da cirurgia.
Encontrando-se, atualmente, em tratamento oncológico.
RESULTADOS
Em ambos os casos, observou-se boa evolução pós-operatória, sem intercorrências. O
diagnóstico de lipossarcoma somente ocorreu após recidiva da lesão. As imagens
observadas à ressonancia nuclear magnética foram sugestivas de lipossarcoma e
orientaram a indicação cirúrgica (Figuras 1,
2 e 3).
Figura 1 - Lesão submuscular em face medial da coxa direita.
Figura 1 - Lesão submuscular em face medial da coxa direita.
Figura 2 - Tumor após divulsionar musculatura.
Figura 2 - Tumor após divulsionar musculatura.
Figura 3 - Tumor excisado.
Figura 3 - Tumor excisado.
DISCUSSÃO
Diante dos diagnósticos anatomopatológicos e imuno-histoquímicos de lipossarcoma,
nos
dois casos, fica claro que em lesões adipocitárias a anatomopatologia deve estar
presente, de acordo com revisão da literatura. Poderão tratar-se de lipossarcomas,
mesmo que sua incidência seja rara.
Consistem em desafios às equipes médicas. O diagnóstico por imagem (ressonância
nuclear magnética), nos casos de lesões adiposas únicas que se apresentam em grandes
massas, é de importância nos diagnósticos dos lipossarcomas diferenciados e
desdiferenciados. A biópsia é a escolha para os lipossarcomas mixoide e/ou de
células redondas. No lipossarcoma pleomórfico, não há um consenso para seu
diagnóstico prévio; destaque à importância dod examed histopatológico e
imuno-histoquímico na condução do tratamento.
CONCLUSÃO
Nos casos apresentados, os relatos das pacientes foram de massas volumosas
inicialmente, que foram excisadas sem avaliação anatomopatológica e diagnosticadas
como lipomas gigantes. Não precisam a data em que observaram o aumento de volume na
região; recidivas estas que, ao serem removidas, revelaram malignidade. Nestes
casos, as peças excisadas eram lobuladas e apresentavam aderência importante. O
exame anatomopatológico é um alerta ao diagnóstico precoce e à conduta terapêutica.
Do ponto de vista cirúrgico, o pós-operatório das pacientes transcorreu sem
intercorrências em ambos os casos, e sem sequelas às pacientes.
REFERÊNCIAS
1. Crago AM, Brennan MF. Principles in management of soft tissue
sarcoma. Adv Surg. 2015; 49(1):107-22.
2. Nassif NA, Tseng W, Borges C, et al. Recent advances in the
management of liposarcoma. F1000 Res. 2016; 5:2907.
3. Tseng WW, Somaiah N, Lazar AJ, Lev DC, Pollock RE. Novel systemic
therapies in advanced liposarcoma: a review of recent clinical trial results.
Cancers. 2013; 5:529-49. doi: 10.3390/cancers5020529.
4. Conyers R, Young S, Thomas DM. Liposarcoma: molecular genetics and
therapeutics. Sarcoma; 2011.
5. Crago AM, Dickson MA. Liposarcoma: multimodality management and
future targeted therapies. Surg Oncol Clin N Am. 2016;
25(4):761-73.
6. Dodd LG. Update on liposarcoma: a review for cytopathologists. Diagn
Cytopathol. 2012; 40:1122-31.
7. Lahat G, Anaya DA, Wang X, Tuvin D, Lev D, Pollock RE. Resectable
well differentiated versus dedifferentiated liposarcomas: two different diseases
possibly requiring different treatment approaches. Ann Surg Oncol. 2008;
15:1585-93.
1. Centro de Formação e Treinamento em Cirurgia
Plástica, Hospital Belo Horizonte, Belo Horizonte, MG, Brasil.
Endereço Autor: Guilherme Teixeira de Souza e
Castro Rua Aquiles lobo, nº332- Floresta - Belo Horizonte, MG, Brasil
CEP 30150-160 E-mail: guilhermetsc@hotmail.com