INTRODUÇÃO
Orelhas proeminentes são uma alteração anatômica congênita presente em
aproximadamente 5% da população1. Trata-se de
um traço autossômico dominante e associado à combinação de duas alterações
principais: hipodesenvolvimento da dobra da anti-hélice e um hiperdesenvolvimento
da
concha da orelha2. Apesar de ser essa uma
alteração benigna, sua presença está diretamente associada a bullying, estresse
psicológico, trauma emocional e alterações de comportamento3. A correção das orelhas proeminentes tem papel importante na
melhora da autoestima e no convívio social, em especial nas crianças. De janeiro a
dezembro de 2018, foi realizado um total de 38 correções de orelhas proeminentes,
no
Hospital da Criança Santo Antônio, pela equipe do Serviço de Cirurgia Plástica e
Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Todos esses
procedimentos foram realizados pelo Sistema Único de Saúde, com crianças entre 9 e
17 anos.
OBJETIVO
Relatar a técnica utilizada na correção das orelhas proeminentes realizada pela
equipe de Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia de Porto
Alegre, bem como comparar seus resultados e complicações com a literatura
médica.
MÉTODO
Revisão de prontuário, descrição cirúrgica e registros fotográficos do Serviço de
Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
RESULTADOS
Entre janeiro e dezembro de 2018, foram operadas 31 crianças por orelhas
proeminentes, sendo 58,06% do sexo masculino e 41,93% do sexo feminino, com uma
idade que variou de 8 a 17 anos (média de 14,13 anos). A equipe tem por rotina
sempre estimular o procedimento com anestesia local; no entanto, pacientes menores
de 12 anos (16,12% dos pacientes) geralmente realizam o procedimento com anestesia
geral. Realizamos antissepsia com clorexidina aquosa e infiltração com solução com
soro fisiológico, lidocaína 2%, ropivacaína 7,5% e adrenalina na concentração de
1:100.000. Iniciamos com uma incisão e descolamento retroauricular bilateral.
Posteriormente realizamos três pontos de Mustardé para reconstrução da anti-hélice
e
posteriormente ponto de Furna na região posterior da concha para correção do abano
auricular, ambos com fios de náilon. Quando julgamos necessário, no intraoperatório,
são realizados pontos de Gosain para correção do abano de lobo auricular. Pacientes
que são submetidos a anestesia geral recebem antibioticoprofilaxia no
intraoperatório por via intravenosa; os que realizam otoplastia com anestesia local
recebem alta com prescrição antibiótica por 7 dias. No acompanhamento pós-operatório
durante o ano, três pacientes (9,68%) apresentaram extrusão de pontos em cicatriz
operatória; uma paciente evoluiu com epidermólise bilateral em região de
anti-hélice, com boa evolução com curativo e hidratante local; houve um caso de
infecção unilateral de sítio cirúrgico e outro com cicatriz hipertrófica. Um
paciente apresentou recidiva unilateral nos primeiros 3 meses de acompanhamento
pós-operatório, sendo reoperado com 6 meses após o primeiro procedimento.
DISCUSSÃO
A otoplastia é um dos procedimentos mais realizados na faixa etária pediátrica e;
portanto, fundamental na formação de todo residente de cirurgia plástica. Nesse
período inicial de formação médica, bem como durante toda a carreira de qualquer
cirurgião, haverá complicações. Cabe ao médico tentar evitá-las e, quando presentes,
saber identificar e corrigir. A técnica utilizada pela equipe de Cirurgia Plástica
da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre com pontos de Furnas e Mustardé é
largamente utilizada e bem documentada na literatura médica. Quando os resultados
obtidos pela equipe e suas taxas de complicações estão dentro da média dos demais
trabalhos clínicos que apresentam índices de recidivas entre 6,5% e 12%, infecções
entre 2,4% e 5,2%, hematomas em torno de 2%4-6, cicatriz
hipertrófica/queloide em 3,3%, necrose da pele em 2,5% e exteriorização do fio em
6,1%.
Orelhas em abano são uma das principais indicações de cirurgias plástica entre
crianças e adolescentes. O bullying gerado nas idades iniciais de desenvolvimento
infantil podem gerar depressão e cicatrizes psicológicas profundas. A otoplastia é
um procedimento de pequena complexidade, baixo índice de complicações e elevada taxa
de satisfação por parte dos pacientes; auxiliando na melhora da autoestima e
aceitação social nessa faixa etária.
Figura 1 - Foto pré-operatória imediata.
Figura 1 - Foto pré-operatória imediata.
REFERÊNCIAS
1. Adamson PA, Strecker HD. Otoplasty. Facial Plast Surg. 1995; 11:284.
DOI: https://doi.org/10.1055/s-2008-1064545
2. Janis JE, Rohrich RJ. Otoplasty. Plast Reconstr Surg. 2005;
115:60-72. DOI: https://doi.org/10.1097/01.PRS.0000156218.93855.C9
3. Bradbury ET, Hewison J, Timmons MJ. Psychological and Social Outcome
of Prominent Ear Correction in children. Br J Last Surg. 1992; 45:97. DOI:
https://doi.org/10.1016/0007-1226(92)90165-T
4. Handler EB, Shih C. Complications of Otoplasty. Facial Plast Surg
Cila N Am. 2013; 21:653-62. DOI: https://doi.org/10.1016/j.fsc.2013.08.001
5. Mobley SR, Toriumi DM. Otoplasty: Surgical Correction of The
Protruding Ear. Head Neck Surg. 2002; 13:29-35.
6. Aki F, Ferreira MC. Complicações em Otoplastia: Revisão de 506
Casos. Rev Soc Bras Cir Plást. 2006; 21:140-4.
1. Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre,
Porto Alegre, RS, Brasil.
2. Universidade Federal de Ciências da Saúde de
Porto Alegre, Porto alegre, RS, Brasil.
Endereço Autor: Flavio Maciel de Freitas Neto Rua
Irmão José Otão, nº 540 - Independência, Porto Alegre, RS, Brasil CEP 90035-060
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